Indústria, políticos, especialistas e o mercado continuam comentando a tarifa de 50% imposta sobre as importações brasileiras pelo presidente dos Estados Unidos (EUA) ao Brasil. Nesta quarta-feira (09), o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China, apertou o cerco contra a economia brasileira e usou um argumento político para determinar o boicote comercial.
Balança comercial EUA x Brasil
Desde 2009, o Brasil tem enfrentado déficits comerciais com Washington, as exportações dos EUA superam as do Brasil em US$ 90,28 bilhões até junho de 2025. Ao longo de 28 anos de comércio, o saldo total favorável aos EUA alcança US$ 49,88 bilhões.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil ocupa atualmente o 15º lugar na lista de parceiros comerciais dos EUA. A tarifa política de Trump entrará em vigor em 1º de agosto.
Existe espaço para negociação?
A Estrategista de Renda Variável e Empresas da InvestSmart XP, Mônica Araújo, disse que o governo americano surpreendeu ao impor uma tarifa de 50%, justificando para tal questões políticas, econômicas e ideológicas.
A resposta do Brasil foi imediata, devolvendo a carta e chamando o representante brasileiro para explicação, porém sem anunciar claramente uma retaliação direta, o que pode indicar alguma possibilidade de uso da diplomacia para se iniciar um processo de negociação, explica Araújo.
Segundo a estrategista da XP, o Congresso Brasileiro aprovou em abril a Lei de Reciprocidade Econômica. O que confere ao país respaldo legal para a resposta a movimentos realizados pelos EUA.
Felipe Spina, empresário, fundador da Novórtex Academy e head do fundo NVTX Capital ressaltou ao BeInCrypto que “50% tarifaço do Trump não é só notícia de jornal, é sinal amarelo piscando forte para economia brasileira.”
Bitcoin como alternativa
O capital está saindo do país numa velocidade impressionante, e a confiança no real que já vinha capengando desde as decisões do governo Lula, desaba ainda mais. Não é à toa que o Brasil virou líder na fuga de dinheiro da América Latina. E sabe quem está rindo disso tudo?, acrescenta Spina
Em meio a tanto ruído, ele virou a rota de fuga preferida dos brasileiros que querem proteger seu patrimônio. Não foi coincidência que, no mesmo dia do anúncio das tarifas, o Bitcoin bateu recorde e passou de US$ 112 mil. E basta lembrarmos do episódio recente do roubo bilionário do Banco Central: para onde foi o dinheiro? Direto para bitcoin, que tem sido a principal solução de proteção patrimonial dos brasileiros, reforça o head do fundo NVTX.
Para o investidor brasileiro, esse cenário reforça a importância de diversificação e de buscar ativos que preservem poder de compra, especialmente aqueles que não estão atrelados a governos ou políticas monetárias centralizadas, reforça Felipe Mendes, CEO da Altside.
Mercado financeiro reage
Ainda segundo Mônica Araújo, “o impacto nos mercados financeiros, no primeiro momento, será negativo, refletindo a imprevisibilidade dos desdobramentos dessa crise, e, portanto, poderemos observar perda de valor do Real frente ao dólar, abertura nas taxas de juros e queda no mercado acionário.”
Quanto aos desdobramentos políticos dessa crise, ainda é cedo para indicar qualquer direção, mas acreditamos ser possível que reações conjuntas das instituições brasileiras sejam observadas, acrescenta.
O dólar opera neste momento a R$ 5,54, alta de 0,81% em relação ao fechamento de ontem.
Recorde do BTC não foi influenciado por Trump , diz MB
Thiago Fagundes, Diretor de Negócios do MB diz que como o Bitcoin é cotado em dólar, pode atingir US$ 150 mil até o final do ano.
No entanto, a alta histórica desta quarta-feira (09) não foi influenciada pela questão tarifária. A tarifa imposta pelo governo americano tende a diminuir a oferta de dólares no Brasil, o que pressiona o câmbio e desvaloriza o real. Nesse cenário, o preço dos criptoativos tendem a subir na cotação em real, ainda que o preço em dólar permaneça estável, explica Fagundes.
Diretor da Coinbase para as Américas, Fábio Plein, afirmou ao BeInCypto “que ainda é cedo para avaliar o impacto das tarifas no mercado brasileiro e global, mesmo com o impacto inicial positivo observado no Bitcoin. Segundo o executivo, a alta do dólar pode beneficiar ativos digitais lastreados na moeda americana, mas é precipitado falar dos impactos.
A efetiva aplicação das tarifas contra o Brasil ou o anúncio de novas medidas contra outros países poderá ter novos efeitos no mercado, por isso é importante que investidores permaneçam atentos aos movimentos do mercado frente a possíveis novos anúncios e desenvolvimentos do tema, alerta o diretor da Coinbase.
Pressão política
No fim das contas, toda essa pressão política e econômica não afeta apenas o Brasil. Países ao redor do mundo enfrentam desafios semelhantes, o que força indivíduos e instituições a buscar ativos que não possam ser congelados ou manipulados por governos, ou diretamente afetados por crises políticas e econômicas locais, acredita o CEO da Smart Pay, Rocelo Lopes
Seja por meio de ouro, stablecoins lastreadas em ouro, ou pelo Bitcoin, o mercado está cada vez mais atento à necessidade de diversificação e proteção em meio a um mundo onde a política seguirá sendo um fator de influência nos preços, na economia e no futuro dos investimentos, afirmou Rocelo ao BeInCrypto.
Andre Sprone – Latam Growth Manager da MEXC disse que “ Há algum tempo vemos uma pressão institucional crescente sobre o Bitcoin, e a postergação do início das tarifas comerciais dos EUA trouxe mais otimismo ao mercado. A cobrança feita pelo presidente Trump por uma redução nas taxas de juros pelo Fed foi apenas o empurrão que faltava para essa nova máxima histórica.”
Sprone afirma que o cenário ainda é incerto, principalmente pelas tensões no Oriente Médio e pela indefinição sobre tarifas comerciais. Mesmo assim, ele observa que o mercado tem demonstrado otimismo em relação às criptomoedas.
Em mercados emergentes como o Brasil, pressões inflacionárias e cambiais, como as agravadas pelas tarifas recém-anunciadas por Trump ao país, reforçam ainda mais a atratividade de ativos dolarizados e descentralizados como o Bitcoin, finaliza Sprone.
Para Guilherme Sacamone, Country Manager da OKX Brasil, embora a chamada ‘Trump Tax’ sobre bens foque na política comercial dos EUA, os mercados globais — incluindo os ativos digitais — não podem ignorar seus efeitos colaterais.
Para o Brasil, isso pode acelerar uma mudança regional em direção a reservas de valor alternativas como o Bitcoin e as stablecoins, especialmente à medida que as preocupações com a inflação persistem e o capital busca estabilidade. Como uma exchange global, estamos observando um aumento no interesse por parte dos usuários brasileiros, que veem o cripto não apenas como um investimento, mas como uma proteção contra incertezas macroeconômicas, pontua Sacamone.
Dólar volátil
A sinalização de Donald Trump sobre tarifas mais duras contra o Brasil provocou reação imediata no mercado cambial. O real desvalorizou mais de 2% frente ao dólar ontem.
Israel Buzaym, Country Manager da ByBit Brasil, afirma que esse tipo de instabilidade aumenta a relevância dos criptoativos como proteção e diversificação.
A continuidade da valorização do dólar hoje pode abrir espaço para uma alta adicional de cerca de 9% no mercado brasileiro. Isso reforça ainda mais a atratividade do BTC como alternativa de preservação de capital em tempos de volatilidade, reforça Buzaym.
PIB brasileiro pode sofrer com Tarifa de Trump?
A estrategista Mônica Araújo avalia que a tarifa de 50% terá impacto mais intenso nos setores exportadores que têm os EUA como principal mercado. No entanto, ela projeta uma redução direta modesta no PIB, entre 0,3% e 0,5% ao ano.
Os três principais produtos exportados para os Estados Unidos saindo do Brasil são: Petróleo, produtos petrolíferos e materiais relacionados (18,85%). Ferro e aço (14,73%) e materiais de transporte (6,85%). Enquanto as importações dos EUA vindas do Brasil têm como principal componente equipamento de geração de energia. Motores e máquinas (15%), óleos e combustíveis de petróleo (9,7%) e aeronaves e suas partes (4,9%).
Certamente o nível de tarifa de 50% inviabiliza a manutenção do comércio bilateral entre os dois países. Ressaltando que a economia brasileira é fechada e parte relevante dos produtos exportados para os EUA é de material básico, há a possibilidade de escoamento para outros mercados, mesmo que isso represente uma rentabilidade menor. Para a economia norte-americana o impacto também deve ser limitado, uma vez que, em 2024, apenas cerca de 1,4% das importações dos Estados Unidos eram brasileiras, conclui Araújo.
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