O fundador da FTX, Sam Bankman-Fried (SBF), afirmou em novo relatório que seu império cripto falido nunca esteve insolvente. Para ele, não foi a fraude cometida, mas sim os seus advogados os responsáveis pelo colapso que abalou os mercados globais de cripto em 2022.
O relatório provocou respostas rápidas de investigadores de blockchain. O investigador de blockchain ZachXBT acusou SBF de enganar o público novamente e tentar transferir a culpa.
SponsoredPor trás do colapso da FTX
O relatório, intitulado “FTX: para onde foi o dinheiro?”, de Bankman-Fried e sua equipe, foi publicado no X. No documento, ele detalhou como US$ 20 bilhões de 7 milhões de clientes da FTX viraram US$ 8 bilhões em dívida durante o colapso de novembro de 2022.
“Por alguns anos, clientes não receberam nada de volta. Para onde foram aqueles bilhões? A resposta é: eles nunca saíram. A FTX nunca esteve insolvente. Sempre houve ativos suficientes para pagar todos os clientes — integralmente, em espécie — tanto em novembro de 2022 quanto hoje”, ele escreveu.
Bankman-Fried enfatizou que a exchange teria cerca de US$ 15 bilhões em ativos à época. Ele cita documentos internos da apresentação de 2023 a credores da FTX, que listavam posições em cripto, investimentos de capital de risco e imóveis.
O documento registrou que, após dois anos, a massa falida indicou que todos os clientes seriam reembolsados entre 119% e 143% do valor original. SBF acrescentou que cerca de 98% dos credores já receberam 120% e que, após pagar US$ 8 bilhões em reivindicações e 1 bilhão em honorários jurídicos, ainda restam US$ 8 bilhões. Ele apresenta esse desfecho como prova de que a FTX sempre teve ativos suficientes para ressarcir os clientes.
Contudo, o texto também reconheceu críticas de que os reembolsos ocorrem em equivalentes em dólar, com base nos preços de novembro de 2022, e não em espécie. Isso significa que clientes que mantinham Bitcoin ou Ethereum à época recebem muito menos que o valor de mercado atual.
Sponsored Sponsored“Seria natural supor que o intervalo de dois anos significava ser impossível à FTX reembolsar o público em 2022, que a dolarização ocorreu porque a empresa não tinha ativos suficientes para pagar em espécie e que pouco sobraria aos acionistas após tornar todos inteiros. Mas, ao que parece, sempre houve ativos suficientes para quitar todos, em espécie, e também gerar valor expressivo aos acionistas. Isso teria ocorrido se os advogados não tivessem assumido o controle da empresa”, diz o relatório.
SBF culpa a equipe jurídica pela queda da FTX
Bankman-Fried também atribuiu o colapso aos assessores jurídicos da FTX. O relatório responsabiliza o escritório Sullivan & Cromwell (S&C), que conduziu a falência, e John J. Ray III, que o substituiu como CEO da FTX após o colapso.
Ele acusou o escritório de “assumir o controle” da exchange em novembro de 2022 e pedir a falência, embora afirme que a companhia era solvente.
“Tudo caminhava para ser resolvido até o fim do mês — até que os advogados externos da FTX tomaram o controle. A FTX nunca esteve quebrada, mesmo quando seus advogados a colocaram em falência”, escreveu SBF.
Segundo Bankman-Fried, S&C e Ray agiram por interesse próprio. Eles buscaram controlar bilhões de dólares em ativos da FTX para cobrar honorários elevados. Ele cita documentos judiciais que mostram que o processo já custou cerca de US$ 1 bilhão em honorários jurídicos e de consultoria.
O documento também afirma que, poucas horas após assumir, Ray demitiu funcionários-chave que conheciam os sistemas da companhia e declarou a empresa “irremediavelmente insolvente”.
SponsoredBankman-Fried defende que, se a exchange tivesse continuado operando, os ativos da FTX — incluindo participações em Solana, Robinhood, Anthropic e Sui — valeriam cerca de US$ 136 bilhões hoje. Em vez disso, a equipe da falência teria vendido esses ativos a preços de liquidação, eliminando mais de US$ 120 bilhões em valor potencial.
“Isso representa mais de US$ 120 bilhões em valor perdido até agora. São 120 bilhões que teriam ido para as partes interessadas da FTX se os Devedores simplesmente não tivessem feito nada”, destacou o relatório.
Entre os exemplos citados:
- a participação da FTX na Anthropic, uma startup de IA hoje avaliada em US$ 183 bilhões, foi vendida por menos de US$ 1 bilhão.
- a equipe vendeu as ações da Robinhood por cerca de US$ 600 milhões, mas hoje valeriam mais de US$ 7 bilhões de.
- também se desfizeram de cerca de 58 milhões de tokens Solana por US$ 3,3 bilhões — menos da metade do valor estimado atual.
O relatório ainda afirma que a massa falida “descartou” o FTT, token nativo da FTX, classificando-o como sem valor. Ainda assim, ele segue negociado com capitalização de mercado acima de US$ 300 milhões.
Pelos cálculos de Bankman-Fried, essas vendas, somadas a acordos com o governo e honorários profissionais, resultaram em US$ 138 bilhões em valor perdido — montante que, ele insiste, poderia ter ido para clientes e acionistas.
Sponsored SponsoredO relatório descreve cenário bem diferente da narrativa apresentada no julgamento criminal de 2023 de Bankman-Fried. A Justiça o condenou por fraude e aplicou pena de 25 anos de prisão.
Investigador de cripto acusa SBF de distorcer fatos
Enquanto isso, a comunidade cripto não recebeu bem as declarações mais recentes de Bankman-Fried. Em resposta, o investigador de blockchain ZachXBT escreveu:
“Os credores foram pagos com base nos preços de cripto na época da falência da FTX, em novembro de 2022, e não pelos preços atuais, o que levou usuários a perdas grandes se mantinham ativos como SOL ou o BTC. Investimentos ilíquidos que valem mais hoje são apenas coincidência. Você claramente não aprendeu com o tempo na prisão até agora e repete a mesma desinformação de antes.”
O investigador também afirmou que o ex-CEO da FTX explora o fato de que quase todos os ativos e investimentos ligados à FTX subiram desde o ponto mais baixo do mercado em novembro de 2022.
Ele ressaltou que essa recuperação não muda o fato de que, no momento da falência, a FTX não tinha liquidez para honrar saques de clientes. Segundo ele, Bankman-Fried tenta transferir a culpa.