Muito se fala sobre a capacidade da inteligência artificial (IA) não só para mexer com o mercado de trabalho como desestabilizar a sociedade.
Embora não descarte essa alternativa, o CEO da Plooral, Rodrigo Zerlotti, acredita que o que nos espera é um mundo em que as pessoas usem os modelos de linguagem com parceiros para desempenhar tarefas de forma mais eficiente.
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Com 25 anos de experiência em tecnologia disruptiva na web e modelo nuvem, Zerlotti fundou a Rezolve, uma empresa de laboratórios de tecnologia em nuvem que usa sistemas de gerenciamento baseados em dispositivos móveis, IoT, blockchain, AI e em nuvem para reutilizar os problemas atuais por meio de inovações.
Nesta conversa com o BeInCrypto, ele fala sobre a evolução da IA e como ela pode influenciar nosso desenvolvimento no futuro.
- Como você começou a trabalhar com inteligência artificial?
Eu sou formado em Física e fiz mestrado em engenheiro espacial no ITA. Depois, eu fui para os Estados Unidos, e, a partir daí, toda a minha formação técnica foi lá.
Foi então que eu decidi participar de um curso sobre web na universidade do Texas, que estava a recém começando. Ou seja, o meu mundo foi a internet desde que ela surgiu no mercado. Desde então eu tenho atuado nesse mundo, procurando qual é a próxima ruptura e o próximo movimento de mercado.
Eu já passei por várias verticais, como empresas de meteorologia, Relações Públias, financeiro e impostos. Hoje, meu foco é em recrutamento, seleção e educação corporativa.
- A Plooral lançou um software baseado em IA. Como surgiu a ideia de usar essa tecnologia?
Nós seguimos o avanço da IA há muito tempo. Ela não é nova e já está no mercado há anos, mas nossa ideia é tentar duplicar como o ser humano pensa e fazer algo que pense mais rápido. E esses processos acabam ajudando porque não é necessário mais ter uma pessoa para cada tarefa.
Esta noção mudou porque cientistas perceberam que replicar a mente humana não era a melhor estratégia. É por isso que o ChatGPT ficou famoso, porque a OpenAi pensou em um modelo diferente, o implementou e avançou a tecnologia.
E eu, olhando para isso, cheguei a uma resposta básica que é usar IA fazer com que o ser humano foque onde ele quer ou não ter mais retorno, usar máquinas para fazer o que elas fazem melhor, mais rápido ou com mais qualidade.
Quando você é empresário, você analisa seus processos e pensa o que a tecnologia pode fazer melhor que as pessoas. Isso é o básico do básico, se eu consigo ter esses elementos, depois posso progredir bastante, porque posso focar em retornos maiores e mudar processos.
A IA expande o mercado e pode fazer a diferença entre receita e custos em empresas. Ela está aí justamente para ajudar nessa equação.
Eu usei, digamos assim, a primeira geração de IA. Ela é uma tecnologia que avançou no campo da computação porque permite processar decisões mais rapidamente. E esses bots, na época, apenas decidiam o que responder em cima de um workflow.
Na época, houve algumas empresas, inclusive uma minha, que tentou experimentar com o próprio modelo de IA para agilizar o processo. Um exemplo é a IBM, com o Watson.
Mas os modelos usados na época eram lentos e eu percebi que, como empresa, seria impossível criar o próprio modelo porque isso precisa de um poder de computação e uma ciência de dados enormes.
Em seguida, há uns 10, 8 anos, nós começamos a nos preparar para receber a chegada de um modelo de IA compatível. Nós olhamos as alternativas existentes, mas elas, inclusive o Watson, estavam longe do nosso alcance.
Hoje, por outro lado, já existe infraestrutura para adicionar IA. A primeira versão do ChatGPT, por exemplo, nós tínhamos como usar, porque sabíamos que ela podia fazer uma descrição de uma vaga de emprego mais rápido e melhor que um ser humano.
Mas, o que eu ganho quando faço isso e melhoro a experiência do meu cliente? Eu crio uma plataforma melhor. Por exemplo, eu tenho equipes de marketing, de comunicação. E também tenho como fazer ciência com essas ferramentas.
- Muito se fala no impacto da IA no mercado de trabalho. A tecnologia vai tirar empregos?
Há vários caminhos pelos quais podemos enxergar isso. Um deles é que a tecnologia seja tão disruptivo que nós vamos perder controle sobre ela e, nesse caminho até nossa humanidade.
Mas vamos ter o pé no chão com essas tecnologias. Elas vão ter impacto no emprego? Sim, isso é fato. Só que isso ocorre com toda nova tecnologia. Quando o carro surgiu, por exemplo, o cavalo perdeu o emprego.
Só que há também uma disruptura de comportamento. Novas tecnologias mexem no comportamento da população. É só ver o próprio carro, ou o iPhone. Eles entram lentamente na sociedade, que por sua vez tem tempo de se adaptar a eles porque viu que não tem nada a perder.
Hoje, muitas pessoas mais velhas não sabem usar algumas tecnologias, mas os mais jovens, sim. Então as novidades seguintes causam impacto mais rapidamente. Eu lembro do primeiro computador, do primeiro browser, do primeiro iPhone que eu tive, mas demorou muito tempo até essas tecnologias mudarem meu comportamento.
A evolução é inevitável e vamos passar por um período de adaptação, mas esse precisa ser um pouco mais rápido. Portanto, a primeira coisa que eu digo para as pessoas é que não fiquem alienadas. Elas têm que entender o que está acontecendo no mundo porque isso afeta todo mundo, sem exceção.
Baseado nisso, nós sempre pensamos na melhor forma de usar IA. Pra mim, a tecnologia é o co-piloto, mas o piloto sempre vai ser o ser humano e nós temos que ter isso em mente.
Em suma, quem tem um emprego e quem tem a posição é o ser humano. Ele vai manter essa posição e vai ter um parceiro que vai ajudar em suas funções. Ou seja, o que mudou, na verdade, foi o cockpit.
As pessoas terão que se adaptar, muitos empregos vão continuar iguais ou vão ser melhores, porque você vai poder ser muito mais efetivo. Ao mesmo tempo vão aparecer novos empregos e isso faz parte da evolução.
Por outro lado, a IA apareceu muito rapidamente, então é difícil prever exatamente o que vai acontecer.
- A IA passou por avanços nos últimos anos, mas ainda é limitada. Ela pode se tornar a panaceia que muitos acham que ela pode ser?
Isso é um processo. O primeiro impacto é que nós temos a sensação de que o computador fala a verdade. Então, quando ele fala algo, as pessoas acreditam. Isso é perigoso, mas é o padrão das pessoas.
Nós já estamos, por exemplo, no ChatGPT4, que é uma versão muito melhor do que o 3. Ele já tem uma estrutura melhor e melhorou as limitações antigas. Mas, ainda assim, cabe às pessoas saberem quem está no comando e melhorar o resultado.
Há uma outra questão também: será que nós vamos assumir que o vamos vivem em um mundo em que nada é real? Há muitos perigos com esse pensamento, inclusive em empresas.
Nós lançamos guias e políticas de como usar IA, porque não é possível que as ferramentas deem resultados diferentes e há o risco de passar informações confidenciais para elas.
Além disso, é perigoso compartilhar código com esses modelos, porque eles são propriedade intelectual da empresa.
Em suma, nós temos que usar IA e saber usar IA de forma inteligente. É nessa fase que nós estamos. No futuro, podemos chegar a uma fase em que ela realmente fique mais sofisticada que um ser humano e é aí que a coisa começa a ficar perigosa.
- Muito se fala na questão de inteligências artificiais desenvolverem consciência. Isso é possível?
Quanto tempo demorou para nós termos a mente que nós temos hoje? Ou melhor, quanto tempo demorou para um passarinho virar um passarinho? Foram milhões de anos para ele virar um passarinho e aprender a voar. E nós estamos tentando replicar o voo do passarinho há anos e nunca deu certo.
Então nós tentamos uma técnica diferente, que foi o primeiro avião. O propósito era voar e nós cortamos muitos anos de evolução com uma técnica melhor. Nós criamos drones, que voam como passarinhos.
Nós duplicamos em 100 anos algo complexo que demorou cem mil para fazer. Se nós quisermos resultados, podemos fazer de outra forma e dar esse salto tecnológico.
E nós podemos fazer isso com a consciência também. Cada um tem a sua visão se a IA vai amar ou algo do gênero. Esse assunto é um pouco mais filosófico, mas eu acredito que essas coisas são causadas pela interatividade com o ser humano.
Eu não acho que é impossível uma pessoa ter um relacionamento com um chatbot de IA, em que o modelo interage com essa intenção. E se você perguntar para ele “você me ama?”, ela vai responder “é claro que eu amo”.
Mas como ela pode amar? Extrapolar essa definição para consciência é um pouco mais delicado.
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