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A essência da descentralização  

6 mins
Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • O que é descentralização? Quais seus benefícios?
  • O mito da descentralização absoluta. Como medir o nível de descentralização em blockchains?
  • Porque a essência da descentralização é fundamental num mundo phigital?
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Estamos assistindo a construção do próximo estágio da Web, a Web3, que, através da descentralização, pretende nos levar a novos paradigmas, alterando a maneira como nos relacionamos e transacionamos.

Paralelamente a isto, os principais benefícios prometidos pelas criptomoedas, em relação às moedas convencionais, também se pauta na descentralização.

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Ao remover intermediários, as criptomoedas permitem que duas partes realizem transações sem ter que confiar em um intermediário ou validador de confiança tradicional. Por exemplo, você pode efetuar um pagamento online a alguém que você não conhece, ou em quem não confia, sem precisar passar por uma instituição financeira para garantir um registro da transação verificável e inviolável.

É a descentralização dos serviços financeiros e outros mercados, aliada a outras Tecnologias como a criptografia e algoritmos de consenso que possibilitou o surgimento das finanças descentralizadas (DeFi) e de organizações autônomas descentralizadas (DAOs).  

E à medida que essas inovações se tornam cada vez mais onipresentes, torna-se crucial compreendermos a descentralização, tão importante no ecossistema cripto.

Eis o tema que nosso artigo de hoje vai tentar esclarecer.

O que é descentralização? 

Para compreendermos o que é descentralização, é preciso relembrar o que centralização significa.

O conceito de centralização está relacionado à distribuição de poder e autoridade em uma determinada organização ou rede. Quando um sistema ou organização é centralizado, isso significa que os mecanismos de planejamento e a tomada de decisão estão concentrados em um determinado ponto dentro do sistema. 

Em um sistema centralizado, um ponto central de poder autoriza as decisões, que são então repassadas para os níveis inferiores ou subordinados a esse poder central.

É por isso que até recentemente o comércio na Internet usava instituições financeiras como intermediárias para o processamento de pagamentos, o que encarece o valor das transações, prejudicando os negócios sem fronteiras das Internet. 

O oposto de um sistema centralizado é um sistema descentralizado, onde as decisões são tomadas de forma distribuída, sem a coordenação de uma autoridade central.

Agora que você já sabe a essência da descentralização, podemos defini-la da seguinte forma:

Descentralização é um “mecanismo de consenso substituindo uma autoridade central”.

Com o surgimento da tecnologia Blockchain, o comércio da Internet (que antes só realizado de maneira centralizada) agora pode acontecer através de algorítmos de consenso aplicados à redes descentralizadas (sem autoridade central), possibilitando transações de valor de forma direta, e à prova de adulteração, sem a necessidade de intermediários ou validadores de confiança.

Benefícios da descentralização

A descentralização das transações de valor na Internet, proporcionada pela tecnologia blockchain, traz vários benefícios. Dentre eles, podemos citar:

1 – Proporciona um ambiente tolerante a falhas

Sistemas descentralizados têm menor probabilidade de falhar acidentalmente.

Isto porque, em uma rede descentralizada blockchain, ninguém precisa que conhecer ou confiar em mais ninguém. Cada membro da rede possui uma cópia dos exata dados na forma de um livro razão distribuído. Deste modo, se o livro razão de um membro for alterado ou corrompido de alguma forma, ele será rejeitado pela maioria dos membros da rede.

2 – Melhora a reconciliação dos dados 

As negociações realizadas na internet frequentemente exigem a troca de dados entre pessoas, pessoas e empresas, ou ainda, entre empresas. 

Tais dados, por sua vez, são tipicamente transformados e armazenados nos silos de dados de cada uma das partes, somente ressurgindo quando for necessário passar adiante. 

Cada vez que os dados são transformados (utilizados), surge uma oportunidade para que os dados sejam corrompidos ou perdidos. Ao ter um armazenamento de dados descentralizado, cada entidade tem acesso a uma visão compartilhada e em tempo real dos dados.

3 – Reduz pontos de falha 

A descentralização pode reduzir pontos de falha em sistemas onde pode haver demasiada dependência de atores específicos. 

Já em um sistema centralizado, pontos de falha podem levar a imprecisões sistêmicas, incluindo erros na prestação dos serviços prometidos ou serviços ineficientes devido à exaustão de recursos, interrupções periódicas, gargalos, falta de incentivos suficientes para um bom serviço, ou corrupção.

4 – Otimiza a distribuição de recursos

A descentralização também pode ajudar a otimizar a distribuição de recursos para que os serviços prometidos sejam fornecidos com melhor desempenho e consistência, bem como uma probabilidade reduzida de erros ou ineficiências comprometedoras.

5 – Aumenta a resistência ao conluio

É muito mais difícil para os participantes em sistema descentralizados conspirar para agir de forma a beneficiá-los em detrimento de outros participantes, já que as decisões são tomadas de forma distribuída, sem a coordenação de uma autoridade central.

6 – Aumenta a resistência ao ataque

Os sistemas descentralizados são mais caros para atacar e destruir, ou manipular, porque não possuem pontos centrais sensíveis que poderiam ser atacados a um custo muito menor.

O mito da descentralização absoluta

Muitos rotulam os sistemas como centralizados ou descentralizados, quando, na realidade, a descentralização é um espectro.  

Como nada melhor que um caso de uso para compreender algo, vamos tomar como exemplo os sistemas distribuídos cujos dados estão espalhados em vários data centers pertencentes a determinado provedor de rede.  

Ora, neste exemplo, devemos considerar tais sistemas descentralizados porque os dados não estão em um único local? Ou deveríamos considerá-los centralizados, já que os dados e, apesar de espalhados em vários data centers, estes data centers pertencem a um único mesmo provedor de rede?

Como medir a descentralização em um blockchain?

Podemos medir a descentralização observando o número de nós de rede e a distribuição de responsabilidades entre os nós.  

O blockchain Bitcoin, por exemplo, possui mais de 15.000 nós, com os cinco principais pools controlando 52% da taxa de hash, o que o torna altamente descentralizado, apesar de recente estudo apontar o contrário.  

Ora, isso o torna a rede bitcoin mais descentralizada que a rede Litecoin com seus atuais 1.300 nós e 66% de compartilhamento de hash em três pools.

Aqui, é importante destacar que o processo de medição da descentralização difere entre os mecanismos de consenso. Vejamos:

A descentralização de blockchains que utilizam a prova de trabalho (PoW) como algoritmo de consenso depende do número de nodes, taxa de hash e distribuição da taxa de hash entre os nodes. À medida que mais nodes se juntam e a taxa de hash aumenta, a rede se torna mais descentralizada e mais difícil para um único ator a corromper.

Já a medição da descentralização em blockchains que utilizam a prova de participação (PoS), leva em conta o número de pools de participação ou validadores, a distribuição de tokens entre eles e a porcentagem dos tokens em stake.  À medida que a porcentagem de tokens empenhados em stake aumenta, a rede se torna mais descentralizada e difícil de corromper.

Logicamente, há limites para a descentralização em ambas as abordagens.  

Mecanismos de consenso PoW exigem cada vez mais poder computacional ao longo do tempo, o que se torna cada vez menos acessível para pessoas comuns.  O resultado é uma maior centralização ao longo do tempo, dado que apenas grandes pools de mineração podem arcar com os crescentes custos e mecanismos exigidos para alcançar um alto poder computacional.

Já os mecanismos de consenso PoS não custam mais ao longo do tempo. Contudo, os validadores recebem recompensas proporcionais ao valor “apostado”.  Como resultado, participantes “influentes” no blockchain se tornarão contribuidores ainda mais significativos ao longo do tempo.  Deste modo, assim como nas blockchains que usam PoW, com o passar do tempo, isso também pode levar blockchains que usam PoS a níveis mais baixos de descentralização.

Takeaway

Os debates sobre a importância da descentralização se intensificaram nos últimos anos. 

E isto se deu principalmente depois que a tecnologia blockchain, através da descentralização, criptografia e algoritmos de consenso, trouxe a desintermediação financeira para as transações na Internet, e potencializou a construção da Web3.

Contudo, apesar dos inúmeros benefícios que a descentralização pode nos trazer, é aconselhável evitar que o comparativo entre descentralização e centralização como opostos, em uma relação binária de soma zero.

Na indústria cripto, o que leva a muitos projetos falharem e serem desativados após alguns anos, está exatamente no olhar binário de seus fundadores, sem levar em conta a variação de valores, tecnologias e a real solução para o problema que se pretende resolver.

Daí, a importância de compreender que a efetividade dos benefícios proporcionados pela descentralização tem relação direta com o contexto, os recursos disponíveis e o impacto prático da solução descentralizada nas relações que se deseja melhorar.

E você, sabia o que é descentralização? Já tinha ouvido falar no mito da descentralização absoluta? 

Tinha ideia de como medir a descentralização nos diferentes blockchains? 

Consegue perceber porque a essência da descentralização é fundamental em um mundo onde nossas relações estão caminhando para uma simbiose entre o físico e o digital? 

Acha que intermediários ainda terão papel de destaque no Metaverso funcional e na Web3? Ou em um “mundo phigital”, os criptoativos, DAOs, DEXs, DeFi e NFTs serão a regra? 

Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve.

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Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation. LinkedIn Top Voice em Inovação e Tecnologia. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Especialista em Blockchain Business Applications pelo MIT. Especialista em Artificial Intelligence & Business Strategy pelo MIT Sloan & MIT CSAIL. Especialista em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Convidada pelo Parlamento Europeu para a “The Intercontinental Blockchain Conference”....
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