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Enquanto China recua, países buscam aderir em massa às criptomoedas

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Atualizado por Paulo Alves

Em maio deste ano, o Conselho do Estado da China revelou algumas atividades e novas decisões que o governo tomou em direção à uma repressão das atividades de negociação e mineração de Bitcoin e outras criptomoedas.

No dia 21 de maio o Conselho  publicou as notas sobre uma reunião que foi realizada por seu Comitê de Desenvolvimento da Estabilidade Financeira, que esclarece que tais medidas de repressão foram tomadas visando as prioridades futuras do país, a fim de evitar riscos financeiros para a população

Apesar de ainda não termos claro quais serão todas as medidas adotadas pelo governo, e algumas delas ainda não terem entrado em vigor, essas notícias divulgadas já estão trazendo alguns impactos para o mercado, tanto os investidores quanto os mineradores. 

No caso desses últimos, as declarações geraram uma inquietação que fez com o que as criptomoedas sofressem algumas consequências também.

Nova legislação da China e o impacto no mercado cripto

Dentre as consequências da represália da China, as principais giram em torno do recuo generalizado que as criptomoedas sofreram, e é claro a insegurança dos mineradores para darem continuidade na atividade.

Foi registrado que alguns mineradores estão liquidando suas moedas, enquanto alguns estão tentando migrar as operações para outros países, que possuem maior flexibilidade quanto à atividade. Além disso, também foi constatado um aumento no número de máquinas e equipamentos de mineração de criptos que foram colocados à venda, desde as declarações polêmicas do governo.

Na prática, isso significa que a taxa hash do Bitcoin sofrerá impacto e terá de ser ajustada nos próximos meses. Alguns dos maiores pools de mineração de Bitcoin na China já estão se movimentando em direção a outros países. Representantes do famoso pool Poolin afirmaram que já estão buscando alternativas estrangeiras para levar o negócio a âmbito global e conter os efeitos das novas legislações chinesas. 

Preço do Bitcoin

Em relação à cotação da moeda, se você é um investidor com certeza já sentiu os impactos também. A comunidade cripto e os mineradores afirmam que as mudanças afetaram os tokens até mesmo das maiores corretoras do mundo. No entanto, essa história tem um lado positivo, mudando a perspectiva em que se analisa a situação. 

Diversos especialistas afirmam que esta represália da China pode contribuir para descentralizar operações de mineração, uma vez que os maiores pools realmente vinham do país. Eles explicam que, com a atividade centralizada, a mineração da moeda ficava bastante sensível e dependente da região, sendo que qualquer tipo de interrupção ou problemas, mesmo que temporários, já causavam certos impactos também.

Um exemplo disso é o acidente que houve na mina de carvão de Xinjiang, uma das maiores províncias chinesas de mineração de criptomoedas, despencando a taxa hash do BTC em 40% em apenas 24 horas. O acidente na mina causou um blecaute na província, que precisou interromper o fornecimento de energia para todos os grandes data centers da região por um período, o que incluía também estes pools. A principal consequência foi um aumento considerável no tempo para minerar os blocos do Bitcoin, que passou a levar quase 2 horas, contra os tradicionais 10 minutos necessários, sob condições normais.

Isso demonstra o quanto a mineração da moeda concentrada em uma região também é prejudicial, sobretudo diante imprevistos e eventos da natureza. Logo, a expansão da atividade para outros países, que não apresentam tantos embargos, é uma ótima oportunidade para a comunidade descentralizar esta questão e para que o mercado não sofra com as consequências de episódios como este.

Enquanto isso, outros países preparam para a abertura

Apesar de a China estar passando por este período de adaptação e reestruturação de sua legislação a respeito das criptomoedas, em contrapartida, estamos presenciando outros países se preparando para uma abertura e maior adoção desses ativos e do modelo descentralizado de finanças, as DeFi. Países como Portugal, Alemanha, El Salvador e alguns outros estão dando passos importantes para participar do mercado cripto, cada um por uma razão e necessidade distintas, como vamos ver abaixo.

América Latina

Recentemente a comunidade e os investidores de cripto presenciaram uma das maiores notícias de adesão do Bitcoin em massa.  Nayib Bukele, presidente do El Salvador, com o apoio do Congresso,  aprovou a “Lei do Bitcoin”,  e tornou o país o primeiro a adotar o Bitcoin como uma moeda legal.  

De acordo com um trecho da nova norma, “a presente lei tem como objeto a regulamentação do bitcoin como moeda de curso legal, irrestrito com poder liberatório, ilimitado em qualquer transação”. Na prática, isso significa que, após a lei entrar em vigor, cerca de 3 meses após sua divulgação no Diário Oficial do país, o Bitcoin poderá ser utilizado em qualquer transação, por pessoas físicas ou pessoas jurídicas. Desde as transações mais corriqueiras, como ir num supermercado, até outras mais complexas. 

Os principais impactos da medida estão relacionados à maior adoção e incentivo do Bitcoin e demais altcoins, trazendo maior inclusão dos salvadorenhos no modelo de finanças descentralizadas.  A gestão disruptiva de Bukele buscou implementar essa providência, também como uma forma de economizar em comissões repassadas aos agentes intermediários envolvidos em remessas recebidas pelo exterior, uma economia de quase 30% do dinheiro enviado. 

Além de tornar o país mais aberto a receber diferentes investimentos estrangeiros, pela facilidade nas transações. A nível global, isso significa que outros países poderão se inspirar nos resultados da nova medida e buscar seguir o mesmo caminho do país. 

Outros países da América Latina e Central já estão se movimentando em direção a esse novo modelo de finanças, mais descentralizado e tecnológico. Logo após a revista Forbes publicar que El Salvador poderia se tornar um dos centros monetários mais importantes do mundo ao adotar o Bitcoin como moeda legal, o congressista do Panamá, Gabriel Silva, líder do Partido Independiente do Panamá, demonstrou bastante interesse em seguir os mesmos passos. Por meio de seu Twitter, o deputado afirmou que se o Panamá pretende se tornar um centro de tecnologia e empreendedorismo, é preciso apoiar as criptomoedas e abraçar projetos de leis ambiciosos como o de El Salvador.

Na Venezuela, Nicolás Maduro afirma ser pioneiro no mercado cripto, e implementou medidas para regulamentar a atividade de mineração das moedas. Apesar das medidas não irem de total encontro com as ideias descentralizadoras das criptomoedas, é um passo que pode ser importante para a adoção em massa. Afinal, a Venezuela foi o país da América Latina que registrou maior volume de transações P2P com Bitcoin.

Europa

Na Europa, as coisas também estão caminhando. O Banco Central de Portugal, órgão responsável pelo registro de entidades que atuam como provedores de serviços de ativos virtuais (VASPs), vem autorizando a entrada de exchanges de criptomoedas no país. As corretoras Criptoloja, com sede em Estoril e Mind The Coin, com sede em Braga, são as primeiras do setor a entrarem no país, devidamente registradas e autorizadas. Também é interessante lembrarmos que em 2019 Portugal isentou as criptomoedas do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), tanto para pagamentos de salários quanto para transações. 

A Alemanha, a atual maior economia da União Europeia, por sua vez aprovou a nova lei, Fund Location Act, que entrou em vigor no dia 1 de julho deste ano. A lei permite que fundos de investimento do país possam alocar até 20% de seu patrimônio em Bitcoin ou Ethereum. Os reflexos da lei incluem uma possível injeção de até R$ 2 trilhões no mercado cripto. Existem no país cerca de 4 mil fundos especiais, chamados Spezialfonds, que são restritos a investidores institucionais. Esses fundos  poderão fazer suas alocações em criptoativos, permitindo a entrada de enormes quantias no mercado, o que também representa um importante passo para que bancos possam investir nos ativos também. 

Sven Hildebrandt, CEO do Distributed Ledger Consulting (DLC), afirma que, no longo prazo, a medida pode ter enorme impacto: “Isso não acontecerá da noite para o dia, mas estamos falando sobre o maior veículo de investimento que temos na Alemanha. Literalmente todo o dinheiro está lá”, disse.

África

O continente africano, também não fica para trás no que tange aos avanços das permissões para o uso das criptomoedas nos países, que não se restringem somente às transações e uso comercial. A IOHK, empresa por trás da Cardano (ADA), por exemplo, tem um projeto em parceria com o governo da Etiópia para criar um sistema baseado na tecnologia blockchain e levar internet e tecnologia para escolas do país. 

Presenciamos também movimentações da Tanzânia e do Quênia para implementar medidas similares à que El Salvador implementou. Ainda de acordo com o portal Useful Tulips, a África Subsaariana é o segundo maior mercado em volume de transações P2P, perdendo apenas para América do Norte, e seu faturamento semanal pode superar a marca dos US$16,5 milhões.

Os reflexos no criptomercado global

Como foi possível constatar, a facilitação da adesão às criptomoedas por diversos países ao redor do mundo pode causar uma série de impactos positivos nos criptoativos, sobretudo quando olhamos para os efeitos no longo prazo. A criação de leis e medidas deste cunho, são uma ótima saída para a sociedade como um todo buscar o entendimento de como a tecnologia blockchain pode mudar o mundo e proporcionar maior acessibilidade a serviços financeiros.

E há ainda os efeitos que impactam diretamente na cotação das moedas, é claro. Muito se especula sobre quanto valeria o Bitcoin e outras grandes criptos caso houvesse uma adoção em massa desses ativos. Fato é, as empresas, sobretudo aquelas do nicho tecnológico ou que buscam soluções para otimizar seus processos, já vêm percebendo esse potencial disruptivo das criptomoedas e buscam seus lugares nos investimentos institucionais.

Estamos constatando um aumento considerável de aportes institucionais em criptomoedas de 2019 para cá, com gigantes empresas do nicho financeiro deixando claro seu apoio aos ativos, como Grayscale, Visa, bancos como JP Morgan e Goldman Sachs, dentre muitos outros. 

O que falta, agora, é um aumento no apoio do movimento de finanças descentralizadas (DeFi) e na adoção em massa das criptomoedas por parte de governantes dos países. Diversos setores e empresas poderiam se beneficiar em larga escala de um sistema financeiro que eliminasse entidades intermediárias e processos burocráticos e caros. É importante, e necessário, contar com o apoio legislativo dos chefes de Estado para que tais medidas e mudanças possam acontecer da melhor maneira possível e para que não encontrem  impeditivos na implementação das mesmas.

Certas mudanças tecnológicas vieram para ficar e simplesmente não faz sentido lutar contra elas. É uma questão de tempo até que sejam adotadas em escala global – uma delas com certeza, é a tecnologia blockchain.

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José Artur Ribeiro, CEO da Coinext
É um dos fundadores e CEO da Coinext. Economista formado pela Università di Roma (Itália) e investidor em criptomoedas desde 2014. Possui mais de 15 anos de experiência em cargos de liderança. Foi CFO da Hexagon Mining e CFO da Vodafone Brasil. Trabalhou também em multinacionais como Airbus Industries (França) e PricewaterhouseCoopers (Itália e Brasil).
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