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Projeto usa Web3 para preservar florestas e criar oportunidades na Amazônia

6 mins
Atualizado por Aline Fernandes

EM RESUMO

  • Conheça a história do Nossas Terras Firmes, projeto que usa blockchain para preservar florestas e ensinar web3 para povos indígenas.
  • Conversamos com socióloga Iara Vicente, nascida no coração da Amazônia e responsável pela iniciativa.
  • Reserva da Nossas Terras Firmes tem pinturas rupestres de mais de 11 mil anos.
  • promo

Com o lema “Todas as florestas importam”, o projeto Nossas Terras Firmes (NTF) está usando a blockchain para preservar florestas, além de ensinar tecnologias Web3 aos povos indígenas e públicos excluídos.

Toda e qualquer área privada a partir de 1 hectare pode ser elegível para participar do programa, em qualquer lugar do mundo.

Reservas florestais decentralizadas e preservadas

O projeto Nossas Terras Firmes trabalha na criação de um ecossistema inovador de conservação ambiental no Brasil, combinando tecnologias como a blockchain com a proteção de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). A iniciativa envolve a tokenização dessas áreas, permitindo o reconhecimento digital de serviços ecossistêmicos.

Nossas Terras Firmes: como tudo começou

O BeInCrypto Brasil conversou com Iara Vicente, nascida no coração da Amazônia, no estado do Acre, onde cresceu “profundamente conectada com a realidade socioambiental da região.” A socióloga, formada pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Administração Pública em Ciência e Política Ambiental pela Columbia University, é a responsável pelo NTF.

Iara Vicente, criadora Nossas Terras Firmes

Iara iniciou a carreira como pesquisadora no Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Além disso, foi a primeira socióloga em uma equipe predominantemente composta por engenheiros e técnicos ambientais.

Contribuí para traçar estratégias de uso sustentável da terra para a região da Calha Norte do Rio Amazonas, uma das maiores extensões contínuas de floresta tropical do mundo, abrangendo mais de 22 milhões de hectares, revela.

A experiência permitiu que Iara trabalhasse de perto com comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, “aprendendo com suas realidades e me desafiando a integrar suas vozes em políticas transformadoras”.

Iara, aliás, também contribuiu para elaboração de políticas públicas do Pará, onde desenvolveu, em parceria com o IdeflorBio, os subsídios técnicos que culminaram no Programa de Agentes Ambientais Comunitários (PAAC-PA).

Esse projeto inovador de co-gerenciamento de unidades de conservação continua a impactar a região, e foi um marco para mim. Esta experiência me motivou a fundar minha própria empresa, a Nossa Terra Firme Consultoria, para expandir minha atuação em várias frentes e contribuir para a formação de novos profissionais do campo ambiental no Brasil e no Sul Global, comenta Iara.

Após três anos à frente da Nossa Terra Firme e o término do mestrado, a sociológa foi indicada pela Columbia University para participar do UNLEASH Innovation Lab, na Dinamarca. Aliás, ela foi uma das 1.000 profissionais selecionadas globalmente para acelerar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Essa experiência expandiu minha visão e, com isso, ampliamos os serviços da consultoria para o Sul Global, com projetos no Haiti, Nigéria e diversas regiões da África. Ao mesmo tempo, fortalecemos nossa atuação no Brasil, fomentando negócios indígenas e em bioeconomia, tendo a pesquisa aplicada como a pedra fundamental de toda a nossa atuação.

Após conhecer a blockchain, a gestora começou a explorar o enorme potencial da tecnologia para escalar a abordagem de impacto socioambiental corporativo e público.

Foi assim que surgiu a frente de blockchain na empresa, onde desenvolvemos soluções disruptivas como a Okan Impact Reporting, a primeira solução do mercado para a realização de relatórios ESG diretamente na blockchain. Além disso, criamos o projeto Nossas Terras Firmes, de criação de reservas voluntárias da natureza, trazendo inovação para a conservação ambiental no Brasil, complementa.

NFT representa área preservada

Todas as áreas que se tornarem reservas “nossas terras firmes”, serão representadas pela NFT “NTF – Nossas Terras Firmes”.  O token garante funcionalidades, como, por exemplo, a captação de recursos em cripto para estruturar, acima de tudo, novos negócios sustentáveis.

Nossa abordagem é única: unimos saberes tradicionais da Amazônia com a tecnologia de dados mais avançada do mundo, comenta Vicente.

Preservação de patrimônio arqueológico na Amazônia

Ao contrário de muitos projetos do ambiente tech, a NTF já tem a primeira reserva tokenizada. Ela está em Monte Alegre, no Pará, e é a primeira área privada no país destinada a preservar patrimônio arqueológico na Amazônia.

Localizada em um ambiente sob forte pressão de soja e pecuária, a primeira Reserva Voluntária Nossas Terras Firmes preserva atualmente 17 sítios arqueológicos na região, detalha Iara.

Em pelo menos cinco sítios arqueológicos foram encontradas pinturas rupestres com aproximadamente 11 mil anos de existência.  Dados o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) mostram mais de 37 mil sítios arqueológicos do Brasil. Muitos correndo o risco de desaparecerem devido à aceleração das recentes queimadas no Amazonas e em todo país.

arte rupestre em sítio arqueológio Nossas Terras Firmes
pinturas rupestres de área preservada em Monte Alegre do Projeto Nossas Terras Firmes

Com a blockchain Okan, a socióloga simplifica o processo de divulgação de dados, aumentando a transparência e principalmente a confiabilidade das informações socioambientais das empresas. Além disso, promove um impacto positivo ao dar visibilidade às questões relevantes em relação às boas práticas de governança, questões ambientais e sociais.

Os próximos passos da reserva em Monte Alegre incluem, por exemplo, conectar a preservação ambiental com mecanismos de financiamento descentralizados.

Nossas Terras Firmes quer rede de proteção voluntária para florestas

Além disso, entre os objetivos do Terras Firmes está o de criar uma rede de proteção voluntária nas florestas do país.

Queremos trabalhar promovendo o adicional de conservação, ou seja, a conservação e proteção de áreas de floresta, mangue, cerrado e outros biomas originais que não esteja coberta pelos mecanismos de proteção previstos em lei (Unidades de Conservação, Reservas Legais ou Áreas de Proteção Permanente).

As áreas citadas por Vicente são locais onde ainda se permitem desmatamentos “legais”. A ideia é que os donos desses terrenos assumam um compromisso voluntário de preservá-las.

São as florestas que atuam como refúgios para inúmeras espécies de fauna e flora, muitas delas endêmicas ou ameaçadas de extinção. Essas áreas também atuam como corredores ecológicos, conectando habitats maiores e permitindo a migração e dispersão de espécies, o que é essencial para a troca genética e resiliência populacional.

Além disso, pequenas florestas contribuem para a regulação climática local, a retenção de água no solo, e oferecem serviços ecossistêmicos, como a polinização e o controle de pragas agrícolas.

Segundo Iara, mesmo em áreas urbanas, a presença de fragmentos de floresta ajuda a mitigar os efeitos das ilhas de calor e a melhorar a qualidade do ar, beneficiando tanto a natureza quanto as populações humanas que vivem próximas.

Projeto faz ponte para contratação de indígenas

Outra faceta do projeto é fomentar a Web3 provendo soluções ESG para grandes empresas do setor. Aliás, foi assim que o NTF participou da primeira contratação de uma programadora indígena no Brasil.

Amanda Puyanawa Costa começou a entender sobre cripto em 2022 e foi a primeira programadora indígena contratada por uma big tech. À  época ela se formou no programa CriptoDev, enquanto estudava entre sua aldeia e a cidade de Rio Branco, no Acre. Formada como programadora em Ethereum, a jovem trabalhou no Mercado Bitcoin por dois anos.

Amanda Puyanawa - aluna Nossas Terras Firmes
Amanda Puyanawa, programadora indígena.

Puyanawa revelou ao BeInCrypto que, quando foi convidada por Iara para participar do programa, achou que era um trote.

Hoje estou trabalhando e tentando criar um sistema para otimizar e dar mais segurança no setor da agroindústria local, conta Puyanawa.

A programadora também revela que, antes de participar do Programa Crypto Dev, era uma jovem sem perspectiva. Hoje, “super recomenda que as pessoas conheçam a web3 e as novas tecnologias”.

O programa afirmativo CriptoDev, apesar de ser um piloto bem-sucedido que inspirou outras iniciativas no ecossistema, não está mais ativo. A gestora do NTF lembra que um dos desafios de manter o público indígena estudando é a falta de iniciativas para povos indígenas.

meet up da Polygon com alunos indígenas e parceria Terras Firmes

Inclusão também é prioridade da NTF

Além de indígenas, a NTF quer garantir acesso e ferramentas de Web3 às populações negras, povos de terreiro, periferias, mulheres e população LGBTIAQPN+.

E é assim que começamos a contribuir com esta agenda no setor cripto, explica Iara.

Camadas ainda não exploradas entre ReFi e mundo cripto

Além disso, o projeto tem o objetivo de captar recursos por meio de criptoativos para apoiar pequenos negócios sustentáveis em áreas vulneráveis. Esses criptoativos serão emitidos em parceria com Organizações autônomas descentralizadas (DAOs), comunidades, exchanges e empresas da indústria cripto. Isso permite que essas entidades contribuam para a preservação ambiental.

Buscamos ampliar iniciativas ReFi ao unir investimentos cripto tradicionais com estratégias de conservação. A empresa Nossas Terras Firmes atuará conectando áreas com potencial de conservação, como ecoturismo e créditos de carbono, a empresas especializadas em ReFi ou DeFi, visando lançar ativos e gerar recursos para fortalecer a economia local, conclui Iara Vicente.

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Aline Fernandes
Aline Fernandes atua há 20 anos como jornalista. Especializada nas editorias de economia, agronegócio e internacional trabalha na BeINCrypto como editora do site brasileiro. Já passou por diversas redações e emissoras do país, incluindo canais setorizados como Globo News, Bloomberg News, Canal Rural, Canal do Boi, SBT, Record e Rádio Estadão/ESPM. Atuou também como correspondente internacional em Nova York e foi setorista de economia dentro do pregão da BM&F Bovespa, hoje B3...
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