O mês de maio foi marcado por avanços relevantes na oferta de serviços cripto na América Latina. No fim de semana, o Mercado Pago — maior plataforma de pagamentos online da região — anunciou que solicitou uma licença bancária digital completa junto ao Banco Central da Argentina.
Contudo, com a licença, a empresa poderá oferecer uma gama mais ampla de serviços financeiros tradicionais, incluindo ferramentas de investimento mais avançadas, linhas de crédito e contas totalmente regulamentadas.
Países latinos ampliam integração cripto
O anúncio do Mercado Pago marca um avanço relevante na integração entre os sistemas tradicionais e novos no mercado financeiro. Embora a empresa já disponibilize serviços de pagamento com cripto em países onde atua, a obtenção de uma licença bancária na Argentina pode permitir a oferta desses serviços dentro de um sistema financeiro mais amplo e regulado.
Além disso, a Binance Pay passou a operar integrado ao Pix. Essa ligação direta permite que usuários da plataforma convertam, de forma imediata, mais de 100 criptomoedas em reais para realizar pagamentos ou transferências com agilidade.
Ambos os avanços evidenciam a transição da América Latina em direção ao uso crescente de criptoativos, à medida que a população busca alternativas financeiras fora do sistema bancário tradicional.
Países emergentes são campos férteis para cripto
Diferente dos usuários em países desenvolvidos, que podem explorar criptoativos por curiosidade ou investimento, pessoas em nações em desenvolvimento frequentemente recorrem a eles por necessidade, buscando maior estabilidade financeira.
“Muitas pessoas na região não estão apenas experimentando com cripto; elas precisam disso. Seja para evitar a desvalorização da moeda ou para enviar dinheiro através das fronteiras rapidamente e sem intermediários intermináveis, o cripto tem uma utilidade real aqui”, afirmou Daniel Polotsky, fundador da CoinFlip.
Informações levantadas pela exchange Paybis ilustram como a demanda está diretamente ligada a necessidades reais.
“A Argentina, afetada pela inflação, desenvolveu uma economia baseada em stablecoins que sustenta o comércio e o consumo cotidiano. No México, o cripto é usado para baratear remessas — a exchange Bitso, sozinha, processa cerca de 10% de todas as transferências entre os EUA e o México via stablecoins. A decisão de El Salvador, em 2021, de tornar o Bitcoin moeda legal ainda serve de base para um ecossistema de carteiras Lightning e turismo voltado ao BTC. Até mesmo mercados menores, como o Uruguai, mostram valores médios elevados por transação (US$ 246), sinalizando uma adoção discreta, mas ampla”, explicou Konstantins Vasilenko, cofundador e diretor de desenvolvimento de negócios da Paybis, ao BeInCrypto.

No entanto, mais do que uma simples necessidade econômica, o que impulsiona muitos desses usuários é o desejo por empoderamento financeiro.
Mercado tradicional decepciona
Contudo, o crescimento do uso de criptoativos na América Latina reflete um desejo coletivo de autonomia e acesso a modelos financeiros alternativos.
“As instituições financeiras tradicionais em vários países latino-americanos não contam com históricos sólidos de estabilidade nem sempre atendem às necessidades da população. Décadas de inflação, fechamento de bancos, controles de capital e falta de opções de investimento corroem, ao longo do tempo, a confiança no sistema”, explicou Daniel Polotsky, fundador da CoinFlip. “Não surpreende que muitos busquem moedas digitais. Em muitos casos, existe uma desconfiança profunda no governo e na autoridade centralizada sobre o dinheiro.”
Diante dos desafios persistentes na região, os pagamentos em cripto tendem a se consolidar como alternativa segura.
A contínua batalha com sistemas centralizados
Manuel Ferrari, presidente da Bitcoin Argentina, utiliza regularmente criptoativos para realizar transferências financeiras, evitando os entraves do sistema bancário tradicional do país.
“Estive recentemente no Brasil e consegui reduzir de forma significativa os impostos que seriam aplicados se usasse o sistema financeiro argentino”, contou Ferrari ao BeInCrypto. “Passo por isso com frequência — meu filho estuda fora, e sempre que preciso enviar dinheiro ou fazer pagamentos, uso o Bitcoin. A via tradicional seria quase inviável e excessivamente cara.”
Segundo Ferrari, as instituições tradicionais veem os criptoativos como ameaça, o que motiva ações restritivas.
“Acredito que esse cenário continuará. Os estados dificilmente vão reduzir impostos sobre transferências tradicionais. Pelo contrário, tentarão tributar e regular tudo que envolva blockchain, cripto e, futuramente, Bitcoin. Por isso, penso que os mercados centralizados estarão cada vez mais sujeitos a taxação e controle”, declarou.
Com o avanço da adoção, os sistemas tradicionais enfrentarão um dilema: adaptar-se ou perder relevância.
Bancos tradicionais vão se adaptar à ascensão da cripto?
Em países marcados por desigualdade econômica, bancos tradicionais costumam impor exigências elevadas, como grande volume de documentos e tarifas altas.
A ausência de agências em áreas remotas agrava a exclusão, deixando milhões sem acesso a serviços financeiros básicos.
No entanto, diante da expansão das criptomoedas, os sistemas convencionais precisarão evoluir.
“Isso deve forçar as instituições tradicionais a inovar ou ficar para trás. Quando milhões de pessoas realizam transações entre si sem passar por bancos, o alerta está dado. Vamos ver mais colaborações entre fintechs e bancos, além do surgimento de modelos híbridos, que unam o sistema financeiro tradicional à infraestrutura blockchain”, apontou Polotsky.
Em mercados com forte demanda por cripto, a adaptação terá que ser mais rápida. Algumas instituições já iniciaram esse movimento.
“O Banco Central do Brasil estima que 90% do valor movimentado on-chain no país envolve stablecoins como meio de pagamento. Com isso, as instituições estão reagindo. O BTG Pactual, por exemplo, lançou o BTG Dol, uma moeda digital lastreada no dólar e integrada ao seu aplicativo de corretagem e plataforma móvel — algo impensável há poucos anos”, afirmou Konstantins Vasilenko, da Paybis, ao BeInCrypto.
Enquanto isso, o avanço dos pagamentos em cripto segue acelerado em toda a América Latina.
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