Blockchains e seus casos de uso foram tema na arena no palco BeinCrypto no Rio Innovation Week que, sem dúvida, é um dos um dos maiores eventos de inovação do Brasil.
Um público engajado e interessado nas novidades do mercado lotou a arena BeinCrypto em busca de conhecimento, e curioso para entender como a tecnologia blockchain pode ser usada para melhorar a sociedade.
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Muitos casos de uso interessantes foram compartilhados no painel, como o uso da tecnologia para emissão da nova carteira de identidade nacional, descentralização da identidade, registro de carteiras de motoristas do governo da Califórnia, porto de Genova, proteção e gerenciamento de dados na Web3, dentre outros.
O ecossistema blockchain está cheio de controvérsias decorrentes da maturidade inicial da própria tecnologia. Afinal, estamos hoje no que seria o equivalente a Internet dos anos 90, onde o acesso à World Wide Web ainda era discada, e a maioria das pessoas nem imaginava que teríamos negócios inteiros rodando na Internet como a Amazon e a Netflix.
A primeira blockchain surgiu há apenas 14 anos e é natural, neste estágio inicial, um desalinhamento de definições, inclusive quanto ao próprio termo blockchain, significando coisas diferentes para pessoas diferentes.
Tendo isto em conta, hoje vamos explorar os conceitos de blockchains, DLTs e DAGs.
A primeira Blockchain
Satoshi Nakamoto publicou seu estudo “Bitcoin – Um sistema de dinheiro eletrônico ponto-a-ponto” em 2008, e em 3 de janeiro de 2009 o sistema do Bitcoin começou a funcionar.
O que foi revolucionário, porque possibilitou que pessoas desconhecidas, ou que não confiavam entre si, realizassem qualquer tipo de transação de valor, e não apenas dinheiro, sem intermediários.
Blockchain do Bitcoin possibilita transações monetárias, mas na época não havia como adicionar condições mais elaboradas às transações na Blockchain Bitcoin. Como assim?
Maria poderia enviar 5 bitcoins a André, mas ela não conseguiria impor condições mais complexas a essa transação. Maria não poderia, por exemplo, dizer a André que ele só receberia o dinheiro se ele realizasse determinadas tarefas.
Foi pensando em ampliar as possibilidades de uso da tecnologia blockchain que surgiu a blockchain Ethereum, criada por Vitalik Buterin em 2014.
Como o protocolo Bitcoin é open source, isto é, qualquer pessoa poderia pegar seu software e iniciar sua própria versão do dinheiro eletrônico, surgiu a segunda blockchain: a Ethereum.
Ethereum – um computador global descentralizado
Como a blockchain do Bitcoin possui um código “aberto”, qualquer programador pode usar seu protocolo para criar versões alternativas de blockchain, adicionando outras características.
Nesse passo, começaram a surgir então projetos que buscavam usar blockchain para transferência, sem intermediários, de outros tipos de valor.
Também ganhou corpo a ideia de se afastar de blockchains de propósito único – usados apenas para operações monetárias, o que levou a busca de um protocolo onde qualquer tipo de transação fosse possível.
Foi assim que Vitalik Buterin, motivado pela ideia de potencializar o uso de contratos inteligentes, iniciou o projeto da Blockchain Ethereum em 2014.
Ao contrário da Blockchain Bitcoin – que é um blockchain de propósito único, com um único contrato inteligente –, Ethereum é uma blockchain projetada como uma rede de computadores descentralizada onde qualquer tipo de contrato inteligente pode ser programado, possibilitando qualquer tipo de troca direta de valor.
Outras Blockchains surgiram, como solução alternativa à Ethereum
O surgimento da Ethereum inspirou outros projetos blockchain – como Aptos, Avalanche, Base, BNB Chain, Fascaster, Lens, Polkadot, Polygon, Solana, só para citar alguns.
Além do aspecto tecnológico, fatores técnicos, econômicos e legais também serão relevantes para avaliar a viabilidade de uma blockchain.
Olhando para o futuro e nos inúmeros casos de uso que surgem a cada dia, ainda não está claro quais plataformas blockchain terão maior adoção, ou se teremos múltiplos padrões para operar.
Até agora, Ethereum tem maior tração e a vantagem de contar com muitos desenvolvedores, mas isto pode mudar no longo prazo.
Já ouviu falar em DAGs?
Além das inúmeras blockchains que existem hoje, tecnologias alternativas surgiram, com tipos de mecanismos de consenso completamente diferentes, como as Directed Acyclic Graphs (DAGs).
DAGs não exigem mais a criação de uma rede de blocos, e usam mecanismos criptoeconômicos alternativos para chegar a um consenso.
Há toda uma série de protocolos que usam Directed Acyclic Graphs (DAGs), como “Block Lattice” (Nano), “IoT Chain”, “Byteball”, e “IOTA” (Tangle).
O mecanismo de consenso dos DAGs é fundamentalmente diferente de blockchains.
Num comparativo, uma DAG é uma rede de transações individuais vinculadas a várias outras transações. Não há blocos de transações nas redes DAG. Se a blockchain é uma lista de blocos vinculada, um DAG é uma árvore, que se ramifica de uma transação para outra, e assim por diante.
Em uma blockchain, o consenso é obtido por meio da validação das transações bloco a bloco, por meio de mecanismos de consenso como PoW ou PoS. Já em um DAG, as transações individuais fornecem validação umas para as outras. Os usuários da rede são tanto mineradores quanto validadores, embora não possam validar suas próprias transações. Isso normalmente significa que, em um DAG, há pouca ou nenhuma necessidade de pagar taxas.
Qual é melhor? Para essa resposta, é preciso comparar as soluções para identificar a que melhor atende às suas necessidades. É preciso entender a tecnologia escolhida, as preferências do usuário final e os requisitos de limitação das taxas de transação e de execução de aplicativos distribuídos, como contratos inteligentes. Casos de uso diferentes podem tornar blockchains ou DAGs a melhor escolha.
Agora que você já sabe a diferença entre Blockchains e DAGs, vamos avançar mais um pouco e compreender a diferença entre Blockchain e DLT.
A controvérsia em torno do termo “blockchain”
Muitos questionam se uma plataforma privada, no qual você confia em uma autoridade, deve ser considerada uma blockchain.
Os defensores das blockchains argumentam que o termo “blockchain” pode ser aplicado a qualquer estrutura de dados que agrupa dados em blocos de transação com hash.
Os protocolos públicos criam confiança através da matemática, com um algoritmo que incentiva o comportamento individual para atingir uma meta coletiva.
Já protocolos privados são gerenciados centralmente e não alcançam a “confiança através da matemática”. Eles alcançam a confiança “por meio de um contrato legal” ou “pela reputação”.
Seja o protocolo público ou privado, o que se pode concluir é o seguinte:
O mínimo denominador comum das blockchains públicas e das blockchains privadas reside no princípio do armazenamento distribuído e na verificação de dados.
Como surgiram as DLTs, também conhecidas como “blockchains” privadas (DLTs)?
Depois do Bitcoin – blockchain pública onde qualquer participante por fazer parte da rede –, instituições privadas como bancos, seguradoras e muitas indústrias pesadas na cadeia de suprimentos perceberam que o gerenciamento de dados através de um registro distribuído poderia ser útil como uma ferramenta de colaboração da indústria.
Contudo, ao contrário de blockchains públicas, a indústria começou a projetar blockchains privadas (permissionadas), onde todos os validadores são membros de um consórcio, ou são entes jurídicos participantes da mesma organização.
A palavra DLT como um termo genérico
O termo “tecnologia de contabilidade distribuída” (DLT) surgiu como um termo genérico para descrever as tecnologias derivadas da Blockchain do Bitcoin.
Como há certa confusão quanto às diferenças entre redes DLTs e redes blockchain, vamos desmistificar a confusão entre os dois termos.
Tipos de blockchain
⎯ Blockchains não-permissionadas ou públicas
Em blockchains públicas como a do Bitcoin e Solana, qualquer pessoa tem a capacidade de executar nós na rede; participar da validação de transação; ou criar produtos, serviços e aplicativos aproveitando o protocolo ou a rede.
Qualquer pessoa pode entrar e sair dessas redes públicas sem precisar de permissão, desde que siga as regras estabelecidas no protocolo – daí a origem do nome “não permissionadas”.
Além de permitir que qualquer pessoa se envolva na rede, há algumas características associadas ao modelo público:
a) Descentralização
As criptomoedas foram criadas com base na ética da descentralização, do uso sem permissão e dos valores de código aberto. Por isso, as criptomoedas usam blockchains públicas que tem como principal meta a descentralização – isto é, nenhuma entidade central tem autoridade para editar o ledger, desligar a rede ou alterar seus protocolos.
Redes públicas são baseadas em mecanismos de consenso, o que significa que mudanças na rede de qualquer tipo podem ser alcançadas, desde que mais de 50% dos participantes da rede concordem com isso.
b) Ativos digitais
Outra característica das blockchains públicos é a presença de um “sistema financeiro” na rede.
A maioria das redes públicas possui algum tipo de token de incentivo ao usuário.
Atualmente, blockchains públicas não permissionadas empregam tokens monetários ou de utilidade, dependendo da finalidade a que eles servem.
c) Privacidade:
Considerando a forma como as blockchains operam, a “privacidade” tornou-se bastante relevante na indústria. Muitas redes públicas não exigem que os usuários enviem informações pessoais antes de criar uma carteira digital ou enviar transações.
Todavia, em certos casos, as informações pessoais são necessárias para fins legais (prevenção à lavagem de dinheiro, pex.).
d) Transparência:
As redes blockchain públicas são transparentes “por design”. Essa é uma característica necessária, dado o fato de que os usuários envolvidos devem ser incentivados a confiar na rede.
Portanto, uma rede transparente precisa conceder aos usuários acesso livre a todas as informações, exceto às chaves privadas.
⎯ DLTs, Blockchains permissionadas ou Privadas
As DLTs, também chamadas de blockchains privadas, funcionam como ecossistemas fechados, onde os usuários não podem se conectar livremente à rede, ver o histórico gravado ou emitir transações próprias.
Blockchains privadas são as preferidas das indústrias altamente reguladas, que aproveitam o poder da rede para suas próprias operações de negócios.
Os consórcios de empresas também podem empregar DLTs para registrar transações com segurança e trocar informações entre si.
DLTs são executados por membros específicos de consórcios ou empresas, e os membros precisam optar pela criação de tal rede, como é o caso da Drex.
Elas são projetadas para permitir que grupos de participantes criem redes em um contexto privado. Elas não possuem uma rede pública global.
Além disso, apenas pessoas pré-aprovadas, daí o termo “permissionadas”, têm a possibilidade de executar nós na rede, validar blocos de transação, emitir transações, executar contratos inteligentes ou ler o histórico de transações.
Algumas das principais características das blockchains privadas incluem:
a) Descentralização variável
Os membros da rede blockchain estão livres para negociar e chegar à decisão sobre o nível de descentralização que a rede terá.
Para a blockchain privada, ele é totalmente aceito se estiver totalmente centralizado ou parcialmente descentralizado.
Alguma forma de controle central é necessária, porque as entidades são administradas por pessoas de negócios.
Além disso, blockchains privadas são livres para escolher quais algoritmos consensuais desejam empregar, sendo o modelo de governança o mais importante nesse cenário.
b) Transparência e privacidade:
As blockchains privadas não precisam ser transparentes, mas podem optar por fazê-lo livremente, dependendo da organização interna dos negócios.
Em termos de privacidade, não é necessário em um nível central e pode ser determinado individualmente com base na situação do usuário.
Muitas blockchains privadas armazenam uma quantidade extensa de dados relacionados às transações e operações realizadas pelos usuários.
Por fim, como não existe um mercado interno (economia interna) na maioria das blockchains privadas, não há necessidade de ver como os tokens estão sendo enviados ou transacionados.
c) Governança
Para blockchains permissionadas, a governança é decidida pelos membros da rede de negócios – há inúmeras dinâmicas que podem determinar como as decisões são tomadas em nível central, mas não há necessidade de mecanismos baseados em consenso, onde a totalidade da rede deve concordar com uma mudança.
d) Blockchains permissionadas não precisam ter um token nativo
No ecossistema de negócios tradicional, todos os participantes são identificados e, se alguns tentarem se comportar mal, podem ser processados.
Quando as partes são identificadas e têm acordos legais entre elas, o ambiente técnico não é tão hostil quanto o do mundo sob pseudônimo de blockchains de criptografia, onde o código é lei e não há termos de serviço ou acordos legais.
Ao realizarem transações, as empresas buscam dados confiáveis, atualizados e assinados pelas partes apropriadas.
Daí porque, blockchains privados não precisam de seu próprio token nativo. Ao contrário das redes sem permissão, como Bitcoin e Ethereum, as redes permissionadas não precisam incentivar os criadores de blocos, e não precisam de prova de trabalho como fator determinante para permitir que os participantes registrem transações no ledger compartilhado.
⎯ Blockchains híbridas
Aqui no Brasil, muitos gostam de se posicionar a favor ou contra um tipo de blockchain.
Mas o que se percebe é que cada vez mais um número crescente de usuários (sejam indivíduos, empresas ou governos) têm optado pelas blockchains híbridas – que consistem em uma rede pública e em uma rede privada. Nela, a rede privada gera o registro (hash) de transações que são armazenadas e verificadas na rede pública.
Perspectivas: Blockchain no longo e médio prazo
Quando há um desnível muito grande entre informações que vendedores e compradores detém sobre determinada transação, ela não acontece; ou acontece de maneira negativa, desestimulando que outras transações semelhantes ocorram.
Imagine que depois de adquirir um produto ou serviço, você descobre que pagou um preço muito acima do praticado no mercado. Ou ainda, não obteve informações sobre o serviço contratado e acabou levando “gato por lebre”.
Dificilmente você voltará a comprar na mesma loja ou a contratar o mesmo profissional. Quanto maior o nível de “assimetria das informações” entre compradores e vendedores, menos eficientes são os mercados e mais custos são exigidos para que se realize uma transação.
Para que determinado mercado prospere, as partes precisam confiar nas informações disponíveis para decidir se, como e quando realizarão uma transação. É aqui que a conversa sobre blockchain fica interessante.
Blockchains públicas reduzem a assimetria das informações no mercado, favorecendo que negócios benéficos aconteçam. Como blockchain públicas reduzem custos de uma transação, podem tornar os mercados mais seguros e eficientes, além de expandir os tipos de transações que estamos dispostos a participar.
Blockchains públicas podem aumentar eficiência dos mercados ao reduzir “custos da verificação” e também o “custo da rede”.
Custos de verificação compreendem todos os gastos necessários para verificar de forma barata os atributos de uma transação específica, sem incorrer em custos adicionais ou realizar uma “auditoria extra e cara”.
Custos de rede compreendem todos gastos de mão-de-obra e capital necessários para garantir que transações em uma infraestrutura tradicional aconteçam.
Todo blockchain é importante por reduzir “custos de verificação”. Mas… modelos de negócios apenas baseados em processamento de transações não serão sustentáveis no longo prazo.
Blockchains públicas são realmente revolucionárias e reduzem também os “custos de rede”.
Ao possibilitar a realização de transações entre indivíduos e empresas sem atribuir poder de mercado a um intermediário central, as plataformas digitais construídas em cima de blockchains públicas podem transformar os mercados concentrados em mercados substancialmente mais competitivos. O que também pode reduzir as barreiras à entrada de startups e levar ao surgimento de novos produtos e serviços.
DLTs não potencializam o “custo da rede”, mas são necessárias enquanto blockchains públicas ganham maturidade necessária para possibilitar transações que aliem privacidade e compliance.
No atual estágio de desenvolvimento, soluções privadas são úteis em indústrias altamente reguladas. Como já estamos vendo agora, DLTs substituirão sistemas legados, ajudando na digitalização da sociedade e no “upgrade” do sistema financeiro tradicional.
Contudo, não está claro como será seu papel no médio e longo prazo, com uma Web efetivamente descentralizada, onde a confiança é automatizada, desvinculada de servidores centralizados e mais compatível com o uso de blockchains públicas.
Mas e você? Acha que blockchains privadas serão as redes padrão da Web3, ou podem ter o mesmo destino das Intranets no início dos anos 90? Naquela época, empresas privadas construíram suas próprias redes privadas, porque tinham medo de se conectar à Internet pública.
Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!
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