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Cripto vai se impor ao setor financeiro com aumento da adoção, diz CEO da Ripio

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Atualizado por Júlia V. Kurtz

As criptomoedas lutam para se estabelecer como uma alternativa viável ao setor financeiro tradicional desde a criação do Bitcoin (BTC). E esta luta só vai acabar quando um número suficiente de pessoas as adotarem e forçarem os políticos a aceitarem, conforme o CEO da Ripio, Sebastian Serrano.

Ele é um empreendedor argentino e um dos maiores experts em tecnologia blockchain e criptomoedas do mundo. É o CEO e Cofundador da Ripio, marca pioneira do setor cripto na América Latina com alcance de mais de 8 milhões de usuários e uma trajetória de dez anos no mercado.

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Nesta conversa com o BeInCrypto, ele fala sobre como o mercado de criptomoedas evoluiu desde a criação da exchange e quais as grandes mudanças que devem surgir no futuro.

Sebastian Serrano, Ripio
  • A Rípio fez 10 anos em 2023. O que mudou no cenário cripto durante essa década?

Muitas coisas mudaram. Quando nós começamos, por exemplo, a única criptomoeda em existência era o Bitcoin. Não havia qualquer outro ativo.

Além disso, as pessoas que usavam a tecnologia vinham de diversos backgrounds. Havia aqueles que eram muito técnicos, como pessoas da área de criptografia. E há libertários, que tem algumas ideologias por trás.

Sem falar que, 10 anos atrás, as criptomoedas ainda não haviam se provado. Então havia muita esperança e incertezas sobre ela. E, com o passar do tempo, nós criamos usos de caso com novas moedas, novos projetos e mais blockchains.

As criptomoedas eram consideradas uma forma de ouro digital e um sistema de pagamento. Mas, agora, nós temos todos os tipos de uso,usuários de vários tipos de background e o setor está ficando cada vez mais mainstream.

Nesse tempo, a tecnologia já mais que se provou e é claro que ela veio para ficar. Sua diversidade, hoje, é muito maior. Existem mais pessoas e ela é mais difundida. Muitos dos conceitos de cripto se tornaram culturais e uma parte da vida.

Até mesmo conceitos complexos como NFTs estão se tornando mais e mais mainstream, o que é maravilhoso. Há até tecnologias como stablecoins, que tem uma adoção em massa na América Latina, em meio à inflação alta. Por exemplo, em países como a Argentina, nós temos mais tecnologias de escalabilidade, como a camada 2 no ecossistema do Ethereum.

Os fortes ciclos de inovação são outra coisa que nós não esperávamos. Apesar dos invernos, eu não achava que haveria ciclos tão fortes quanto os que nós passamos.

  • A Ripio está se expandindo na América Latina há alguns anos. Quais são os atrativos deste mercado?

Quando nós começamos, nós decidimos focar na América Latina porque acreditamos que há muito potencial e muita necessidade para as novas tecnologias. Elas também nos ajudaram a construir novas instituições nas quais nós podemos confiar na forma que elas vão se comportar e que elas serão governadas através de códigos.

Ao mesmo tempo, nós temos uma história de muito abuso em instituições, o que é extremamente relevante se você olhar, por exemplo, para a Venezuela. Todos os países da América Latina passaram por um período de inflação alta, o que foi um abuso.

Os bancos centrais exageraram imprimindo dinheiro no curto prazo para satisfazer necessidades do governo de turno, o que fez com que a população pagasse preços altos no longo prazo. Estes são alguns dos atalhos que alguns líderes tomaram ao abusar nossas instituições.

Eu vejo vários pontos em que podemos usar sistemas distribuídos para construir instituições eficientes. O principal atrativo do Bitcoin é que ele é fácil de explicar. Por exemplo, nunca haverá mais de 21 milhões de BTC e isso é garantido por software.

E isso é muito poderoso, porque não é algo que exista na natureza e sim algo que nós criamos. Além disso, nós estamos em uma região que não tem a melhor infraestrutura e falta inclusão financeira, algo que nós também podemos nos beneficiar ao conectar o mundo e trabalhar de forma global.

E nós estamos apenas começando a ver mais e mais pessoas trabalhando online e sendo pagas e usando isso para viver. E é por isso que essa tecnologia vai ser relevante no futuro.

  • Em 2013, o Bitcoin ainda estava em sua infância. Por que você decidiu criar uma empresa cripto naquela época?

Na época, eu tinha uma empresa de desenvolvimento de software e nós tínhamos que cobrar clientes nos EUA e era muito difícil fazer isso, então eu fui atrás de alternativas. Foi nesse momento que eu conheci o blockchain e o testei algumas vezes.

Basicamente, eu descobri o que eu precisava para cobrar clientes em outro país, mas isso era difícil com as ferramentas existentes na época. Mas eu sou um desenvolvedor de software e desde os 8 anos eu me intrigo com tecnologia e tenho essa mania de estudar a fundo o que me interessa e e descobri como funciona.

E o que eu descobri era fascinante. Isso era no final de 2012. Em seguida, alguns meses depois, eu conversei com alguns dos meus co-fundadores e nós percebemos que faltava alguns produtos para a comunidade e eu decidi que precisava resolver isso.

  • Muito se fala no uso de criptomoedas em transações B2B. As empresas na América Latina estão abertas ao uso de criptomoedas para isso?

No momento, o B2B é nosso foco principal e nós estamos destinando grande parte dos nossos esforços a isso. E isso nos deu retorno em diversos projetos com bancos.

Toda vez que nós conversamos com uma equipe de um banco, ou uma fintech, ou um e-commerce, eles nos dizem que acreditam que vão, com o tempo, integrar criptomoedas, mas eles não sabem como.

No momento, nós estamos nos preparando e construindo toda a tecnologia necessárias e estamos trabalhando com muitos parceiros.

Quando você tem 10 anos de mercado, você pode esperar mais alguns anos. E eu acho que haverá um ponto de mudança em que todo mundo vai querer integrar cripto e, ao mesmo tempo, na próxima onda de adoção, nós veremos cripto integrada em todos dos serviços financeiros e isso será parte do mercado.

  • Muitas pessoas até hoje adotam Bitcoin porque esperam que vão ficar ricos, iguais aos primeiros a adotar a tecnologia. Esse tipo de mentalidade ainda é comum na América Latina?

Nós sempre teremos uma porcentagem de pessoas buscando oportunidades. Eles compram barato e tentam vender ativos a um preço maior. Isso faz parte do ciclo de especulação e uma parte do mecanismo de adoção da tecnologia.

Mas esse ciclo gira em direções diferentes, portanto isso é muito positivo em mercados de alta, porque traz novas pessoas para o ecossistema. Ao mesmo tempo, é algo negativo no mercado de baixa, porque afasta as pessoas.

No fim, isso traz muito ruído. O que importa são os casos de uso que são mais orgânicos e que tem mais impacto e são sustentáveis no longo prazo.

É por isso que as pessoas compram e mantém ativos por um longo prazo. Quem faz isso é uma pequena porcentagem dos investidores, pessoas que procuram por segurança e não na venda rápida.

Eles acham que podem manter estes ativos por, por exemplo, 18 meses, ou cinco anos. Estas são as pessoas que buscam o verdadeiro valor do mundo digital. É algo diferente de buscar oportunidades instantâneas.

Se você observar dados on-chain, vai ver que o maior número de holders de longo prazo tem menor atividade em relação a quem compra e vende a cada seis meses. Agora, a maior parte desses investidores são de longo prazo e essas pessoas não estão vendendo por longos períodos.

Essa tendência é algo que muda com o tempo e o que faz com que o mercado seja da forma que é. E você também tem coisas como a demanda por opções de blockchain e ativos como Bitcoin e Ethereum, que são o combustível de blockchains.

Se há demanda para usos de caso, os ativos ficam mais valiosos e eu acho que isso é muito se parece com o uso de, por exemplo, stablecoins ou NFTs que demandam espaço para registrar transações na blockchain.

E você os paga com criptomoedas, com Bitcoin, ou com ativos na blockchain. E ter mais ativos que não são especulativos é o que dá os fundamentos para a tecnologia, que são os valores dela. Isso é algo que fica ainda mais claro durante invernos.

Agora, nós estamos voltando a ter números saudáveis de transações, portanto desenvolvedores estão contribuindo para construir mais casos de uso com blockchain e é isso que vai nos permitir respirar a partir de 2024.

  • Regiões como a Europa e os Estados Unidos estão de olho no mercado cripto e criando leis que afetam o setor. Como essas novas leis interferem na América Latina?

O problema de existir em países diferentes é que quando uma lei ruim começa a aparecer em um país, ela contamina os outros. Esse é o risco que esses projetos trazem.

Mas, na América Latina, nós temos muitos países que, por sorte, tem regulamentações que são mais a favor de inovação, como a do Brasil. O texto é uma lei muito aberta comparada a muitas que estão por vir em outros países.

Na América Latina, por outro lado, nós temos usos de caso muito melhores para a tecnologia.

Mas há outro lado que precisa ser lembrado que é que o status quo pode perder benefícios com as novas tecnologias. Por exemplo, boa parte do PIB dos EUA vem de serviços financeiros. E há muita pressão por parte do status quo para não perder seus negócios.

Ainda assim, com o tempo, haverá muitos usos de criptomoedas em todos os países, haverá milhões de usuários em todos os lugares. Em seguida, elas farão parte das plataformas de muitos políticos e é aí que nós teremos uma regulamentação ainda melhor.

Primeiramente, nós emitimos nossas provas de reservas para mostrar que temos colateral o suficiente em nossa custódia, tanto em nossa carteira quanto em nossa exchange. Nós fizemos auditorias com as maiores empresas do ramo do mundo para certificar nosso processo de contabilidade e nossa segurança.

Em seguida, ter um bom marketing faz parte de construir uma boa infraestrutura. Isso começa com ser muito claro com o usuário. E, com o passar do tempo, você constrói confiança, que é o tipo de coisa que você precisa ter para que as pessoas entendam que há diversos tipos de empresas no mercado.

Infelizmente, nós ainda não saímos do inverno e teremos um segundo semestre difícil. Muitas empresas ainda têm acesso restrito a capital porque há pouco capital no mercado para acessar.

Ao mesmo tempo, muitas empresas no ramo de tecnologia, não só no setor cripto, estão perto do fim da linha e ficando sem dinheiro. Ou seja, nós ainda veremos muitas empresas fechando no segundo semestre.

Isso não será divertido, mas, de qualquer forma, será a última etapa desta limpeza. E, com sorte, teremos um mercado ainda melhor em 2024.

  • O Bitcoin é a criptomoeda do futuro ou você acha que outra vai tomar o seu lugar?

O Bitcoin é a moeda que tem a marca mais forte. Quando você compra ou vende para empresas, eles normalmente querem o valor em Bitcoin ou stablecoins porque elas são as mais conhecidas e tem a melhor segurança.

Quanto mais segura é uma moera, mais conservadora ela é, portanto é um melhor ativo. O Bitcoin é o melhor ativo no momento mas, no futuro, o Ethereum pode surgir como uma plataforma com um ecossistema mais forte.

Ou seja, nós veremos mais usos de caso no ecossistema do Ethereum com todas as suas camadas, side chains e roll-ups.

A máquina virtual do Ethereum é algo que nós veremos cada vez mais, com mais inovação que pode influenciar a blockchain do Bitcoin.

Ainda assim, sempre haverá espaço para outras redes e casos de uso específicos, mas a maior parte da inovação deve ocorrer dentro do ecossistema do Ehtereum.

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Júlia V. Kurtz
Editora do BeInCrypto Brasil, a jornalista é especializada em dados e participa ativamente da comunidade de Criptoativos, Web3 e NFTs. Formada pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui mais de 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia, tendo passado por veículos como Globo, Gazeta do Povo e UOL.
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