Não é nenhuma novidade para o mercado que as transações cotidianas com Bitcoin não são tão rápidas e práticas como parece. Nós conversamos com Max Guise.
Ele gerencia produtos Bitcoin na Block, liderando o desenvolvimento de carteira de Bitcoin de autocustódia, a Bitkey. Mas o que muda para o consumidor final?
Como a maior versatilidade do Bitcoin afetará seu uso em transações cotidianas?
As transações cotidianas não são muito difundidas com o Bitcoin atualmente, e não são muito práticas. Há um grande trabalho técnico em andamento (inclusive, talvez principalmente pela própria Spiral da Block) para tornar o Bitcoin utilizável todos os dias, mas a realidade é que a velocidade, os custos, a confiabilidade e a experiência do usuário que podemos alcançar hoje não são suficientes para uma ampla adoção em muitos contextos de pagamentos.
Nós, da Block, acreditamos que o Bitcoin é uma excelente ferramenta de capacitação econômica que pode ajudar a expandir o acesso a uma rede financeira verdadeiramente aberta. Ele é o mais descentralizado, o mais seguro e o mais maduro/resiliente; é também o mais testado ao longo do tempo em comparação com blockchains/ecossistemas mais novos e o mais bem posicionado para ser a moeda nativa da Internet, explica Guise.
Alinhado a essa missão, o objetivo geral da equipe por trás do Bitkey e de nossos esforços de mineração – é acelerar a transição para uma economia global mais aberta e equitativa. Por isso, acreditamos que protocolos abertos como o BTC são essenciais para alcançar essa visão, completa.
Quais setores e aplicativos se beneficiarão desse novo nível de versatilidade?
O que mais se aproxima das “transações cotidianas” e da primeira aplicação de pagamentos para o Bitcoin são as transações internacionais como remessas. Elas são afetadas por velocidades lentas, altas taxas e todos os tipos de restrições e experiência ruim para o usuário.
Nesse cenário, as transações de camada 1 do Bitcoin são uma ótima alternativa, mas ainda há trabalho a ser feito para melhorar o acesso e ajudar mais pessoas a participarem desse tipo de transação. Alguns produtos e serviços estão trabalhando para tornar o bitcoin um elemento de implementação aqui, com um ou até mesmo ambos os lados operando em sua moeda local e o bitcoin sendo usado para permitir a transação, detalha o executivo
Que marcos técnicos e de mercado impulsionarão essa tendência do Bitcoin para além das transações simples?
Do ponto de vista técnico, confiabilidade e experiência do usuário comparáveis às dos produtos de custódia. As pessoas não estão dispostas a ter de 5% a 10% ou mais de falhas nos pagamentos e nem a ter de estar on-line com um aplicativo aberto para receber fundos. Desta forma, os serviços que evitam esse último problema têm disponibilidade global limitada.
Do lado do mercado, há um desafio de “cold start”. Hoje, a maioria dos comerciantes não aceita bitcoin, a maioria dos compradores não está pedindo para efetuar pagamentos com ele, e essa dinâmica só mudará quando a tecnologia resolver um problema nítido do cliente de forma melhor do que as outras alternativas.
Quais são as implicações sociais em termos de responsabilidade pessoal e autocustódia?
Hoje, elas são bem claras. A autocustódia geralmente significa se apegar a uma frase longa que, se alguém vir, pode pegar seu dinheiro e, se você o perder, significa que perdeu seu dinheiro.
Isso é muita responsabilidade pessoal, e acredito que os novos produtos reduzirão o ônus da autocustódia, deixando os clientes no controle e levando excelentes produtos financeiros a um público global.
À medida que as novas ofertas simplificarem a autocustódia, ela se tornará um detalhe de implementação, com as pessoas aderindo porque encontraram outros benefícios, acredita.
Quais são os benefícios da autocustódia em comparação à manutenção do Bitcoin em bolsas centralizadas?
Atualmente, a grande maioria dos milhões de proprietários de bitcoins mantém seus bitcoins nas plataformas de custódia ou nas bolsas onde os compraram, confiando ao custodiante o gerenciamento de seus bitcoins, e isso acarreta em vários problemas:
- Você deposita toda a sua confiança nessas empresas e elas estabelecem as regras sobre o que você pode fazer com seu dinheiro, incluindo a limitação de movimentos ou taxas elevadas;
- Deixar que um custodiante detenha e controle suas chaves aumenta o risco de má administração dos fundos, como infelizmente já vimos;
- Uma plataforma de custódia representa um ponto único de falha contra hackers, colocando os fundos dos clientes em um risco maior.
A autocustódia significa propriedade real e segurança aprimorada – é o cliente que detém e controla as chaves que dão acesso à sua carteira e, portanto, ao seu Bitcoin e outros ativos digitais.
Mas isso também acarreta a responsabilidade de não perder essas chaves e, tradicionalmente, isso tem sido uma barreira. A maioria das carteiras de autocustódia existentes até hoje é difícil de usar e exige um certo nível de conhecimento técnico. Esse é o problema que estamos tentando resolver com a Bitkey, tornando a autocustódia muito fácil e segura, alerta Max.
Como os usuários podem proteger efetivamente seus ativos ao usar soluções de autocustódia?
Isso é inerente à autocustódia, pois são os clientes que controlam suas chaves, mas isso também significa que eles precisam garantir que não percam o acesso às suas carteiras. Na Bitkey, estamos tornando a recuperação muito fácil. Projetamos e construímos a carteira com foco na segurança, tanto para a tranquilidade do cliente quanto para manter os fundos seguros o tempo todo.
A Bitkey é uma carteira com várias assinaturas 2 de 3, o que significa que há três chaves no total, sendo que duas chaves são necessárias para fazer qualquer transação. Os clientes têm duas dessas três chaves em suas mãos: uma no aplicativo móvel e outra no dispositivo de hardware, explica.
Segundo Guise, uma terceira chave está nos servidores da Block e é usada para fins de recuperação e para coassinar transações quando o cliente assim o desejar, permitindo que ele deixe o dispositivo de hardware em segurança em casa (lembre-se de que são necessárias duas das três chaves),
Esse design elimina a necessidade de os clientes armazenarem longas frases-semente off-line ou em plataformas on-line vulneráveis e torna mais fácil e mais seguro recuperar o acesso à carteira, caso algo aconteça.
Vale ressaltar que os clientes que perderem suas chaves e solicitarem a plataforma terão que esperar sete dias. Isso porque segundo a Block, a medida garante mais segurança, evitando ataques, pois poderá interromper um processo de recuperação que não foi iniciado por ele (com a ajuda da chave da Block).
Qual é o papel das inovações em segurança e usabilidade na adoção da autocustódia?
A combinação entre elas é a chave. As pessoas precisam de soluções que lhes ofereçam tranquilidade para proteger e manter seu bitcoin, mas que não exijam um alto nível técnico ou a memorização de uma senha longa e complicada.
Um aspecto que eu gostaria de destacar é a camada de segurança das integrações da Bitkey com as bolsas de valores.
Por meio dessa experiência integrada, trabalhamos com nossos parceiros (no momento, Cash App nos EUA, Coinbase e MoonPay globalmente), para garantir que os clientes possam retirar com segurança seu bitcoin dessas plataformas de custódia para a carteira imediatamente após a compra , evitando principalmente a necessidade de copiar/colar endereços de um aplicativo para outro, tornando a experiência mais segura.
Como a autocustódia pode revolucionar as finanças pessoais e corporativas no futuro?
Trata-se de possibilitar principalmente mais oportunidades financeiras. A autocustódia ajuda por exemplo, a facilitar uma economia aberta, o que significa mais oportunidades para mais pessoas. Para os vendedores, isso significa que eles poderão aceitar transações independentemente de onde o comprador esteja localizado ou do método de pagamento que queira usar.
Para os compradores, ou pessoas em geral, isso significa poder fazer transações mais baratas e rápidas com pessoas do outro lado do mundo. Isso inclui pagamentos de bens e serviços, além de remessas para familiares ou entes que moram no exterior.
Além disso, a autocustódia protege as pessoas contra a má administração dos fundos, o que significa menos perdas em incidentes, como infelizmente temos visto no setor até agora, e coloca o controle dos fundos nas mãos das pessoas, em vez de terceiros ou governos, opina Max.
Como empresas e desenvolvedores podem facilitar a transição para a autocustódia?
As empresas e os desenvolvedores devem colocar o foco nos clientes e na criação de soluções e plataformas que eliminem a complexidade das soluções tradicionais de autocustódia, que muitas pessoas consideram muito técnicas ou complexas para usar, ao mesmo tempo, em que agregam valor extra com recursos que se aplicam aos problemas da vida cotidiana.
Qual é o possível impacto da autocustódia na descentralização do ecossistema Bitcoin?
Os produtos de custódia colocam as chaves do bitcoin nas mãos de um pequeno número de grandes empresas. Já a autocustódia coloca as chaves privadas nas mãos de pessoas em todo o mundo. E isso é muito mais descentralizado e mais difícil de ser controlado por uma pessoa, empresa ou governo, finaliza.
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