Uma das maiores redes blockchain do mundo enfrenta uma crise de credibilidade, mas não por conta da volatilidade do mercado ou por ser a segunda maior criptomoeda da indústria. O nome Ethereum está sendo questionado após denúncias de participantes do hackathon EthLisbon, ocorrido de 09 a 11 de maio, em Lisboa.
A reportagem do BeInCrypto Brasil recebeu denúncias de participantes que alegam terem sido lesados, levantando sérias preocupações sobre a organização do evento. Sobretudo, a credibilidade de uma das maiores comunidades cripto do mundo;
Corte de US$ 38 mil durante anúncio final do EthLisbon
Os builders do hackathon EthLisbon foram surpreendidos com um corte de 50% nos bounties, resultando em uma redução de mais de US$ 38 mil em recompensas para a comunidade. A diminuição dos valores foi anunciada apenas no evento final, sem qualquer comunicação prévia para as mais de 50 equipes participantes.
A justificativa da organização foi de que os critérios exigidos pelos patrocinadores e idealizadores do evento não foram atendidos. Além disso, os valores da premiação divulgados no site do patrocinador principal referem-se ao total originalmente prometido, e não ao valor efetivamente pago.

Comunidade indignada
Um dos participantes do evento, Fabio Sevá, CMO da Infinity Base e Advisor da Pool Party, venceu na categoria Cross-chain top-up da Gnosis Pay. Ele contou ao BeInCrypto Brasil que atendeu a todos os critérios exigidos, mas recebeu somente metade do prêmio. Ele não foi o único. Segundo o desenvolvedor,
Grupos de mentorias, discussões e suporte sobre o desafio foram encerrados após as reclamações e pedidos de explicações dos hackers, afirmou.
Outro participante disse à reportagem que “infelizmente, teve uma experiência bastante frustrante em relação aos bounties“.
Houve uma lacuna significativa entre os valores dos prêmios anunciados e o que foi efetivamente distribuído, sem aviso ou explicação clara por parte dos organizadores, reforçou o desenvolvedor.
Para dar um exemplo concreto: o bountie da Kusama teve US$ 15 mil anunciados, mas apenas US$ 6,864 foram premiados. Já o Olas teve US$ 15 mil inicialmente prometidos, mas apenas US$ 3 mil foram entregues. O Gnosis Chain teve US$ 6,5 mil anunciados, com US$ 3 mil efetivamente pagos. Rootstock teve US$ 5 mil divulgados, mas apenas US$ 2 mil foram premiados.
Desse modo, em alguns casos, o corte superou 50% do valor original das recompensas.
É uma diferença total de mais de US$ 38 mil, que impacta diretamente as equipes que dedicaram dias de trabalho, energia e criatividade para construir projetos significativos, explica Sevá.
Ele complementa:
É um desrespeito com a comunidade global que está construindo de forma séria.

Grupo fechado
Tentamos pedir esclarecimentos no grupo oficial do Telegram, mas em vez de receber respostas, o grupo foi fechado, o que só aprofundou o sentimento de falta de transparência e respeito para com os participantes, disse a reportagem outro hacker.
Outro participante do hackathon revelou que, cerca de um mês antes, em um evento semelhante realizado em Londres, ocorreu a mesma situação com as trilhas temáticas. Nenhum time ganhou os prêmios.
A cena web3 já lida com desconfiança e golpes demais, esse tipo de situação em um hackathon só enfraquece ainda mais a confiança que é preciso conquistar, questionou.
Pessoalmente, me senti decepcionado e desvalorizado. Se um hackathon visa construir uma comunidade e apoiar os construtores, a transparência e a comunicação clara são fundamentais. Alterar os valores das recompensas sem aviso quebra a confiança que depositamos como contribuidores, concluiu um dos participantes.
Organizadores supostamente desaparecem
A reportagem procurou @thumbpark, Head de operações da encode e organizador EthLisbon, @Anthonybeaumont1971 Co-fundador da encode e organizador do evento e @SCCruz1- Simão Cruz, partner da Lightshift e patrocinador principal.
Nenhum deles respondeu aos pedidos da reportagem pelo Telegram. Nós também tentamos pelo Linkedin da Encode Clube, que ainda não se manifestou.
Ao solicitar os números de telefones dos organizadores, alguns participantes disseram que eles não compartilham para manter a privacidade.
Ethereum Brasil se manifesta
No Brasil, o representante da comunidade Ethereum se manifestou.
É um desrespeito completo não somente com os participantes, mas com toda a comunidade Ethereum. Este desserviço é pontual e espero que os culpados sejam responsabilizados e se retirem do cenário Web3, pontuou Afonso Belice.
O BeInCrypto procurou outras comunidades da Ethereum pelo mundo para saber o que pensam outros construtores, mas ninguém se manifestou, incluindo a Ethereum Foundation. Outras “não quiseram se envolver por não conhecer os organizadores do Eth.Lisboa”.
Atualmente as comunidades que usam o nome Ethereum são independentes da Ethereum Foundation. Na prática, se usa o nome de um protocolo descentralizado, que é totalmente centralizado e cada um faz suas regras em seu território.
Patrocinadores calados
Até o momento nenhum patrocinador se pronunciou. No ano passado, o ETHLisboa foi cancelado de última hora, sem justificativa, o que já havia levantado preocupações sobre a organização do evento.
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