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Jetsons, Web3 e o futuro dos dados pessoais

7 mins
Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • Dos filmes de ficção científica ao Dataverso. Repensando a privacidade de dados pessoais.
  • Qual o tamanho e como funciona a economia de dados? Por que precisamos repensar a privacidade de nossos dados pessoais?
  • A Web 3 pode possibilitar uma nova Economia de Dados?
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A ideia de entregar nossos dados pessoais e acesso aos nossos hábitos de navegação na internet para poder acessar serviços on-line é algo tão comum, que já nem questionamos mais. 

Mas a possibilidade de uma Web construída sob um conjunto de tecnologias descentralizadas, conhecida também por Web3, pode nos levar a um novo paradigma: o retorno dos dados pessoais a seu verdadeiro dono, as pessoas.

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Imagine se tivéssemos a propriedade de nossos dados pessoais e pudéssemos determinar quem os acessa e como são utilizados. Porque precisamos repensar a privacidade na atual economia global de dados que funciona de maneira centralizada na Web2

É o que veremos no artigo de hoje.

Dos filmes de ficção científica ao “Data Verso”

Muitas ideias que surgiram nos livros, filmes e desenhos de ficção científica a cinquenta anos atrás nos ajudaram a moldar a realidade em que vivemos hoje. 

E para ilustrar do que estamos falando, vamos tomar como exemplo o desenho “the Jetsons”, cuja estreia na TV americana ocorreu em 1962, e contava as aventuras de uma família que vivia 100 anos à frente no futuro, no ano de 2062.

Esse desenho era cheio de tecnologias futuristas em plena década de sessenta. Mas você sabia que apesar de ainda não estarmos em 2062, várias dessas tecnologias já existem hoje?

Claro que trazer uma ideia da ficção à realidade não é fácil. A maioria das tecnologias de núcleo leva em média de 30 a 50 anos para se tornarem realidade e mostrarem todo seu potencial. 

Pois bem, assim como a “idéia inicial” das videochamadas e muito do que vivemos hoje surgiram no desenho dos Jetsons, outros filmes e livros de ficção científica podem nos mostrar o que pode vir a ser o futuro dos dados.

Estou falando aqui do conceito de “Dataverso”, um espaço onde dados são abertos, mais acessíveis e compartilhados livremente, mas sem violar a privacidade das pessoas. 

Imagine uma plataforma que nos possibilitasse transacionar nossos dados, e ainda nos remunerar por isso? Esta é a regra nos filmes e livros de ficção científica, apesar de ainda não existir no mundo real atual.

No livro “Snow Crash“, de Neal Stephenson, o protagonista Hiro é um  trabalhador da Gig Economy que coleta “inteligência digital” e a posta em um massivo mercado de dados, similar ao que o Ocean Protocol está construindo hoje.

Os usuários desse mercado de dados podem então acessar esta biblioteca para buscar as informações que quiserem, desde que paguem aos proprietários dos dados pelo seu uso.

Apesar de hoje existir a Wikipedia, ela claramente está muito aquém de uma biblioteca de dados e de inteligência coletiva realmente estruturada, em tempo real. 

Pois bem, se um mercado de dados é a regra na cultura da ficção científica, conseguiremos alcançar este paradigma daqui a alguns anos? O que é necessário para isto? 

A resposta a esta pergunta não é simples. 

Qual é o tamanho e como funciona a atual economia de dados? 

Quantificar a atual economia global de dados é uma tarefa hercúlea, porque é preciso quantificar o valor gerado pela “geração, coleta, armazenamento, processamento, distribuição, análise, elaboração, entrega e exploração” de dados viabilizados pelas tecnologias digitais. 

Tendo isto em conta, o Statista estima que o valor da economia de dados no Reino Unido e na União Europeia em 2020 foi de cerca de 440 bilhões de dólares, e a projeção de crescimento poderá chegar até US $1 trilhão nos próximos três anos. Veja o gráfico do Statista aqui.

No atual modelo Web2, toda empresa acaba sendo uma empresa de dados que, com acesso a registros de e-mails, e outras informações – como detalhes sobre aluguel de carros, idas a restaurantes, hospedagem em hotéis, gosto musical e filmes prediletos, e gastos no cartão de crédito dos cidadãos comuns -, os utilizam para obter lucros. 

Isto é, nossos dados comportamentais acabam compondo o que Shoshana Zuboff chama de “Era do Capitalismo de Vigilância” –  um mercado de previsão do comportamento humano, onde empresas usam o que sabem dos dados do cidadão comum para influenciar nosso comportamento. 

Quantas vezes você fez uma busca na internet sobre algum produto, e depois passou a receber em seu celular, ou até em seu email, propagandas e publicidade sobre este mesmo produto?

No atual estágio da Web2, cuja arquitetura é centralizada, aplicativos capturam nossas informações e dados pessoais de modo ilimitado, muitas vezes sem nosso conhecimento e consentimento, possibilitando que empresas e governos usem tais informações para influenciar nosso comportamento futuro.

E o que soa irrazoável aqui é o fato das pessoas não terem dado seu consentimento para a coleta dessa enorme quantidade de dados, a verdadeira razão para o surgimento de leis de proteção de dados, e a idéia de que precisamos de uma conectividade descentralizada, ponto-a-ponto, sem os intermediários coletores de dados, o que é conhecida como o próximo estágio da internet: a Web3.

Para a maioria das pessoas, a ideia de privacidade de dados pode parecer um pouco ridícula. Seja por falta de tempo, seja por falta de paciência, acabamos clicando avidamente nos termos e condições ou em banners de cookies para acessarmos logo o que precisamos. 

Acontece que, quando inserimos nossos dados em um formulário on-line, não temos noção de como nossos dados serão utilizados… 

Por que precisamos repensar a privacidade de dados pessoais?

Alguns escândalos – como o caso da empresa de análise de dados Cambrigde Analytica, que influenciou o resultado da votação do Brexit e das eleições em vários países – escancararam o lado sombrio do uso indevido de nossos dados pelas redes sociais e nos mostraram que a idéia de uma Web descentralizada não é um capricho, e sim uma necessidade. 

A Web3, que ainda está dando seus primeiros passos, nos traz uma forma diferente de tratar os dados entre as partes, uma forma que poderia efetivamente enfrentar os desafios do atual modelo Web2. 

As aplicações Web3 baseadas em blockchains públicos, mais resistentes à fraude e censura, podem ajudar a aumentar os níveis de privacidade, proteção de dados e realmente devolver a propriedade dos dados aos indivíduos.

As capacidades peer-to-peer das aplicações blockchain e outras tecnologias descentralizadas da Web3 podem realmente significar uma mudança fundamental na atual economia de dados atual estruturada na Web2. 

Um ecossistema em expansão

Hoje, já é possível enxergar no mundo real algum impacto da evolução de tecnologias como blockchain na privacidade. 

Nos mundos virtuais que formarão o Metaverso num futuro não muito distante, é possível conectar sua carteira (wallet) e comprar produtos digitais na forma de NFTs, sem precisar passar por um processo de inscrição. 

Também, marketplaces descentralizados – que permitirão aos usuários comercializar toda uma gama de bens digitais e físicos – já estão em construção, enquanto desenvolvimentos como a “prova de conhecimento zero” (Zero Knowledge Proof) proporcionam maior privacidade a transações, ao mesmo tempo em que permitem uma camada adicional de verificação. 

Uma “prova de conhecimento zero” pode viabilizar, por exemplo, que um fornecedor verifique se alguém tem mais de 18 anos, mas sem que o comprador precise entregar uma cópia de seus documentos de identidade para ser retida pelo vendedor. 

Um longo caminho pela frente

De acordo com o relatório da Wu Blockchain, os fundos de risco despejaram US $3,67 bilhões em startups da web3 em junho e US $4,45 bilhões em maio, indicando um futuro brilhante pela frente.

No entanto, embora a Web3 ofereça a oportunidade de transformar e racionalizar o modelo de dados Web2, e seja um dos tópicos em tecnologia mais quentes do momento, produtos e serviços do mundo real baseados em tecnologias Web3 estão engatinhando e levarão pelo menos uns 10 anos para alcançarem o estágio ideal de desenvolvimento.

No cenário atual, os usuários precisam se educar para manter suas chaves privadas seguras. Caso contrário, qualquer coisa de valor armazenado nas carteiras digitais – aqui incluído criptomoedas, NFTs ou dados pessoais – podem ser hackeados

Mesmo que um usuário consiga manter sua wallet segura, ainda há o risco de que as aplicações subjacentes possam ser invadidas ou que o projeto em si seja um “rug pull“, onde os fundadores despejam tokens no mercado e desaparecem. 

A experiência do usuário é outra questão. O Ethereum continua sendo a mais popular plataforma de blockchain pública, mas as taxas para executar uma transação são altas, o que não a torna adequada para transações de baixo valor.

Aqui, é importante destacar, contudo, que muitas destas questões são problemas iniciais enfrentados por qualquer nova tecnologia, e não devem diminuir o fato da Web3 representar a primeira oportunidade real de resolver o modelo de dados da Web2. 

A Web3 pode realmente possibilitar uma nova economia de dados?

Os opositores a uma Web descentralizada, à tecnologia blockchain e às criptomoedas não são poucos. 

Mas será que vale a pena menosprezar todo o potencial benéfico que a Web 3 e seu conjunto de tecnologias descentralizadas podem trazer não só à proteção de dados, mas à sociedade como um todo? 

Sem dúvidas, muitas críticas têm fundamento e, desde que construtivas, devem ser consideradas. 

É preciso levar em conta, contudo, que muitos críticos são players tradicionais que, ao invés de estarem interessados em “proteger” os consumidores e interesses sociais, na verdade estão interessados apenas em manter o “status quo” e seu poder atual.

E você, já assistiu a algum desenho dos Jetsons? 

Concorda que muito do que é realidade hoje teve origem no imaginário de obra de ficção científica? Ou acha que esse papo de descentralização, Web3 e ser dono dos próprios dados é papo furado? 

Já ouviu falar no Ocean Market, um marketplace de dados no espírito da Web3 cujo protocolo interoperável já está implementado nas redes blockchains EthereumPolygon, Polkadot, Binance Smart Chain (BSC), Moonriver, e Energy Web Chain?  

Ainda será preciso percorrer um longo caminho até que uma Web verdadeiramente descentralizada nos possibilite uma nova Era, com uma nova economia de dados. 

Mas eu não duvido que seja possível chegarmos lá. Afinal, o que é imaginação ou realidade? 

Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!

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Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. LinkedIn Top Voice em Inovação e Tecnologia. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Especialista em Blockchain Business Applications pelo MIT. Especialista em Artificial Intelligence & Business Strategy pelo MIT Sloan & MIT CSAIL. Especialista em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Convidada pelo Parlamento Europeu para a “The Intercontinental Blockchain Conference”....
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