Recentemente, o Banco Central (BC) sofreu uma série de hacks no sistema financeiro nacional e anunciou várias medidas para mitigar o risco. O tema foi um dos destaques desta terça-feira (09) no Finance of Tomorrow, evento que discute até amanhã, a indústria financeira do futuro.
O presidente da ABFintechs, Diego Perez, enxerga com preocupação o crescimento do crime organizado e afirmou que algumas empresas se “vestem de fintechs, trazendo uma imagem muito negativa para todo o setor.”
SponsoredABFintechs quer derrubar limite de R$ 15 mil
As medidas da Receita Federal e do Banco Central são necessárias e representam amadurecimento ao eliminar assimetrias entre bancos e fintechs, afirmou Perez.
Ele destacou que o Banco Central, em resposta às recentes invasões e casos de fraude, impôs de forma imediata o limite de R$ 15 mil no PIX. Embora represente apenas 1% das transações, esse teto afeta diretamente fintechs B2B que movimentam valores muito maiores, podendo empurrar clientes de volta aos bancos tradicionais e reduzir a competição. Esse 1% é uma camada significativa do mercado B2B, disse.
São as fintechs que operam para outras empresas. Elas fazem transações acima de R$ 15 mil, às vezes volumes muito maiores, R$ 500 mil, R$ 600 mil, R$ 1 milhão de reais em um único dia. E você ter que fracionar essas transações para poder atender esse requisito de segurança, você vai acabar movendo esses clientes de alto potencial de volta para o sistema financeiro tradicional e você acaba eliminando essa competição que a gente conquistou há duras penas nos últimos 10 anos.
Diego também disse que mantém o diálogo com o BC para derrubar, por exemplo, essa trava de R$ 15 mil. Segundo Pérez, a medida foi necessária, mas precisa ser temporária e construída com diálogo. Sem ajustes rápidos, algumas fintechs podem fechar as portas ou mudar de modelo de negócio.
Estamos trabalhando para que essa medida seja temporária. Algumas amarras são justificáveis, mas elas devem ser tratadas como temporárias e não permanentes.
O presidente da ABFintechs, ainda alertou que o setor enfrenta uma “espécie de guerra civil cibernética”, com o crime organizado avançando sobre serviços financeiros e prejudicando a imagem das fintechs legítimas.
Julia Rosin, Head de Políticas Públicas da Bitso disse durante o painel – Crypto / Digital Asset Regulation, que o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já têm regras claras sobre prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.
SponsoredO ponto de inflexão aqui é que prevenção a fraude se faz, principalmente, com governança e supervisão. E, não por demérito do Bacen, mas hoje a supervisão regulatória no Brasil está defasada por falta de profissionais.
E o grande problema é que caso o BC não tenha mão de obra, Rosin alerta que “sempre estaremos um passo atrás do crime organizado”.
IA precisa de marco ético, diz BC
Antonio Guimarães, Chefe Adjunto no Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC destacou que a implementação de IA em serviços financeiros exige segurança jurídica e um marco ético claro.
O debate sobre o PL 2338 no Congresso deve definir parâmetros e requisitos para todo o mercado, envolvendo múltiplos reguladores, já que a diversidade do sistema financeiro brasileiro não permite concentração de decisões em apenas uma entidade, explicou durante o painel How to Deliver AI in Financial Services
“Entre os pontos centrais estão a necessidade de supervisão humana, a mitigação de vieses e o incentivo à inovação responsável”, disse.
Guimarães lembrou que a IA reflete preconceitos existentes nos dados e, por isso, o uso de dados sintéticos pode ajudar a reduzir distorções, mas não elimina o problema.
A solução ideal seria uma cooperação entre mercado e reguladores, garantindo transparência sem expor informações sensíveis. Para ele, implementar IA sem essa visão de futuro é como “dirigir um carro olhando apenas pelo retrovisor” — um risco que o setor não pode correr.