Em 2020, 2021 e início de 2022 o mercado cripto vivia um dos melhores momentos na história. Para quem não lembra, à época o Bitcoin chegou a máxima histórica e ultrapassou os US$ 69 mil e colecionáveis digitais famosos foram vendidos a preços pra lá de estratosféricos. Mas, boa parte da sociedade ainda não entendia muito bem o que é era NFT.
Até aí tudo normal porque é uma tecnologia relativamente nova e todos estão aprendendo juntos em como explorar e usar melhor a ferramenta na web3.
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Dito isso, várias coleções de gigantes surgiram e desapareceram. Caso da primeira coleção do ídolo vascaíno Roberto Dinamite. O atacante é também o maior artilheiro do campeonato brasileiro. Mas o que aconteceu com a coleção? Porque não deu certo?
O CEO da B5 Digital, Doutor em Matemática Pura e professor associado da UERJ, Filipe Iório, é a mente por trás da primeira coleção, que deveria ser mintada em dezembro de 2021, mas isso não aconteceu: “Começamos o projeto conversando com Dinamite e família, explicamos que era um MVP, que ele é um grande ícone do futebol brasileiro, o maior artilheiro do Brasileirão de todos os tempos da era de pontos corridos. Mais de 700 gols marcados”, diz.
‘Enfim, tinha tudo para bombar muito ainda mais em 2020, ano que tudo que lançava em cripto dava certo. Fizemos a arte em 3D com equipe profissional de som e um dos designers do projeto lidera o time da Warner Bross e mora no Canadá”.
O executivo explica que a produção para o lançamento, incluindo o site, aconteceu muito rápido e a captação de contatos para fazer o lançamento chegou a 10.000 e-mails, mas o gateway de pagamento Mercado Pago bloqueou a conta no dia do lançamento. Nenhum cartão passava e nada foi comercializado.
“Pela quantidade de autorização, teríamos umas 200 vendas, o que não pagava os nossos custos, mas acabou que ficou perdido e o lançamento flopou”, explica Iório.
Procurado pela reportagem, a plataforma Mercado Pago não disponibiliza nenhuma forma de contato em seu site e a página de telefones não existe mais. Portanto não há uma resposta oficial da empresa sobre o porquê ela bloqueou a conta.
Após a decepção, a equipe de Filipe Iório marcou uma data para retomar o projeto, no entanto o ídolo descobriu um câncer no intestino, inviabilizando alguns benefícios dos tokens e também a sua participação, por conta da saúde já frágil.
“Como parte dos bônus que ofertávamos era um almoço/jantar com o Dinamite, ficamos amarrados, pois ele não poderia estar presente e nós não poderíamos participar. Por esse motivo não teve os Mints, pois o processo de dar Mint era feito pelo usuário no nosso site”.
O CEO da B5 Digital também explicou que “a família entendeu que o erro não foi nosso e o Mercado Pago é muito gigante para fazer briga jurídica. Não vale a pena brigar com eles. Vale a pena a gente lançar de novo.”
Na sequência o mercado cripto entrou em um movimento de baixa e a empresa ficou com todo material para pensar em algo no futuro, claro com todo conhecimento e as devidas autorizações e consentimento da família do atleta
Daqui a algum tempo, talvez consigamos retornar ao projeto como algo saudoso, assim que o Mercado Cripto se consolidar.
“Temos as artes, temos tudo. Só lançar no momento oportuno e como era um MVP, não fomos buscar clubes e nem nada maior. Conversamos com o Loco Abreu, Juninho Pernambucano, Roger. Mas não desenvolvemos a conversa antes de testar e validar o Mercado e gastar dinheiro de gente grande, concluí Iório.
Segunda Coleção NFT Dinamite
A segunda coleção NFT de Dinamite foi lançada com sucesso pelo Vasco da Gama em maio de 2022 em parceria com a Block4, pouco antes do inverno cripto. As vendas dispararem agora, após a morte do ídolo em janeiro de 2023.
Antes de falar sobre a comercialização, o CRO da Block4, Guilherme Guimarães, ressalta que “preferia sem dúvida ter o Roberto Dinamite aqui conosco”.
“A gente foi muito feliz de ter conseguido fazer a coleção com ele em vida. É muito legal poder homenagear os nossos ídolos ainda em vida.”
As vendas dos NFTs, que conta com elementos interativos e a réplica da Digital da estátua de Dinamite que faz referência ao primeiro título brasileiro conquistado pelo atacante, mais que dobrou após sua morte.
“A réplica, por exemplo, já tinha esgotado até antes do falecimento. Com a morte dele, a gente viu sim um crescimento de movimento e eu diria que foi aí da ordem de quase 100%. Quase dobramos a quantidade vendas. A estátua especificamente, que já tinha esgotado, deu uma esquentada no mercado secundário, mas muitos detentores também preferiram manter o NFT na carteira por causa do valor sentimental e o lucro neste caso, não é o que importa”.
Ainda de acordo com o CRO da Block4, o aumento das vendas também foi influenciado pela lançamento de uma iniciativa com os sócios torcedores do Vasco, que aconteceu próximo a morte de Roberto Dinamite.
Guilherme deixou claro que ainda não há planos sobre novos NFTs e qualquer ação só será feita com o consentimento da família do ídolo de várias gerações . E que se algo for feito será em formato de homenagem.
“Existem conversas para pensar em estender essa homenagem. Estender esse agradecimento a tudo que ele fez pelo Brasil, pelo futebol brasileiro.”
A história acima é apenas uma de milhares de pessoas ou marcas consolidadas que lançam ou tentam lançar colecionáveis digitais e não dão certo de primeira. Mas neste caso, vimos que a coleção lançada pelo Vasco deu super certo e a da NFT.Sports com alguns ajustes operacionais, também pode ser um sucesso.
Além do mais, ainda há o apelo de o futebol ser uma das paixões de muitos brasileiros.
Especialistas dão dicas e alertam para SCAM
O fato de a coleção não ter dado certo não significa que ela seja uma fraude e o cliente precisa entender fazer sua própria pesquisa antes de comprar na emoção. Isso é chamado de FOMO (Fear of missing out), que é o medo de ficar de fora do mundo tecnológico.
A CEO da IDG, Sylmara Multini, explica que o “O mercado de NFT é muito novo, as regras ainda estão sendo estabelecidas. Não há certo nem errado, e certamente não há receita de sucesso”.
“Algumas coleções surpreendem positivamente como os Bored Apes, ou não decolam como a coleção da Porsche mais recentemente. Apesar de não ter garantia, alguns elementos como engajamento da comunidade, utilidade e direcionamento para os WEB entusiastas, são os comuns em coleções de NFT que fazem sucesso”.
A coleção Porsche foi lançada no dia 23 de janeiro, com 7.500 NFTs ao custo de 0,911 ETH e foi um fracasso total. Apenas 1.494 foram mintados no dia do lançamento. E olha que o modelo do carro digital 911 dos colecionáveis é um dos mais famosos da marca de carros de luxo.
Após a falta de interesse do mercado, uma das principais marca de carros esportivos mundo, fechou o mint um dia depois do lançamento em 25 de janeiro após reclamações em massa de usuários no twitter sobre preços altos para cunhar e ausência de benefíos úteis para os holders.
O advogado Sócio fundador do Fc²mlaw, uma Tech Venture Law com ênfase na Web3 e projetos com criptoativos, NFTs e Metaverso, Fábio Cendão, explica que o primeiro ponto de atenção é que:
“Por estarmos em um momento muito inicial de mercado, muitas coleções são mal feitas e flopam. A falta de engajamento com a comunidade em plataformas como o Discord também pode influenciar no sucesso de uma coleção NFT”.
A dica do especialista para todos os usuários não é nova, ainda assim muitos esquecem na hora da emoção e vontade de adquirir o colecionável desejado.
“DYO (Do Your Research – Faça sua própria pesquisa). Esse é o recado. Hoje, no mundo cripto, tem muita coisa acontecendo em um cenário muito fértil, tanto para o bem como para o mal e muitos também aproveitam para cometer fraudes e violações de direitos autorais. Cuidado também com o FOMO. Pare e reflita antes de efetuar a compra. Pesquise em vários níveis.”
Multini completa:
“Existem muitas empresas no mundo de web3, ou NFTs mas nem todas estão bem fundamentadas. Há um grupo seleto de DAOs de NFTs colecionáveis que vieram para ficar, que desenvolvem um relacionamento próximo com os talentos que ela representam, e que desenvolvem NFTs que encantarão os colecionadores. A IDG não vê este mercado como uma oportunidade de curto prazo. Este é um novo mundo, que na sua infância está separando os players sérios dos aventureiros. Como comprador de colecionáveis, pesquise sempre muito bem de quem você está adquirindo os seus bens digitais! Isso irá ajudar muito na construção da sua coleção, finaliza a CEO da IDG, empresa por trás de coleções como a do jogador de futebol Richarlison e da banda de rock brasileira Ira“.
Cendão explica que a pesquisa que o usuário deve fazer não demanda tanto conhecimento profundo para encontrar comunidades ativas do projeto desejado.
“Quais são os links oficiais da empresa por trás? Eu consigo achar o contato? As redes sociais estão ativas ? tem Discord? existe um ecossistema por trás engajado? Tem que ir atrás de tudo isso. Procurar o marketplace também é fundamental. Veja se existem transações e checar com conhecidos e fontes confiáveis”.
Para os usuários mais avançados, o advogado lembra que é possível rastrear os contratos inteligentes, carteiras e transações e alerta para ” ofertas muito vantajosas em um mercado com grande apelo emocional.”
O pishing também é outro método usado por fraudadores, completa Cendão.
Vale ressaltar que muitas empresas envolvidas nas coleções NFTs ainda não tem consciência plena de como tudo isso funciona e toda essa mecânica do mercado também está sendo construída e portanto todos devem estar atentos.
“Do ponto de vista da empresa é preciso ter todo esse cuidado de criação de comunidades, canais oficiais, disclaimer e deixar todos os processos muito transparentes. Onde estão os NFTs, por exemplo”, finaliza Fábio.
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