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Orkut Büyükkökten: “Blockchain e NFTs precisam melhorar a sociedade como um todo”

7 mins
Atualizado por Chris Goldenbaum

EM RESUMO

  • Redes sociais não são otimizadas para fazer pessoas felizes, diz criador do Orkut.
  • Para ele, tecnologias como o blockchain precisam melhorar a sociedade como um todo.
  • Tecnologia está deixando as pessoas mais solitárias.
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Orkut Büyükkökten é um nome muito conhecido no Brasil. Engenheiro de software, o turco ficou famoso no país por ser o criador da rede social que leva seu nome, em 2004.

Na época, Orkut trabalhava no Google e foi, certamente, um dos pioneiros nessa área que, sem dúvidas, chegou para ficar e, até hoje, influencia a forma como interagimos com o mundo.

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Após o encerramento do Orkut, seu criador deixou o Google, mas continuou trabalhando na área e lançou uma nova rede, chamada Hello!, anos depois.

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Nesta conversa com o BeInCrypto, Orkut fala sobre o impacto das redes sociais, a necessidade de regulamentação e as mudanças que novas tecnologias como web3 e blockchain podem trazer para a indústria.

Orkut
Foto: Reprodução/Instagram

Origem e evolução das redes sociais

  • Você é uma das pessoas responsáveis pela popularização do conceito de redes sociais e tem acompanhado sua evolução desde então. O que você aprendeu nessa jornada que queria ter sabido desde o princípio?

Quando o Orkut.com foi lançado, nós tínhamos apenas um único servidor e não esperávamos atingir um milhão de usuários simultâneos. Assim que o lançamento foi feito, nós tivemos tantos problemas com o escalamento que tivemos que limitar o uso do sistema.

Nós demoramos cerca de um ano até termos a capacidade de operar com 10 milhões de pessoas. Se eu pudesse voltar para aquela época, eu teria esperado mais antes do lançamento para garantir que o produto era escalável.

Eu também teria feito o aplicativo móvel antes, uma vez que os dados demográficos mostravam que a internet como um todo estava migrando para o consumo de mídia através de smart phones.

Hoje é mais fácil de fazer escalas maciças porque você tem serviços como o KWS e o Google Cloud que podem suportar milhões de usuários instantâneos sem que você se preocupe com os detalhes técnicos.

  • Você acompanhou o crescimento da indústria de redes sociais desde o início. Com o tempo, o modelo de negócios dela mudou e ficou mais comercial ao ponto de elas aceitarem a publicação de conteúdos impróprios apenas porque se beneficiam disso. Como você vê essas mudanças?

Marcas e empresas se encaixam perfeitamente nas redes sociais e no nosso estilo de vida porque são coisas sobre as quais nós temos sentimentos fortes. Sua paixão pode ser o Google Pixel Phone ou uma série no Netflix ou um tênis novo. Nós gostamos de conversar sobre as coisas que gostamos e é isso que leva à criação de comunidades fortes.

É irônico, mas ninguém se lembra dos anúncios que existiam nas comunidades do Orkut, mas eles eram benéficos para o consumidor. Eles eram colocados em um contexto que fazia com que a experiência fosse melhor.

Hoje, as redes sociais são muito gananciosas e forçam publicidade sem pensar na experiência do usuário. O resultado é que você vê muitos anúncios onde eles não são relevantes para o que você está procurando.

Outro problema que ocorre com redes sociais é que existe muito conteúdo falso ou tóxico a que você é exposto porque as pessoas têm seus próprios objetivos, certo? Um exemplo é como as redes estão afetando a esfera política, como em campanhas e eleições.

Isto é extremamente malicioso e as empresas não estão fazendo nada sobre isso. É um problema que elas sabem que existe, mas o engajamento que isto gera é benéfico para elas.

Um exemplo são os Estados Unidos, onde apenas 14% das pessoas são ativistas políticas, mas 70% da população compartilha notícias sobre política. Isso acontece porque nós gostamos de compartilhar as coisas que nós gostamos online, mas quando fazemos isso com algo falso ou tóxico, nós criamos uma comunidade pior.

Hoje, os feeds se alimentam do conteúdo que você vê. Tudo é otimizado para engajamento e viralização e isso faz com que as redes sociais possam ser usadas como armas e isso está causando esta toxicidade toda junto com informações erradas.

  • A evolução da internet e das redes sociais permitiu que muitas pessoas com gostos semelhantes se aproximassem e formassem comunidades. O lado negativo disso é que isto também vale para o discurso extremista. Como impedir que essas ideias se disseminem sem prejudicar a liberdade do usuário comum?

As redes sociais têm a vantagem de usar tecnologias fortes graças a algoritmos, como machine learning e inteligência artificial. Quando você cria algoritmos, você os otimiza para alguma coisa.

Tudo depende de para o que você otimizou seu algoritmo e hoje em dia eles não são feitos para fazer as pessoas felizes, para aproximas pessoas. E, já que ele não é otimizado para o motivo certo, nós estamos vendo todos esses problemas inerentes de redes sociais.

Coisas como felicidade ou proximidade são coisas que nós podemos mensurar quantitativamente porque, quando duas pessoas se conhecem online, se elas forem estranhas e a conversa for significativa, ela vai durar por semanas. E você sabe que isso é uma experiência positiva.

Portanto você pode também medir a felicidade pela forma como pessoas conversam e reagem à conversa.

As redes sociais precisam organizar suas prioridades, precisam ter em mente as intenções corretas. Nós precisamos criar software que realmente faça as pessoas felizes e as aproximem.

Mídias sociais sempre darão lucro desde que continuem a ter usuários, mas não há motivo para ser ganancioso.

As empresas de redes sociais são extremamente gananciosas e isso está ferindo [a indústria]. A base de usuários, hoje, está tendo uma crise mental intensa. Redes sociais estão causando ansiedade, depressão, isolamento, solidão, tristeza e levam ao suicídio. Mas nós podemos mudar isso.

Nós podemos mudar o impacto negativo para positivo só por adotar o tipo correto de design e de tecnologia.

  • Há conversas no Brasil e outras partes do mundo sobre a regulamentação de redes sociais e formas de fazer com que elas sejam mais responsáveis pelo conteúdo dos usuários. Como você vê essa ideia?

A ideia original era fazer com que as comunidades se auto-moderassem, e isso faz com que sempre haja moderadores no topo, mas também é necessário que haja alguém da empresa que faça a decisão final, em casos, por exemplo, da proliferação de discurso de ódio.

Há casos que são definitivamente errados, por exemplo, nós não deveríamos ter discursos proliferando temas como tráfico humano ou crueldade animal. Mas há discussões aceitáveis, que se encaixam nos limites da liberdade de expressão.

Usando a tecnologia e algoritmos, nós podemos fazer a filtragem das coisas mais fácil, mesmo com a quantidade maciça de conteúdo gerado. Nós podemos analisar e descobrir que tipo de conteúdo nós realmente queremos moderar.

Blockchain e web3 podem mudar a internet?

  • Tecnologias novas como blockchain surgiram desde que a internet migrou para a era das redes sociais. A migração para a web3 criou oportunidades, inclusive em termos tecnológicos. Como você vê essas mudanças?

Nós precisamos ver as aplicações dessas tecnologias na vida real. Um exemplo é a indústria blockchain, em que as pessoas não sabem explicar o que blockchain é em termos simples, o que causa problemas para temas como criptomoedas e Bitcoin.

Algumas pessoas argumentam que criptomoedas são melhores que moedas e títulos emitidos por governos, mas o fato de o governo emitir a moeda é o motivo pelo qual você pode confiar nela.

É por isso que temos países e regulamentação. Algumas coisas não funcionam só porque você descentraliza. Um exemplo são as criptomoedas.

Se você tivesse comprado ações da Apple ou Microsoft 20 anos atrás, você teria ganho muito dinheiro. A mesma coisa acontece com o Bitcoin: quem investiu cedo ganhou dinheiro mas o mesmo não está acontecendo com o resto da sociedade.

Eu conheci um barman que queria fazer dinheiro fácil, então ele pegou dinheiro emprestado no banco e investiu em criptomoedas. Só que o mercado neste ano foi volátil e ele perdeu todas as suas economias e o dinheiro que investiu.

Muitas famílias foram destruídas e muitas pessoas cometeram suicídio por causa de estresse financeiro não só nesse mercado.

  • Tecnologias derivadas do blockchain, como NFTs, foram desenvolvidas para dar mais liberdade aos indivíduos, mas nós vemos baleias de criptomoedas e grandes empresas inflando preços e criando um mercado falso. Isso faz com que a indústria não seja vista com bons olhos, por mais que isso não seja culpa da tecnologia. Como você vê isso?

Eu concordo, é um problema que envolve pessoas e não tecnologia. O que ocorre na indústria cripto é que o conhecimento é limitado a um número pequeno de pessoas e a maior parte do público não pesquisa o suficiente.

No final, apenas um pequeno grupo de pessoas está ficando mais rica e se beneficiando disso.

Na teoria, a tecnologia é ótima, mas, é possível confiar nas pessoas, uma vez que elas são muito gananciosas? Basta ver as redes sociais, que foram criadas para conectar o mundo, melhorar a sociedade e olhe o que elas estão fazendo agora!

Elas estão nos fazendo mais solitários, tristes e com vários problemas de saúde mental.

É complicado porque a intenção das redes sociais é como as pessoas otimizam e criam os algoritmos que as abastecem.

Eu fiz uma palestra na Campus Party e uma das mensagens que eu dei foi Carpe Diem, ou seja, aproveite o momento. É importante lembrar que temos que otimizar para a felicidade, pois a vida é curta e nós vivemos em uma sociedade que nos pressiona a conseguir um emprego melhor, uma casa maior, um carro de luxo, mas que não está nos fazendo mais felizes.

A felicidade vem de comunidades e é por isso que o Orkut melhorou a sociedade. As pessoas estão se sentindo menos solitárias e mais conectadas porque estão tendo conversas mais significativas sobre as coisas que amam.

Eu acredito que tecnologias como blockchain, cripto e NFTs precisam melhorar a sociedade como um todo, não apenas 1% dela. É preciso ter as intenções corretas em mente.

Sociedade está ficando solitária

  • Como será a evolução das redes sociais no futuro?

Eu acho que, em geral, a sociedade está um pouco cansada das redes sociais, porque elas só estão adicionando estresse e não fazendo as pessoas mais felizes. Estamos ficando mais solitários como sociedade.

As redes sociais estão aqui para ficar, então precisamos fazer com que elas tenham um impacto positivo, especialmente nas coisas que eles tenham algo comum de verdade.

É interessante ver como as tendências atuais – como o TikTok – estão progredindo. Mas elas servem a um propósito diferentes, são plataformas de entretenimento.

Basicamente, você está assistindo a vídeos curtos, mas não está se comunicando com pessoas e não está fazendo amigos. Nós precisamos das duas coisas na vida.

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Júlia V. Kurtz
Editora-chefe do BeInCrypto Brasil. Jornalista de dados com formação pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia pela Globo e, agora, está se aventurando pelo mundo cripto. Tem passagens na Gazeta do Povo e no Portal UOL.
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