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Web3: quais os modelos de tokenomics mais utilizados?

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Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • Por que a criação de valor não se confunde com acumulação de valor?
  • Os desafios para o acúmulo de valor de um token. Porque o segredo está no design?
  • Quais são os modelos de tokenomics mais utilizados pelos protocolos de infraestrutura da Web3? Principais percepções do Modelo Burn-and-Mint Equilibrium (BME) e do modelo Stake-for-Access (SFA).
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    A Web3 ainda está no seu início e, por isso, os protocolos que estão construindo sua infraestrutura ainda não chegaram a um consenso sobre como alinhar o uso da rede com o preço do token  – o que é conhecido como ‘tokenomics’. Eis o que abordaremos no artigo de hoje: a jornada entre os principais modelos de captura de valor.

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    Qual é a diferença entre criação e acumulação de valor?

    As criptomoedas foram bem sucedidas na criação de valor.

    No entanto, quando olhamos o ecossistema cripto como um todo, sob a ótica do acúmulo de valor, notamos que ele ainda está sendo descoberto. Há uma lacuna entre a “criação” e a “acumulação” de valor.

    Da mesma forma, todos os protocolos de infraestrutura – aqueles que atendem à camada de middleware da pilha Web3 – ainda estão aprendendo como “acumular” valor. Como a Web3 ainda está em sua infância, não há consenso entre seus protocolos de infraestrutura sobre como alinhar o uso da rede com o preço do token.

    Vamos entender isto mais a fundo.

    Tokenomics e os desafios para o acúmulo de valor pelos protocolos de infra Web3

    Para acumular valor, os protocolos precisam conseguir alinhar o uso da rede com o preço do token. E para isto, é necessário conseguir aumentar o tempo que os usuários permanecem com seus tokens. Como assim?

    O preço do ativo nem sempre está diretamente ligado ao seu fornecimento fixo

    A maioria dos investidores tem como certo que, se o fornecimento de tokens de utilidade for fixo, seu preço aumentará à medida que a demanda pelos serviços do protocolo aumentar. 

    No entanto, essa crença não leva em conta “o problema da velocidade dos ativos” – ou seja, o número de vezes que um ativo muda de proprietário – que é uma entrada importante no “Equation of Exchange”, um modelo criado no século XX pelo economista Irvin Fisher.

    Uma moeda muda de mãos quando as pessoas acreditam na sua perda de valor

    Uma das principais percepções de Fisher – ao criar o modelo da “Equação de Troca” –  foi que uma moeda muda de mãos mais frequentemente quando as pessoas acreditam que ela perderá seu valor. 

    Como nada melhor que um exemplo para compreender algo, perceba como em tempos de hiperinflação, as pessoas correm para o supermercado para evitar a perda de valor da moeda. 

    Quanto mais tempo as pessoas mantiverem um ativo, maior será o seu valor. Qual o papel do tokenomics?

    Pois bem, essa equação tradicional de Fisher foi aplicada pela primeira vez a criptos em 2016, por Chris Burniske, em seu relatório original para a Coinbase e Ark Invest.

    Burniske ajustou essa a equação para o Bitcoin, definindo as variáveis originais, MV = PQ, da seguinte forma:

    • M = tamanho da base do ativo
    • V = velocidade do ativo
    • P = preço do recurso digital que está sendo provisionado
    • Q = quantidade de recursos digitais que estão sendo provisionados

    Ao resolver o tamanho da base  do ativo (M)  – que pode ser dividido pela oferta circulante para descobrir o preço do token  -, Burniske concluiu que a velocidade do “token” (V) é inversamente proporcional ao seu valor. 

    “Quanto mais tempo as pessoas mantiverem o token (V), maior será seu preço (P).” 

    Na ausência de utilidade adicional, os usuários que adquiririam o token para utilizá-lo em algum serviço e, em seguida, o descartariam – o que cria uma pressão de queda no preço.

    Neste contexto, é que entra o “tokenomics” ou “Economia de Tokens”. Para resolver o problema da velocidade e aumentar o tempo que os usuários mantêm seus tokens, os protocolos passaram a experimentar modelos de captura de valor, para aumentar a utilidade do token, os depósitos e os incentivos para manter o token. 

    Pois bem, agora que você já compreendeu como funciona a dinâmica de acúmulo de valor de um token, vamos analisar como se forma o preço e o valor de um token.

    O segredo do valor dos tokens está no seu design 

    O preço do token é impulsionado por dois componentes: um componente especulativo e um componente fundamental – a veja aqui

    Inicialmente, o preço de um token de utilidade é normalmente impulsionado pela especulação. Com o passar do tempo, à medida que os protocolos amadurecem e o uso da rede aumenta, o valor de um token deve passar a ser impulsionado por sua utilidade e demanda.

    1) componente especulativo – impulsiona o preço (criação de valor)

    O componente especulativo de um token é aquele sujeito às forças do mercado, e impulsionado principalmente pelo sentimento e pela percepção. Daí, independentemente da utilidade atual do protocolo cripto e de seus tokens, se a demanda no mercado secundário superar a oferta, o preço de mercado de um token aumentará. 

    As escolhas da arquitetura do token não desempenham um papel direto aqui, mas podem ter um impacto significativo no preço do token. 

    A chave para gerenciar o componente especulativo do preço do token é garantir alta liquidez, usando Market Makers (criadores de mercado) em CEX e pools de profunda liquidez em DEX.

    2) componente fundamental – impulsiona o valor (acúmulo de valor)

    O componente fundamental de um token é impulsionado pela demanda por serviços de determinado protocolo e pelos seus mecanismos de captura de valor. 

    Nessa linha, o valor pode ser acumulado por meio de vários mecanismos – como governança, staking e compartilhamento de lucros –, que resumidamente funcionam da seguinte forma:

    Mecanismos de governança

    • Governança onchain: dá aos detentores de tokens o poder de moldar o protocolo.
    • Delegação de votos: permite que os detentores de tokens deleguem seus direitos de voto a outro participante.
    • Governança contínua: incentiva os detentores de tokens a manterem seus tokens de governança em jogo para maximizar o poder de voto.

    Staking

    • Proof-of-Stake (PoS): mecanismo de consenso que exige que os validadores apostem tokens para terem a oportunidade de criar um novo bloco e serem recompensados.
    • Modelo Stake-for-Access (SFA): exige que os participantes aportem tokens para participar como provedor de serviços da rede.
    • Mecanismo de Reputação: incentiva detentores de tokens a apostar seus tokens para fornecer uma fonte de verdade ao protocolo.

    Mecanismos de Compartilhamento de lucros 

    • Modelo Burn-and-Mint Equilibrium (BME): exige que os usuários ‘queimem’ o token nativo para acessar os serviços do protocolo.
    • Modelo de distribuição direta de receita: o protocolo distribui uma parte da receita gerada para os detentores de tokens “staked”.
    • Modelo de tesouraria/doação: uma parte da receita gerada é alocada para a tesouraria de um protocolo, onde pode ser distribuída para várias finalidades.

    Tais mecanismos ajudam um token a acumular valor. Eles reduzem a velocidade (aumentando o tempo gasto para manter um token) por meio do bloqueio de tokens e do incentivo aos usuários para que permaneçam com o token, em troca de recompensas ou direitos de voto de protocolo. 

    Além disso, a queima e o “sink” de tokens reduzem a oferta total de tokens, levando a um número menor de tokens que buscam o mesmo valor. 

    Também, o valor do token é afetado por várias outras considerações de design, como, por exemplo, se o fornecimento de tokens do protocolo é fixo, inflacionário ou deflacionário.

    Para que o token de um protocolo capture valor, é essencial que o tokenomics – modelo de captura de valor  – seja bem projetado. 

    E como  dito no início deste artigo, os protocolos de infra Web3 estão no início e, por isso, ainda não há consenso sobre o padrão ideal de tokenomics

    Modelos mais utilizados pelos protocolos de infraestrutura da Web3 para capturar valor 

    Os principais modelos de tokenomics usados por protocolos de infraestrutura da Web3  como Helium, Render, Akash, Arwave, Livepeer, Chainlink, the Graph são:

    • modelo Burn-and-Mint Equilibrium (BME)
    • modelo Stake-for-Access (SFA)

    —  O modelo BME (Burn-and-Mint Equilibrium model)

    No mundo cripto, a palavra “burn” (queimar) significa eliminar ativos – moedas ou tokens. Para isso, é necessário enviá-los para um ‘eater address’ (endereço de eliminação). Ninguém tem acesso a esse endereço, já ninguém possui suas chaves privadas.

    Sempre que os ativos são “queimados”, eles não se transformam literalmente em fumaça. Eles são simplesmente colocados em quarentena, para nunca mais serem acessados por ninguém. Como toda transação realizada na blockchain é pública, esses tokens são efetivamente retiradas do suprimento total, e isso pode ser verificado por qualquer pessoa a qualquer momento.

    Você deve estar se questionando: Por que alguém queimaria criptomoedas? Bom, há duas situações em que isto pode ser uma coisa boa:

    • incentivar todos os participantes da rede/plataforma a trabalhar em benefício do sistema;
    • obter consenso em uma rede distribuída de forma mais eficaz;

    Como se dá isso na prática? Imagine que você vai a uma loja para comprar um celular, mas, em vez de entregar o dinheiro ao vendedor, você destrói  – queima – a quantia acordada como prova pública de que recebeu o celular [Fig.1].

    Porém, ao queimar seu dinheiro, você sabe que ocorre a produção de uma nova quantia de dinheiro, cunhada de tempos em tempos [Fig.2]. Essa nova quantia é distribuída de forma transparente e justa a todos os responsáveis pela produção, distribuição, vendas e todas as outras operações [Fig.3] que contribuíram para que seu celular estivesse disponível para sua compra.

    É exatamente isso que acontece no mundo cripto, pois as funções de “mint” – mintagem” criam periodicamente uma série de ativos. O número de tokens criados pode variar e não está relacionado a funções de queima de forma alguma. 

    Os ativos recém-criados são distribuídos a todos que participaram da entrega da experiência do cliente – e este é o motivo para queima de ativos.

    Se os ativos cunhados forem mais numerosos do que os queimados, seu fornecimento total aumentará, resultando na queda de seu preço. 

    De outro lado, se mais ativos queimados foram mais numerosos que mintados, a demanda crescerá, pois a oferta de ativos cairá. Seguindo o mesmo princípio, o preço do ativo aumentará [Fig.4].

    O modelo BME usa um sistema de dois tokens:

    1. Um token negociável de busca de valor
    2. Um token de pagamento não comercializável, chamado de crédito

    Para acessar o serviço ou produto de um protocolo usando um modelo BME, o usuário final deve queimar o token negociável do protocolo para receber o token de pagamento (crédito) necessário para o pagamento. Os créditos de token funcionam de forma semelhante aos créditos de um celular pré-pagos.

    O sistema de token duplo permite que os serviços do protocolo tenham preço fixo e sejam denominados em dólares americanos ou em um ativo/moeda alternativo menos volátil. Em vez de precificar os serviços no token negociável de busca de valor – cujo preço flutua – , os protocolos definem um preço fixo para os créditos em dólares americanos.

    O primeiro protocolo a implementar esse mecanismo foi a Helium Network, em novembro de 2020. Desde então, o mecanismo se tornou padrão em protocolos que usam o modelo BME com um suprimento limitado, como Render, Akashi e Arwave [Fig.5].

    Agora que você já sabe como funciona o modelo BME, vamos avançar e entender o modelo SFA, utilizado por protocolos de infraestrutura Web3 como Filecoin, Livepeer, Chainlink, the Graph e Pocket.

    —  O modelo SFA (Stake-for-Access model)

    O modelo SFA, também conhecido como “work token model” – modelo de token de trabalho – , exige que os provedores de serviços façam stake (apliquem) o token nativo para realizar trabalho para a rede. 

    Os tokens em staking também podem atuar como garantia, que penaliza participantes mal-intencionados.

    Usando o protocolo The Graph como exemplo, ele exige que os participantes do lado da oferta (indexadores e curadores) façam staking do token nativo (GRT) para poder fornecer serviços de indexação e processamento de consultas para a rede. Quanto mais GRT houver em stake, mais recompensas o provedor de serviços poderá ganhar.
    Muitas vezes, a quantidade de staked tokens é proporcional à quantidade de trabalho que os provedores de serviços podem realizar. 

    Tal relação cria uma dinâmica em que os prestadores de serviços obtêm renda (no token nativo) com base na quantidade de tokens que eles “apostaram”. Portanto, no modelo SFA, o preço do token deve aumentar com o uso da rede. 

    À medida que a demanda pelo serviço aumenta, mais receita fluirá para os provedores de serviços. Diante de uma oferta fixa de tokens, os provedores de serviços pagarão racionalmente mais por token pelo direito de ganhar parte de um fluxo de caixa crescente.

    Perspectivas

    Tanto o modelo SFA quanto o modelo BME abordam o problema da velocidade e criam uma relação entre o uso da rede e o preço do token. 

    Apesar de utilizarem caminhos diferentes, ambos os modelos de token alinham os incentivos de todos os participantes. Alem disso, eles motivam a comunidade a participar e utilizar as redes.

    Embora alguns apontem que o modelo SFA captura muito mais valor que o modelo BME, não é possível aplicar o SFA a todos os protocolos. 

    O SFA só funciona para protocolos que fornecem serviços de commodity não diferenciados. Para protocolos em que os provedores de serviços não estão oferecendo uma commodity pura, o modelo BME funciona melhor. Como assim?

    O modelo BME permite que os protocolos operem de forma semelhante às empresas. Com ele, o protocolo pode definir suas próprias variáveis e preços e, ao mesmo tempo, competir em aspectos como desenvolvimento de negócios e parcerias.

    Mas como estamos no início da Web3, à medida que o tempo avança e ocorrem novos experimentos, é provável o surgimento de novas variações e até mesmo, de novos modelos. 

    O que é preciso saber, por enquanto, é como um protocolo de infra Web3 captura valor. E porque um design de tokenomics bem projetado é essencial nesse processo. 

    Mas e você, entendeu a diferença entre os modelos SFA e BME? Acha que o componente de especulação do preço de um token pode desaparecer completamente com o tempo? 

    Compreendeu por que equipes de design do tokenomics devem focar no “acúmulo” de valor  –  e não só no preço dos tokens? 

    Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!

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    Tatiana Revoredo
    Tatiana Revoredo é membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. LinkedIn Top Voice em Inovação e Tecnologia. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Especialista em Blockchain Business Applications pelo MIT. Especialista em Artificial Intelligence & Business Strategy pelo MIT Sloan & MIT CSAIL. Especialista em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Convidada pelo Parlamento Europeu para a “The Intercontinental Blockchain Conference”....
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