O endosso do presidente de El Salvador à legalização do Bitcoin gerou uma onda de apoio na América Latina, incluindo o Brasil.
Na última segunda-feira (7), o deputado gaúcho Fábio Ostermann (NOVO) mudou a foto de perfil do Twitter e adicionou imagem com olhos de raio laser, embarcando no movimento iniciado por apoiadores do Bitcoin – a ideia é deixar os laser eyes até o BTC atingir US$ 100 mil.
Ostermann, cuja iniciativa foi destacada pelo famoso perfil Documenting Bitcoin no Twitter e saudada pelo CEO global da exchange OKEx, foi acompanhado por outros nomes do Novo, como o vereador de Porto Alegre Felipe Camozzato e o deputado por Santa Catarina Gilson Marques.
O trio segue tendência entre parlamentares que também passou por Paraguai, Panamá, Argentina e Nicarágua, mas começou com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ainda no domingo (6).
O anúncio de que El Salvador poderá adotar o Bitcoin como moeda de curso legal agitou os entusiastas das criptomoedas, que desconsideram o comportamento autoritário de Bukele.
O jovem político de 39 anos liderou o Congresso, onde tem maioria, em um movimento para destituir o procurador-geral e remover os juízes da Corte Constitucional do país.
Ele então ganhou o poder de nomear os substitutos, em ato visto como uma o passo final para a absorção de todos os Poderes da República salvadorenha, que ganha ares de ditatura.
Se de um lado o autoritarismo vai contra os ideais dos fãs mais fervorosos das criptomoedas, de outro, justamente a centralização de poder pode ajudar a aprovar o plano de reforma financeira na nação centro-americana que elevaria o Bitcoin, pela primeira vez, ao status de moeda equiparada ao dólar.
Por ora, famosos entusiastas do Bitcoin como o bilionário Tyler Winklevoss, sócio da exchange Gemini parecem se agarrar apenas no segundo cenário.
Bitcoin não deve ter apoio semelhante no Brasil
Os políticos do Novo que manifestaram apoio ao Bitcoin se limitaram a aderir à campanha de olhos de raio laser até US$ 100 mil, e não mencionaram qualquer interesse em propor no Brasil algo inspirado em El Salvador.
O apoio de algo nessa linha pode simplesmente não ter espaço no país. Para o economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) com PhD em Oxford, Márcio Nakane, uma moeda nacional forte é o que dá ao Banco Central o poder de desenhar política monetária. Portanto, substituir a moeda nacional pelo bitcoin seria abrir mão de exercer este controle.
“Não acho que isto seja factível [no Brasil], no momento. Acho que é factível que o Banco Central no Brasil permita a adoção de outras moedas estrangeiras como moeda de curso legal ou, então, que o próprio Banco Central emita sua criptomoeda ou moeda digital”, pondera.
Para Nakane, uma CBDC nos moldes do real digital manteria o controle do volume de moeda em circulação no país sob as rédeas do BC, algo que não aconteceria se o Bitcoin fosse uma moeda de curso legal.
O professor diz ver o Bitcoin como moeda de curso legal apenas em países que já não possuem moeda própria, mas ressalta que a “extrema volatilidade que caracteriza a cotação do bitcoin” seria um problema.
A volatilidade seria um impeditivo para que o bitcoin se torne a única ou a principal moeda de curso legal de um país, além de na comparação com o dólar, que já é a moeda principal em El Salvador e em outros países, como o Equador.
O economista relembra que, mesmo que o plano do país da América Central dê certo, será preciso aguardar para ver o ritmo de adoção antes de especular sobre as possibilidades que se abririam para países emergentes.
“O ponto importante é que não é porque o bitcoin se tornou uma moeda de curso legal que ela vai passar a ser largamente utilizada pelas pessoas como tal. Ela vai concorrer com outras possibilidades que as pessoas tenham.”
Enquanto isso, El Salvador aposta na modernização da infraestrutura via parceria com empresas do setor cripto para levar conexão à Internet a áreas rurais. Segundo o presidente Bukele, a economia do país tem tudo para se beneficiar da iniciativa porque o Bitcoin eliminaria intermediários e baratearia as remessas internacionais das quais depende.
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