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Pix sob vigilância: como o Banco Central fortalece a segurança sem frear a inovação?

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Escrito por
Filipe Pena

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Editado por
Lucas Espindola

23 outubro 2025 15:24 BRT
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  • Pix completa cinco anos com foco em segurança após registrar R$ 4,9 bilhões em fraudes em 2024.
  • Novas resoluções ampliam punições e introduzem machine learning para detectar golpes em tempo real.
  • BC implementa auditorias e regras mais rígidas para PSTIs, reforçando a governança do sistema.
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Prestes a completar cinco anos, o Pix entra em uma nova fase – não mais de expansão, mas de blindagem. O sistema, que movimentou R$ 26,4 trilhões em 2024 e já conta com mais de 150 milhões de usuários, consolidou o Brasil como referência global em pagamentos instantâneos. O modelo inspirou o FedNow nos Estados Unidos e o UPI na Índia, mas agora o desafio brasileiro é outro: proteger um ecossistema que se tornou vital para a economia e, justamente por isso, um alvo mais valioso para o crime digital.

Se a movimentação é grande, os prejuízos por fraude também impressionam: no último ano, o Banco Central registrou R$ 4,9 bilhões em perdas decorrentes de transações fraudulentas via Pix, um aumento de quase 70% em relação a 2023. As notificações de fraude ultrapassaram 390 mil por mês – o equivalente a quase 10 golpes por minuto. Diante desse cenário, a autarquia passou a adotar uma postura mais dura e técnica: as Resoluções nº 506 e 507, publicadas em setembro de 2025, ampliaram penalidades, definiram multas de até R$ 200 mil por descumprimento de normas de segurança e autorizaram a exclusão automática de instituições que não mantenham o patrimônio mínimo exigido de R$ 5 milhões. Isso tudo para reforçar a governança do sistema e garantir que a expansão do Pix venha acompanhada de padrões mais altos de segurança e confiabilidade.

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Entre as novidades, o bloqueio cautelar agora vale também para contas de pessoa jurídica, e a marcação de fraude passou a abranger todas as contas vinculadas ao usuário envolvido, não apenas a conta usada na fraude como antes. O BC também apresentou um novo modelo de prevenção preditiva, com uso de machine learning para identificar padrões de golpe em tempo real. Trata-se de uma mudança de paradigma: o Pix deixa de reagir às fraudes para tentar evitá-las antes que aconteçam.

Essa nova camada de proteção se soma à evolução do sistema. A partir de dezembro de 2025, os usuários poderão usar o Pix por aproximação (NFC); a regulamentação final do Pix Parcelado e da cobrança híbrida (que combina boleto e QR Code) será publicada até o fim do ano. Em 2026, entram em vigor o MED 2.0 (mecanismo de devolução ampliado) e novos projetos – como o Pix em garantia, o split de pagamentos e o alerta de golpe para usuários, além de um selo de verificação de chaves Pix.

Enquanto o sistema amadurece, a reguladora reforça a governança e aprimora a supervisão sobre o papel dos PSTIs (Prestadores de Serviços de Tecnologia da Informação) – responsáveis por conectar fintechs e instituições menores à infraestrutura do meio de pagamento. Depois dos ataques cibernéticos recentes, que causaram prejuízos milionários, a entidade ampliou as exigências de cibersegurança e tornou as auditorias periódicas obrigatórias para os nove provedores ativos no país. O recado é claro: o risco sistêmico precisa ser mitigado na origem.

Fato é que o Pix, que nasceu como símbolo de conveniência e inclusão, agora se transforma em um laboratório de resiliência digital. O Brasil continua na vanguarda mundial dos pagamentos instantâneos, mas com um diferencial: avança em inteligência regulatória, criando um modelo que alia inovação à segurança, e que pode, novamente, servir de referência para o mundo.

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