As finanças descentralizadas (DeFi) cresceram em popularidade e se tornaram um mercado de bilhões de dólares que está dando aos usuários os mesmos produtos financeiros que nas finanças tradicionais (TradiFi), além de gerar oportunidades adicionais.
No entanto, a falta de compliance regulatório em DeFi tem levado alguns a defender CeDeFi.
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CeDeFi significa “centralização de DeFi”. Mas isto não soa estranho, e contrário aos objetivos da Web3?
É isto que vamos explorar no artigo de hoje. Um mergulho no que vem a ser Centralized DeFi ou Centralized Decentralized Finance, seus prós e contras, suas diferenças com CeFi e DeFi, e o que isto tem a ver com o futuro das finanças.
De onde surgiu a ideia de CeDeFi?
DeFi conquistou a atenção do mercado financeiro, quando em 2021 deu um salto de US $18,65 bilhões em janeiro de 2021 para US $232,86 bilhões registrados no dia 17 de dezembro do mesmo ano.
E apesar do valor total bloqueado (VTL) atual ter caído para os atuais US$42,16 bilhões, como consequência do inverno cripto, não se pode desconsiderar que os protocolos financeiros descentralizados iniciaram uma revolução financeira em várias frentes, como empréstimos, derivativos, seguros, stablecoins e DEXs (exchanges descentralizadas).
No entanto, apesar da estrutura naturalmente descentralizada da DeFi contrastar com seus equivalentes centralizados, as instituições financeiras tradicionais têm procurado encontrar uma forma de participar do ecossistema de DeFi em desenvolvimento.
E é por isso que “CeDeFi”, ou finanças centralizadas e descentralizadas, surgiu, como uma solução para este problema.
Um sistema financeiro que funde as características e benefícios de CeFi e DeFi
A idéia em CeDeFi, é oferecer os mesmos produtos das Finanças Descentralizadas como yield farming, empréstimos, tomada de empréstimo, staking de liquidez e troca de tokens disponíveis nos protocolos DeFi, só que zelando pelo cumprimento da regulamentação e pela observância da legislação em vigor, o que é chamado de “conformidade regulatória”.
Assim, o intuito em CeDeFi é aproximar o ecossistema cripto da regulamentação, cumprindo as legislações que ajudam as agências de aplicação da lei a identificar potenciais atos ilícitos e os maus atores de uma forma mais direta.
Outra característica de CeDeFi é aliar as estruturas de governança similares e conhecidas do setor financeiro tradicional (TradiFi), à eficiência das finanças descentralizadas (DeFi), reduzindo assim os custos.
O que CZ tem a ver com CeDeFi?
Foi o CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao quem inventou a sigla CeDeFi quando a empresa estreou seu Binance Smart Chain em setembro de 2020.
A Binance, a maior exchange centralizada de criptomoedas, em termos de volume diário de negociações, lançou sua própria blockchain em 2017 com o objetivo de criar uma rede blockchain com alto rendimento e capaz de processar muitas transações por segundo. Essa blockchain foi denominada Binance Chain (mais tarde rebatizada BNB Beacon Chain).
A rede utilizava o algoritmo de consenso “Tendermint”, que ao invés de , em vez de múltiplas aplicações, focava em um aplicativo primário: o Binance DEX, uma exchange de código aberto, não-custodial e descentralizada
Contudo, como DeFi estava avançando no Ethereum, e o Binance DEX não tinha muita tração, CZ percebeu que precisava de uma blockchain que suportasse contratos inteligentes e permitisse que desenvolvedores construíssem Dapps (aplicações descentralizadas) para que a rede pudesse fazer frente ao Ethereum.
Por este motivo, Binance fez um fork do cliente Go-Ethereum (Geth), criando a Binance Smart Chain em setembro de 2020 (rebatizado posteriormente de BNB Smart Chain). A nova blockchain rodava paralelamente à BNB Beacon Chain, suportava contratos inteligentes, e tinha mecanismo de consenso, tempo de bloco e limite de gás por bloco diferente da blockchain Ethereum.
Na estreia da rede BNB Smart Chain em setembro de 2020, CZ mencionou pela primeira vez a sigla CeDeFi e explicou que a BSC visava preencher a lacuna entre finanças centralizadas e descentralizadas, lançando um fundo inicial de US $ 100 milhões de dólares para incentivar a colaboração entre CeFi e DeFi.
Dessa forma, os usuários podem apostar no BNB, o token nativo da Binance, e ganhar tokens de outras iniciativas financeiras em perspectiva, o que permitiu aos usuários colher alguns benefícios de estar expostos à DeFi, sem lidar diretamente com os protocolos.
Como isto é possível?
A BNB Smart Chain priorizou a escalabilidade para obter um alto rendimento das transações, em detrimento da descentralização. E passou a adotar o modelo de consenso Proof-of-Staked-Authority (PoSA), que impõe certas restrições para que alguém participe da rede como validador (apenas os 21 principais validadores ativos classificados pelo número de BNB que eles apostaram se revezem para confirmar blocos).
Logo, como o número de validadores no PoSA é limitado, o BNB Smart Chain é uma blockchain “mais centralizada”, ela permite maior “controle” e, consequentemente, a conformidade regulatória, que é a idéia de CeDeFi.
Desde então, outras redes e projetos têm criado iniciativas para manter o melhor da DeFi, mas ainda permitir o acesso de partes centralizadas.
Contudo, há quem questione se o motivo por trás do BNB Smart Chain é realmente este.
CeFi Vs DeFi vs CeDeFi
As “finanças centralizadas” (CeFi) é como o mercado resolveu chamar as plataformas que oferecem produtos e serviços cripto, mas mantêm uma estrutura de governança financeira tradicional. As entidades por trás de tais plataformas tomam decisões a portas fechadas sem envolver seus clientes, e os usuários também têm que seguir as regras impostas nas plataformas CeFi.
Já as “finanças descentralizadas”, ou simplesmente “DeFi”, é um sistema financeiro que procura remover o controle que as plataformas CeFi e intermediários têm sobre os usuários cripto. E por isso, DeFi dá aos usuários a liberdade de controlar suas próprias wallets e os ativos digitais que possuem.
Nessa linha, os protocolos DeFi são “totalmente” executados via código de software, o que implica na desnecessidade de conformidade regulamentar. Isto é, os usuários não precisam preencher os requisitos da KYC, AML e CFT, e tudo que eles têm que fazer é conectar uma carteira para usar um protocolo DeFi sem fornecer informações pessoalmente identificáveis.
O acesso dos usuários aos produtos financeiros se dá através de contratos inteligentes.
De outro lado, CeDeFi seria a combinação ideal entre finanças centralizadas e descentralizadas, combinando as melhores características de cada uma. Como já mencionamos, a ideia aqui é que as empresas possam usar a CeDeFi para experimentar produtos financeiros novos e modernos e, ao mesmo tempo, aderir às regras regulatórias financeiras tradicionais.
Quais seriam as vantagens de CeDeFi?
Os defensores de CeDeFi apontam que com diretrizes regulatórias claras, os produtos de DeFi passariam a ser aceitáveis para a implantação em empresas, e que as instituições financeiras tradicionais centralizadas abraçariam aplicações DeFi maduras, que seriam então integradas com os serviços híbridos CeDeFi.
Deste modo, os emergentes problemas regulatórios e de conformidade em torno dos criptoativos poderiam ser abordados via CeDeFi, que estabeleceria um caminho para a custódia institucional dos protocolos de DeFi, combinando aspectos financeiros centralizados e descentralizados.
Além disso, seu uso possibilitaria que security tokens ‘regulados’ fossem utilizados em atividades como emissão de títulos e liquidação de DeFi, integrando muitas vantagens dos criptoativos, seja movendo ou armazenando valor.
Como resultado, as finanças descentralizadas podem combinar salvaguardas regulamentares tradicionais com produtos e infraestrutura financeira de ponta.
Nesse passo, podemos resumir as vantagens de CeDeFi no seguinte:
1 – Conformidade regulamentar
As plataformas CeDeFi geralmente seguem os regulamentos KYC, AML, e CFT.
2 – Não há intermediários
Os usuários interagem com contratos inteligentes ao invés de intermediários.
3 – Custos mais baixos (vantagem controversa)
Os custos de envolver os intermediários são removidos, reduzindo assim os custos gerais. Mas a centralização não exigiria novamente uma infraestrutura de risco que é cara e morosa?
4 – Adoção cripto institucional
A CeDeFi pode promover a adoção do criptograma institucional devido à inclusão da conformidade regulamentar.
5 – Melhoria do controle de ativos (dependendo do ângulo que se observe)
Alguns modelos CeDeFi permitem que os usuários tenham mais controle sobre seus ativos digitais do que os usuários CeFi porque suas carteiras são não-custodiais.
6 – Velocidades de transação mais rápidas (vantagem controversa)
É provável que as plataformas CeDeFi escolham a escalabilidade em vez da descentralização. Isso significa que elas oferecerão transações mais rápidas por segundo. Mas isso não comprometeria o propósito dos blockchains?
As desvantagens de CeDeFi
A centralização de CeDeFi pode aumentar o risco de ataques cibernéticos, eis que redes blockchains altamente descentralizadas (que ainda estão sendo desenvolvidas devido ao estágio tecnológico atual) são mais seguras do que suas contrapartes centralizadas. Haja vista que a própria BNB Smart Chain sofreu um ataque em outubro, onde milhões de dólares foram roubados. Isso sem falar nos vários projetos construídos sobre o BNB Smart Chain que foram atacados em 2021.
Mas a principal desvantagem de CeDeFi está no fato da “Centralização” de DeFi ir na direção contrária do propósito das blockchains e do movimento da Web3.
É bom lembrar que Um dos aspectos mais importantes da tecnologia blockchain é que ela foi concebida para ser descentralizada e distribuída. Isto é, ela foi criada para que mecanismos de consenso substituam um entre centralizado (validador tradicional de confiança).
No mesmo sentido, é o movimento da Web 3 cujo principal foco de inovação está na desintermediação (descentralização), através da comunicação instantânea via redes descentralizadas e da automação do gerenciamento de ativos e na execução de obrigações.
Pensamentos finais
Mas voltando a pergunta inicial deste artigo: o futuro será CeDeFi?
O surgimento de CeDeFi empolgou muitos ainda não familiarizados ou descrentes com a real razão por trás do surgimento do bitcoin, blockchain e do movimento Web3.
Contudo, não se pode ignorar a perspectiva de uma economia global descentralizada operando em tempo real utilizando tecnologia quântica, Inteligência Artificial e aprendizagem de máquina, juntamente com a tecnologia blockchain.
Se ampliarmos nossa visão para além do conflito entre as plataformas atuais e a regulação existente, podemos perceber que paralelamente a este conflito, outras possibilidades estão sendo construídas, como o desenvolvimento da “Lex Cryptographia”- normas e regulação administradas através de contratos inteligentes autoexecutáveis e organizações autônomas descentralizadas (DAOs) aplicadas a DeFi e demais aplicações descentralizadas.
Portanto, não se pode perder de vista que no futuro, os sistemas baseados em código poderão ser o caminho mais apropriado para promulgar leis de forma eficaz neste novo ambiente.
Por fim, especificamente quanto à ideia de CeDeFi, muitos observadores da indústria veem a entrada da Binance no campo de DeFi como um movimento agressivo com o objetivo de sufocar o Ethereum. Mas não parece que CeDeFi esteja competindo com outros projetos DeFi e blockchain no setor financeiro.
Talvez, só um exame minucioso dos projetos de CeDeFi ao longo do tempo, poderá nos ajudar a compreender o real motivo disso tudo.
E você, concorda que o futuro é CeDeFi? Ou acredita que a centralização de DeFi é apenas um estágio necessário no desenvolvimento da economia global descentralizada e do movimento Web3?
Qual será o principal motivo para CZ defender CeDeFi? Você acredita que a Centralização de DeFi é o futuro, apesar disto comprometer o real propósito das blockchains e do movimento Web3?
Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!
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