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Vítimas de pirâmides financeiras tendem a investir novamente em esquemas ponzi, segundo CVM​ e FGV

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Atualizado por Thiago Barboza

O novo estudo divulgado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre comportamento dos investidores mostra que vítimas de pirâmides, tendem a cometer o mesmo erro, mais de uma vez.

A pesquisa começou a ser feita no início de 2022 – há exatos dois anos – para saber como investidores tomam a decisão de aplicar recursos em esquemas fraudulentos, como por exemplo, o da Atlas Quantum.

Muitas vezes fraudadores usam táticas como contratar famosos para convencer vítimas com pouco ou nenhum conhecimento, de que o negócio é lícito. E costuma funcionar.

Para se ter uma ideia, os prejuízos estimados aos bolsos dos brasileiros com golpes de pirâmides financeiras ultrapassaram os R$ 100 bilhões em 2023. O dado foi revelado com exclusividade pelo presidente da CPI das Pirâmides Financeiras, ao BeInCrypto pelo deputado federal, Aureo Ribeiro (Solidariedade-PJ).

Os dados também podem fornecer suporte a órgãos reguladores nacionais e internacionais como estratégia de combate a esquemas de pirâmide e, com isso, evitar sua proliferação, explica o documento da CVM.

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Além da parceria entre CVM e FGV, o levantamento contou com a colaboração e supervisão da Gerência de Educação e Inclusão Financeira (GEIF) da Superintendência de Orientação a Investidores (SOI) do regulador brasileiro e do Núcleo de Prática Jurídica da FGV Direito Rio.

“Este estudo traz dados importantes sobre o comportamento do investidor, que irão auxiliar a CVM no desenvolvimento de estratégias e ações com foco em educação financeira e na proteção ao investidor”, detalha o gerente de Educação e Inclusão Financeira da CVM, Paulo Portinho.

O experimento fez 15 perguntas e consumiu em média 12:46 minutos (mediana: 06:49 minutos) dos respondentes. No total foram obtidas 1.377 respostas válidas, segundo a CVM.

A idade média dos participantes é 43 anos. Já a renda familiar dos entrevistados está acima de 16 salários-mínimos e a maioria informou possuir nível superior completo.

Hipóteses e resultados

A análise examinou 12 hipóteses associadas à inclinação para investir ou atrair novos investidores, fundamentadas nos padrões comportamentais de pessoas, como:

  • – Indivíduos são mais propensos a investir em produtos apresentados como de baixo risco que de alto risco.   
  • – Indivíduos convidam mais investidores para investimentos apresentados como de baixo risco que de alto risco. 
  • – Indivíduos que já foram vítimas ou conhecem alguma vítima de pirâmides financeiras são menos propensos a investir em esquemas irregulares que indivíduos que não foram vítimas e não conhecem quem já foi vítima de pirâmides financeiras. 

Apesar de uma das hipóteses definida pelo grupo de trabalho CVM/FGV, de que indivíduos que já foram vítimas ou conhecem alguma vítima de pirâmides financeiras são menos propensos a investir em esquemas irregulares, o resultado foi exatamente o oposto

“Segundo os pesquisadores da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EBAPE), Matheus Moura e Ricardo Lopes Cardoso, uma possível explicação para essa inclinação se trata de uma determinada predisposição das vítimas em investir em esquemas de alto risco. Outro ponto revelado pela pesquisa é que essas mesmas vítimas também demonstraram maior inclinação a convidar novos investidores a participarem destes esquemas fraudulentos, percebidos como de alto risco.”

Outro ponto revelado pela pesquisa é que essas mesmas vítimas também demonstraram maior inclinação a convidar novos investidores a participarem destes esquemas fraudulentos e de alto risco.  

Vale ressaltar que entre os principais resultados encontrados, destaca-se que o risco é apenas responsável por uma mudança no comportamento das manipulações de investimento regular, mas não é responsável pela mudança no comportamento de investimentos irregulares.   

Para o inspetor, da Gerência de Educação e Inclusão Financeira da CVM, Philip Silberman a propensão a aceitar esquemas fraudulentos também pode estar relacionada à falta de conhecimento do funcionamento do mercado financeiro, bem como de parâmetros econômicos básicos. 

“Este desconhecimento torna o investidor propenso a acreditar em retornos irreais uma vez que lhe faltam ferramentas de comparação que ajudem seu julgamento. A solução de tal situação apenas pode ser atingida com a educação financeira maciça da população”, destaca Silberman. 

Apesar do argumento usado por Silberman, a maioria dos entrevistados tem altos níveis de escolaridade, bons empregos e salários, o que teoricamente seriam fatores relevantes, já que esses consumidores têm acesso a informações de qualidade, por exemplo.

Participação da sociedade 

A participação de investidores foi fundamental para a realização do estudo.

Entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, a CVM convidou cidadãos cadastrados em sua base de Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) para participarem do experimento.

“Foram apresentados investimentos fictícios e os participantes responderam sobre a propensão a investir na oportunidade apresentada, bem como a quantidade de novos investidores que estariam dispostos a trazer para investimento”, explica Portinho.  

Dois dos investimentos apresentados possuíam algumas características de pirâmides financeiras com o objetivo de observar se os participantes alocados nessa manipulação teriam comportamento diferente daqueles direcionados a investimento sem essa característica. 

Consulta teve dois objetivos

O primeiro foi observar o impacto de aspectos psicológicos de investidores na propensão a investir em pirâmides.

Já o segundo observou o impacto da percepção de risco dos participantes acerca das oportunidades de investimento na propensão a investir em pirâmides.

“Por um lado, os traços psicológicos dos participantes foram identificados a partir da aplicação de instrumento psicométrico conhecido como “escala Big-5”. Por outro, indícios quanto ao risco da oportunidade de investimento foram manipulados por meio de abordagem experimental”, detalha o relatório da CVM/FGV.

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Aline Fernandes
Apaixonada pelo que faz, Aline Fernandes é uma profissional que atua há 20 anos como jornalista. Especializada nas editorias de economia, agronegócio e internacional trabalha na BeINCrypto como editora do site brasileiro. Já passou por quase todas as redações e emissoras do país, incluindo canais setorizados como Globo News, Bloomberg News, Canal Rural, Canal do Boi, SBT, Record e Rádio Estadão/ESPM. Atuou também como correspondente internacional em Nova York e foi setorista de economia...
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