O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou nesta quinta-feira (4) um relatório em que destaca o avanço das stablecoins e outras inovações financeiras como parte de uma verdadeira “revolução do dinheiro”.
A instituição avalia que essas transformações estão redesenhando o sistema financeiro internacional e terão impacto direto, principalmente, na forma como governos, bancos e cidadãos lidam com pagamentos, liquidez e gestão de riscos.
Stablecoins são apenas uma faceta da revolução, diz FMI
Segundo o FMI, as stablecoins já movimentam trilhões de dólares por ano, ganhando espaço em economias emergentes. Especialmente na América Latina e no Caribe, onde o peso dessas transações sobre o PIB é mais expressivo. Para a entidade, o crescimento revela tanto a procura por alternativas às finanças tradicionais quanto as falhas de sistemas de pagamento, ainda caros e lentos em muitas regiões.
SponsoredO organismo internacional, no entanto, alerta que os benefícios vêm acompanhados de riscos. A ampla adoção de criptoativos está ligada a desafios como lavagem de dinheiro, volatilidade cambial e ameaça à estabilidade monetária. Bancos centrais já discutem mecanismos de supervisão mais rígidos e possíveis regulações específicas para mitigar esses problemas.
O desafio é equilibrar inovação e regulação, permitindo que essas tecnologias ampliem o acesso e a eficiência sem comprometer a segurança financeira global, destacou o relatório.
O debate coloca as stablecoins no centro de uma transformação que pode redefinir a economia mundial nos próximos anos. Enquanto especialistas enxergam avanços em inclusão financeira e redução de custos em remessas, autoridades monetárias reforçam a necessidade de regras claras e transparência. Tudo para evitar que uma crise digital tenha impacto sistêmico.
Cenário financeiro global já mudou
Hélène Rey, professora da London Business School, avalia as implicações macroeconômicas e geopolíticas da adoção generalizada de stablecoins pareadas em dólares americanos em todo o mundo.
Do lado positivo: pagamentos internacionais mais rápidos e baratos. Do lado negativo: risco de dolarização (quando o dólar é usado em paralelo com a moeda local), fluxos de capital e volatilidade cambial, potencial enfraquecimento do sistema bancário, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros. Embora seja difícil prever como o uso dessa tecnologia se desenvolverá, é “provável que crie grandes riscos à estabilidade financeira”, escreveu Rey.
Yao Zeng, da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, identifica um potencial fonte de risco. “O cenário financeiro global mudou, mas as regras permanecem praticamente inalteradas”. Ele coloca as stablecoins no contexto de mudanças mais amplas nos mercados financeiros.
Por exemplo, instituições não bancárias pouco regulamentadas estão fornecendo mais liquidez. E os credores estão cada vez mais recorrendo à IA e ao big data para acelerar as aprovações de empréstimos, reduzir as exigências de garantias e alcançar tomadores de empréstimo que os bancos tradicionais frequentemente ignoram. Uma coisa é clara, ele escreve:
As stablecoins podem funcionar bem em tempos bons, mas podem fracassar sob pressão.
Um estudo recente do FMI revela que, em 2024, fluxos de stablecoins somaram US$ 2 trilhões, com destaque para movimentações nas Américas e Ásia-Pacífico, e impacto mais expressivo em relação ao PIB na América Latina e Caribe