Durante palestra no Web Summit Rio 2025, Márcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina, destacou que a Inteligência Artificial (IA) deve ser vista como uma técnica em constante evolução. E não como um produto finalizado.
Aguiar explicou que a IA começou com o reconhecimento e a classificação de imagens, passou pelo reconhecimento de voz e tradução de textos, e recentemente evoluiu para a IA generativa, capaz de converter texto em imagens, áudio e outros formatos.
IA e a nova era
O executivo mencionou que a IA generativa, apresentada ao público com a plataforma ChatGPT da OpenAI, trouxe um grande avanço no uso de GPUs. Especialmente a partir de 2022, quando houve um aumento significativo na demanda por essas tecnologias, atendendo à emergência de soluções em agentes de IA.
Aguiar também mencionou que estamos na era de uma IA capaz de raciocinar e realizar tarefas de forma mais eficiente que sistemas anteriores, e que o futuro próximo levará a IA para o campo físico, com robôs desempenhando funções repetitivas, melhorando a eficiência em diversas tarefas humanas.
O BeInCrypto Brasil conversou com Márcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina.
Nvidia testa IA há uma década
Como a Nvidia está olhando para indústria de mineração cripto no Brasil e América Latina?
Márcio Aguiar: Os nossos processadores, a GPUs, têm sido uma ferramenta bastante útil nessa questão de processar grandes volumes de dados, e a mineração de cripto entra nesse conceito.
Não temos 100% focado para essa indústria, porque hoje a gente fala de inteligência artificial, acaba que abrange vários mercados, mas a gente sabe que essa parte de trading, de cálculos matemáticos, requer muito poder computacional e através da computação paralelizada que nós apresentamos ao mercado, acabou sendo uma ferramenta ainda assim muito utilizada para o mercado de cripto.
Como que a inteligência artificial está moldando o futuro da Nvidia? Como vocês estão adotando hoje, seja na gestão, otimização ou em outras áreas?
Tudo o que oferecemos ao mercado, em termos de softwares, desenvolvemos antes em testes internos interno durante 03, 04 anos. E a gente já usa isso há muito tempo.
Quanto tempo?
Márcio Aguiar: Desde 2015, mais ou menos. E internamente temos vários processos, ou seja, uma década entrando aí – vários processos de IA no nosso dia a dia. São modelos de linguagem, de treinamento de voz, de conhecimento de voz, de texto. Por exemplo, nós éramos incentivados a pegar qualquer livro, qualquer revista e ler em tons diferentes, em distâncias diferentes, para ir treinando a própria rede neural da NVIDIA.
Então quando levamos qualquer solução que vai ser usada pelos nossos clientes para o mercado, é porque nós já testamos aquilo por, no mínimo, uns 5 anos. E porque queremos entregar também um data set muito bem treinado, validado para quando chegar na proposta de acelerar o desenvolvimento do produto do cliente, ele realmente vai acelerar.
Assim, não existe nada que é colocado em versão beta. Aquela primeira versão que a gente lança, já foi treinada e no mínimo testada, internamente e exaustivamente.
Então, hoje, mais do que nunca, tudo que está no mercado através dessas empresas parceiras nossas, nós já tivemos o privilégio de ser os primeiros. Obviamente, também houveram resistências internas. Muita gente não se adaptou.
Pensar fora da caixa
Internamente, como é o processo?
Márcio Aguiar: É muito normal. O ser humano tem hábitos. Se você tem já uma afinidade com certos produtos computacionais você se sente confortável com aquilo.
Então, assim, o que eu sugiro, e eu gosto também de fazer, é você sempre estar testando algo novo que vai te fazer pensar um pouquinho fora da caixa.
Eu acho que o uso e adoção de IA nas empresas, ela não é só feita naquele modismo. Precisa ser muito bem implementada, tem que ser muito bem discutida entre a gestão e essa gestão não é uma só pessoa que deveria tomar essa decisão.
Deveria ser um grupo de pessoas com muita experiência que vai, de maneira muito gradual, estar automatizando certos processos. Ou seja, existe ainda um mito muito grande que é da IA ser muito complexa. Não é simples, mas não é essa complexidade toda.
Isso por que as pessoas pensam muito grande, que é ok, e querem começar muito grande. E não se começa muito grande. Começa pouco a pouco.
É por isso que hoje, ao longo desses 15 anos de grupo Enterprise que a gente gerencia, você tem vários frameworks, que são as aplicações, os modelos já pré-treinados para que os nossos clientes coloquem as suas informações específicas, porque ninguém, mais do que nunca, sabe qual é a necessidade deles.
Sobre o uso de IA generativa, Aguiar disse que atualmente se discute o uso da IA de uma maneira muito geral e é preciso fazer um ajuste final para que o resultado seja relevante de fato para o negócio de quem está interagindo com a IA.
E como a Nvidia vê hoje o futuro da IA generativa, uma vez que a empresa há uma década já estava olhando para esse mercado?
Márcio Aguiar: Então, o futuro, na verdade, eu diria, até uma brincadeira, o futuro é o presente. Porque a tendência é que cada vez que passa mais um ano, mais informação é gerada, assim mais informações são inseridas dentro daquela rede neural, e a tendência é que a resposta seja muito mais assertiva, muito mais próxima da resposta, vamos dizer assim, de um ser humano.
Então, quando a gente entra hoje, já tendo o Avatar, um personagem digitalizado, mas que tem o poder de conversar, de raciocinar, não é à toa… tem muitas horas de treinamento, muitas horas de validação, muitas horas de aprendizado. Então, o treinamento é uma coisa, é você usar dados que você já tem. É quando eu falo assim, agora eu vou validar esse resultado.
E o outro é aprendizado, eu estou aprendendo sempre coisas novas. Eu tenho que trazer para dentro daquilo que eu já tenho. Então, isso é contínuo.
A jornada da IA e além
Márcio Aguiar: O que eu falo para as empresas: embarcar na jornada de IA não é chegar e fazer um investimento e acabou. É você ir evoluindo de acordo com a necessidade do seu negócio e obviamente de acordo com novas ideias que vão surgindo. Então, assim, hoje a gente, toda hora eu falo isso, porque é fato.
Tudo que a gente faz hoje como ser humano, você já aprendeu, mas não quer dizer que você não esteja aprendendo durante aquele momento que você está fazendo isso. Então, não muda em nada. É simplesmente você ter agora, um auxiliar 24 horas por dia que vai te educar ou vai te dar uma orientação, ferramentas em coisas que você talvez, esqueceu.
A IA pode organizar sua agenda de reunião, criar alertas para que você não se atrase, por exemplo. Olha a velocidade que você poderia obter uma resposta, porque o computador vai rapidamente checar aquele período que você especificou e ele vai te dizer, sim, você tem 15 minutos disponível nesse horário.
Quer que eu marque uma reunião? Sim, por favor. Não é muito mais efetivo do que você parar, ir para cima e para baixo com o seu celular e tentar encontrar um horário? reflete Aguiar.
Traders de IA podem impulsionar demanda
Sobre agentes de IA traders, você acredita que a ferramenta pode acabar com o mercado de desenvolvedores?
Márcio Aguiar: Não, porque você vai ter e irão surgir novas variáveis, que vão precisar de mais gente com conhecimento e muito provável, essa empresa que está 100%, vamos dizer assim, baseada em IA, vai tender a ter bons resultados e consequentemente querer contratar mais gente.
Por que ela vai parar de crescer se ela está tendo bons resultados? Esse é um outro mito que as pessoas pensam.
A empresa que adotar IA, vai reduzir colaboradores? Não, ela vai contratar mais gente com conhecimento em áreas tão específicas que vai aplicar esse conhecimento nas redes neurais que ela tem. E por que ela vai demitir se ela está fazendo muito dinheiro?
Evolução tech e IA
Então, nesses seus últimos 15 anos, de NVIDIA, quais foram as grandes evoluções techs que você viveu?
Márcio Aguiar: Até bem antes de chegar na inteligência artificial. Na época, a gente falava muito em computação gráfica 3D. O uso de processadores para assessorar softwares de desenho, softwares de simulação, que seriam os auto-cades. Então, os engenheiros, arquitetos, antes faziam o seu desenho. Você vê a evolução dessa profissão. Muito antigamente, era num papel grande, com régua, com lápis. A pessoa tinha que saber desenhar.
Depois vieram os softwares de suporte ao desenho. Isso que é o CAD, que é o Computer Aided Design. Ou seja, está ajudando-o a desenhar. Então, ele não precisava mais saber desenhar uma roda. Ele podia chegar, colocar as especificações, e sairia uma roda, o desenho de uma roda.
Assim você começou a desenhar. Depois você via aquilo só em 2D, numa planta baixa. Através do uso de ferramentas de programação, aceleração gráfica, foi permitido começar a criar cenários mais 3D, com materiais, cores e simulação de iluminação.
E, obviamente, hoje, e até então, nessa época, ele tinha ainda que programar, que digitar. Hoje, por exemplo, um arquiteto pode usar a IA para auxiliar. Ele vai falar: olha, eu tenho um espaço de nove metros por cinco. Gostaria de colocar duas mesas de cabeceira, uma cama, uma gaveteiro no diâmetro e desse espaço.
Como é que ficaria esse ambiente para mim? Me mostra com uma janela do lado esquerdo, a porta do banheiro do lado direito. Aí o computador, rapidinho, pergunta: gostou dessa orientação? Ou, olha essa outra. Ou seja, auxilia muito mais no projeto.
Mas, no final, quem tem que validar é o arquiteto, que é o profissional encarregado e humano. Então, gente tem visto isso. Nós, até mesmo como empresa, temos todos os recursos, as ferramentas computacionais para os funcionários. E cada vez mais conseguimos atrair mais gente.
Acho que as empresas que realmente optarem por não terem essa, vamos dizer assim, sendo bem honestas, a coragem de inovar, podem ficar para trás.
O novo dá medo, não é, Márcio?
Sim. E as pessoas, por mais que elas sejam uma empresa muito forte, por exemplo, na fabricação de camisa, e se ela tiver uma ferramenta de IA que vai ajudá-los a desenhar novos modelos. Por que não fazer um modelo assim? Por que uma estampa, por exemplo, de uma camisa, tem que ser só na frente ou atrás? Porque eu não posso colocar na lateral? Como que ficaria ao lado? O computador vai brincar, seria a mesma, – vamos dizer assim, entre aspas – a brincadeira que a gente vê hoje na área de saúde.
Os médicos, os farmacêuticos também, conseguem fazer simulações e dosagens de remédio sem ter que usar um animal, sem ter que usar um paciente, e ver qual seria a reação. Por quê? Ele já tem conhecimento. Se aplicar uma dosagem maior em um paciente com uma estatura y, com um peso X, isso vai, por estudo, ter esse tipo de reação.
Ou seja, a IA consegue, através de recursos computacionais, de visualização 3D, recriar esse ambiente sem causar nenhum mal para aquele paciente ou para um animal, hoje ainda usamos muitas cobaias. Vamos aqui estudar essa alteração genética. O que isso vai impactar se a gente mexer nessa alteração genética? Ou seja, imagina fazer isso em uma pessoa.
Tem que esperar o sintoma, a dor de cabeça, enfim. Então, isso está sendo muito utilizado na medicina, área de finanças, de trade, e aí por aí vai. É infinito, porque é o processo de automatizar tarefas que são muito críticas para aquele negócio e que, através desse conceito computacional, você consegue realmente chegar a resultados que antes você não conseguia.
Revolução das máquinas
Você trata o chat GPT ou sua IA bem? Você fala obrigada para a IA, bom dia e boa tarde?
Falo! E sabe por quê? Consume mais GPU. E isso é bom para a gente (Nvidia). Qualquer prompt que você der lá consome mais.
Hoje, essas empresas estão com um bom problema. Para nós é um bom problema, porque as pessoas estão realmente levando a sério. Olá, bom dia. E a IA te responde, olá, bom dia.
Esse olá, bom dia gerou um custo lá no processamento.
Entendeu? Agora, hoje até o próprio chat GPT fala, não precisa dar bom dia, por favor, não use isso. Elimine, seja mais objetivo. Ele (IA) já está tão bem treinado, que já entende o que você quer dizer.
E, obviamente, nós somos humanos, aí é que está. Esses gestos, esse tipo de interação, é porque é o humano que está interagindo.
É diferente também você escrever bom dia no seu celular, do que você falar bom dia na sua entonação, a pessoa vai sentir o que é um bom dia. Então, assim, eu faço, porque justamente isso gera mais consumo de GPU.
Isenção de responsabilidade
Todas as informações contidas em nosso site são publicadas de boa fé e apenas para fins de informação geral. Qualquer ação que o leitor tome com base nas informações contidas em nosso site é por sua própria conta e risco.
