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O que pensam os analistas sobre uma moeda única do BRICS?

5 mins
Atualizado por Aline Fernandes

EM RESUMO

  • Cúpula dos BRICS continua em Kazan na Rússia com 36 países.
  • Dilma Roussef volta a defender moeda única e Putin elogia ex-presidente brasileira.
  • Indústria, mercado e analistas repercutem sobre a criação de uma stablecoin em comum.
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A ex-presidente do Brasil Dilma Roussef defendeu, durante a cúpula do BRICS na Rússia, uma moeda local para os integrantes do grupo. Durante o encontro, Vladimir Putin, elogiou a atuação da brasileira.

Formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, este ano pela primeira vez, a Cúpula reúne os novos membros aprovados em 2023. Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos. Apenas a Argentina de Javier Milei não compareceu.

O BeInCrypto Brasil perguntou a analistas e especialistas da indústria cripto sobre a criação de uma moeda comum e a entrada de países, como o Irã.

Stablecoin poderia facilitar transações do BRICS?

Alexandre Senra, Procurador da República e coordenador do MBA em Criptoativos da Trevisan Escola de Negócios, diz que a criação de uma stablecoin para os BRICS poderia facilitar as transações comerciais entre os países membros, reduzindo assim a dependência do dólar americano.

Isso poderia resultar em transações mais rápidas e baratas, além de aumentar a autonomia financeira do bloco. No entanto, a implementação de uma stablecoin exige uma governança robusta e uma infraestrutura tecnológica segura para evitar riscos de volatilidade e ataques cibernéticos, aponta.

Além disso, Senra lembra que a aceitação internacional e a regulamentação seriam desafios a serem enfrentados. Se bem-sucedida, essa moeda digital poderia servir como um modelo para outras coalizões econômicas internacionais.

No Brasil, uma stablecoin lastreada em reais precisa garantir que cada unidade da moeda digital tenha um real correspondente depositado em uma instituição financeira e que quando algum detentor dessa moeda queira retirar da rede ele tenha confiança que tem o respectivo lastro, explica o CEO da Vórtx QR Tokenizadora, Flávio Scarpelli.

A governança dessa moeda seria complexa, pois envolveria a coordenação entre países com diferentes níveis de desenvolvimento econômico e estabilidade política. A confiança na moeda dependeria de um acordo sólido sobre como ela seria lastreada e gerida e talvez o maior desavio seria estabelecer qual seria o seu lastro, por exemplo, ouro, complementa Scarpelli.

Para que uma stablecoin seja eficaz, ela precisa ser aceita por todas as instituições financeiras dos países membros, ou seja, para que ela tenha efetividade, a moeda precisa ser também funcional no mínimo nas respectivas economias dos países participantes, o que requer um alto nível de confiança na estabilidade e segurança do lastro dessa moeda, finaliza o CEO da Vórtx QR Tokenizadora.

Operações mais baratas e menos dependência do dólar

Um dos pontos mais debatidos como vantagem de uma stablecoin do BRICS seria a redução da dependência do dólar nas transações comerciais entre os países do bloco.

No entanto, para que essa moeda seja realmente eficaz, ela precisa ser amplamente aceita não apenas para transações comerciais, mas também internamente dentro dos países membros. Caso contrário, seu valor e utilidade seriam limitados, opina o CEO da Vortx.

Já o analista da Foxbit, Beto Fernandes, acredita que pensar em uma moeda única para transações entre os vários países do bloco promete trazer muita agilidade e baratear consideravelmente os custos das operações.

Isso porque os países tendem a ter menos dores de cabeça com a flutuação cambial de suas regiões e, por ser uma criptomoeda, as movimentações financeiras podem levar apenas alguns segundos para serem consolidadas, completa.

Marcos Viriato, CEO da Parfin, acredita que  “hoje, há uma fricção significativa causada pela necessidade de converter as moedas nacionais para o dólar e, em seguida, do dólar para a moeda do país parceiro. Isso gera custos adicionais e demora no processo, prejudicando tanto importadores quanto exportadores”.

Stablecoin do BRICS e a moeda como capital político

Para Wagner Bonfiglio, CTO da Khiza, uma moeda não é apenas um instrumento financeiro, mas também de poder e influência. Para ele, o dólar é a moeda dominante no comércio global, com os EUA se esforçando para mantê-lo nessa posição. Embora o mundo se beneficie de ter uma única moeda de referência, a criação de uma stablecoin pelo BRICS enfrentaria desafios semelhantes.

Considerando que essa stablecoin seria lastreada em uma cesta de moedas, seria necessário definir qual a porcentagem de cada moeda na cesta e quais os mecanismos de estabilidade seriam escolhidos, aponta.

Se o dólar continuar sendo preferido, a nova moeda teria baixa demanda, inviabilizando sua criação, justifica Bonfiglio.

Scarpelli disse ainda que vale a pena considerar a possibilidade de os países do BRICS criarem uma moeda digital totalmente independente, que não seja gerida por nenhum governo central ou banco central, semelhante ao Bitcoin.

Essa moeda poderia ser usada para transações comerciais entre os países do bloco, criando um ecossistema descentralizado de aceitação. No entanto, mesmo essa abordagem enfrentaria desafios, como a determinação do valor econômico da moeda e sua aceitação ampla. No final, é provável que ainda haja uma necessidade de comparação com o dólar ou outras moedas fortes para estabelecer seu valor.

A idéia é viável?

Para o CEO da Parfin, a criação de uma stablecoin única para todo o bloco parece menos viável, pois sempre haveria a necessidade de conversões. Por outro lado, a utilização de stablecoins ou moedas digitais emitidas pelos próprios países (CBDCs) para liquidação direta entre si em uma rede blockchain é uma solução mais realista.

Apesar das diferentes etapas de regulamentação que cada país enfrenta, acredito que essa abordagem pode ser implementada com sucesso, como já foi demonstrado em uma simulação conduzida no ano passado no G20. Essa simulação envolveu a liquidação de transações entre o yuan, o real e a rúpia indiana, mostrando que essa integração entre as principais economias do BRICS é viável, comenta Viriato.

O Brasil, inclusive, tem um papel de liderança importante nesse movimento, uma vez que está avançado nas discussões sobre sua moeda digital, o DREX. O país pode liderar a construção de uma infraestrutura capaz de permitir que os BRICS realizem operações comerciais internacionais de forma muito mais eficiente do que ocorre atualmente, ressaltou o CEO da Parfin.

O CEO da SmartPay, Rocelo Lopes, afirma achar válida a tentativa de ter independência do dólar.

Poderia ser uma oportunidade de voltar a ter o padrão ouro. A pergunta que fica: essas nações teriam a coragem de lastrear essa moeda em ouro e teriam o conhecimento para fazer em uma blockchain?

Dilma quer moeda local; Putin apoia

Em Kazan, Dilma reforçou a vontade do grupo em substituir o dólar para as transações entre os países, por uma moeda local.

Tivemos investimentos bastante elevados, mas ainda não o suficiente para as necessidades dos países do Brics. Por isso é muito importante disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas. O Novo Banco de Desenvolvimento [NBD] tem o compromisso de viabilizar não só financiamento em projetos soberanos, mas também em projetos da iniciativa privada, afirmou Dilma Rousseff.

Dilma aliás está à frente do Banco dos Brics, o NBD, recebeu o apoio do presidente russo.

Agradecemos muito o que você fez nos últimos anos. O aumento dos pagamentos em moedas locais permite reduzir as taxas de serviço da dívida, aumentar a independência financeira dos países-membros do Brics, minimizar os riscos geopolíticos e, tanto quanto possível no mundo de hoje, libertar o desenvolvimento econômico da política, disse Putin.

Os principais temas incluem discussões sobre a redução da dependência do dólar nas transações comerciais entre os países do bloco. O Brasil assumirá a presidência do BRICS em janeiro de 2025.

A Cúpula dos BRICS termina nesta quinta-feira (24)

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Aline Fernandes
Aline Fernandes atua há 20 anos como jornalista. Especializada nas editorias de economia, agronegócio e internacional trabalha na BeINCrypto como editora do site brasileiro. Já passou por diversas redações e emissoras do país, incluindo canais setorizados como Globo News, Bloomberg News, Canal Rural, Canal do Boi, SBT, Record e Rádio Estadão/ESPM. Atuou também como correspondente internacional em Nova York e foi setorista de economia dentro do pregão da BM&F Bovespa, hoje B3...
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