O Golden State Warriors, tradicional franquia da National Basketball Association (NBA), foi a primeira equipe esportiva dos Estados Unidos a lançar seus próprios NFTs. Os criadores são de um ateliê brasileiro de artes visuais.
O Black Madre, um dos estúdios mais conceituados do país, foi responsável por criar as artes que deram vida aos tokens não-fungíveis dos Warriors. Mas, este não foi o primeiro trabalho da empresa no ramo – no portfólio, estão lançamentos de destaque fomo coleção NFT de estreia de uma referência de outra liga americana, a NFL.
A trajetória da Black Madre com os NFTs voltados ao mundo esportivo começou em março deste ano. O ateliê produziu ilustrações para cinco cards digitais dos melhores momentos da carreira de Rob Gronkowski, considerado um dos melhores jogadores de futebol americano do mundo. O leilão das obras foi um sucesso, angariando em torno de US$ 1,6 milhão.
Gronk, como é conhecido, foi o primeiro atleta de elite a produzir e leiloar NFTs próprios. Foi ele que contatou o ateliê brasileiro solicitando as artes, visto que a Black Madre já tinha realizado alguns trabalhos em festivais que o jogador havia organizado no passado.
Na sequência, o estúdio brasileiro criou os cards colecionáveis em NFT do lendário jogador de baseball Ted Willians, a pedidos da filha do atleta.
Os trabalhos logo chamaram atenção do Golden State Warriors, franquia dona de seis títulos da NBA, três deles após a ascensão do astro Stephen Curry nos últimos anos. Segundo o ilustrador André Maciel, diretor de criação e fundador da Black Madre, os Warriors chegaram com pressa.
O pedido foi incrível, foi um desafio. Fizemos tudo em uma semana. E foi fenomenal.
Maciel conta que, apesar do curto prazo para entrega, o trabalho foi gratificante também por um motivo pessoal: ele é muito fã de basquete e também dos Warriors.
“Eu particularmente joguei basquete durante toda a minha adolescência, e o Golden State é uma das franquias que eu mais gosto. Quando eu recebi o convite foi incrível, como a realização de um sonho. ”
A dedicação parece ter dado certo. A franquia angariou mais de US$ 2 milhões no leilão da coleção digital em NFT organizado na Opensea na semana passada.
Mercado de NFTs no Brasil
Os NFTs estão ganhando destaque no Brasil em diversas indústrias. Na música, artistas vêm desenvolvendo conteúdos em tokens não-fungíveis e até plataformas para negociações de ativos.
No entanto, o avanço tem sido mais discreto nos esportes. Apesar do “rei do futebol” Pelé ter anunciado em abril a sua coleção digital, nenhum outro grande atleta tem se mobilizado neste sentido até o momento.
No exterior, os NFTs de atletas e times possuem o diferencial de serem visto como cards colecionáveis. Como Maciel explica, essa cultura já é amplamente disseminada em alguns países há décadas. Porém, segundo ele, o movimento ainda pode chegar no Brasil.
“O Brasil não possui uma cultura de cards colecionáveis, como acontece nos Estados Unidos e Japão. O movimento mais forte aqui são as figurinhas de futebol durante as copas do mundo. Porém, acredito que o país tem muito potencial. Temos grandes celebridades esportivas. Falta apenas desenvolver essa cultura colecionável, mas a nova geração parece estar mais engajada nesse sentido. ”
Para o artista, os NFTs podem servir para digitalizar momentos das carreiras de atletas e times. Além disso, seria possível utilizar a tecnologia para realizar homenagens a grandes figuras do esporte nacional que já faleceram e que permanecem na memória popular, como Ayrton Senna.
Maciel ainda destacou que a Black Madre, devido ao seu sucesso neste meio, tem visto uma procura maior por tokens não-fungíveis na indústria da arte no país. “Notamos um aumento em nossos e-mails e mensagens em redes sociais pelo interesse em NFTs. Alguns artistas já estão nos contatando”.
NFT é bolha?
Atualmente, o mercado está em grande euforia a respeito dos NFTs, com diversas obras sendo negociadas na casa dos milhões de dólares. Com isso, alguns analistas apontam que o fenômeno pode ser interpretado como uma bolha.
Por outro lado, André Maciel acredita que os tokens não-fungíveis não serão algo passageiro, e que eles já estão transformando toda a indústria do entretenimento audiovisual.
“O boom dos NFTs na virada do ano mexeu com todo mundo. Com o entretenimento, com as artes. Eles estão impactando toda a área, tanto em termos financeiros como na forma artística em si”, explica o artista brasileiro.
Segundo ele, as marcas já estão olhando mais para NFTs, que já são estão sendo utilizados principalmente por artistas independentes e atletas. “Mas as marcas irão adotá-los cada vez mais. A marca, agencia ou artista que não está olhando para essa tecnologia, logo ficará atrasado no mercado”, aposta.
Ele usou como exemplo as Havaianas e os produtos Star Wars, que tiveram coleções em NFT sendo lançadas recentemente. O artista diz que, apesar dos altos valores envolvidos nas vendas destes tokens, não acreditar que o mercado esteja em uma euforia passageira.
“Não acredito que é uma euforia. Se chegou a esses valores, tem muito a ver com o atleta ou o artista, com o valor da obra ou da sua carreira envolvidos no projeto. ”
Entretanto, Maciel destaca que num futuro próximo, com a saturação deste mercado, os agentes envolvidos deverão focar na qualidade dos seus tokens, e não apenas no retorno financeiro que eles podem gerar.
“Muita gente está apenas de olhos nos valores dados pelos tokens. Visando o futuro, essa talvez não seja a melhor estratégia. Devemos focar na cultura de colecionáveis, de produtos originais. Os atletas e times devem começar a pensar mais nisso, trabalhando melhor as coleções, não lançando tudo de uma vez. ”
Por fim, ele especulou sobre os impactos que os NFTs podem trazer para o mercado, utilizando a Mona Lisa como exemplo. Conforme ele destaca, o Museu do Louvre jamais poderá vender a obra. Entretanto, a instituição poderá capitalizar recursos com a venda de um token não-fungível da pintura, o que causaria grande impacto em toda a indústria.
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