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Criptoeconomia na construção da infraestrutura do mundo físico

9 mins
Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • O que é criptoeconomia?
  • Como usar a capacidade de incentivo de um protocolo para obter vantagens nos mundos digital e físico?
  • O uso de protocolos criptoeconômicos no desenvolvimento de infraestrutura no mundo físico e redes de hardware
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No artigo de hoje, vamos ver como protocolos blockchain tem utilizado a “criptoeconomia” para incentivar e coordenar a atividade humana, tornando-as úteis para o desenvolvimento descentralizado de infraestruturas no mundo físico e redes de hardware.

Mas antes de mergulharmos no tema de hoje, é preciso relembrarmos alguns conceitos.

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O que é criptoeconomia?

Acabamos de ver a mudança do mecanismo de consenso do Ethereum de Proof-of-Work para proof-of-stake com o the Merge

Na sopa de letrinhas do mundo blockchain-cripto, não são muitos os que sabem que mecanismo ou algoritmo de consenso tem absolutamente tudo a ver com criptoeconomia.

Ao contrário do que possa parecer, criptoeconomia não é a aplicação de uma concepção popular de economia (técnicas de previsão de ações e política monetária) às criptomoedas. Criptoeconomia é uma disciplina que estuda protocolos que governam a produção, distribuição e consumo de bens e serviços em uma economia digital descentralizada. 

Criptoeconomia ou criptoeconomics é o estudo de como a combinação entre criptografia e economia podem criar mecanismos de incentivo e viabilizar redes peer-to-peer (P2P), descentralizadas e robustas, apesar dos adversários tentarem atrapalhar a rede.

Isto é, a criptoeconomia oferece uma maneira de coordenar o comportamento dos participantes de uma rede descentralizada, combinando a criptografia com a economia.

Os principais objetivos da criptoeconomia são entender como financiar, projetar, desenvolver e facilitar as operações dos sistemas de financiamento descentralizado (DeFi) e aplicar incentivos econômicos e penalidades para regular a distribuição de bens e serviços nas economias digitais emergentes.

Qual a relação entre blockchain e criptoeconomia? 

Apesar de muitos afirmarem que blockchain já existia antes do Bitcoin, a verdade é que o primeiro blockchain surgiu com quando Satoshi Nakamoto aplicou à tecnologias já existentes (a criptografia e as redes distribuídas) uma estrutura de incentivo econômico (mecanismo de consenso)  conhecido como prova de trabalho (PoW).

Somente com a criptoeconomia foi possível o surgimento do primeiro blockchain, que é formado por criptografia, redes descentralizadas e algorítmos de consenso.

Antes do surgimento do Bitcoin, acreditava-se ser impossível criar uma rede descentralizada onde o consenso é alcançado sem vulnerabilidades significativas a ataques cibernéticos e falhas na rede.

Este problema, conhecido como o Problema dos Generais Bizantinos, foi então solucionado quando Satoshi Nakamoto introduziu incentivos econômicos para uma rede peer-to-peer e resolveu este problema.

Desde então, as redes descentralizadas passaram a incorporar incentivos econômicos à criptografia para chegar a um consenso sobre o estado da rede e sua história, bem como para incentivar os participantes da rede a se comportar de determinadas maneiras.

Daí porque, tais protocolos com sinergia de criptografia com incentivos econômicos (objeto de estudo da criptoeconomia) são conhecidos como “protocolos criptoeconômicos”. 

Como usar a capacidade de incentivo de um protocolo para obter vantagens nos mundos digital e físico? 

Uma das características mais poderosas da criptoeconomia é sua capacidade de criar estruturas de incentivo que permitem a qualquer pessoa no mundo contribuir para um conjunto de objetivos compartilhados. 

Essas estruturas de incentivo podem ser ajustadas com precisão para facilitar a coordenação em larga escala a fim de atingir objetivos específicos. 

E isto traz uma melhoria na formação de capital e coordenação humana. Vejamos o porquê.

Os protocolos criptoeconômicos permitem um ecossistema inteiramente novo de redes descentralizadas resilientes, seguras, que já se comprovaram úteis na coordenação da atividade no mundo digital, e agora estão sendo utilizados também para casos de uso físico.

Apesar de grande parte da “inovação cripto” estar focada na coordenação de comunidades e economias digitais, é importante destacar que  os tokens também criam oportunidades para inovação na formação de capital e coordenação humana que se estendem para além do mundo digital, alcançando também o mundo físico.

Protocolos alcançando o mundo físico?!! 

Isto mesmo. Já existem protocolos criptoeconômicos que incentivam as pessoas a fazer um trabalho verificável na construção do mundo físico.

Em vez de uma entidade única e centralizada para implantar e operar uma infraestrutura no mundo físico, um protocolo criptoeconômico incentiva e coordena milhões de indivíduos de maneira descentralizada e programática.

Parece absurdo?! 

O uso de protocolos criptoeconômicos no desenvolvimento de infraestruturas e redes de hardware

Protocolos criptoeconômicos, conhecidos como protocolos Proof of Physical Work (PoPW), têm sido utilizados para recompensar os usuários por realizar trabalho físico verificável como, por exemplo, a implantação de um hotspot 5G.  

Veja os protocolos criptoeconômicos PoPW que incentivam pessoas a construir a infraestrutura do mundo físico, aqui.

O algoritmo do protocolo verifica o status do dispositivo e recompensa o proprietário com base em um conjunto pré-determinado de regras.  

Protocolos Proof of Physical Work (PoPW) coordenam centenas de milhares de participantes ao redor do mundo, abrangendo setores como redes sem fio, mobilidade, meio ambiente, computação e armazenamento. 

Hellium, por exemplo, é um protocolo que utiliza a estrutura criptoeconômica PoPW que incentiva as pessoas a construir e gerenciar redes físicas de telecomunicações – por exemplo, torres de micro células. 

A Rede Hellium é construída por “hospedeiros” que extraem HNT, o token nativo do protocolo Hellium, em troca de criar cobertura e transferir dados através da rede. 

A rede Hellium foi lançada em agosto de 2019 e, nos dois anos e meio desde então, teve um crescimento para mais de 600.000 hotspots, que atualmente fornecem conectividade e cobertura em todo o mundo.

Principais benefícios do uso de protocolos criptoeconômicos para infraestrutura

O uso de protocolos criptoeconômicos como PoPW para redes de infraestrutura possui dois benefícios principais:  

  • ser capaz de escalar rapidamente as redes globalmente 
  • ser um sistema que é de propriedade coletiva de seus participantes, em vez de um pequeno grupo de acionistas.

Os protocolos criptoeconômicos permitem que indivíduos ao redor do mundo construam redes descentralizadas em paralelo. 

Os participantes com conhecimento específico sobre sua jurisdição podem se concentrar na implantação de infraestrutura que atenda às necessidades de seu mercado local. Em troca da construção do lado da oferta de uma rede, os participantes recebem participações de propriedade na rede, o que os motiva a vê-la bem sucedida.

Enquanto os protocolos descritos acima permitem que os indivíduos contribuam para as redes e ganhem renda passiva, eles também abrem a porta para negócios semelhantes a franquias. 

A participação nestas redes se parece muito com a abertura de uma franquia, e as franquias são uma grande parte da economia mais ampla (mais de 10%). É necessário algum capital inicial, bens imóveis físicos, algum know-how operacional, e então a comunidade e o protocolo ajudam a cuidar do resto.

Nesse sentido, a Hexagon Wireless é um exemplo de uma dessas franquias que operam no espaço DeWi. A empresa utiliza atualmente sua experiência técnica e seus relacionamentos proprietários para implantar hardwares para a rede Hellium e Pollen Mobile, acelerando o movimento DeWi.

Quais setores já usam Proof of Physical Work (PoPW)?

Para compreendermos os setores no mundo físico que já usam PoPW, é preciso diferenciarmos os dois tipos principais de redes de infraestrutura existentes. 

1) Redes de infraestrutura fungíveis e não fungíveis

 As redes de infraestrutura utilizam dispositivos de hardware que são agnósticos de localização. Os protocolos de computação e armazenamento se enquadrariam nesta categoria, já que seus serviços não dependem de onde os servidores/nodes estão hospedados. Um terabyte de armazenamento em Hong Kong equivale a um terabyte de armazenamento em Cingapura. 

Diferentemente, como a localização de um hotspot de rede sem fio é importante, tanto a rede de infraestrutura deste hotspot quanto a de qualquer outro hardware cuja localização seja essencial compõem redes de infraestrutura “não fungíveis”.

2) Quais categorias de infraestrutura estão utilizando protocolos criptoeconômicos ‘PoPW’ em sua construção?

Tendo em conta os tipos de redes de infraestrutura existentes, e considerando que a maioria dos protocolos PoPW está sendo construído como aplicações em L1s (redes de camada 1), os setores que utilizam protocolos criptoeconômicos na construção de infraestruturas no mundo físico podem ser divididos em quatro categorias.

  • Redes sem fio descentralizadas  – Decentralized Wireless Networks (DeWi)
  • Mobilidade
  • Ambiental
  • Cálculo e armazenamento 

2.1) Decentralized Wireless Network (Redes sem fio 

Hellium e Pollen Mobile são dois protocolos de destaque que operam no espaço sem fio de redes descentralizadas (DeWi). 

Enquanto o Hellium consiste atualmente de uma rede IoT e 5G, o Pollen Mobile se concentra especificamente no 5G. Estes protocolos incentivam os participantes do lado da oferta (operadores de hotspots) a fornecer cobertura de rede em troca de recompensas de tokens. Além disso, os participantes também recebem taxas por dados roteados através de seus hotspots.

2.2) Mobilidade

A mobilidade refere-se à indústria de transporte de pessoas e mercadorias. Duas redes emergentes neste setor são a Hivemapper e a DIMO. 

O Hivemapper é um mapa descentralizado construído pelos participantes usando ‘dashcams’. O protocolo recompensa os participantes do lado da oferta (mineradores do mapa) por dirigir ou andar por aí com um painel de controle e contribuir para o mapa da rede.

Já rede DIMO permite que os usuários se apropriem de seus dados de mobilidade para criar aplicativos e serviços em finanças automotivas, seguros, manutenção, e muito mais. Os participantes do lado da oferta (mineradores de dados) ganham prêmios por conectar um dispositivo de hardware a seu carro e contribuir com esses dados para a rede.

2.3) Ambiental

WeatherXM é uma rede meteorológica descentralizada alimentada por uma rede distribuída de dispositivos de hardware. Ela permite aos participantes do lado da oferta (operadores de estações meteorológicas) ganhar recompensas ao implantar uma pequena estação meteorológica e fornecer serviços meteorológicos precisos.

PlanetWatch é uma rede descentralizada de sensores de qualidade do ar global. O protocolo recompensa os participantes do lado da oferta (operadores de sensores) pela transmissão de dados de qualidade do ar em tempo real de volta à rede.

2.4) Computação e armazenamento

A categoria de computação e armazenamento consiste nos protocolos mais maduros do setor PoPW em termos de uso e receita da rede. 

Filecoin e Arweave são redes de armazenamento com diferentes modelos. A Filecoin usa um modelo de armazenamento baseado em contrato, enquanto a Arweave usa um modelo de armazenamento permanente. 

Ambos os protocolos incentivam os participantes do lado da oferta (fornecedores de armazenamento) a dedicar unidades de armazenamento físico para armazenar dados em troca de recompensas de tokens.

A Render Network é uma plataforma de renderização distribuída por GPU. A proposta do protocolo criptoeconômico da Render Network consiste em recompensar os participantes do lado da oferta (operadores de nodes) com tokens por dedicar hardware GPU à rede e completar trabalhos de renderização.

O uso de tokens na construção de infraestruturas

O uso de tokens como ferramenta de incentivo (também conhecido como tokenomics) é incrivelmente útel quando se trata de construir uma infraestrutura do mundo físico e resolver o problema de coordenação. 

Helium provou esta teoria em pouco mais de um ano. Ele fez uma rede IoT de 30.000 saltar para mais de 900.000 hotspots físicos distribuídos em 170 países, oferecendo recompensas para os implementadores de hotspots.

O incentivo econômico começa oferecendo aos usuários uma recompensa em tokens para completar uma atividade física verificável no mundo físico.  

Isto é, os participantes do lado da oferta são incentivados com tokens, visando uma atividade específica que é necessária para o crescimento da rede. Essas recompensas funcionam como um subsídio para os participantes do lado da oferta. As recompensas geralmente apoiam os participantes na construção da rede antes que a rede comece a gerar taxas sustentáveis a partir do uso do lado da demanda.

À medida que a rede cresce, os desenvolvedores e construtores de produtos são atraídos para a rede. Além disso, o subsídio do protocolo para seus participantes do lado da oferta permite que eles ofereçam serviços mais baratos, ajudando a atrair os usuários finais.

Os usuários finais começam a pagar para utilizar os serviços da rede, aumentando a receita para os participantes do lado da oferta e do protocolo. Isto cria um loop de feedback que acaba atraindo mais participantes e investidores do lado da oferta.

O valor é tipicamente capturado através de um modelo de equilíbrio de burn-and-mint (BME) ou um modelo de token de trabalho.  

Como a utilidade de uma rede aumenta enquanto o fornecimento é queimado através de um modelo BME ou apostado por prestadores de serviços através de um modelo de token de trabalho, o preço do token aumenta. O aumento do preço do token volta a atrair mais participantes do lado da oferta, criando um ciclo virtuoso.

O incentivo econômico PoPW resolve essencialmente o dilema da galinha e do ovo. Usando recompensas, um protocolo pode motivar os participantes a construir o lado da oferta de uma rede até o ponto em que os usuários finais a considerem atraente de usar. Isto permite que os protocolos construam o impulso inicial necessário para ganhar a adoção e competir com as empresas Web2.

Takeaway

O protocolo criptoeconômico Prova de Trabalho Físico (PoPW) representa um novo mecanismo de distribuição de tokens que recompensa os participantes por completarem um trabalho físico verificável no mundo físico.

Como vimos, numerosos protocolos estão utilizando PoPW para incentivar a participação do lado da oferta na construção de redes de hardware. Estes incluem redes sem fio descentralizadas, mobilidade, ambientais, computacionais e de armazenamento.

Usando a estrutura PoPW, os protocolos podem motivar os participantes a construir o lado da oferta de suas redes até o ponto em que os usuários finais os considerem atraentes para o uso.

E você, sabia o que era criptoeconomia? Já tinha ouvido falar da existência de protocolos criptoeconômicos? Conseguiu enxergar as vantagens que (PoPW) pode trazer a uma variedade de setores e sua capacidade de fornecer valor através da construção de uma infraestrutura descentralizada e global? 

Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!

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Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. LinkedIn Top Voice em Inovação e Tecnologia. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Especialista em Blockchain Business Applications pelo MIT. Especialista em Artificial Intelligence & Business Strategy pelo MIT Sloan & MIT CSAIL. Especialista em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Convidada pelo Parlamento Europeu para a “The Intercontinental Blockchain Conference”....
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