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Dólar blue: a cotação paralela da moeda americana e sua influência na Argentina

4 Min.
Atualizado por Mikael Araújo

A Argentina elegeu no mês passado o presidente pró criptomoedas, Javier Milei, que também prometeu acabar com o Banco Central do país. O político acredita que os criptoativos podem proteger os argentinos da autoridade monetária.

Com a economia em frangalhos e uma dívida bilionária com o FMI, a população busca alternativas a uma inflação de mais de 100%. O Bitcoin tem sido uma delas.

Logo após o anúncio com o resultado do pleito presidencial, a maior criptomoeda do mercado subiu 3% no país vizinho. A cotação do dólar paralelo, conhecido como blue, chegou a 1 mil pesos.

Uma conversa sobre o dólar blue

Para responder a essa pergunta, nós conversamos com o gerente de câmbio na WIT Exchange, Carlos Alberto Rodrigues, que esclareceu algumas questões sobre o tema.

Qual a origem do dólar blue?

R.: O dólar blue é uma cotação do dólar praticada no mercado paralelo, negociado por cambistas dentro da Argentina. Em outras partes do mundo é o que se conhece por “dólar clandestino ou paralelo”, por ser negociado de forma ilegal, já que não é reconhecido pelo Banco Central argentino.

É difícil afirmarmos sua origem, contudo, especialistas dizem que o congelamento de preço do dólar em relação ao peso argentino realizado pelo governo, pode ter contribuído para o seu surgimento. E pelo fato de ser ilegal, também fica difícil rastrear de onde vem o dinheiro comercializado, especialistas sugerem que pode estar relacionado com crimes de lavagem de dinheiro, sonegação e até mesmo comércio de armas e drogas. 

Os principais desafios e riscos do dólar blue

Quais são os principais riscos e desafios associados à ilegalidade do ‘dólar blue’ na Argentina? Como essa prática pode afetar não apenas os participantes diretos do mercado paralelo, mas também a estabilidade econômica geral do país? Como afeta o Brasil?

R: Existem alguns relatos de turistas terem recebido notas falsas de dinheiro negociados via dólar blue, esse é o principal risco. Além, é claro, do turista estar envolvido com algo que é ilícito e participar indiretamente de crimes de lavagem de dinheiro

Hoje na Argentina existem diversas cotações “oficiais” de dólar criadas pelo governo, mas, na prática, é o blue que tem ditado a economia da Argentina, já que é seguindo a cotação dele que os comerciantes têm remarcado o preço dos seus produtos, mesmo não sendo regulado pelo governo.

Devido a toda essa crise, a relação com o Brasil também tem sido afetada, embora ainda hoje a Argentina se mantenha como o terceiro maior parceiro comercial, ano passado fechou 4,6% de representatividade de toda exportação brasileira, em tempos melhores essa representatividade já foi de 10%.

Como as estratégias adotadas pelo governo argentino impactam a economia local?

Considerando a assimetria entre as variações oficiais do dólar e o valor real da moeda, como as estratégias adotadas pelo governo argentino, como congelamento das variações, impactam a economia local? Há riscos adicionais para a inflação e outros indicadores econômicos?

R: Sim, principalmente pelo fato do dólar blue, operado por casas de câmbio, doleiros e cambistas não fiscalizados pelo governo, ditar à economia. A inflação muito alta faz o peso valer cada vez menos, aumentando a procura pelo dólar que sofreu altas impressionantes ao longo deste ano. E a alta do dólar faz os preços dos produtos subirem, impactando diretamente na inflação. 

Como a diversidade de cotações para o dólar, incluindo o ‘dólar blue’, reflete as tentativas da Argentina de criar reservas da moeda norte-americana no país? Quais são as implicações dessas estratégias econômicas para o mercado cambial e para a economia em geral?

R: Com a alta da inflação e a população procurando cada vez mais por dólares, foi gerado um problema de restrição externa e isso fez com que o governo argentino tomasse medidas para tentar conter a saída de divisas e assim preservar as reservas do Banco Central que já eram poucas. Com isso, vieram as restrições impostas pelo governo para a compra de dólar e uma série de preços diferentes para a moeda americana. Em alguns casos, as cotações variam entre eles em mais de 100% e uma das exigências do FMI (maior financiador do país) é que o governo argentino tire essa diferença entre o dólar oficial e o financeiro. 

Como as complexidades associadas ao dólar blue influenciam as relacões economicas da Argentina com outros países?

Dada a volatilidade cambial e as complexidades associadas ao ‘dólar blue’, como esses desafios podem influenciar as relações econômicas da Argentina com outros países, especialmente no contexto das trocas comerciais com o Brasil? Existem estratégias específicas que o governo argentino está adotando para lidar com essas implicações no âmbito internacional?

R: A Argentina ainda se mantém como um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, embora alguns setores tenham sofrido com mais impacto a crise que lá ocorre. A indústria, nos segmentos têxtil e automotivo, sempre tiveram a Argentina como o maior parceiro comercial nas exportações, mas viram as exportações caindo cada vez mais, e ano passado perdeu seu posto de maior parceiro para o México.

Na relação Brasil-Argentina vale destacar também o desafio que teremos frente a governos tão antagônicos que passarão a se relacionar.

O novo governo argentino pretende dolarizar o país como uma forma de estancar a inflação de três dígitos, embora especialistas digam que isso é quase uma missão impossível. 

Entenda o 'dólar blue' na Argentina e suas implicações. Conversamos com um gerente de câmbio sobre
Carlos Alberto Rodrigues, gerente de câmbio WIT Exchange.
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Aline Fernandes
Aline Fernandes atua há 20 anos como jornalista. Especializada nas editorias de economia, agronegócio e internacional trabalha na BeINCrypto como editora do site brasileiro. Já passou por diversas redações e emissoras do país, incluindo canais setorizados como Globo News, Bloomberg News, Canal Rural, Canal do Boi, SBT, Record e Rádio Estadão/ESPM. Atuou também como correspondente internacional em Nova York e foi setorista de economia dentro do pregão da BM&F Bovespa, hoje B3...
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