A web3 é composta por uma pilha de tecnologias com impacto direto sobre as cadeias de valor no mercado consumidor. É isto que exploraremos no artigo de hoje.
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Cadeias de valor e a melhor maneira de obter lucro em qualquer mercado
A cadeia de valor para qualquer mercado consumidor é dividida em três partes: fornecedores, distribuidores e consumidores/usuários.
A melhor maneira de se obter lucros de tamanho exponencial em qualquer um desses mercados é ganhar um monopólio horizontal em uma das três partes, ou integrar duas das partes, de modo que se tenha uma vantagem competitiva na entrega de uma solução vertical.
⎯ As cadeias de valor na era pré-Internet.
Possuir vantagem competitiva na Era Pré-Internet significava ter o controle da distribuição.
Por exemplo, os jornais impressos eram o principal meio de entrega de conteúdo aos consumidores em uma determinada região geográfica. Desse modo, os jornais se integravam na criação de conteúdo pelo fornecedor, e ganhavam altos lucros através da entrega de publicidade.
Uma dinâmica semelhante existia em todos os tipos de organizações na Era Industrial (ou Era Pré-Internet). A lista inclui editoras de livros – que integravam capacidades de distribuição e controle de autores -, vídeo – que integravam disponibilidade de transmissão com conteúdo de compra -, táxis – que integravam capacidades de envio e medalhões e propriedade de automóveis -, hotéis – que integravam confiança de marca com quartos vagos – , e muito mais.
Observe como os distribuidores em todas essas indústrias se integraram de trás para frente, pelo fornecimento. Sempre houve muito mais consumidores que fornecedores. Ou seja, em um mundo onde transações custam “caro”, possuir o relacionamento com o fornecedor proporciona uma vantagem significativamente maior.
⎯ A dinâmica das cadeias de valor Pós-Internet, via orquestradores de mercado
Como o surgimento da Internet impactou as cadeias de valor?
Primeiramente, a Internet tornou a distribuição (de bens digitais) livre, neutralizando a vantagem que os distribuidores pré-Internet ganharam ao se integrar com os fornecedores.
Em segundo lugar, a Internet barateou os custos de transação – reduzindo-os quase a zero. Isto tornou viável para um distribuidor a integração direta e em escala com consumidores finais.
E isto que acabamos de ver nos parágrafos anteriores, chama-se Teoria da Agregação.
Orquestradores de rede na Web2
De acordo com uma teoria desenvolvida por Ben Thompson, as plataformas Web2 dominantes são modelos orquestradores de rede que agruparam a “demanda dos usuários”. Ou seja, elas resolveram o “Principal Problema da Era Pré-Internet”.
Com a demanda do usuário acumulada, estas plataformas puderam lucrar com a intermediação do acesso do fornecedor aos usuários.
Para se ter uma idéia do que estamos falando, Facebook e YouTube reuniram usuários – em 2023, cerca de 2,96 bilhões e 2,51 bilhões, respectivamente. Por outro lado, eles distribuíram conteúdo digitalmente por um custo próximo a zero.
Em contrapartida, em consequência, os fornecedores estabelecidos – como publicações impressas e redes de TV – viram seus canais de distribuição desmoronarem.
Desde então, plataformas Web2 correram para obter a melhor retenção de usuários e fornecedores através de melhores dados, melhor UX, melhores anúncios. Isto resultou em um retorno de mais dados e assim por diante.
Assim que a capacidade de fuga restou superada, as plataformas foram capazes de obter um grande percentual de lucro de corretagem (anúncios) pelo seu pool de usuários agregados.
No entanto, por mais poderoso que o “modelo de agregação” seja na Web2, ele não se traduz diretamente para a Web3.
Alterações na pilha de tecnologia da Web2 e Web3 com impactos significativos na dinâmica de valor
Há algumas nuances sutis entre a pilha de tecnologia Web2 e Web3 que mudam a dinâmica de retenção de usuários e fornecedores:
Os usuários da Web2 empurraram dados para plataformas que retém esses dados para obter uma vantagem competitiva. Já na Web3, como ela é composta por dados e conteúdo são abertos, isto é, são disponibilizados em redes abertas, e os usuários – que agora detém a propriedade de seus dados – são livres para interagir com o conteúdo de qualquer site.
Na Web2, as empresas mantém sua vantagem competitiva via “código fechado”, enquanto o paradigma de open source da Web3 reduz esta vantagem, forçando as plataformas a buscar outras maneiras de manter sua vantagem competitiva.
De outro lado, quando olhamos para os benefícios aos usuários, durante a construção da Web2, os usuários passaram de um conteúdo genérico, entregue de forma progressiva para um conteúdo personalizado e contínuo, o que resultou em um enorme salto no valor com o aumento da eficiência para anunciantes e criadores já estabelecidos.
No entanto, quando olhamos a migração de usuários Web2 para Web3, não vemos um salto tão grande no valor, já que os usuários já possuem um conteúdo amplo disponibilizado em redes abertas. Assim, a adoção do usuário na Web3 será provavelmente mais lenta e menos aderente.
Por outro lado, como na Web3 os dados são abertos, a retenção de dados “fechados” usados pelas agregadoras da Web2 para defender sua posição competitiva não se aplica aos agregadores da Web3.
Em resumo os dados e códigos abertos na Web3 facilitam a construção de plataformas concorrentes, o que resulta em muito mais competição entre as agregadoras Web3, com redução do lucro potencial.
Para facilitar a compreensão, vamos comparar os custos iniciais para construir uma plataforma agregadora à energia necessária para que uma reação química ocorra.
⎯ Energia de ativação: Por que começar é a parte mais difícil?
Antes que uma reação química aconteça, é preciso uma quantidade inicial de energia, chamada “energia de ativação”, exigida para mover as moléculas necessárias para iniciar tal reação.
Da mesma forma, para superar adquirir a retenção de usuários necessária e superar seus concorrentes, os orquestradores de rede precisam de um grande esforço inicial antes de serem capazes de obter lucro. Quanto mais fortes forem os esforços de uma empresa para reter usuários, maior será o investimento necessário para que os concorrentes se mantenham competitivos e, portanto, maior proteção para a extração de lucros.
Porque orquestradoras de mercado possuem menos barreira de entrada na Web3 que na Web2?
Redes sociais com foco na Web3 armazenam perfis de usuários, seguidores e as interações de conteúdo on-chain via NFTs.
Ao indexar os conteúdos dos usuários via NFTs em blockchains, os dados on-chain são abertos.
Nesse passo, existem diversos protocolos de gráficos sociais como Farcaster e Lens Protocol com diferentes padrões de perfil, de modo que orquestradores de redes como Yup e Phaver podem indexar tais protocolos, proporcionando uma visão unificada da atividade social de cada usuário.
Aqui, cabe destacar que na Web3, os custos para construir um agregador concorrente são relativamente baixos.
Na Web2, os usuários disponibilizam dados para dentro das plataformas agregadoras que retém dados e usuários para si. Assim, para construir uma nova plataforma orquestradora de rede – como Spotify e Instagram –, o esforço dos concorrentes para aquisição de usuários e fornecedores é muito maior.
Já na Web3, como as plataformas de Web3 Sociais extraem os dados dos usuários de redes compartilhadas e abertas, há uma redução no custo de aquisição de usuários e fornecedores, o que facilita as barreiras gerais à entrada.
É possível manter a dinâmica competitiva e se destacar dos concorrentes na Web3?
Para se destacarem das redes sociais concorrentes, as Web3 Sociais buscam novas maneiras de manter a retenção de usuários.
As duas formas de retenção de usuários na Web3 mais comuns compreendem:
- A utilização de modelos de fidelidade via tokens como Phaver, ou
- A construção de algoritmos superiores de recomendação dentro de seu próprio processo de indexação.
No entanto, é bom destacar que apesar dos modelos via tokens e programas de fidelidade também impulsionarem a adoção e retenção de usuários, são os modelos impulsionados pela escala que chegam ao sucesso mais rápido.
Isto porque, mecanismos de recomendação só melhorarão com o tempo, e os front-ends – escalados para suportar a coleta de dados personalizados, indexação e recursos de recomendação – somente se tornarão mais sustentáveis quando os modelos via token conseguirem pressionar por taxas mais baixas.
Neste contexto, embora a arquitetura das Web3 Sociais altere a dinâmica competitiva, as orquestradoras em aplicativos de consumo ainda conseguem obter alguma vantagem competitivas através da retenção de usuários, mesmo que em menor extensão que seus equivalentes na Web2.
Agregadores predominantes em aplicações de consumo com foco na Web3
Sem dúvida, os agregadores mais predominantes em aplicação Web3 de consumo são os mercados NFT como “Blur”.
Seus protocolos indexam listas de NFT em vários mercados de base como OpenSea e LooksRare (LOOKS) para fornecer aos usuários uma interface única para comercializar todos os NFTs em todos os mercados disponíveis, o que resulta em uma seleção maior e em uma execução mais eficiente.
Neste contexto, um orquestrador de mercados NFT reúne em um único aplicativo tanto a demanda dos usuários quanto às ofertas de NFTs.
Para se ter uma idéia da velocidade em que isto ocorre na Web3, em apenas quatro meses, o Blur tornou-se o agregador dominante nos mercados de NFT, impulsionado por três ondas de airdrop.
Desde o final de 2022, o Blur responde por 40-60% do volume diário de negociação de NFTs, superando concorrentes de peso como o OpenSea, inclusive no pagamento de royalties para os criadores.
No entanto, como a propriedade dos NFTs pertence aos usuários que podem migrar a seu bel prazer para outras redes abertas, a agregação de mercado NFT, assim como acontece com as Web3 Sociais, não possui nenhuma garantia competitiva na Web3.
Da mesma maneira, o potencial de lucro das agregadoras de mercado NFT também é reduzido, quando comparado com as agregadores Web2.
Pensamentos finais
Tanto as Web3 Sociais, como as orquestradoras de mercado NFT como Blur extraem seus dados de redes abertas e compartilhadas.Isto reduz as barreiras de entrada na Web3.
Agregadores Web2 derivam seu poder competitivo gerenciando conteúdo de alto desempenho ou com grande potencial de pagamentos.
Contudo, orquestradores de redes sociais e mercados NFTs não conseguem selecionar e direcionar conteúdo aos usuários. Isto ocorre por causa da mudança na pilha de tecnologia na Web3, construída sobre redes abertas e via código open source.
Isto impacta em sua dinâmica competitiva. Essa mudança empurra orquestradores de mercados Web3 para uma incessante competição no nível de experiência do usuário.
Este tipo de competição é extremamente difícil, na medida que as preferências dos usuários alteram ao sabor dos ventos, o que abre um enorme espaço para concorrentes lançarem novas abordagens mais rapidamente.
Mas e você? Tinha ideia de como eram as cadeias de valor na Era Pré-Internet?
Percebeu como as mudanças na pilha de tecnologia afetaram significativamente a dinâmica de valor das ‘Web3 Sociais’ e das ‘agregadoras de mercado’?
Já possui algum palpite sobre qual será o futuro da competição entre as agregadoras Web3 pela preferência dos usuários?
Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!
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