O mundo das criptomoedas atrai indivíduos ambiciosos, ousados e propensos ao risco. Investidores dispostos a apostar tudo pela promessa de riqueza. Mas até onde a ambição pode ir antes de se tornar autodestrutiva?
Para algumas das figuras mais conhecidas do setor, a busca por poder terminou em escândalos judiciais. A ascensão meteórica foi seguida por quedas igualmente abruptas. A seguir, uma análise sobre a queda de três investidores considerados por muitos como “reis” das criptomoedas.
Sam Bankman-Fried
Sam Bankman-Fried, ou SBF, ganhou o apelido de “J.P. Morgan da era digital”. No auge, acumulou uma fortuna de US$ 26,5 bilhões e viveu em uma cobertura de US$ 30 milhões nas Bahamas. Hoje, cumpre pena em uma prisão federal de baixa segurança em San Pedro, Califórnia.
Nascido em 6 de março de 1992, SBF se formou em física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), com especialização em matemática. Além disso, em 2014, ingressou na Jane Street Capital, empresa de negociação quantitativa, onde atuou com arbitragem, especialmente envolvendo ETFs. Três anos depois, deixou a companhia para iniciar sua trajetória no setor cripto.
Inicialmente, comprava Bitcoin nos EUA e revendia na Ásia com lucro. Em setembro de 2017, fundou a Alameda Research com uma equipe enxuta.
Dois anos depois, em 2019, lançou a exchange FTX, que em pouco tempo se tornou uma gigante global. Em 2021, a plataforma transferiu sua sede para as Bahamas, e Bankman-Fried tornou-se bilionário.
“Às 11h30 da manhã de quinta-feira, ele é a 25ª pessoa mais rica da América e a 64ª mais rica do mundo, de acordo com a Forbes. Apenas Mark Zuckerberg, que atingiu US$ 28,5 bilhões aos 29 anos, foi mais rico nessa idade”, publicou a Forbes no dia 21 de outubro de 2021.
Porém, tudo isso desmoronou em novembro de 2022, quando a FTX declarou falência. Era estimado Estimava que US$ 8,7 bilhões em fundos de clientes estavam desaparecidos.
Além disso, a investigação revelou que a FTX usava depósitos de usuários para financiar operações de risco por meio da Alameda Research, prática que violava princípios básicos de segurança e transparência.
Em dezembro de 2022, SBF foi preso em sua cobertura nas Bahamas e extraditado para os EUA. Em janeiro de 2023, declarou-se inocente.
Condenado a 25 anos por fraudes no mercado cripto, SBF ainda busca perdão presidencial
Em 28 de março de 2024, SBF foi condenado a 25 anos de prisão por sete crimes relacionados a fraude e conspiração.
“Samuel Bankman-Fried, também conhecido como SBF, 32, de Stanford, Califórnia, foi condenado hoje a 25 anos de prisão, três anos de liberdade supervisionada e multado em US$ 11 bilhões por sua participação em diversos esquemas fraudulentos”, afirmou o Departamento de Justiça dos EUA.
Mesmo condenado, SBF ainda tenta reverter seu destino. Em 2025, iniciou apelos ao presidente Trump pedindo um perdão presidencial — movimento irônico, considerando que ele foi o segundo maior doador individual do Partido Democrata na eleição de 2020.
Até agora, os pedidos não surtiram efeito. Contudo, segundo reportagem recente da Business Insider, SBF poderá ser libertado em dezembro de 2044.
“Embora o BOP não comente sobre as condições de confinamento de presos específicos, um porta-voz informou à Business Insider que as datas de soltura são calculadas com base no ‘tempo de boa conduta’ projetado. Detentos elegíveis podem reduzir suas penas em até 54 dias por ano”, informou a publicação.
Aiden Pleterski
Aiden Pleterski, um jovem de 26 anos de Ontário, Canadá, ganhou fama ao se autointitular como o “Rei das Criptos”. Ele iniciou sua trajetória ainda no ensino médio, negociando moedas digitais em troca de vantagens em videogames.
Em 2020, Pleterski já estava imerso no setor. No ano seguinte, mudou-se para uma mansão milionária em Burlington, Ontário. Seus pais também investiram 50 mil dólares canadenses e, em troca, receberam presentes de luxo — uma demonstração do sucesso inicial de seu filho.
“O Sr. Pleterski deu aos seus pais um retorno sobre o investimento, disseram eles, além de presentes de luxo — um McLaren 60LT e BMW M8 para seu pai, uma bolsa Louis Vuitton e um casaco Burberry para sua mãe, e um Bentley Bentayga 2017 para o aniversário de casamento do casal”, informou a BBC.
O estilo de vida de Pleterski era extravagante. Seu perfil no Instagram mostrava jatos particulares, viagens internacionais e uma garagem repleta de veículos de alto padrão. Um sonho adolescente transformado em ostentação milionária — até que a realidade mudou.
Além disso, entre 2021 e 2022, Pleterski e sua empresa, AP Private Equity Ltd., supostamente levantaram 41,5 milhões de dólares canadenses (equivalente a US$ 30,5 milhões) de investidores, prometendo retornos elevados por meio de aplicações em criptomoedas e câmbio.
Contudo, os primeiros indícios de irregularidades surgiram em 2022, quando investidores ingressaram com ações judiciais alegando desvio de recursos. Em julho, o Tribunal Superior de Ontário ordenou o congelamento dos ativos de Pleterski e, em agosto, declarou a falência dele e de sua empresa.
Relatórios revelaram que ele investiu apenas 1,6% dos valores captados. Em vez disso, gastou cerca de16 milhões de dólares canadenses com carros de luxo, viagens de jatinho e uma mansão à beira de um lago.
Sequestro e acusações de fraudes cripto marcam a queda de Aiden Pleterski
A situação ficou ainda mais dramática em dezembro de 2022, quando sequestradores capturaram Pleterski e o mantiveram em cativeiro por dias. Durante esse período, eles o espancaram e torturaram. O grupo exigiu um resgate de 3 milhões de dólares canadenses ao senhorio dele.
A emissora CBC divulgou um vídeo que mostra Pleterski ferido e demonstrando arrependimento. Segundo o pai, o próprio filho prometeu dinheiro aos sequestradores, concordou em não acionar a polícia e conseguiu se libertar.
“Ele foi levado. Basicamente, o mantiveram por aproximadamente três dias, dirigindo-o por várias partes do sul de Ontário, espancando-o, torturando-o, permitindo que ele fizesse ligações específicas para pessoas específicas apenas. Eu não fui uma dessas pessoas que ele pôde contatar”, relatou o pai.
Em 14 de maio de 2024, a polícia prendeu Pleterski por suspeita de fraude. Seus pais pagaram fiança de 100 mil dólares canadenses, e ele foi libertado.
“O Sr. Pleterski foi acusado de uma contagem de fraude acima de 5 mil dólares, com base na Seção 380(1)(a) do Código Penal, e uma contagem de lavagem de produtos de crime, conforme a Seção 462.31(1)(a). As alegações estão sob uma ordem de proibição de publicação emitida em 14 de maio de 2024, nos termos do artigo 517(1) do Código Penal”, informou a Comissão de Valores Mobiliários de Ontário.
Agora, a Justiça pode condenar o autoproclamado “rei das criptos” a até 14 anos de prisão, caso comprove sua culpa.
Alex Mashinsky
Alex Mashinsky era um empreendedor em série que fundou a Celsius Network em 2017, uma plataforma focada em empréstimos e rendimentos sobre ativos digitais. Ele construiu uma imagem pública usando camisetas com frases como “Os bancos não são seus amigos” e comandando transmissões no YouTube chamadas “Pergunte qualquer coisa a Mashinsky”.
Além disso, durante a pandemia, a Celsius ganhou destaque ao oferecer empréstimos e taxas de juros elevadas para depósitos em criptoativos. Mashinsky promovia a empresa como uma alternativa aos bancos tradicionais, com foco em beneficiar os próprios usuários.
“Eu pessoalmente tenho mais de US$ 160 milhões em ativos na Celsius ao lado dos seus. Então, se você tem bitcoin, eu tenho bitcoin ao seu lado, ganhando exatamente a mesma quantidade de juros. Eu ganho 6%, você ganha 6%, certo. Então, não tratamos ninguém de forma diferente, não importa o quão grande eles sejam. E essa é realmente a beleza”, afirmou Mashinsky em entrevista exclusiva ao BeInCrypto.
Em março de 2021, a Celsius já administrava mais de US$ 10 bilhões em ativos digitais. No entanto, a trajetória de crescimento foi interrompida em 2022. Em abril daquele ano, a empresa anunciou que passaria a manter os ativos de investidores não credenciados sob custódia, suspendendo novos depósitos e recompensas.
O cenário piorou com o colapso do ecossistema Terra Luna, que gerou uma onda de liquidações no mercado e intensificou a crise no setor.
Como Mashinsky passou de CEO da Celsius a réu por fraude nos EUA
Em setembro, Mashinsky renunciou ao cargo de CEO da Celsius. Documentos financeiros apresentados posteriormente pela empresa revelaram que ele havia retirado US$ 10 milhões da plataforma em maio de 2022, pouco antes da crise.
No entanto, Mashinsky passou a enfrentar uma série de acusações por parte de autoridades dos Estados Unidos, incluindo o Departamento de Justiça (DOJ), a Comissão de Valores Mobiliários (SEC), a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) e a Procuradoria-Geral do Estado de Nova York, liderada por Letitia James.
Em julho de 2023, as autoridades indiciaram Mashinsky por sete acusações relacionadas a fraude, conspiração e manipulação de mercado. Após a prisão, ele assumiu a culpa por duas dessas acusações em dezembro de 2024.
Além disso, em 8 de maio de 2025, o tribunal o condenou a 12 anos de prisão e ordenou a devolução de US$ 48,39 milhões como parte da penalidade.
“Alexander Mashinsky mirou investidores de varejo com promessas de que manteria seus ‘ativos digitais’ mais seguros do que um banco, quando na verdade usou esses ativos para fazer apostas arriscadas e encher os próprios bolsos. No final, Mashinsky ganhou dezenas de milhões de US$ enquanto seus clientes perderam bilhões. Os investidores americanos merecem mais,” afirmou o procurador dos EUA Jay Clayton.
Essas histórias ilustram a natureza ambígua do mercado cripto. Com quedas drásticas, os chamados reis das criptos demonstram que, na corrida pela riqueza, a ruína pode ser tão veloz quanto o sucesso.
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