Uma investigação feita com diferentes desenvolvedores, a pedido do BeInCrypto Brasil, mostra que supostamente o deploy da Nucoin nunca foi feito. Na prática, isso significa que o token nunca teria existido de maneira funcional, sem poder ser transacionado. A apuração do que está por trás da moeda digital do Nubank aconteceu após várias reclamações de consumidores, que estão se sentindo prejudicados após terem sido comunicados sobre o fim da compra e venda do token.
Deploy é o processo de disponibilizar um software ou aplicação para uso, em diferentes ambientes, como desenvolvimento, teste e produção. A palavra deploy vem do inglês e significa “implantar”. Assim, o deploy é uma fase essencial no desenvolvimento de produtos, pois é quando o código desenvolvido passa a ser acessível para os usuários finais.
No entanto, não basta simplesmente colocar o código em um servidor. Isso por que existem algumas etapas a serem consideradas, como o ambiente em que o deploy deve ser feito e as fases em que a aplicação deve passar antes de chegar ao usuário final.
Ao que tudo indica, esse processo supostamente não aconteceu.
O Nubank diz que desenvolveu a Nucoin como um token nativo em sua própria blockchain privada utilizando a tecnologia da Polygon Edge e Polygon Superent.
Nucoin: criptomoeda baseada na Polygon parece não ser token
Em outubro de 2022, a instituição anunciou com a Polygon o token com uma execução piloto de 2 mil usuários, depois estendendo o programa aos clientes. À época foram distribuídos tokens para clientes via airdrops, campanhas e Nucoin Back. Este último é o programa de cashback para usuários do Cartão Nubank, que compram criptomoedas via Nu Crypto, outro CNPJ da holding.
A Polygon, blockchain por trás da POL, foi a escolhida como a rede de desenvolvimento da Nucoin. Assim, a narrativa de usar a web3, um conceito descentralizado e liberdade financeira, pode não condizer com a realidade, caso o deploy não tenha sido feito.
Litepaper do Nucoin restaurado
Segundo um documento do programa Nucoin, obtido no fórum oficial da Nubank, o produto financeiro é “um utility token (token de utilidade) emitido em blockchain por meio de tecnologia criptografada. A emissão do Nucoin ocorre por meio de protocolos detidos e geridos pela NuHoldings”.
No ítem 3.2 do documento, o Nubank diz que não é responsável nem pela custódia e nem pelas emissões da Nucoin. Além disso, o documento afirma que Nucoin é emitida e transacionada na blockchain, mas que a custódia e transação com criptoativos fica com outro CNPJ da holding, a NuCrypto.
Desenvolvedores não encontram token na rede
Dessa maneira, em busca de mais detalhes do token na blockchain, a reportagem do BeInCrypto Brasil conversou com diversos desenvolvedores. Eles investigaram a existência do token na rede, mas não encontraram evidências da Nucoin ter existido em uma blockchain, como anunciado à época.
Uma de nossas fontes, que pediu para ter a identidade preservada, explicou tecnicamente:
Porque nenhum aspecto técnico que REQUER um explorador de blocos ter como 1- Número do bloco, 2- Contratos inteligentes, 3- Endereços e 4- Status da chain. E não encontrei nada disso no explores da Nubank. Ou eles derrubaram.
Na prática, significa que procurando algum endpoint da blockchain da Nucoin em repositórios da comunidade não se vê nenhum indício de requisição de informação na blockchain, apenas nas APIs privadas, ou seja, nem nos produtos adjacentes da comunidade existe indício de operação de blockchain. Isso quer dizer que nem a comunidade conseguia pegar informações da blockchain, apenas umas informações centralizadas durante toda a existência da Nucoin, detalhou outro desenvolvedor consultado, que também preferiu o anonimato.
Conforme o desenvolvedor, requerimentos técnicos como RPC, que é um método de redirecionar o seu pedido para o nó mais próximo, não foram encontrados. Nenhuma chamada de RPC. Nada que indique blockchain. Apenas pega do explorer e da API. O que pode ser muito bem um fingimento, esclareceu a fonte.
Conseguimos recuperar o Litepaper da Nucoin e ele foi registrado na plataforma realmente descentralizada, Odysee, que, aliás, é forma correta de utilizar a blockchain para armazenar dados.
E o próprio texto diz:
Através do Nucoin, queremos dar aos nossos clientes poder sobre suas identidades em um mundo digital descentralizado. Nucoin (NCN) é um criptoativo de utilidade (utility token) que permite aos clientes serem recompensados por usarem e engajarem com suas marcas favoritas em uma rede de fidelidade.
O Nucoin usa um mecanismo de consenso de proof of authority (PoA) em que um seleto grupo de participantes validam as transações da rede usando a sua credibilidade. Inicialmente, o Nubank será o único validador da rede. Gradativamente, irá trazer outros validadores profissionais para a rede, deixando de ter a maioria dos validadores, destaca o Litepaper.
Investigação Nucoin aconteceu após insatisfação de clientes
A investigação surgiu após a Nucoin anunciar a reformulação da moeda digital e a insatisfação de muitos clientes com o novo programa oferecido pelo Nubank.
Fomos buscar mais informações do histórico da criptomoeda na blockchain e não encontramos. O explorador de blocos do Nucoin foi tirado do ar. O que conseguimos foi um arquivo do explorer já fora do ar.
Eu não quero dar um veredito final, mas diria que existe uma grande possibilidade de realmente não ter tido nada ali, conclui um dos especialistas.
Mas de fato, o que acontece é que sendo blockchain ou não, é o clássico clichê centralizado, eles venderam uma visão de futuro para um produto e agora estão mudando, diz outro investigador on-chain ao BeInCrypto.
Em outro documento, o Nubank se contradiz
3.6.1. O Nucoin não possui, e não tem a intenção de possuir, características de valor mobiliário e/ou contrato de investimento coletivo e, portanto, não é regulado pela Comissão de Valores Mobiliários, assim como não possui, nem tem a intenção possuir características de criptomoeda, não sendo regulado pelo Banco Central do Brasil. O Participante declara reconhecer e concordar com essa condição.
Mas como não tem característica de criptomoeda se é um token negociado?
Nucoin reestrutura programa de recompensas e revolta usuários
Este ano, mais especificamente em 10 de setembro, há 14 dias, o Nubank atualizou o situação do programa da Nucoin com o argumento de “oferecer ainda mais vantagens”.
A partir de hoje, 10/09, as Nucoins deixarão de ser compradas e vendidas, e passarão a ser usadas exclusivamente para troca por benefícios em produtos Nubank. Com o intuito de proteger os detentores de Nucoins de eventuais volatilidades no valor de mercado, as negociações foram suspensas com este anúncio, detalha o comunicado feito a comunidade.
A plataforma fala em até R$ 1 milhão em prêmios. Mas as moedas ficarão com congeladas até 09/12/2024 – (90 dias a partir da data do anúncio). Caso o cliente queira sacar antes, existem pacotes mínimos de R$ 100 em Nucoins para resgatar seus ativos em Bitcoin com uma taxa especial ou em Dólar Digital.
Clientes decepcionados com a Nucoin
No mesmo anúncio há um link que não existe para a comunidade Nucoin 2.0. Por isso, muitos usuários disseram estar principalmente decepcionados com as negociações suspensas no mercado secundário. Já outros fizeram, por exemplo, o alerta sobre o preço, que deve desabar após o descongelamento.
Além disso, outro usuário disse que queria converter a Nucoin em dinheiro baseado na liquidez do programa fechado e não em criptomoeda em rede aberta.
fonte: Comunidade Nubank
Mariana que se classifica como Nu Lover, também não gostou das mudanças.
Tinha esperanças de que o Nucoin seria um projeto diferenciado, mas agora parece que vai ser mais do mesmo. Se os benefícios ficarem restritos a descontos em mercados, farmácias ou cinemas específicos, por exemplo, para mim é inútil porque moro numa cidade no interior que nem tem essas empresas tipo Carrefour, Droga Raia e Cinemark (nem cinema tem). Desconto no Shopping do Nu também não acho interessante o suficiente. Enfim, vou aguardar mais um tempo, mas agora minhas expectativas estão lá embaixo.
O White Paper da Nucoin segue disponível na Odysee.
Deploy foi feito em blockchain privada
O Nubank, em resposta à reportagem do BeInCrypto Brasil publicada na terça-feira (24), encaminhou um comunicado oficial por meio de sua assessoria de imprensa na quarta-feira (25). No posicionamento, o banco afirma que todas as transações do token sempre ocorreram em uma rede privada baseada na tecnologia da Polygon Labs. Além disso, o banco aponta que a recente decisão de descontinuar a compra e venda dos tokens faz parte de uma reformulação do programa de recompensas, visando maior proteção aos clientes. O banco também reforçou que a privacidade da blockchain justifica a ausência de informações públicas, o que contestaria a afirmação de que o Nucoin nunca existiu na blockchain.
O fato de o Nucoin operar em uma blockchain privada oferece um equilíbrio entre descentralização e controle – alinhado com a reformulação anunciada recentemente. Com as mudanças do programa, não havia mais propósito em manter o litepaper do token, bem como o seu block explorer, no qual os dados sobre as transações eram reportados em tempo real. A privacidade da blockchain do Nucoin justifica também a ausência de informações em exploradores públicos.
Por fim, o Nubank ressalta que toda a implantação (deployment) do token Nucoin foi realizada em uma rede privada e permissionada. Por esta característica, desenvolvedores externos não conseguem acessar detalhes da blockchain sem a devida autorização, tampouco encontrar o token em corretoras públicas, uma vez que só era possível comprar e vender Nucoin exclusivamente no ecossistema do Nubank. Apesar da descontinuidade da opção de compra e venda, os Nucoins permanecem na referida blockchain privada, afirma a nota.
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