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Exchanges descentralizadas são mais seguras após conflitos regulatórios com as centralizadas?

6 mins
Atualizado por Paulo Alves

EM RESUMO

  • A Bitwise Asset Management fez acusações ousadas de quanto o volume de negociação nas exchanges de criptomoedas era falso.
  • O mundo cripto viu diversas exchanges se envolverem em disputas com autoridades e reguladores por conta de má gestão.
  • O benefício mais claro é que as exchanges descentralizadas nunca precisaram de acesso aos fundos do trader.
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Há mais de dois anos, a Bitwise Asset Management fez acusações ousadas de quanto o volume de negociação nas exchanges de criptomoedas era falso – 95%, de acordo com sua pesquisa.

A casa de análise The Tie acompanhou a constatação sugerindo que, fora os poucos nomes bem estabelecidos no setor como Gemini, Coinbase e Binance, a maioria das outras plataformas fornecia dados de volume de negociação falsificado para agregadores para se apresentarem como uma plataforma ativa de negociação.

Então aconteceu uma coisa estranha. As empresas apontadas em público não contestaram as descobertas ou sequer emitiram declarações negando a informação. Alguns virtualmente confessaram ter conhecimento de atividades de negociação fraudulentas em suas plataformas.

Lennix Lai, diretor financeiro da OKEx, uma das 73 exchanges sentenciadas pela Bitwise, ao ser questionado sobre tais práticas em sua plataforma, admitiu:

“Reconheceríamos que […] leva tempo para aumentar o volume e uma das maneiras mais fáceis, especialmente para alguns dos comerciantes chineses, é negociar alguns dos pares mais ilíquidos.”

Falando francamente, o fato de que o relatório Bitwise e as revelações não chamaram muita atenção em alguns círculos sugeriu que a manipulação de dados na indústria, afinal, não era novidade.

Exchanges centralizadas são responsáveis por não sofrerem consequências

Na semana passada, a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) dos EUA aplicou uma multa de US$ 6,5 milhões à Coinbase por “relatórios falsos e imprudentes e negociações de lavagem”. Ao contrário da OKEx, que culpava os varejistas chineses, um funcionário foi o responsável pelos delitos cometidos na Coinbase.

Na sequência, houve um acordo de US$ 18 milhões no mês passado entre a Tether/Bitfinex e o Procurador-Geral de NY por seu papel em fornecer dados falsos e encobrir fundos perdidos, enganando seus investidores sobre o verdadeiro risco que enfrentam na exchange de criptomoedas.

Aqui está o pulo do gato.

Tanto a Coinbase quanto a Bitfinex foram duas das dez exchanges identificadas como inocentes no caso de operações de lavagem e volumes falsos de negociação – pelo menos de acordo com a Bitwise e a The Tie, cujos estudos contundentes formaram pelo menos parte da base para investigações formais em algumas dessas exchanges de criptomoedas.

O que é importante notar aqui é que este não é um ponto de virada para exchanges centralizadas. Esses foram apenas os casos mais recentes de corretoras que caíram em crise com os reguladores por seus papeis na manipulação dos mercados de trade.

Desde a queda retumbante da Mt. Gox em 2014, o mundo criptográfico viu exchange após exchange se envolvendo em discussões com autoridades e reguladores por conta de má gestão, negligência e absoluta malversação do trading.

A Coinbase e a Bitfinex podem se safar com um tapinha nas costas, mas muitas outras não, como a corretora canadense Coinsquare, que nem mesmo sobreviveu a um escândalo de trading planejado por seus executivos. Os executivos pediram demissão e a bolsa fechou em 2020, depois de pagar uma multa de US$ 1,7 milhão.

Consequências para investidores e clientes

A realidade sombria é que todas as consequências desses eventos sempre foram suportadas por clientes e investidores.

A ruína financeira da má gestão da Mt. Gox foi impressionante – dezenas de milhões de dólares que até hoje permanecem presos em um limbo de disputas jurídicas.

Não foi a última exchange a perder dinheiro de clientes no Japão, já que a BitPoint perdeu US$ 32 milhões em um suposto hack em 2019. Só de hacks, geralmente devido a negligências de funcionários, centenas de milhões de dólares foram perdidos, com poucos casos de compensação a clientes.

Mesmo os clientes não necessariamente afetados por hacks de perdas às vezes compartilham o fardo da indenização, com exchanges como a Bitfinex conhecidas por distribuir as perdas entre todas as contas de clientes em uma prática chamada de “perdas socializadas“.

O problema de regulamentações vagas também pode ser um problema, como no caso do Brasil, onde as operadoras de trading têm entrado na Justiça contra os bancos desde meados de 2020, com alguas fechando e clientes sem acesso aos fundos.

Mas, outras consequências não financeiras não foram menos graves.

Mais de 14.000 usuários da Coinbase em 2017 se lembrarão da “convocação John Doe” da Receita dos EUA que os fizeram perceber o quão vulneráveis ​​suas informações pessoais eram quando armazenadas em uma exchange centralizada.

Um tribunal federal da Califórnia ordenou então que a Coinbase entregasse os registros de identificação para usuários que atendessem a certos requisitos de limite comercial, incluindo seu nome, data de nascimento, endereço e identificação de contribuinte, juntamente com os registros de todas as atividades da conta e quaisquer extratos associados.

Dada a falta de segurança em torno das reservas de exchanges, não é surpresa que vazamentos de identidade e dados também aconteçam com corretoras. A Binance negou que seu “vazamento de KYC” em 2019 fosse até legítimo, mas as violações de dados de outras exchanges como Coincheck, Coinsquare e BuyUCoin expuseram informações de centenas de milhares de usuários de corretoras de criptomoedas.

Exchanges descentralizadas podem ser um refúgio seguro?

Quando as exchanges descentralizadas (DEX), surgiram pela primeira vez entre 2014 e 2016, elas propuseram acabar com os intermediários, que eram as empresas e plataformas que operavam as exchanges centralizadas.

No entanto, elas não funcionarem muito bem por diversas razões:

  • falta de liquidez, que impedia as negociações;
  • alta curva de aprendizado técnico que dificultava o uso fácil;
  • falta de medidas de segurança em geral para evitar que os traders caíssem em armadilhas fraudulentas, como a compra de ativos falsos ou o acionamento de contratos maliciosos que pudessem esvaziar suas carteiras.

Mas, à medida que o conjunto de protocolos descentralizados amadurecia em 2019 e as exchanges centralizadas continuavam suas dificuldades com reguladores e hackers, ficou mais fácil aproveitar as vantagens que as DEXs tinham sobre suas equivalentes centralizadas.

O benefício mais claro foi que as DEXs nunca precisaram de acesso aos fundos do trader, pois os usuários só precisam conectar as carteiras aos sistemas, sem a necessidade de depositar fundos em uma DEX.

Isso significava que havia pouco risco de hacks que roubassem saldos da carteira, ao contrário de uma corretora centralizada. Também ficou mais difícil ser um participante forçado de “perdas socializadas”.

Nos exemplos de Uniswap, Sushiswap e PlasmaSwap, os traders só precisam conectar qualquer carteira web 3.0 e autorizar uma transação se desejarem realizar uma transação. Caso contrário, os fundos nunca saem das carteiras dos traders.

Em termos de privacidade pessoal, as DEXs ganham com folga. Na maioria dos casos, como acontece com os agregadores DEX PlasmaFinance e Matcha, não há nem mesmo uma opção para criar contas de usuário. Sem nomes, sem endereço de e-mail, nem mesmo um nome de usuário ou número de conta. A única informação de identificação que os comerciantes deixarão para trás é o endereço da carteira.

Ente outros benefícios estão ainda os tecnológicos, como, por exemplo, a criptografia de blockchain, que é indiscutivelmente superior à criptografia em bancos de dados centralizados. Há ainda os ideológicos, já as DEXs exploram dados on-chain realmente independentes, ao contrário de exchanges centralizadas, cujos dados são vulneráveis ​​à manipulação.

Mas os benefícios óbvios em termos de proteção de fundos e dados pessoais começam a fazer mais sentido hoje em dia, à luz dos inúmeros problemas enfrentados pelas corretoras centralizadas nessas áreas.

Isso não quer dizer que DEXs ou criadores de mercado automatizado (AMM) são a solução definitiva para todos e todos os tipos de traders de criptomoedas.

Talvez para alguns, uma garantia de depósito apoiada pelo governo ou cobertura total de seguro, como é o requisito para criptomoedas licenciadas no Japão hoje, sejam preferidas do que a custódia própria de seus ativos criptográficos.

E talvez à medida que as criptomoedas ganhem aceitação no mundo financeiro e bancário tradicional, fazer KYC e zelar pela diligência não podem ser abandonados. Além disso, até que a tecnologia blockchain encontre um compromisso funcional entre conformidade regulatória e privacidade pessoal, o armazenamento mais seguro e a proteção de dados pessoais devem ser implementados.

Mas, por enquanto, enquanto as exchanges centralizadas falharam em proteger fundos e dados pessoais, a natureza sem custódia e sem conta das exchanges descentralizadas acenam para o trader de criptomoeda individual.

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Ilia Maksimenka
Ilia é o fundador e CEO da Plasma Pay. Ele é arquiteto financeiro e criador do #PlasmaDLT, blockchain para finanças, pagamentos e bancos descentralizados.
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