No fim de outubro de 2008, em uma lista de emails de discussão sobre criptografia chamada Cryptography Mailing List, um participante anônimo, usando o pseudônimo Satoshi Nakamoto, anunciou a publicação de um artigo e disse ter resolvido um problema da ciência da computação – o gasto duplo – ao criar um “sistema eletrônico de dinheiro eletrônico que é totalmente ponto-a-ponto, sem um terceiro validador de confiança”.
A maior obra prima da engenharia monetária veio ao mundo por email
Quem quiser ler com calma todo o conteúdo da certidão de nascimento do Bitcoin pode baixar o White Paper que está disponível em várias línguas, inclusive em português. Em suas nove páginas, Satoshi descreve em detalhes o que é Bitcoin, o que ele pode se tornar e, como funciona.
Curiosidades a parte, a história do Bitcoin começa bem antes daquele dia 31.
Moedas digitais, como área de pesquisa, existem desde os anos 80
O interesse pelas moedas digitais surgiu muitos anos antes e foi uma área de pesquisa ativa já no início da década de 1980.
Em 1982, David Chaum, um pioneiro nas tecnologias de criptografia e preservação da privacidade, publicou uma dissertação intitulada “Computer Systems Established, Maintained, and Trusted by Mutually Suspicious Groups” que trouxe elementos importantes a criação do Bitcoin, que mais tarde seriam detalhados no whitepaper de Satoshi.
Já em 1991, Stuart Haber e W. Scott Stornetta descreveram outros trabalhos sobre uma cadeia de blocos criptografados, que buscava implementar um sistema no qual os carimbos de tempo dos documentos não pudessem ser adulterados.
Em 1992, Haber, Stornetta e Dave Bayer incorporaram Merkle Trees ao projeto, o que melhorou sua eficiência ao permitir que vários certificados de documentos fossem coletados em um único bloco.
No mesmo ano, Chaum traria outra grande contribuição ao propor um esquema para construir a primeira moeda digital de que se tem notícia, o eCash – uma aplicação de dinheiro eletrônico que buscava preservar o anonimato do usuário – e inventar muitos protocolos criptográficos como blind signatures e mixt networks.
O hashcash, que é usado na mineração do bitcoin, foi proposto por Adam Back, em 1997, para impedir o envio de spam por e-mail. A idéia era adicionar um quebra-cabeça computacional que fosse fácil verificar por uma pessoa, mas que desencorajasse um operador que enviasse um número alto de emails de spam.
Wei Dai propôs em 1998 a idéia do B-money, que introduziu o conceito de prova-de-trabalho (PoW) na criação do dinheiro eletrônico. Esse sistema não possuía detalhes sobre o mecanismo de consenso entre os participantes da rede, e possuía alguns problemas de segurança, posteriormente solucionados.
Ainda em 1998, Nick Szabo trouxe a concepção do Bit Gold que se baseava no mecanismo de prova de trabalho de Wei Dai e, apesar de esbarrar nos mesmos problemas que o b-money, trazia uma novidade: o nível de dificuldade da rede era ajustável.
Tomas Sander e Ammon TaShama apresentaram um esquema de caixa eletrônico em 1999 que, pela primeira vez, usou Merkle Trees para representar moedas e comprovar a posse dessas moedas.
Hal Finney criou a prova de trabalho reutilizável (Reusable Proof-of-Work) em 2004 e usou o esquema hashcash de Adam Back de recursos computacionais gastos como prova para criar dinheiro. Este sistema mantinha um banco de dados centralizado para acompanhar a validação de todos os tokens utilizados através da prova de trabalho.
Quem efetivamente criou o primeiro blockchain?
Você não vai encontrar a palavra “blockchain” escrita no whitepaper do Bitcoin.
O termo é como o mercado decidiu chamar o conjunto de tecnologias que dão suporte e viabilizam as transações de criptoativos – tokens e criptomoedas.
Este conjunto do blockchain é formado principalmente por redes distribuídas, criptografia e mecanismos de consenso.
A primeira proposta para um protocolo “blockchain” apareceu efetivamente em 1982, na dissertação de David Chaum.
Dez anos depois, Stuart Haber, Scott Stornetta e Dave Bayer incorporaram Merkle Trees ao projeto de Chaum, o que melhorou sua eficiência ao permitir que vários certificados de documentos fossem coletados em um bloco.
Mas quem efetivamente criou o primeiro blockchain?
O primeiro blockchain foi criado por Satoshi Nakamoto no dia 31 de outubro de 2008. Ele melhorou o projeto de forma decisiva, utilizando um método semelhante ao hashcash para marcar os blocos sem exigir que eles fossem assinados por um terceiro validador de confiança, como instituições e organizações.
Nakamoto criou o Bitcoin e o primeiro blockchain ao introduzir um parâmetro de dificuldade para estabilizar a taxa com a qual os blocos são adicionados à rede.
Antes dele, ninguém havia solucionado o “problema do gasto duplo”, o ponto chave para diferenciar as demais tecnologias da tecnologia trazida pelo bitcoin.
Blockchain do Bitcoin como uma tecnologia de propósito geral
Antes do Bitcoin, não havia como um valor digital ser transferido ou ser dividido em várias partes. Isso significa que se eu digitalizasse uma nota de R$ 100 e quisesse transferir essa nota para alguém, só poderia enviar uma cópia integral dela.
Todos estamos acostumados com computadores, mas poucos se dão conta que estamos sempre enviando cópias de arquivos e não o arquivo propriamente dito. Não importa o que você compartilhe, você sempre retém o original.
E quando se trata de transações financeiras, você toca no botão de envio e você tem um intermediário – uma empresa ou instituição – que transfere o dinheiro de uma conta para outra. E esse é o problema que o Bitcoin resolve – o problema do gasto duplo.
Quando você clica no botão “enviar Bitcoin”, você não está enviando uma cópia e sim o objeto digital. Ao tornar único um ativo em meio digital, o Bitcoin possibilitou a desintermediação financeira, transferindo a confiança para os dados.
É por isto que podemos classificar o blockchain Bitcoin como uma tecnologia de propósito geral, que, quando surge, traz benefícios e vantagens que se perpetuam ao longo do tempo, impactando a economia global, indústrias, a relação entre cidadãos, governos e corporações.
Desde o surgimento do primeiro blockchain, os casos de uso não param de surgir. Há aplicações nos setores de energia, água, imobiliário, commodities, saúde, créditos de carbono, NFTs, games e metaversos.
E você, já pensou como o surgimento do Bitcoin e sua tecnologia subjacente já impactou ou pode vir a impactar sua vida?
Pense nisto até nosso próximo encontro.
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