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CrossTech: PIX é uma tecnologia inovadora que veio para ficar

7 mins
Atualizado por Júlia V. Kurtz

EM RESUMO

  • O PIX é uma tecnologia que vai mudar a forma como empresas tratam o dinheiro.
  • Tecnologia foi debatida na CrossTech Latam em São Paulo.
  • Sistema de pagamentos pode ser porta de entrada para o mercado cripto
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O mundo passou por várias transformações nos últimos anos e isso não passou despercebido pela indústria. Uma das maiores revoluções, o PIX, ocorreu no Brasil e chamou a atenção de grandes players do mercado, que entenderam que as transações instantâneas vieram para ficar e eles não podem ficar parados.

O PIX foi um dos temas centrais da CrossTech Latam 2022, que ocorreu no final de abril de 2022 e debateu as formas como esse sistema pode influenciar as transações de dinheiro – incluindo as internacionais – daqui para a frente.

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Uma das barreiras que esta tecnologia derrubou foi mostrar a grandes empresas que soluções rápidas e com pouca burocracia podem existir, o que fez com que elas começassem a prestar atenção no mercado cripto.

A COO da empresa, Priscilla Doliveira Friedman, reforça a importância do novo sistema de pagamentos. Para ela, o PIX é uma tecnologia ainda em sua infância, mas que vai obrigar outros países a implementarem sistemas semelhantes.

“É o ‘catch me if you can’. Eu gosto deste exemplo e acho que o Brasil saiu na frente e os outros precisam correr atrás”.

Ela e o CEO Hugo Cuevas-Mohr conversaram com o Be[in]Crypto sobre o impacto que a introdução do PIX e outras novas tecnologias e de fintechs trará ao Brasil e ao mundo

  • Já houve vários eventos da Crosstech no Brasil. Como o evento evoluiu ao longo destes anos e quais oportunidades ele apresenta hoje que não estavam disponíveis antes?

Hugo Cuevas-Mohr: Nós fizemos o primeiro evento no Brasil em 2012, dez anos atrás. É muito difícil explicar tudo o que mudou porque os avanços são inacreditáveis! Nós fomos ajudados por muitas pessoas, como o pessoal do Western Union, que entenderam a importância do evento e decidiram nos patrocinar, porque estavam convencidos que era algo que precisava ser feito.

O mercado, na época, era muito informal. No primeiro evento, foi muito difícil convencer o Banco Central a vir aqui para se apresentar. E o BC estava receoso de se aproximar dessa indústria. Mas eu acreditava que era algo que precisava ser discutido abertamente e que as coisas acontecem e mudanças surgem, mas se nada puder ser feito, podemos pelo menos falar sobre isso.

O sr. Magela [Geraldo Magela SIqueira, ex-secretário executivo do Banco do Brasil] foi uma das pessoas que entenderam a importância do evento. O Emílio Garofalo [Filho, ex-diretor do BC], que já é falecido, tinha uma visão diferente do papel do governo, e achou nossa proposta interessante e quis nos ajudar.

Não foi fácil, mas foi um evento muito interessante. Só que as pessoas estavam muito apreensivas. O Banco Central estava apreensivo, o Geraldo Magela veio com um assessor de relações públicas que ficava cuidando tudo o que ele falava para ver se era ou não permitido. Eles me deram várias diretrizes do que podia ou não ser feito e eu tive que aceitar.

No final das contas, foi um grande evento. Todo mundo estava feliz e nós conseguimos fazer uma segunda edição, e depois uma terceira em 2018. E este, agora, dez anos depois.

Desde então, os mercados mudaram bastante. Não só por causa do PIX, que foi uma mudança gigantesca, mas também por causa da indústria de fintechs brasileira, que amadureceu tão rápido e tão bem.

A interação entre empresas do Brasil e internacionais melhorou, é algo que foi possível por causa das transferências internacionais. Todos entenderam a importância de firmar parcerias porque ninguém consegue fazer tudo, e todos estão se tornando parceiros.

Se tem algo que faz com que esta conferência seja importante é porque você consegue encontrar todos os tipos de soluções, desde processadores de pagamentos em cripto e blockchain, como a Ripple ou a Stellar até empresas tradicionais e bancos.

É difícil ter uma conferência que reúna todos esses players, porque eles são ao mesmo tempo competidores e potenciais parceiros. Esta é a grande mudança que aconteceu, não só porque os mercados mudaram, mas também porque os reguladores mudaram seus pontos e vista e porque o país passou por momentos tão traumáticos.

A Lava Jato e tudo o que aconteceu depois serviu como um alerta de que o país precisava mudar e o Brasil cresceu por causa disso. E eu acho que estes eventos foram uma das causas dessas mudanças e nós facilitamos estas mudanças do nosso próprio jeito.

Pode ter sido uma influência pequena, mas eu estou muito feliz e muito orgulhoso com a forma que as coisas tomaram, com o estado que esta indústria que eu amo alcançou e também pelo país e pelos produtos novos que as pessoas têm recebido.

  • Como vocês veem a integração de soluções baseadas em criptomoedas e blockchain no mercado de finanças tradicionais, não em termos de regulação, e sim em termos de inovação?

Hugo Cuevas-Mohr: Eu acho que ainda estamos no começo. A primeira vez em nossa conferência que falamos em Bitcoin ou blockchain foi em 2012. De lá para cá, já se passaram dez anos e, naquela época, todos pensaram “o que é isso?” e muitos outros pensaram que era algo que iria desaparecer.

Eu pensei que era algo interessante do ponto de vista tecnológico, e olhe aonde nós chegamos! Mas ainda é algo que está em sua infância. No início, o próprio mercado cripto pensava em si mesmo como uma solução para o consumidor final. Mas ela tem se tornado mais e mais uma solução para o back office e para remessas internacionais na forma de uma exchange.

Entretanto, esta integração ainda é lenta porque os reguladores precisam estar claros sobre o que eles esperam que as empresas de criptomoedas façam. Os bancos, por sua vez, ainda não estão confortáveis, portanto, se você for uma empresa de transferência de dinheiro ou de pagamentos você depende de um bom relacionamento com seu banco. Se o banco vê uma empresa integrar serviços ou firmar parcerias com uma empresa de criptomoedas, isso é percebido como um risco.

O banco vai investigar e você não vai querer arriscar sua relação com o banco seguindo em frente. Muitas coisas ainda precisam acontecer antes de o potencial do mercado cripto de mudar pagamentos ser reconhecido e isso vai requerer tempo.

Priscilla Doliveira Friedman: É por isso que nós mudamos nosso nome para CrossTech, para mostrar que não queremos ser apenas sobre B2B ou B2C e sim sobre todas as soluções e para providenciar soluções de networking nas quais todo mundo possa reconhecer o que está fazendo e fazer melhor.

Hugo: As empresas estão mudando. Mesmo aquelas que estão entre nós há muito tempo, estão mudando. Você precisa reagir às novidades do mercado e eu tenho a sensação de que as coisas estão mudando mesmo no nosso tipo de negócio.

  • Nós estamos falando sobre criptomoedas, mas a maior revolução financeira no Brasil nos últimos anos é, sem dúvidas, o PIX. Quais são as grandes lições que as empresas aprenderam com esse sistema?

Hugo Cuevas-Mohr: Eu venho do mercado de dinheiro físico porque remessas e transferência de dinheiro sempre dependeram dele. Então, a ideia é fazer com que cada transação seja mais fácil e custe menos dinheiro. E, é claro que as pessoas dizem “certo, isso é inclusão digital”. Todo mundo está vendendo na praia ou em qualquer lugar em um mercado que aceite o PIX.

Sim, ele está substituindo o dinheiro físico básico, mas o que é mais eficiente no final das contas? O dinheiro físico é muito eficiente, mas, se migrarmos para o digital, existem muitas outras possibilidades.

O que o Brasil fez ao criar algo que é mais eficiente que o dinheiro é uma grande conquista, mas isso é apenas o começo. O PIX vai crescer e atingir novos locais e este é o primeiro passo da escada e nós não estamos no topo dessa escada. Ele vai chegar a muitos países que ainda nem se aproximaram do primeiro passo e estão muito longe dele.

Para mim, é apenas o começo. Nós vamos transferir mais coisas mais rapidamente porque é preciso espalhar essa capacidade para mais pessoas, dar à maior parte da população uma forma de trocar quaisquer tipos de valores de forma fácil e rápida.

No caso do dinheiro, você precisa estar presente e isso é uma grande diferença. O PIX é um exemplo claro de como facilitar isso.

Foi através de exemplos como esse que eu aprendi o que é o Bitcoin, o que é cripto. EU estava assistindo à TV quando vi um anúncio de uma ONG que estava ajudando crianças em Uganda e aceitando doações em cripto. De repente, aparece na tela um enorme QR code e eu pensei “nossa, eu posso usar algo desse tipo para ajudar”. Eu escaneei o código com minha carteira de Bitcoin e, de repente, eu tinha doado US$ 1.

Isso aconteceu em 2015, 2016 e eu ajudei em pouco tempo e com facilidade. O efeito visual é poderoso. Pra mim, a maior diferença é que esta é apenas uma forma diferente de transação de dinhieoro, em que você não precisa estar presente ou próximo de outra pessoa. O PIX é o primeiro passo de uma nova revolução de como as coisas serão feitas no futuro, mas, como um primeiro passo, é preciso dá-lo antes que qualquer outra coisa aconteça.

Priscilla Doliveira Friedman: É o “catch me if you can”. Eu gosto deste exemplo e acho que o Brasil está fazendo justamente isso. O país saiu na frente e os outros precisam correr atrás. Há alguns pontos que, claro, são impossíveis de copiar porque cada nação é diferente.

Mas é possível customizar a tecnologia, é apenas uma questão de conversar com os reguladores e fazer com que eles escutem as necessidades da indústria e sejam capazes de priorizar e fazer as coisas funcionarem.

Outra característica importante do PIX é quem movimenta o dinheiro e eu acho isso brilhante. É uma parte da ideia de que isso não importa se você não tiver internet em seu telefone ou se você está no aplicativo do banco. Usando a tecnologia é possível pagar qualquer um com PIX, o que é importante no Brasil que é um país que tem falhas na cobertura de internet.

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Júlia V. Kurtz
Editora do BeInCrypto Brasil, a jornalista é especializada em dados e participa ativamente da comunidade de Criptoativos, Web3 e NFTs. Formada pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui mais de 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia, tendo passado por veículos como Globo, Gazeta do Povo e UOL.
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