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NFTs no Gartner Hype Cycle: porque o uso em DeFi é uma ótima idéia

8 mins
Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • Tokens não fungíveis no Gartner Hype Cycle.
  • NFTs e DeFi: conceitos aparentemente desconexos. Qual a relação entre eles?
  • “Financialization” de NFTs: como extrair mais valor dos NFTs em DeFi?
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As finanças descentralizadas (DeFi) e os tokens não fungíveis (NFTs), duas aplicações da tecnologia blockchain que bombaram nos dois últimos anos, possuem grandes perspectivas de futuro, conquanto o hype tenha começado a diminuir neste primeiro semestre de 2022. 

Para compreendermos melhor porque a diminuição da busca pelos dois termos no Google Trends significa, vamos utilizar uma metodologia de pesquisa desenvolvida pela Gartner, empresa líder em pesquisa e consultoria.

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NFTs no Gartner Hype Cycle 

O Gartner Hype Cycle é famoso por ajudar empresas focadas em transformação digital na interpretação dos ciclos de inovação, através da distribuição de uma tecnologia dentro de dois parâmetros: a expectativa e o tempo.

Isto é, analisando cada ciclo de campanha publicitária, ou buzz gerado pela mídia que se reflete no Google Trends, o Gartner Hype Cycle, que é publicado anualmente, detalha o ciclo de vida de uma tecnologia. Vejamos, rapidamente, quais as cinco fases principais do ciclo de vida de uma tecnologia.

Na primeira fase, “gatilho da inovação”, é onde tudo começa, com as primeiras histórias de prova de conceito da tecnologia, com o interesse da mídia provocando alguma publicidade significativa.

No “Pico das expectativas infladas”, segunda fase do Hype Cycle, a tecnologia já possibilita várias estórias de sucesso, acompanhada por centenas de falhas e altas expectativas, que vão além da capacidade de entrega dos “early adopters” e do mercado, cujo potencial de sucesso, nesta fase, é de apenas 5%. Ou seja, a promessa é muito maior que a realidade dos produtos e serviços possibilitados pela tecnologia. 

Já no “abismo da desilusão”, fase em que muitas empresas e consumidores se decepcionam e, o interesse inicial diminui à medida que as experiências e implementações falham. E esta fase é importante, pois é onde se separa o “joio do trigo, levando os investimentos apenas para aquelas empresas sobreviventes que conseguiram aperfeiçoar seus produtos, satisfazendo os primeiros usuários de determinada tecnologia.

Bem por isso, quando escrevi nesta coluna sobre o que 2022 reserva para cripto e blockchain, mencionei sobre a possível mudança de demanda nos tokens não fungíveis.

A fase seguinte, “inclinação da iluminação”, surge com mais casos de uso de determinada tecnologia emergente, cujos benefícios e aplicações práticas começam a se tornar mais claros e amplamente compreendidos por empresas e consumidores. Aqui, surgem produtos de segunda e terceira geração, com boas práticas, metodologias e MVPs, conquanto empresas mais conservadoras ainda permaneçam cautelosas quanto à adoção da tecnologia emergente.

Enfim, a quinta e última fase do Gartner Hype Cycle, conhecida como “platô da produtividade”, é quando começa a adoção da tecnologia emergente pelo mainstream, e os critérios para avaliação de um bom fornecedor tecnológico já estão mais claros, bem como já existe ampla aplicabilidade e relevância da tecnologia em 20-30% do mercado. Note que só nesta última fase gigantes da tecnologia e empresas conservadoras adotam a tecnologia emergente com força total.

Considerando o contexto acima, e olhando o Gartner Hype Cycle de 2021, parece que os NFTs acabaram de entrar na terceira fase. Mas já não há grandes empresas apostando suas fichas em NFTs em mundos virtuais? 

O importante aqui é acompanhar os casos de uso e saber, que eventual queda no Google Trends não significa diminuição da importância da tecnologia, ou das perspectivas de longo prazo. Mas simplesmente que o ciclo de vida destas inovações avançou em seu curso.

Pois bem, avançando em nosso artigo, já comentamos nesta coluna sobre a relação entre Metaverso e DeFi, DAO e DeFi, blockchain, Web3 e Metaverso, CBDC e DeFi.

Hoje, vamos explorar a interseção entre “NFT e DeFi”. 

Será que na evolução dos NFTs, não é plausível seu uso como uma ferramenta para fomentar o crescimento das finanças descentralizadas?

NFTs e DeFi: conceitos aparentemente desconexos

Finanças descentralizadas são qualquer serviço financeiro ou aplicação construída em blockchain ou na Web 3

DeFi é um sistema financeiro, paralelo às finanças tradicionais, que compreende contratos inteligentes, ativos digitais, protocolos e aplicativos, e oferece acesso descentralizado a serviços financeiros através de protocolos de código aberto, em vez de serem aplicadas por empresas e contratos legais.

Já os tokens não fungíveis (NFTs) trouxeram uma maneira padronizada de mover ativos digitais não fungíveis em meio digital, possibilitando a interoperabilidade entre diversos ecossistemas digitais, e uma transição de uma economia de NFTs inicialmente fechada, para uma economia de mercado livre. 

Qual a relação entre NFTs e DeFi?

NFTs registrados em blockchain possibilitaram a transferência da propriedade e o controle de acesso de ativos únicos na Internet, tornando difícil substituir ou replicar facilmente tokens não fungíveis. 

Nesse passo, pode-se dizer que os NFTs viabilizaram o “armazenamento de valor” de um ativo infungível, seja físico, seja virtual, em meio digital. 

As finanças descentralizadas,  por outro lado, “abriram” as portas da gestão financeira descentralizada, possibilitando que qualquer pessoa, em lugar do mundo, possa facilmente investir, negociar e armazenar ativos através de diferentes ferramentas, como criptomoedas, oráculos e contratos inteligentes.  

Diante disto, como relacionar NFTs com DeFi? 

Pode-se notar claramente que NFT oferece uma maneira única de armazenar valor, enquanto DeFi oferece uma infraestrutura para desbloquear valor. 

1) Como NFTs armazenam valor?

Para entender a possível ligação entre DeFi e NFT, é importante conhecer o tipo de ativos que podem ser tokenizados. 

Os tokens com propostas de valor para ativos reais, tais como imóveis, foram um dos primeiros exemplos de NFTs. 

Como investimentos imobiliários eram altamente ilíquidos e exigiam muita documentação, trazer os ativos imobiliários para blockchain, na forma de tokens digitais, pode ajudar na representação da propriedade e tornar sua transferência mais fácil e flexível. Já comentei sobre os benefícios que blockchain traz para o mercado imobiliário. 

Nessa linha, NFTs podem ajudar a destravar e mobilizar valor nos casos em que é difícil armazenar valor como, por exemplo, na indústria, músicos podem oferecer NFTs como tokens para participar de sessões de engajamento direto com eles. Note, aqui, que o valor da oferta é um fator importante para determinar o valor de um NFT. Como os tokens não fungíveis oferecem uma proposta de valor, ela tem que ter um preço.

2) Como DeFi desbloqueia valor?

A primeira coisa que precisamos compreender a respeito da DeFi é que as finanças descentralizadas podem funcionar efetivamente com diferentes tipos de soluções financeiras, instrumentos e processos: de stablecoins a empréstimos, mercados de previsão, negociação de margem, pagamentos, seguros, jogos e mercados NFT.

Nesse quadro, NFTs se tornariam basicamente outro ativo no portfólio existente de DeFi.

De todo modo, também é importante descobrir qual fluxo seria mais influenciado pela introdução de NFTs em DeFi.

Como NFTs são basicamente ativos baseados em valor, eles podem trazer possibilidades de crescimento no valor do ativo ou da renda acumulada de ativos para seu proprietário. E DeFi, de outro lado, pode oferecer a oportunidade de desbloquear o valor das NFTs. 

Financialização de NFTs: como extrair mais valor no DeFi?

O movimento em direção a uma maior liquidez dos NFTs, não terminou com a fracionalização da propriedade. 

Agora, a “financialization”, ou seja, seu uso em DeFi, está trazendo mais utilidade aos NFTs, desbloqueando ainda mais o seu valor. Como?

Primeiro, diante da capacidade dos NFTs possibilitarem a negociabilidade de produtos e serviços digitais em vários mercados.

Segundo, pelo fato do Ethereum utilizar tokens ERC-20 para representar para ativos no blockchain, o que levou criadores de conteúdo a compartilharem arte e interagirem com uma comunidade engajada de colecionadores. 

Logo, devido à flexibilidade para prova da propriedade via NFTs, e os padrões de design no mundo das finanças descentralizadas, aplicações DeFi estão gradualmente se misturando com mercados NFTs. 

Dentre as várias maneiras de uso de NFTs em DeFi, destaca-se:

1) NFTfi: 

O uso de NFTs poderia ajudar o credor a determinar o valor da garantia no DeFi. 

Imagine um mutuário que solicita determinada quantia de empréstimo, apontando NFTs como garantia. Dessa forma, o mutuante pode avaliar o valor do empréstimo diante das NFTs dadas em garantia, considerando diferentes fatores como a etiqueta de preço do proprietário, um valor de mercado secundário, e seus cálculos individuais. 

Logo, o uso de NFT e DeFi pode ajudar a resolver o problema da garantia com facilidade. 

De outro lado, é importante destacar os problemas de liquidez do mercado. 

Isto é, o domínio de obras de arte e colecionáveis é bastante subjetivo em termos de liquidez. 

Imagine, agora, que determinado quadro tenha um preço de quase US$ 1 milhão. 

Observe que o preço deste quadro somente terá valor quando alguém está interessado em pagar por ela. 

Ora, a associação entre finanças descentralizadas e NFT pode facilmente resolver as questões de garantia de obras de arte, com soluções plausíveis, dentre as quais, o uso da arte NFT e dos objetos de coleção como garantias em empréstimos DeFi, como já acontece no NFTFi.

O NFTfi é um marketplace P2P de empréstimos cripto que utiliza tokens não fungíveis como garantia. Trata-se de um mercado descentralizado para empréstimos de ETH ou da stablecoin DAI

No entanto, ao invés de fornecer garantias em criptomoedas, se você quiser tomar emprestado, precisa fornecer um NFT como garantia. 

Como resultado, você pode usar cripto arte digital comprada da SuperRare, colecionáveis negociados no OpenSea, ativos dentro do jogo da Axie Infinity, ou seu Aavegotchi favorito, para garantir o empréstimo.

Assim como a arte tradicional tem sido usada convencionalmente como garantia no mundo real, a transição dos NFTs para o ecossistema DeFi definitivamente parece ser um passo razoável em direção ao futuro. 

Ademais, NFTs poderiam melhorar o espaço DeFi, solucionando questões de liquidez através da tokenização, que pode trazer maior velocidade, facilidade e flexibilidade a um ativo nativamente “ilíquido”. 

2) Devolução dos direitos de propriedade aos criadores de conteúdo através da programabilidade dos NFTs

Os NFTs encontraram um papel crucial ao permitir direitos de propriedade e lucros aos criadores reais. 

Isto é, os proprietários dos NFTs podem obter uma parte considerável da receita de streaming, ou do valor de revenda de suas obras, com a verificabilidade do lucro real via NFTs. 

Também, NFTs podem facilitar o acesso aos empréstimos sub-colateralizados, o que não é possível sem o uso de NFTs em DeFi. 

Isto sem falar das possibilidades infinitas que a programabilidade dos NFTs pode trazer, principalmente no compartilhamento de royalties, licenciamento e propriedade de direitos autorais. 

3) Introdução do conceito de propriedade fracionária em DeFi

NFTs permitem a flexibilidade para a criação de ações NFTs. Como resultado, os investidores e fãs dos criadores de NFTs podem ter a oportunidade de ficar “devendo” o valor de parte de um NFT, mediante o pagamento de juros, sem comprar um NFT inteiro. 

Note, contudo, que as aplicações da propriedade fracionária dos NFTs no espaço DeFi ainda se encontram num estágio inicial.

Possibilidades

A verificabilidade da propriedade é um dos fatores mais importantes associados às aplicações de NFT em DeFi. 

A facilidade de provar a propriedade via NFTs também abre inúmeras possibilidades em DeFi, como a obtenção de empréstimos DeFi utilizando NFTs como garantia. 

No entanto, o principal ponto de atenção na “financialization” de NFTs é a capacidade que tokens não fungíveis têm de alocar valor a quase tudo, enquanto DeFi, em contrapartida, ajuda a destravar o valor de um ativo específico. 

São inúmeros os motivos para que empréstimos DeFi apoiados em NFTs ganhem popularidade. 

Mas e você? Acha que NFTs se encaixam em qual fase do Gartner Hype Cycle? 

Já pensou como a obtenção de um empréstimo através da constituição de um NFT como garantia pode ajudar os investidores a serem mais eficientes no capital, talvez permitindo-lhes desviar seus fundos emprestados para outros projetos?

Talvez com o crescimento do número de usuários, DeFi e NFTs podem transformar a forma como vemos ativos, tokens e os serviços financeiros.  

Conhecimento é poder! Nos vemos em breve!

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Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. LinkedIn Top Voice em Inovação e Tecnologia. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Especialista em Blockchain Business Applications pelo MIT. Especialista em Artificial Intelligence & Business Strategy pelo MIT Sloan & MIT CSAIL. Especialista em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Convidada pelo Parlamento Europeu para a “The Intercontinental Blockchain Conference”....
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