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Por que redes descentralizadas podem ser a regra na Web3?

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Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • Os problemas com as redes centralizadas.
  • Dos primeiros protocolos da Internet às redes blockchain.
  • Qual é o papel das criptoredes? A dinâmica dos sistemas descentralizados.
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Vimos no artigo anterior desta coluna qual é a essência da descentralização. Hoje, vamos avançar um pouco mais e compreender por que redes descentralizadas têm tudo para serem a base da Web3.

Os problemas com plataformas centralizadas

As plataformas centralizadas seguem um ciclo de vida previsível. 

Quando eles começam, elas fazem todo o possível para recrutar usuários e terceiros facilitadores, como desenvolvedores, empresas e empresas de mídia. 

Esse é o caminho natural para qualquer plataforma centralizada tornar seus serviços mais valiosos, e alcançar o mainstream, pois as plataformas (por definição) são sistemas com efeitos de rede multilaterais. 

Dessa forma, à medida em que as plataformas centralizadas avançam na “curva S” de adoção (veja aqui), seu poder sobre os usuários e terceiros cresce constantemente.

Quando então atingem o topo da “curva S”, seus relacionamentos com os participantes da rede mudam de soma positiva para soma zero. Isto é, só a plataforma lucra com a contribuição dos usuários.

E isto se dá porque a maneira mais fácil de continuar crescendo é extrair dados dos usuários e competir com terceiros por lucro. O que é conhecido como “capitalismo de vigilância”.

Como exemplos do que estamos falando, podemos citar casos históricos como Microsoft vs. Netscape, Google vs. Yelp, Facebook vs. Zynga

Sistemas operacionais como iOS e Android se saíram melhor, mas rejeitam aplicativos por razões aparentemente arbitrárias e incluem a funcionalidade de aplicativos de terceiros à seu bel prazer.

Para terceiros, essa transição da cooperação para a competição é um verdadeiro presente grego. 

Não à toa, empreendedores, desenvolvedores e investidores ficaram cautelosos em construir em cima de plataformas centralizadas, porque é quase certo que um bom projeto em uma plataforma descentralizada pode lhes render uma bela decepção.

Acrescente-se a isto, o fato de que os usuários acabam sendo obrigados a renunciar à privacidade, do controle de seus ativos, ficando vulneráveis ​​a violações de dados e segurança. 

Mas o pior é que tais problemas com plataformas centralizadas provavelmente se tornarão ainda maiores e contínuos no futuro. Eis o motivo da guerra entre os walled gardens versus as iniciativas de metaverso abertas.

Entre em redes: dos primeiros protocolos da Internet às redes blockchain

Criptoredes, popularmente conhecidas como redes blockchain com tokens nativos (criptomoedas) são redes construídas em cima da internet que basicamente:

  1. Usam mecanismos de consenso como blockchains para manter e atualizar o estado;
  2. Usam criptomoedas para incentivar participantes de consenso (mineradores/validadores) e outros participantes da rede, o que também é conhecido como criptoeconomia.

Algumas criptoredes, ou redes blockchains de 2º geração como a Ethereum, são plataformas de programação geral que podem ser usadas para praticamente qualquer finalidade. 

Outras criptoredes são para fins específicos como, por exemplo, a blockchain Bitcoin que se destina principalmente a transações peer-to-peer (ponto a ponto e diretas) de valor. Ou ainda, a Golem que é utilizada para realizar cálculos, bem como a Filecoin que é destinada especificamente para o armazenamento descentralizado de arquivos.

Pois bem, os primeiros protocolos da Internet eram especificações técnicas, criadas por grupos de trabalho ou organizações sem fins lucrativos, que contavam com o alinhamento de interesses da comunidade da Internet para obter adoção. 

E esse método funcionou bem durante os estágios iniciais da Internet. No entanto, desde o início da década de 1990, poucos novos protocolos ganharam ampla adoção. 

Qual o papel das Criptoredes neste cenário?

Redes blockchain corrigem esses problemas, fornecendo incentivos econômicos para desenvolvedores, mantenedores e outros participantes da rede na forma de tokens. 

Elas também são muito mais robustas tecnicamente. 

Por exemplo, eles são capazes de manter o “estado” e fazer transformações arbitrárias nesse estado, algo que os protocolos anteriores nunca poderiam fazer. 

Eis o porquê os que dizem que Web3 não precisa da tecnologia blockchain estão redondamente equivocados.

Blockchains usam vários mecanismos para garantir a neutralidade da rede à medida em que se expandem e ganham usuários, evitando os presentes gregos (cavalos de tróia) das plataformas centralizadas. 

Como?

Primeiro, o contrato entre as redes blockchain e seus participantes é aplicado em código-fonte aberto. 

Em segundo lugar, eles são mantidos sob controle por meio de mecanismos de “voice” and “exit.”

Isto é, os participantes recebem voz através da governança da comunidade, tanto “on chain” (através do protocolo) quanto “off chain” (através das estruturas sociais em torno do protocolo). 

Os participantes podem sair da rede quando quiserem, vendendo seus tokens ou, em casos mais extremos, bifurcando o protocolo (hard fork).

Em suma, as redes baseadas em blockchain (criptoredes) alinham os participantes para trabalharem juntos em direção a um objetivo comum – o crescimento da rede e a valorização do token

Tal alinhamento é uma das principais razões pelas quais o Bitcoin continua a desafiar os céticos e florescer, mesmo enquanto novas blockchains como o Ethereum crescem em paralelo.

Contudo, as redes blockchains atuais ainda possuem algumas limitações que as impedem de desafiar seriamente os operadores centralizados. 

As limitações mais severas estão relacionadas ao desempenho e à escalabilidade, que serão solucionadas num futuro próximo através de soluções L2 como a Lightning network e também por melhorias nos protocolos de L1

Daí porque, o foco da indústria cripto blockchain nos próximos anos será basicamente corrigir essas limitações, e construir redes que formam a camada de infraestrutura da pilha cripto. 

Depois disso, aí sim a maior parte dos esforços se voltará para a construção de aplicativos sobre essa infraestrutura.

Por que redes descentralizadas podem ser a regra na Web3?

Uma coisa é dizer que as redes descentralizadas devem prevalecer e outra é dizer que elas serão a regra na próxima geração da Web. 

Há razões específicas para sermos otimistas quanto a isso.

  • Software e serviços web são construídos por desenvolvedores. 
  • Existem milhões de desenvolvedores altamente qualificados no mundo. 
  • Apenas uma pequena fração trabalha em grandes empresas de tecnologia e apenas uma pequena fração delas trabalha no desenvolvimento de novos produtos. 
  • Muitos dos projetos de software mais importantes da história foram criados por startups ou por comunidades de desenvolvedores independentes.

Daí porque, redes descentralizadas podem ser a regra na terceira era da Web pelo mesmo motivo que foram na primeira: elas são capazes de conquistar corações e mentes de empreendedores e desenvolvedores, além de colocarem o ser humano em primeiro lugar. 

A dinâmica dos sistemas descentralizados

Quando comparamos sistemas centralizados e descentralizados, é necessário considerá-los dinamicamente, como processos, em vez de estaticamente, como produtos rígidos. 

Aqui, é bom lembrar que a Internet é um processo, não um destino.

E neste contexto, os sistemas centralizados geralmente começam totalmente prontos, mas só melhoram na medida em que os funcionários da empresa patrocinadora os aprimoram. 

Os sistemas descentralizados, por outro lado, começam incompletos, mas, nas condições certas, crescem exponencialmente à medida que atraem novos colaboradores.

No caso de redes blockchain, existem vários ciclos que vão desde o envolvimento de desenvolvedores do protocolo principal, desenvolvedores de redes blockchain complementares, desenvolvedores de aplicativos de terceiros e provedores de serviços que operam a rede. 

Esses ciclos são ainda mais amplificados pelos incentivos de token (criptoeconomics), que – como vimos com Bitcoin e Ethereum – pode sobrecarregar a taxa na qual as comunidades criptos se desenvolvem (e às vezes levar a resultados negativos, como o excesso de eletricidade consumida pela Mineração de bitcoin).

Quem será a base da web3: sistemas descentralizados ou centralizados?

Essa é uma questão que se resume a quem construirá os produtos mais atraentes, que, por sua vez, pressupõe quem terá mais desenvolvedores e empreendedores de alta qualidade ao seu lado. 

Sem dúvida, as redes centralizadas possuem inúmeras vantagens, incluindo reservas de caixa, grandes bases de usuários e infraestrutura operacional. 

Mas as redes blockchain têm uma proposta de valor significativamente mais atraente para desenvolvedores, empreendedores e usuários. 

Takeaway

É óbvio que nem tudo são flores. O caminho é árduo, e pode demorar mais tempo do que a mais sensata das pessoas possa imaginar.

Sempre é bom lembrar que plataformas descentralizadas geralmente são lançadas pela metade, e sem casos de uso muito claros. 

Como resultado, elas precisam passar por várias fases de ajuste para, por exemplo, possibilitar o lançamento de um produto no mercado.

No mínimo, demandam uma fase para ajuste de produto ao mercado, entre a plataforma e os desenvolvedores/empreendedores que irão finalizar a plataforma e construir o ecossistema. E ainda, uma fase para ajuste de produto ao mercado entre a plataforma/ecossistema e os usuários finais. 

E esse processo, que pode compreender inúmeros estágios, é o que faz com que muitas pessoas – incluindo tecnólogos sofisticados – subestimem consistentemente o potencial das plataformas descentralizadas.

Mas quando as redes descentralizadas conseguirem conquistar corações e mentes, por trazerem uma relação de ganha-ganha aos consumidores, acabarão por conquistar muito mais recursos que as plataformas centralizadas, podendo, rapidamente, ultrapassar o desenvolvimento de seus produtos.

Lembra da curva S que comentamos no início do artigo?

Por outro lado, redes descentralizadas não são uma bala de prata que resolverão todos os problemas da internet. 

No entanto, elas são uma maneira poderosa de interação direta, capaz de devolver a propriedade de dados e ativos aos usuários, além de fornecer condições equitativas para desenvolvedores, criadores e empresas.

E você, sabia das diferenças entre redes centralizadas e descentralizadas? 

Acha que redes descentralizadas, potencializadas pela tecnologia blockchain, serão a regra da próxima geração da Internet? Ou ainda está cético com relação a como superar o poder do mercado?

Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!

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Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. LinkedIn Top Voice em Inovação e Tecnologia. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Especialista em Blockchain Business Applications pelo MIT. Especialista em Artificial Intelligence & Business Strategy pelo MIT Sloan & MIT CSAIL. Especialista em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Convidada pelo Parlamento Europeu para a “The Intercontinental Blockchain Conference”....
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