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Empresas precisam estar de olho em criptoativos, alerta especialista

8 mins
Atualizado por Júlia V. Kurtz

A crescente inovação tecnológica no setor de web3 faz com que muitas empresas precisem se adaptar à demanda dos consumidores por criptoativos. E fazer isso pode não ser uma questão de crença na tecnologia e sim uma imposição do mercado.

Especialista em Estratégia e Desenvolvimento de Negócios no mercado web3, Juliana Walemkamp tem 6 anos de experiência trabalhando com projetos e protocolos de blockchain e criptomoedas. Ela atualmente lidera a expansão da BitGo no Brasil, como Diretora de Vendas Institucionais.

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Nesta conversa com o BeInCrypto, ela fala sobre o mercado cripto no Brasil, a adoção crescente de criptoativos e a importância da regulamentação no desenvolvimento do ecossistema.

  • Como você conheceu o mundo web3?

Eu comecei há 6 anos e basicamente eu trabalhava no mercado tradicional. Eu tenho uma história com o mercado Internacional bem ampla já. Minha carreira começou com trading de commodities e eu sempre enxerguei algumas dificuldades em relação ao comércio Internacional, como pagamentos e semelhantes.

Depois do trading, eu fui para shipping, e, por fim, para o serviço financeiro tradicional. Eu trabalhava com mesa de câmbio, com estruturação e alguns outros produtos estruturados de TradFi.

Foi então que um amigo, que era advogado, me disse: “olha, eu tenho um cliente, uma empresa, que quer comprar Bitcoin mas não consegue operacionalizar”. Eu trabalhava com câmbio nessa época e precisei estudar e entender o que era isso e como posso ajudar essa empresa.

Foi então que eu tive o que eu considero a minha porta de entrada. Foi em uma reunião que abriu muito a minha cabeça. No primeiro momento, eu fiquei intrigada e me senti provocada. Como funciona esse blockchain? O que tem a ver com Bitcoin?

Em seguida, eu fui pra casa estudar. E eu li o whitepaper do Bitcoin, li informações sobre o mercado. Isso foi em 2016 e não havia tantas informações disponíveis quanto hoje.  Mas eu vi muito potencial, não só para serviços financeiros.

Eu entendi o que se conseguiria se ele fosse adaptado ao blockchain e, seis meses depois, essa empresa me convidou para ser head de business development. E considero isso uma grande escola pra mim, que me abriu a mente.

Eu tive contato com muita gente legal. Claro que é diferente do mercado que temos hoje. Na época, eu tinha mais dificuldade de conversar com bancos e instituições financeiras reguladas, mas eu aprendi demais sobre ecossistema naquela época.

  • Como é a aceitação do público de varejo no Brasil hoje em comparação com antigamente?

É engraçado, isso. Nós falamos que um ano em cripto anda muito rápido. E, nesse intervalo, as pessoas confundiam muito Bitcoin e criptomoedas com bolhas, pirâmides e esquemas financeiros.

Mas esses esquemas geralmente usam criptomoedas para atrair investidores, não como finalidade. Nós já vimos vários casos semelhantes, que usavam o mercado tradicional. Isso é injusto com o mercado cripto.

Ainda falta conhecimento do mercado, que é muito complexo e tem sua própria velocidade. Às vezes, é até difícil de acompanhar para quem trabalha dentro do ecossistema. Ou seja, isso é um empecilho além de falar sobre tecnologia.

Na prática, nós estamos unindo dois mundos: a tecnologia com o mercado financeiro. E isso cria algo completamente novo, soluções completamente novas. Hoje, o mercado tenta entender o que nós falamos sobre infraestrutura, quais os tipos que existem, como uma empresa pode implementar um produto cripto em sua plataforma.

Essas dúvidas são mais técnicas e mais complexas do que aquela má interpretação que havia anos atrás sobre o que era, realmente, o mercado.

Claro que a adoção em massa e o avanço da regulamentação ajudaram essas instituições a ter uma nova consciência do que este tipo de ativo pode significar. E foi a partir daí que a coisa evoluiu.

Os produtos têm que ser cada vez mais simples para o consumidor final. Isso ajuda a implementar uma evolução orgânica. Ao mesmo tempo, as empresas constroem produtos que, de fato, façam sentido e que possam atrair cada vez mais pessoas a entrarem nesse mercado.

  • Muitas empresas no Brasil, como lojas e bancos, decidiram lançar produtos cripto. Isso ocorre porque elas acreditam na tecnologia ou estão apostando no hype?

Tem um pouco de cada. Por um lado, as empresas entendem que a tecnologia, de fato, é o futuro e elas querem se adaptar a essa tecnologia. Afinal, é uma migração que vai acontecer de forma cada vez mais constante no mercado como um todo.

Ao mesmo tempo, há um inflow de dinheiro que eles perdem porque não oferecem este tipo de ativo. Por exemplo, quando falamos de um banco tradicional, de investimento, de varejo, eu imagino eles vendo vários saques de moedas fiduciárias para exchanges, para comprar criptomoedas.

Nós temos alguns mitos e algumas lendas do mercado. Há pessoas que não confiam nas exchanges porque elas possuem órgão regulador.

E nós temos uma gama ampla de exchanges fazendo trabalhos excelentes. Cada vez mais se fala nessa história de transparência, de regulação, do quanto isso é importante para o mercado.

Regulador. Então, obviamente que a gente tem uma gama muito grande, muito grande de Exchange. A gente tem exchanges locais fazendo um excelente trabalho.

Temos empresas estrangeiras que vêm ao Brasil e operam de diversas maneiras, nem sempre respeitando regras locais. Elas não respeitam, por exemplo, o que os reguladores põem como diretrizes e métricas.

Então, obviamente, se você, pessoa física, que não entende desse mercado, começa a ouvir mais sobre Bitcoin e essa nova classe de ativos, você não quer ficar de fora.

O que você sabe é que talvez você pode ter um ganho de oportunidade interessante nesse mercado, mas, ao mesmo tempo, pode ser arriscado deixar o dinheiro ali. É só olhar o que aconteceu com a FTX. Todos achavam que ela era um player sustentável, sólido.

O movimento de players como o BTG, o Nubank, é sólido. São instituições financeiras que se adequaram e integraram a blockchain aos serviços deles. Isso faz sentido, porque eles evitam que um cliente leal, que confia na marca e na estabilidade de sua estrutura, migre para um serviço puramente cripto.

Por outro lado, o fator tecnologia é algo que muitas empresas já antecipam, porque é uma grande tendência. Não só a compra e venda de Bitcoin. É um novo ciclo em que estamos entrando.

Em suma, é um pouco desses dois pontos. De fato, as empresas entendem que esta é uma inovação que veio cada vez mais para ficar.

  • Vários países estão tentando regulamentar as criptomoedas. Os Estados Unidos, por exemplo, aumentaram o escrutínio ao ponto de que várias empresas pensam em deixar o país. Como essa situação pode afetar o Brasil?

De fato, eles adotaram uma política muito reativa para tecnologia, o que é uma pena. Isso repele a inovação e a livre concorrência na região.

E, claro, isso tem um efeito cascata. O brasileiro, por sua vez, sempre olha para fora e procura entender o que está acontecendo em termos de inovação para trazer para o país.

E, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, eu acho que o Banco Central, no Brasil, está sendo incrível. O Roberto Campos Neto tem uma agenda extremamente favorável para a tecnologia, para a inovação e a disrupção. E ele já tinha uma agenda voltada a blockchain há algum tempo.

Já havia algumas conversas sendo discutidas e desenvolvidas desde o Lift Challenge. Nós estamos vendo o desenvolvimento de uma CBDC. E tudo isso é maravilhoso porque, no fim do dia, isso atrai empresas, atrai inovação e a oferta de novas soluções que só tendem a beneficiar a população.

E esse é o grande interesse quando falamos de criptomoedas. Se falamos de blockchain, precisamos entender por que a tecnologia foi criada, qual era a intenção por trás do Bitcoin.

Isso vai democratizar cada vez mais o acesso a serviços financeiros diferentes. E você consegue pulverizar essa oferta cada vez mais. E, assim, surgem novos produtos que são, de fato, inovadores.

O mercado financeiro tradicional opera a décadas e, hoje, temos um mercado que começou em 2008, após a crise dos subprimes nos Estados Unidos, e que, em tão pouco tempo, já trouxe tantas soluções diferentes.

E o regulador tem um papel fundamental quando estas inovações acontecem e mostram produtos que podem revolucionar a vida das pessoas. O problema é que a abordagem de cada regulador tem muita relação com isso.

Em uma, nós vemos, hoje, comportamentos diferentes. Os EUA são muito reativos enquanto o Brasil é pró-ativo. No fim do dia, temos que entender que a tecnologia veio para ficar, ou seja, os bancos se adaptam, os mercados se adaptam.

Se não fizerem isso, vai haver uma divisão muito grande no mercado. Os que tem uma postura aberta e flexível para esse tema vão beneficiar a população, as instituições e a economia do país.

Logo, o que nós vemos acontecendo nos EUA são órgãos como a SEC e o CTFC indo atrás de empresas – umas com embasamento e outras, com embasamento controverso. A regulamentação, no fim do dia, é positiva para o mercado, porque ela corrobora para que você possa trazer a estrutura de mercado para o ecossistema cripto, que ainda carece muito.

O problema é como o regulador vai decidir fazer isso e desenvolver as iniciativas locais.

  • Como será a adoção de uma CBDC em um país como o Brasil, que tem produtos inovadores como o PIX?

Quando você olha sua conta bancária, você está entrando em uma conta gráfica. Se você tem, por exemplo, R$ 10 milhões, você chega na agência, pede pra sacar esse dinheiro e não consegue fazer esse saque.

Logo, há uma grande confusão sobre o que é físico, o que é digital. É claro que a América Latina ainda usa bastante dinheiro em cédula, mas a região está cada vez mais se digitalizando, especialmente o Brasil.

O percentual de desbancarizados na região, por outro lado, ainda é muito alto e o da população que consegue acessar a internet, também. Então, quando se fala, por exemplo, de uma CBDC, nada vai mudar para o cidadão comum.

Nada vai mudar nas relações financeiras dele. Ele vai continuar tendo reais na conta, pareados em uma moeda digital, que ele vai usar para fazer trocas financeiras, aplicações, investimentos.

Ou seja, não vai haver nenhuma diferença na usabilidade do que ele tem no banco. A grande visão do Bacen é que a CBDC seja tão engajada quanto o PIX.

Em um futuro próximo, nós teremos o Real Digital para o varejo e uma versão que será usada para operações interbancárias. O grande desafio aqui é saber como as instituições vão se adaptar à complexidade do blockchain.

E, para o cliente, no fim das contas, isso será tão simples que não fará diferença se ele estiver ou não usando uma CBDC. Isso é só um mecanismo para trazer mais agilidade, segurança e transparência para o sistema monetário local e mais robustez à infraestrutura que já usamos.

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Júlia V. Kurtz
Editora do BeInCrypto Brasil, a jornalista é especializada em dados e participa ativamente da comunidade de Criptoativos, Web3 e NFTs. Formada pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui mais de 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia, tendo passado por veículos como Globo, Gazeta do Povo e UOL.
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