Confiável

Tarifaço de Trump repercute no Brasil e indústria comenta

6 Min.
Atualizado por Lucas Espindola

Resumo

  • Tarifa de 50% imposta pelos EUA ao Brasil gera reação imediata no mercado e no cenário político.
  • Especialistas apontam fuga de capital e aumento da atratividade do Bitcoin como reserva de valor.
  • Setores exportadores podem sofrer impacto direto no PIB, com previsão de queda entre 0,3% e 0,5%.
  • promo

Indústria, políticos, especialistas e o mercado continuam comentando a tarifa de 50% imposta sobre as importações brasileiras pelo presidente dos Estados Unidos (EUA) ao Brasil. Nesta quarta-feira (09), o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China, apertou o cerco contra a economia brasileira e usou um argumento político para determinar o boicote comercial.

Balança comercial EUA x Brasil

Desde 2009, o Brasil tem enfrentado déficits comerciais com Washington, as exportações dos EUA superam as do Brasil em US$ 90,28 bilhões até junho de 2025. Ao longo de 28 anos de comércio, o saldo total favorável aos EUA alcança US$ 49,88 bilhões.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil ocupa atualmente o 15º lugar na lista de parceiros comerciais dos EUA. A tarifa política de Trump entrará em vigor em 1º de agosto.

Existe espaço para negociação?

A Estrategista de Renda Variável e Empresas da InvestSmart XP, Mônica Araújo, disse que o governo americano surpreendeu ao impor uma tarifa de 50%, justificando para tal questões políticas, econômicas e ideológicas.

A resposta do Brasil foi imediata, devolvendo a carta e chamando o representante brasileiro para explicação, porém sem anunciar claramente uma retaliação direta, o que pode indicar alguma possibilidade de uso da diplomacia para se iniciar um processo de negociação, explica Araújo.

Segundo a estrategista da XP, o Congresso Brasileiro aprovou em abril a Lei de Reciprocidade Econômica. O que confere ao país respaldo legal para a resposta a movimentos realizados pelos EUA.

Felipe Spina, empresário, fundador da Novórtex Academy e head do fundo NVTX Capital ressaltou ao BeInCrypto que “50% tarifaço do Trump não é só notícia de jornal, é sinal amarelo piscando forte para economia brasileira.”

Bitcoin como alternativa

O capital está saindo do país numa velocidade impressionante, e a confiança no real que já vinha capengando desde as decisões do governo Lula, desaba ainda mais. Não é à toa que o Brasil virou líder na fuga de dinheiro da América Latina. E sabe quem está rindo disso tudo?, acrescenta Spina

Em meio a tanto ruído, ele virou a rota de fuga preferida dos brasileiros que querem proteger seu patrimônio. Não foi coincidência que, no mesmo dia do anúncio das tarifas, o Bitcoin bateu recorde e passou de US$ 112 mil. E basta lembrarmos do episódio recente do roubo bilionário do Banco Central: para onde foi o dinheiro? Direto para bitcoin, que tem sido a principal solução de proteção patrimonial dos brasileiros, reforça o head do fundo NVTX.

Para o investidor brasileiro, esse cenário reforça a importância de diversificação e de buscar ativos que preservem poder de compra, especialmente aqueles que não estão atrelados a governos ou políticas monetárias centralizadas, reforça Felipe Mendes, CEO da Altside.

Mercado financeiro reage

Ainda segundo Mônica Araújo, “o impacto nos mercados financeiros, no primeiro momento, será negativo, refletindo a imprevisibilidade dos desdobramentos dessa crise, e, portanto, poderemos observar perda de valor do Real frente ao dólar, abertura nas taxas de juros e queda no mercado acionário.”

Quanto aos desdobramentos políticos dessa crise, ainda é cedo para indicar qualquer direção, mas acreditamos ser possível que reações conjuntas das instituições brasileiras sejam observadas, acrescenta.

O dólar opera neste momento a R$ 5,54, alta de 0,81% em relação ao fechamento de ontem.

Recorde do BTC não foi influenciado por Trump , diz MB

Thiago Fagundes, Diretor de Negócios do MB diz que como o Bitcoin é cotado em dólar, pode atingir US$ 150 mil até o final do ano.

No entanto, a alta histórica desta quarta-feira (09) não foi influenciada pela questão tarifária. A tarifa imposta pelo governo americano tende a diminuir a oferta de dólares no Brasil, o que pressiona o câmbio e desvaloriza o real. Nesse cenário, o preço dos criptoativos tendem a subir na cotação em real, ainda que o preço em dólar permaneça estável, explica Fagundes.

Diretor da Coinbase para as Américas, Fábio Plein, afirmou ao BeInCypto “que ainda é cedo para avaliar o impacto das tarifas no mercado brasileiro e global, mesmo com o impacto inicial positivo observado no Bitcoin. Segundo o executivo, a alta do dólar pode beneficiar ativos digitais lastreados na moeda americana, mas é precipitado falar dos impactos.

A efetiva aplicação das tarifas contra o Brasil ou o anúncio de novas medidas contra outros países poderá ter novos efeitos no mercado, por isso é importante que investidores permaneçam atentos aos movimentos do mercado frente a possíveis novos anúncios e desenvolvimentos do tema, alerta o diretor da Coinbase.

Pressão política

No fim das contas, toda essa pressão política e econômica não afeta apenas o Brasil. Países ao redor do mundo enfrentam desafios semelhantes, o que força indivíduos e instituições a buscar ativos que não possam ser congelados ou manipulados por governos, ou diretamente afetados por crises políticas e econômicas locais, acredita o CEO da Smart Pay, Rocelo Lopes

Seja por meio de ouro, stablecoins lastreadas em ouro, ou pelo Bitcoin, o mercado está cada vez mais atento à necessidade de diversificação e proteção em meio a um mundo onde a política seguirá sendo um fator de influência nos preços, na economia e no futuro dos investimentos, afirmou Rocelo ao BeInCrypto.

Andre Sprone – Latam Growth Manager da MEXC disse que “ Há algum tempo vemos uma pressão institucional crescente sobre o Bitcoin, e a postergação do início das tarifas comerciais dos EUA trouxe mais otimismo ao mercado. A cobrança feita pelo presidente Trump por uma redução nas taxas de juros pelo Fed foi apenas o empurrão que faltava para essa nova máxima histórica.”

Sprone afirma que o cenário ainda é incerto, principalmente pelas tensões no Oriente Médio e pela indefinição sobre tarifas comerciais. Mesmo assim, ele observa que o mercado tem demonstrado otimismo em relação às criptomoedas.

Em mercados emergentes como o Brasil, pressões inflacionárias e cambiais, como as agravadas pelas tarifas recém-anunciadas por Trump ao país, reforçam ainda mais a atratividade de ativos dolarizados e descentralizados como o Bitcoin, finaliza Sprone.

Para Guilherme Sacamone, Country Manager da OKX Brasil, embora a chamada ‘Trump Tax’ sobre bens foque na política comercial dos EUA, os mercados globais — incluindo os ativos digitais — não podem ignorar seus efeitos colaterais.

Para o Brasil, isso pode acelerar uma mudança regional em direção a reservas de valor alternativas como o Bitcoin e as stablecoins, especialmente à medida que as preocupações com a inflação persistem e o capital busca estabilidade. Como uma exchange global, estamos observando um aumento no interesse por parte dos usuários brasileiros, que veem o cripto não apenas como um investimento, mas como uma proteção contra incertezas macroeconômicas, pontua Sacamone.

Dólar volátil

A sinalização de Donald Trump sobre tarifas mais duras contra o Brasil provocou reação imediata no mercado cambial. O real desvalorizou mais de 2% frente ao dólar ontem.
Israel Buzaym, Country Manager da ByBit Brasil, afirma que esse tipo de instabilidade aumenta a relevância dos criptoativos como proteção e diversificação.

A continuidade da valorização do dólar hoje pode abrir espaço para uma alta adicional de cerca de 9% no mercado brasileiro. Isso reforça ainda mais a atratividade do BTC como alternativa de preservação de capital em tempos de volatilidade, reforça Buzaym.

PIB brasileiro pode sofrer com Tarifa de Trump?

A estrategista Mônica Araújo avalia que a tarifa de 50% terá impacto mais intenso nos setores exportadores que têm os EUA como principal mercado. No entanto, ela projeta uma redução direta modesta no PIB, entre 0,3% e 0,5% ao ano.

Os três principais produtos exportados para os Estados Unidos saindo do Brasil são: Petróleo, produtos petrolíferos e materiais relacionados (18,85%). Ferro e aço (14,73%) e materiais de transporte (6,85%). Enquanto as importações dos EUA vindas do Brasil têm como principal componente equipamento de geração de energia. Motores e máquinas (15%), óleos e combustíveis de petróleo (9,7%) e aeronaves e suas partes (4,9%).

Certamente o nível de tarifa de 50% inviabiliza a manutenção do comércio bilateral entre os dois países. Ressaltando que a economia brasileira é fechada e parte relevante dos produtos exportados para os EUA é de material básico, há a possibilidade de escoamento para outros mercados, mesmo que isso represente uma rentabilidade menor. Para a economia norte-americana o impacto também deve ser limitado, uma vez que, em 2024, apenas cerca de 1,4% das importações dos Estados Unidos eram brasileiras, conclui Araújo.

Melhores plataformas de criptomoedas
Melhores plataformas de criptomoedas
Melhores plataformas de criptomoedas

Isenção de responsabilidade

Todas as informações contidas em nosso site são publicadas de boa fé e apenas para fins de informação geral. Qualquer ação que o leitor tome com base nas informações contidas em nosso site é por sua própria conta e risco.

Aline-Soares-BIC.jpg
Aline Fernandes
Aline Fernandes atua há 20 anos como jornalista. Especializada nas editorias de economia, agronegócio e internacional trabalha na BeINCrypto como editora do site brasileiro. Já passou por diversas redações e emissoras do país, incluindo canais setorizados como Globo News, Bloomberg News, Canal Rural, Canal do Boi, SBT, Record e Rádio Estadão/ESPM. Atuou também como correspondente internacional em Nova York e foi setorista de economia dentro do pregão da BM&F Bovespa, hoje B3...
LER BIO COMPLETA
Patrocionado
Patrocionado