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DeFi vs CeFi: falta de regulação é realmente a principal diferença?

8 mins
Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • Falta de regulamentação e altos rendimentos são os principais benefícios do DeFi?
  • Quais as verdadeiras vantagens de DeFi sobre as finanças tradicionais?
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Já comentei nesta coluna sobre finanças descentralizadas (DeFi) e o futuro das finanças, DeFi para instituições, o papel do DeFi no metaverso, a governança DAO em projetos DeFi , o uso de NFTs em DeFi, bem como os efeitos da transparência do blockchain no maior hack DeFi.

O DeFi pode, teoricamente. funcionar de forma autônoma sem intervenção humana e, geralmente, nunca assume a custódia de fundos (que permanecem nas carteiras digitais dos investidores), o que leva alguns a argumentar que a falta de regulação é a principal vantagem do DeFi sobre as finanças tradicionais. Será?

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No artigo de hoje, veremos quais as verdadeiras vantagens do DeFi sobre as finanças tradicionais.

CeFi Vs DeFi

O principal objetivo de DeFi é ser capaz de dar aos consumidores e investidores a capacidade de controlar e ter a propriedade de seus ativos financeiros consigo, eliminando intermediários por meio da tecnologia blockchain.

Nessa linha, podemos listar, basicamente, quatro diferenças básicas entre as atividades realizadas nas finanças tradicionais – o que é conhecido como “Centralized Finance” ou simplesmente CeFi – e sua contraparte nas finanças descentralizadas – DeFi.

Primeiro, em DeFi as regras são escritas em código de software, implantados como contratos inteligentes, em vez de serem aplicadas por empresas e contratos legais.

Aqui, vale destacar que DeFi usa protocolos de código aberto que permitem a criação de produtos financeiros robustos via tecnologia blockchain – não só no Ethereum,     que detém a maior parte das atividades, mas também em redes como Terra (LUNA), THORChain (RUNE), Solana (SOL), que estão desenvolvendo novos conceitos de DeFi. 

Segundo, as finanças em DeFi não exigem intermediários. Ou seja, aplicações DeFi não exigem que ninguém as gerencie, pois elas são executadas sem intervenção humana – conquanto existam desenvolvedores para correção de eventuais bugs, ajustes nos aplicativos e eventuais adições.

Em terceiro lugar, as finanças descentralizadas são globais. Sem entrar na questão da regulação, o DeFi exige apenas um celular com conexão à internet, de modo que qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo pode facilmente investir, negociar e armazenar ativos nos protocolos DeFi.

Por último, mas não menos importante, os aplicativos DeFi são intercambiáveis. Um contrato ou aplicativo inteligente DeFi pode ser usado por outros contratos inteligentes e aplicativos mais complexos. 

Pois bem, muitos dizem que com a chegada da regulação, DeFi perderá suas vantagens em relação à CeFi. Será mesmo?

Rendimentos e regulamentação 

1 – DeFi pode oferecer rendimentos mais altos que bancos?

Claro que alguns rendimentos são mais sustentáveis ​​do que outros. O DeFi tem apenas quatro anos de existência e, por isso, muitos se aproveitam do desconhecimento dos investidores em DeFi para aplicar golpes

Por isto, é preciso que o investidor busque fontes confiáveis e saiba no que e onde está colocando seu suado dinheiro. Para compreender como protocolos de finanças descentralizadas (DeFi) podem gerar melhores retornos que em CeFi, é preciso aprender sobre ganhos passivos e yield farming.

Ciclos de alta e baixa à parte, levará pelo menos mais alguns anos para que as criptomoedas alcancem as classes de ativos CeFi e essa tendência desacelere.

Mesmo assim, o grande fluxo de dinheiro migrando para não durará para sempre.  E quem chama o DeFi de pirâmide financeira têm razões para isto.

Mas, de todo modo, é importante ter em mente que as finanças descentralizadas estão no estágio inicial de uma mudança disruptiva, a linha é tênue entre o que tem, ou não, valor. É preciso olhar para além da aparência, assim como quem entendeu, treze anos atrás, que o preço do Bitcoin não era o seu real valor.  

 2 – A falta de regulamentação é uma vantagem óbvia e momentânea do DeFi

Aave e Compound não têm Know Your Client (KYC), outros mecanismos de compliance, tampouco estão sujeitas a regulamentações bancárias, como liquidez, capital e exigências de reservas – regras criadas para tornar os bancos mais seguros, mas que acabam limitando também a lucratividade.

É fato notório que os regulamentos não conseguem acompanhar a velocidade da inovação, mas algum dia eles chegam, eles sempre chegam. 

E podemos observar que o crescimento explosivo do mercado, provocou uma aceleração no exame regulamentar pelas autoridades financeiras. 

Tomando por base a legislação ao longo do tempo, até podemos adivinhar de forma a legislação em DeFi virá – aumento do custo operacional, com consequente diminuição dos rendimentos.

Assim, se o alto fluxo de dinheiro migrando para as finanças descentralizadas não crescerá para sempre, e a regulação inevitavelmente virá, vale a pena olhar para DeFi?

Muito.  Vejamos três qualidades de valor em DeFi que podem torná-lo um pilar essencial do novo paradigma financeiro do próximo século.

As verdadeiras vantagens do DeFi sobre o CeFi

Podemos resumir as verdadeiras vantagens das finanças descentralizadas em três pontos: baixo custo operacional por projeto, alta eficiência de capital e modelo de propriedade co-participativo. Vamos destrinchar cada uma destas vantagens uma a uma.

1 – O baixo custo operacional por projeto DeFi

O CeFi é um “negócio” caro.

As instituições financeiras tradicionais são projetadas para resolver problemas de confiança e assimetria nas transações por meio de uma infraestrutura de gerenciamento de risco.

Ora, os custos são substanciais para manter uma infraestrutura de gerenciamento de risco nas finanças tradicionais, projetada para verificação de identidade, autenticação de transações confiáveis ​​e precisas, suporte de registros e armazenamento seguro de registros etc. 

Todas essas atividades só existem para a garantia da confiança das negociações, e evitar fraude e erro, o que demanda capital e exige garantias substanciais que ficam bloqueados para conferir certeza e previsibilidade de resultados no mundo dos negócios em CeFi.

Para se ter uma idéia, bancos de tamanho intermediário e cooperativas de crédito que usam filiais como canal de atendimento ao cliente, têm um custo médio anual de US$ 400.000 por agência bancária.  E não se esqueça dos demais custos com backoffice, bancos de dados, segurança, compliance, rede de pagamentos… 

De outro lado, você pode criar um aplicativo DeFi para oferecer os mesmos serviços de depósito ou empréstimo por alto em torno de US$ 50-100 mil.  Logo, a barreira de entrada em DEFi é infinitamente menor que em CeFi.

Portanto, sem a necessidade de uma infraestrutura centralizada ou governança humana, aplicativos DeFi permitem que seus usuários executem transações financeiras com taxas mais baixas do que outros aplicativos de fintechs ou instituições financeiras.

Veja, por exemplo, as exchanges descentralizadas (DEXs), que são a aplicação mais popular em DeFi, quando olhamos o crescimento do DeFi por plataforma. Elas possibilitam aos usuários a compra, venda e troca de diferentes tokens, diretamente nas carteiras dos usuários, possibilitando uma maior privacidade e segurança.

defi cefi

Neste contexto, protocolos DeFi, que já estão no espírito da Web3, podem trazer novas possibilidades e soluções como, por exemplo, o aumento da transparência das garantias embutidas em muitas transações, a redução de custos e melhora no acesso aos mercados, a redução de fraude ou corrupção através de contratos autoexecutáveis, a redução de custos e atritos na emissão e negociação de valores, dentre outros. 

Como? As plataformas públicas blockchain nas quais DeFi é executado cobre a maior parte do custo da infraestrutura de backend e simplifica muito as coisas.

O que a AWS forneceu para milhões de empresas de SaaS (Software como Serviço), blockchain está fornecendo para o DeFi.  E os construtores DeFi não precisam pagar por isso, porque seus usuários pagam o custo e são recompensados ​​por isso – comentarei sobre isso em outro artigo.

 O resultado disto? Inovação e competição, em uma escala nunca vista na história das finanças.

 2 – A alta eficiência de capital

Com CeFi, você está limitado pelo tamanho geográfico do seu mercado e seu custo fixo é alto.

Digamos que seu custo fixo seja de $ 100 e você ganhe $ 10 em cada empréstimo que conceder.  Você terá que conceder 10 empréstimos para empatar.  Isso significa que, se um mercado não tiver demanda por 10 empréstimos, nenhum banco vai existir lá.

É por isso que em países menores o custo de capital é alto: como o número de empréstimos que determinada instituição financeira pode fazer é pequeno, ela precisa ganhar um spread maior entre as taxas de empréstimo e poupança para se manter nestes países.

Isto sem mencionar que, quando só um número pequeno de bancos é viável em determinada região geográfica, eles fatalmente se tornam monopólios que capturam a maior parte do valor agregado da indústria, sem concorrência, sem incentivo para inovar, com custo de capital que permanece alto, e um o ciclo vicioso que perdura.

Paralelamente a tudo isto, um aplicativo DeFi tem um conjunto de custos fixos com escopo global de alocação de capital.

Ou seja, se o crescimento econômico e o retorno sobre o capital forem maiores no Brasil que no México, o capital pode ser alocado do México para o Brasil rapidamente. E tanto o credor mexicano quanto o mutuário brasileiro estarão mais felizes.

Trocando em miúdos, como o custo de entrada em DeFi é baixo, todos os caminhos levam a uma eficiência maior, mais competição, o que leva todos a inovar.

 3 – Modelo de propriedade co-participativo

O modelo de negócio DeFi é participativo com os clientes (investidores).

Os clientes do DeFi também são validadores e investidores nas blockchains em que o DeFi é executado.  Como cliente, você paga pela infraestrutura e colhe sua recompensa.  E se você fizer staking um token da plataforma DeFi para fornecer liquidez, também receberá uma parte do lucro DeFi.

 O lucro em CeFi não é transparente e as instituições tradicionais podem fazer o que quiserem com ele.  E boa parte do lucro vai para a remuneração dos intermediários, não para os dividendos.

Ainda, as recompensas de staking de um aplicativo DeFi são programadas e rastreáveis.  Se a Aave diminuir seu rendimento de staking, você poderá mudar para um concorrente em um piscar de olhos.  Ele cria uma base de clientes antifrágil com incentivos alinhados que tornam o setor robusto como um todo.

Possibilidades 

A intermediação financeira deve ser intermediária, ou seja, “direcionar rendimentos para setores produtivos”.

Nessa linha, quando os críticos de DeFi dizem que as finanças descentralizadas não estão canalizando a poupança de uma economia para investimentos produtivos, eles estão certos.  Mas é importante lembrar aqui que DeFi é uma indústria de quatro anos! 

Os vários elementos de um sistema financeiro paralelo estão sendo construídos em DeFi neste exato momento; desde contas de poupança básicas até ferramentas de negociação sofisticadas.  É preciso dar tempo ao tempo.

 Um grande gargalo em empréstimos DeFi nos casos de uso do “mundo real”  é como usar como garantia ativos que não cripto – como, por exemplo,  imóveis, contas a receber, contracheques. 

Pois bem, para que isso aconteça, o primeiro passo é digitalizar esses ativos que estão no mundo físico.  Todas as propriedades físicas comumente usadas como garantias, como casas e carros, precisam de representação na rede como NFTs.

E isto é uma grande oportunidade, eis que haverá uma grande indústria cuja única função é manter a ligação entre as propriedades do mundo real e seus NFTs.  Depois de transferir a função de ativo de entidades fora da cadeia para NFTs, o DeFi pode usá-lo a partir daí.

E é por isso que o desenvolvimento no espaço NFT é tão importante – é onde a maioria das garantias em DeFi virá de ativos do mundo real.  Felizmente, muitas pessoas talentosas estão trabalhando nisso, como comentamos aqui.

E você, ainda acha que a falta de regulação é a maior diferença entre DeFi e CeFi? Consegue enxergar os verdadeiros benefícios de DeFi sobre as finanças tradicionais? Apostaria nas finanças descentralizadas como o próximo paradigma das finanças, ou na coexistência de CeFi e DeFi?

Conhecimento é poder! Nos vemos em breve.

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Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. LinkedIn Top Voice em Inovação e Tecnologia. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Especialista em Blockchain Business Applications pelo MIT. Especialista em Artificial Intelligence & Business Strategy pelo MIT Sloan & MIT CSAIL. Especialista em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Convidada pelo Parlamento Europeu para a “The Intercontinental Blockchain Conference”....
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