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Stablecoins e a ameaça da perda de estabilidade

3 mins
Por Bary Rahma
Traduzido Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • Stablecoins podem não ser tão estáveis quanto seu nome sugere, apresentando riscos inerentes.
  • Disrupções como a perda de paridade da Tether questionam a estabilidade desses ativos.
  • A ascensão das stablecoins chamou a atenção de órgãos reguladores em todo o mundo.
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O crescimento exponencial das stablecoins, comercializadas como uma forma estável de criptomoedas, causou repercussões no mundo financeiro. Elogiadas por seu potencial para tornar as transações mais rápidas e baratas, elas ganharam popularidade entre traders e investidores.

No entanto, é cada vez mais aparente que as stablecoins podem não ser tão estáveis quanto pretendem ser. Em suma, isso pode impactar investidores e o mercado financeiro.

Leia mais: Sofri um golpe, e agora? Como agir em casos de fraude

Stablecoins não são tão estáveis

Ao contrário de outras criptomoedas, as stablecoins são vinculadas a um ativo, o dólar americano é o mais comum deles. Ao vincular seu valor a um ativo menos volátil, as stablecoins buscam oferecer o melhor dos dois mundos: a velocidade e a privacidade das criptomoedas sem as oscilações de preço.

No entanto, estão começando a aparecer rachaduras nesse modelo, o que causa incertezas significativas para os investidores e perturbações no mercado.

“Encontramos fortes evidências de instabilidade das stablecoins, embora esses desvios da marca de US$ 1 sejam gradualmente corrigidos em velocidades diferentes para todas as stablecoins. [Às vezes,] os desvios não convergem mesmo no longo prazo devido à não estacionariedade da série diferenciada entre seu preço e a marca de US$ 1”, concluiu o pesquisador da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, Kun Duan.

Fonte: Kaiko

As stablecoins permitem o comércio especulativo de outros criptoativos. A Tether e a USD Coin, as duas maiores stablecoins do mercado, por exemplo, afirmam ser totalmente lastreadas por ativos.

No entanto, a transparência e a supervisão da capacidade dos emissores de atender aos pedidos de resgate estão sob escrutínio.

Stablecoins perdem paridade com o dólar

Em alguns casos, os reguladores levantaram preocupações sobre a liquidez, qualidade e avaliação dos ativos de reserva mantidos pelos emissores de stablecoin.

Por exemplo, a Tether, antes considerada um modelo de estabilidade, perdeu parte da confiança dos investidores. Como resultado, o USDT perdeu temporariamente sua paridade no dia 15 de junho.

“Os mercados estão nervosos hoje em dia, por isso é fácil para os invasores capitalizar esse sentimento geral. Mas, na Tether, estamos prontos como sempre. Deixe que venham. Estamos prontos para resgatar qualquer quantia”, disse o CTO da Tether, Paolo Ardoino.

Fonte: Kaiko

Da mesma forma, o TerraUSD, uma das maiores stablecoins algorítmicas, entrou em colapso quando não conseguiu manter sua paridade. Isso levou a retiradas significativas de investidores e à interrupção de seu mecanismo de estabilização.

Essas interrupções não são meros pontinhos. Eles demonstram uma vulnerabilidade inerente no design de stablecoins. Especialmente daquelas que não são respaldadas por ativos líquidos de alta qualidade.

“Temos muitos cassinos aqui no Velho Oeste, e a ficha de pôquer são essas moedas estáveis nas mesas de jogos de cassino”, disse o presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, disse Gary Gensler.

O risco de corridas de banco – retiradas rápidas de recursos – pode comprometer a capacidade dos emissores de resgatar o valor total devido à iliquidez dos ativos. Este risco é semelhante ao de outros produtos de investimento financeiro.

Fonte: Kaiko

No entanto, ele é ampliado no caso das stablecoins devido à natureza opaca e não regulamentada do ecossistema cripto.

A Tether, por exemplo, foi multada por alegações de que sua stablecoin era “totalmente respaldada por dólares americanos”. Constatou-se, depois, que ela investia parte de suas reservas em ativos de risco e ilíquidos com apenas um pequeno colchão de capital.

Outros grandes emissores de stablecoin impuseram restrições aos resgates, corroendo ainda mais a confiança dos investidores.

Como a instabilidade afeta investidores

Para o investidor individual, essas revelações destacam que, embora as stablecoins prometam estabilidade, elas estão longe de ser isentas de riscos.

O investimento em stablecoins acarreta riscos operacionais, de mercado e de liquidez, incluindo fraude e riscos cibernéticos. Os investidores têm pouco recurso para criptoativos perdidos ou roubados no atual ambiente regulatório.

O impacto potencial se estende além dos investidores individuais. À medida que as stablecoins se tornam mais integradas ao setor bancário, elas podem representar riscos mais amplos para a estabilidade financeira.

Por exemplo, uma corrida a uma stablecoin pode resultar em saídas repentinas de depósitos de bancos ou interrupções nos mercados de financiamento.

Fonte: Kaiko

Os órgãos reguladores começaram a reconhecer esses riscos. Eles estão criando propostas para lidar com os riscos decorrentes da atividade de stablecoins. No entanto, à medida que essas estruturas evoluem, os investidores devem agir com cuidado.

A lição dos acontecimentos recentes é clara. Stablecoins, assim como outras criptomoedas, nem sempre garantem uma aposta segura.

Os investidores devem abordá-los com cautela, considerando não apenas suas recompensas potenciais, mas também os riscos significativos que eles carregam.

Enquanto isso, os reguladores devem redobrar seus esforços para trazer transparência e supervisão a este setor do mercado financeiro em rápido crescimento.

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Júlia V. Kurtz
Editora do BeInCrypto Brasil, a jornalista é especializada em dados e participa ativamente da comunidade de Criptoativos, Web3 e NFTs. Formada pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui mais de 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia, tendo passado por veículos como Globo, Gazeta do Povo e UOL.
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