friend.tech de A a Z
O friend.tech é uma aplicação de rede social lançada recentemente na Base, a nova solução de camada 2 da Coinbase.
Anunciado em 10 de agosto, rapidamente tornou-se o aplicativo mais popular da Base, com mais de 7.000 ETH de volume na primeira semana e 15.700 ETH, na segunda semana.
Ele permite que os usuários comprem ações de influenciadores do “X”, antigo Twitter, concedendo-lhes acesso exclusivo a bate-papos exclusivos com personalidades. Veja em detalhes o que é e como começar a usar o friend.tech aqui.
Origem do friend.tech
O friend.tech não é exatamente original. Ele seguiu o mesmo “conceito” do BitClout – lançado em março de 2021 e agora renomeado para DeSo.
Aqui, vale lembrar que o BitClout adotou uma abordagem ligeiramente diferente, pré-carregando os usuários na plataforma, o que os levou a um escrutínio legal. Os dissidentes também criticaram a ética dos “mercados de ações humanos” e a capacidade de apostar na ascensão ou queda de indivíduos.
Potencial para criadores e investidores
O Friend Tech recebeu mais de US$100 milhões de investimento dos principais VCs, como a16z, Pantera e Coinbase, e totalizando mais de 115.000 contas de usuários únicos.
Os usuários do friend.tech recebem 5% do volume de suas ações, o que é uma porcentagem muito maior do que outros aplicativos de consumo da Web3 (Lens Protocol /NFTs), sem falar nos canais tradicionais como Twitter e Instagram.
Além disso, o total de transações já realizadas e a contagem de usuários do friend.tech são maiores do que as maiores plataformas NFT da Ethereum. Embora essas não sejam comparações 1:1, elas destacam o potencial de crescimento tanto para criadores quanto para usuários.
Adoção
O friend.tech ainda está em teste beta, e a introdução de pontos de recompensa e outros recursos pode levar a um aumento no uso. E apesar do roteiro do app não estar disponível para o público, as plataformas de conteúdo baseadas em assinatura (ou seja, Patreon e Only Fans) estão prontas para serem lançadas, permitindo que os assinantes se beneficiem do aumento da popularidade dos criadores.
Aqui, vale destacar que a tokenização de pessoas (mais especificamente influenciadores) é um debate controverso, pois a venda de ações poderia introduzir externalidades negativas.
De todo modo, a construção na solução Layer 2 da Base permite que o friend.tech atinja imediatamente milhões de usuários, e seu aumento de popularidade oferece um sinal significativo dos benefícios da Base.
Após o anúncio do financiamento inicial da Paradigm em 18 de agosto, o friend.tech testemunhou outro grande aumento na adoção pelos usuários. Em na primeira semana, atraiu mais de 80.000 únicos usuários.
Em pouco mais de duas semanas, o aplicativo se tornou o segundo maior gerador de receita entre protocolos cripto.
Receita em Ethereum
O Friend.tech gerou mais de US$ 1,68 milhão em taxas, 5% do valor da transação, nas 24 horas da segunda-feira (21), e US$3,59 milhões no total desde o lançamento. Isso é maior do que a contagem combinada de transações da OP Mainnet e da Arbitrum One.
Neste mesmo dia, o friend.tech ficou logo atrás do blockchain Ethereum, que gerou US$3,45 milhões em taxas, ultrapassando o serviço de staking Lido.
Com isto, o Friend.tech chegou assumir, ainda que temporariamente, a liderança como o maior gerador de receita entre os serviços cripto.
O impacto provocado no cenário das L2s
O sucesso explosivo da Friend Tech ajudou a impulsionar a Base inicialmente.
A TPS (Transações por segundo) da Base atingiu um nível sem precedentes, chegando a incríveis 15,88 TPS na última terça (22).
Esse feito notável não apenas superou recordes anteriores, mas também colocou a TPS da Base à frente do Ethereum e de todas as outras soluções de escalonamento de camada 2 num mesmo dia.
O aumento no TPS de base, segundo dados da L2Beat, foi cerca de 156,68% entre 15 e 22 de agosto.
O papel da Friend Tech como catalisadora desse aumento “pode” indicar a relação simbiótica entre aplicativos inovadores e soluções blockchain L2 com foco em escalabilidade.
Grandes apps migraram para a Base rapidamente, como o protocolo de empréstimo AAve, revelando um nível inicial de adoção não visto em praticamente nenhuma L2.
Fatores positivos
Muitas personalidades aderiram ao app, como Frank DeGods e gainzy222, o influenciador trader RookieXBT e o jogador da NBA Grayson Allen, e em seguida viram o preço de suas ações rapidamente se valorizarem.
O rápido crescimento inicial do app pode ser resumido a dois fatores:
1) Mercado estratégico
Em primeiro lugar, o projeto foi impulsionado para a proeminência do mainstream por meio do envolvimento com influenciadores cripto do X – antigo Twitter.
Com a plataforma atribuindo efetivamente um valor monetário a cada influenciador, surgiu uma competição dinâmica e animada entre eles, ocasionando uma valorização no preço de suas ações.
Some-se a isto o fato de que uma parte das taxas de volume de negociação é canalizada para os próprios influenciadores, entrelaçando assim seus interesses financeiros com o sucesso da plataforma. E isso acaba motivando os influenciadores a ampliarem seus esforços promocionais.
2) Recursos da pilha de tecnologia
O segundo pilar do sucesso da friend.tech é sua pilha de tecnologia, que inclui recursos como:
- Progressive Web App (PWA): como um PWA, friend.tech oferece uma experiência semelhante a um aplicativo por meio de navegadores da Web em dispositivos móveis. Esse design evita a necessidade dos usuários baixarem o aplicativo da App Store ou do Google Play. Ele também contorna artisticamente as taxas normalmente impostas por essas plataformas, sem comprometer a experiência no aplicativo móvel.
- Facilidade de integração: Apesar de algumas falhas iniciais relatadas, o processo de integração da friend.tech é simples e acessível, mesmo para não nativos em cripto. A plataforma emprega recursos de login baseados na Web2 e gera de forma autônoma uma carteira com custódia própria para os usuários – um recurso de fácil utilização que reduz efetivamente a barreira de entrada para os recém-chegados.
- Modelo exclusivo de monetização para criadores: Diferentemente das estratégias convencionais de monetização centralizadas no conteúdo, a friend.tech monetiza os influenciadores diretamente – uma espécie de “tokenização de pessoas” –, fornecendo a cada usuário um token pessoal. Outros usuários que compram e mantêm o token obtêm acesso a conteúdo fechado, enquanto o detentor do token recebe 5% do volume de negociação como receita. Em teoria, o comprador marginal do token pagará tanto o valor percebido do conteúdo fechado “atual” quanto o conteúdo futuro dos criadores. Isso introduz um elemento de escassez e especulação de conteúdo que contrasta fortemente com a monetização tradicional de anúncios, e com as atuais plataformas sociais descentralizadas que se apoiam em “coletas” de conteúdo de alta qualidade para monetização.
Potencial de monetização
Desde seu lançamento, a Friend.tech registrou um volume total de 45.683 ether, ou cerca de US$73,7 milhões, em 2,23 milhões de transações, de acordo com os dados analíticos da Dune até a última quinta (24).
Para se ter uma ideia do potencial de monetização da participação de 5% no volume, em apenas uma semana, os criadores da friend.tech ganharam coletivamente mais de 1.600 ETH, sendo que 71% desse total de negociações geradas por criador foi acumulado pelos 250 principais influenciadores da plataforma.
O que isto significa? Traduzindo em miúdos, até o momento em que este artigo foi escrito, os criadores ganharam no Lens Protocol um total de aproximadamente 220 ETH desde o lançamento da plataforma em 2022.
Todavia, apesar do sucesso inicial do friend.tech, nem tudo são flores.
Incertezas sobre os fundamentos do friend.tech
I. Fundadores
A friend.tech foi criada por Racer e Shrimp. Racer é conhecido por ser o principal desenvolvedor do TweetDAO e do Stealcam (que ele fundou junto com Shrimp), dois experimentos fracassados de mídia social descentralizada.
O TweetDAO foi lançado em 2022 com o conceito de que os detentores de NFT poderiam contribuir para a conta do Twitter do projeto. Pouco tempo depois, a conta foi desativada e seu site agora redireciona para outra conta do Twitter, inativa desde o início de 2022.
A Stealcam foi fundada em março de 2023 com uma ideia centrada em um mecanismo de leilão para visualizar fotos privadas de contas específicas. Atualmente, sua conta no Twitter está desativada e o uso do site é praticamente inexistente.
Ambos os projetos possuíam características que lembram os esquemas Ponzi. Eles dependiam exclusivamente do usuário mais recente, tornando sua sustentabilidade questionável e levando à sua desativação.
II. Modelo de receita
A receita do friend.tech vem das transações.
Embora qualquer um possa solicitar uma conta, e influencers lucrem com uma parte das taxas de negociação, é o aplicativo em si que é o grande vencedor, abocanhando quase o total dos 5% da taxa de transação.
Isto é, qualquer pessoa possa lucrar com sua reputação e essa possibilidade incentiva as pessoas a participarem o mais cedo possível, dado que os preços dos tokens aumentam automaticamente em proporção ao número de tokens existentes.
Esse modelo pode parecer sólido do ponto de vista de negócios. Mas é um modelo é precário no longo prazo. Por quê?
- Apenas uma pequena porcentagem dos usuários do friend.tech pode realmente fornecer algum valor aos seus acionistas.
- Você não está comprando uma “participação” em nenhuma conta no X. Você não ganha o direito de monetizar a conta ou qualquer tipo de receita futura. A interação com a X foi apenas um método para atrair usuários rapidamente (e provavelmente vincular suas carteiras ao seu perfil do Twitter).
- Você está comprando acesso a um bate-papo privado com o proprietário da conta. A maioria está simplesmente comprando na esperança de vender mais tarde por um preço mais alto.
Nesse passo, a maioria das oportunidades de ganho dos usuários vem logo no início, com uma valorização exponencial de suas ações (agora denominadas “keys”). Quando as ações aumentam de valor, a demanda cai por motivos óbvios.
Um indicador disso é que, tão rapidamente quanto subiu, a atividade no aplicativo parece estar esfriando. O número de transações diárias e os volumes de trading diário caíram 73,5% e 80% em relação ao seu pico.
III. Capacidade técnica do friend.tech
Os fundadores admitem não estar preparados para um sucesso tão rápido.
A plataforma está enfrentando problemas técnicos como, por exemplo, tempo de carregamento lento e a experiência de usuário que precisa ser trabalhada. Ao contrário do Discord, que também pode oferecer suporte a bate-papos privados com tokens, o friend.tech parece bastante simples.
Privacidade no friend.tech
O fato do friend.tech pedir no site que você baixe o aplicativo diretamente para o seu smartphone, mas também informar que a política de privacidade será publicada em breve é motivo de alerta e preocupação, principalmente se você possui uma wallet em seu dispositivo.
Perceba que enquanto o TikTok diz claramente que eles ouvem você, e que eles usam um registrador de teclas, ninguém está preocupado em questionar por que o friend tech não divulgou sua política de privacidade??!!
Perspectivas de longo prazo e impacto social mais amplo
Os altos números após o lançamento e o fato de terem utilizado a Base, com todo o potencial de crescimento agregado à Coinbase – um pilar conceituado no reino das criptomoedas – são pontos positivos.
A plataforma introduziu recentemente um sistema de pontos para reenergizar o engajamento por meio de um futuro airdrop de tokens, cujo sucesso depende de seus métodos precisos de execução e distribuição.
A abordagem inovadora do friend.tech – com foco num mercado estratégico e um interessante conceito de app – refletem um afastamento significativo da tendência de transplantar funcionalidades da Web2 para trilhos cripto.
Mas é importante destacar as dúvidas sobre seus fundadores, o modelo de receita e a capacidade técnicas da plataforma, bem como a falta de um roteiro de próximos passos e a inexistência de uma política de privacidade.
Sua tração atual se baseia apenas em “possibilidades” e na oferta de experiências limitadas de entrega de conteúdo.
Neste contexto, as perspectivas de longo prazo e o impacto social mais amplo do friend.tech parecem incertos.
Mas e você? Já utiliza o friend.tech? Acredita que ele se tornará um catalisador de uma nova geração de aplicativos sociais e de consumo descentralizados? Acredita que a pilha de tecnologia do friend.tech é suficiente para ir além da replicação dos modelos já existentes?
Conhecimento é poder!! Nos vemos em breve!
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