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Mercado Bitcoin: “Empresas não funcionam mais sem diversidade”

6 mins
Atualizado por Paulo Alves

EM RESUMO

  • Novo programa do Mercado Bitcoin planeja aumentar a diversidade entre os colaboradores.
  • Empresa detectou 40% de mulheres e 26% de negros ou pardos em seu quadro.
  • Projeto surge junto com a expansão do Mercado Bitcoin ocorrida desde 2020.
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O Mercado Bitcoin está preparando uma nova agenda focada na diversidade e na inclusão para seus colaboradores.

O projeto faz parte do departamento de RH da empresa, que foi criado para preparar o Mercado Bitcoin para uma nova fase de crescimento que surgiu após aportes financeiros de investidores. O primeiro passo foi a criação de um “Super Censo”, cujo objetivo era descobrir quem eram as pessoas que já trabalham na companhia. 

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A pesquisa foi aplicada em janeiro e março de 2021 e teve a adesão de todos os colaboradores. Ela conseguiu mapear que o quadro de colaboradores é composto de 40% de mulheres e 26% de negros ou pardos. 

Segundo a chefe da área de Pessoas e Cultura do Mercado Bitcoin, Élia Grande, a iniciativa é apenas um pequeno passo para a criação de um programa mais amplo de inclusão e diversidade cujo primeiro passo é trabalhar estes temas e torná-los parte da cultura da própria empresa. 

Atualmente, o Mercado Bitcoin conta com mais de 500 colaboradores, um número que já representa mais que o dobro do apresentado no início de 2021, quando a companhia tinha apenas 199 trabalhadores. 

Grande conversou com o BeInCrypto Brasil sobre a importância da diversidade nas empresas e a diferença que isso pode dar ao mercado cripto. Confira. 

Como surgiu a ideia do Super Censo? 

“O projeto é recente no departamento de RH do Mercado Bitcoin e o departamento de RH é recente na empresa. Nós começamos a olhar para o mercado e ver o que outras startups semelhantes e empresas tradicionais estavam fazendo em relação à diversidade. Nós combinamos estas informações e criamos um programa que tinha a nossa cara. 

A primeira proposta foi conhecer quem já está aqui, uma vez que não tínhamos a mínima noção disso. Então, decidimos conhecer quem já trabalha na empresa para descobrir quem nós somos e para onde queremos ir, não só em questão de números como de público. 

Foi aí que surgiu a ideia do Super Censo. Nós fizemos alguns incentivos para que todo mundo participasse e tentamos fazer o programa abranger toda a empresa e, por sorte, conseguimos a participação de 100% de nosso pessoal.”

Quais os resultados que mais chamaram a atenção? 

“A coisa que mais me chamou atenção é que uma das perguntas é “o quão você se sente bem para ser quem você é dentro do nosso grupo?” e indicador revelou que 95% dos colaboradores se sentem à vontade para serem quem são e se expressarem assim. Nós tínhamos a expectativa de esse índice ser de 75% ou 80% e quando encontramos o dado sentimos que algo que estávamos fazendo estava dando certo.”

Como é o ambiente de trabalho do Mercado Bitcoin? 

“De dezembro para cá, nós começamos a nos constituirmos como grupo, depois que tiemos uma captaçãos de dinheiro. Foi então que começamos a comprar outras empresas e o Mercado Bitcoin, que até novembro de 2020 era um único CNPJ, se transformou em um grupo maior com sete pessoas jurídicas em pouco espaço de tempo. 

Com esse novo posicionamento de mercado, nós passamos a ter colaboradores trabalhando de vários locais do país. Muitas dessas pessoas trabalham em casa, mas alguns polos de colaboradores, como o do Rio de Janeiro, cresceu tanto que nós estamos pensando em criar um espaço lá onde essas pessoas possam se encontrar.”

Quais as maiores dificuldades para fazer com que novas parcelas da população passem a adotar criptomoedas? 

“A maior parte do nosso público é o de varejo. São pessoas que entenderam que já dá pra usar R$ 100 para entrar no mundo cripto, comprando, por exemplo, fatias de 1 BTC. Isso é algo que não se pode fazer no mercado de ações comum, porque elas são mais caras. 

A nossa intenção, desde o início, era popularizar este processo e torná-lo acessível às pessoas. As elites econômicas investem milhões em criptomoedas, mas o nosso cliente, na prática, é o varejo, até porque a tecnologia está mais acessível hoje.”

Quais os planos futuros do Mercado Bitcoin na área de diversidade? 

“Nós introduzimos o Super Censo em fevereiro de 2021 para conhecer quem já estava na empresa. Agora, todos os novos colaboradores precisam responder ao questionário para manter nossas informações sempre atualizadas. Por exemplo, nós recebemos 28 pessoas nesta semana e as informações delas já estão na plataforma. 

Quando nós estruturamos a equipe de RH, nós queríamos levar essa discussão para toda a empresa. Hoje em dia, nós temos uma diversidade a cada grupo de três candidatos finalistas nas seleções de vagas e, depois disso, nós percebemos que a vagas começaram a ser preenchidas mais rapidamente. Hoje, os nossos gestores usam a diversidade como critério de desempate. 

Um exemplo dos resultados dessa política é que o setor de tecnologia é uma área muito identificada com o segmento jovem e nós percebemos que não tínhamos nenhuma pessoa acima de 50 anos trabalhando conosco. De lá pra cá foram nove pessoas contratadas nessa faixa etária, uma delas acima de 60 anos.”

Qual é a importância da diversidade nas empresas hoje em dia? 

“Nem é questão de importância. As empresas hoje em dia não funcionam sem diversidade. Se nós não diversificarmos, se não fizermos qualquer tipo de inclusão, os negócios não se sustentam. O mundo de hoje não é feito mais de elites. 

Nós estamos finalizando nosso manifesto que vai dizer qual é a nossa proposta para a diversidade. É uma forma de deixar isso registrado e traduzir para todas as pessoas, inclusive para quem está chegando. 

Nós pretendemos iniciar uma Jornada de Diversidade, um programa de capacitação interna para falar de vieses, cultura e a importância do diverso, alinhado com todos os nichos da companhia.  

Aí nós vamos convidar pessoal AA montar os chamados grupos de afinidade. Depois, nossos colaboradores serão convidados a participar daquilo que chamamos de “grupos de afinidade”, cuja proposta é criar discussões dentro da empresa e podermos criar soluções para os problemas encontrados dentro desses grupos.”

Como a busca pela diversidade pode influenciar os clientes do Mercado Bitcoin? 

“Nós não temos dados de clientes em relação a isso e nossa decisão, enquanto empresa, é garantir que o projeto seja genuíno, ou seja, não queremos cumprir cotas. 

Existem muitas empresas que têm como obrigação cumprir cotas e eu já conversei com o presidente sobre isso e é algo que nós não queremos. A gente só consegue transmitir essa genuidade para os clientes quando a gente define o que a gente quer internamente e o que que a gente vai seguir para que isso se reverbere na comunicação para os clientes e eles possam fazer a aderência deles a partir do que é importante para nós. 

Nós ainda estamos formando a nossa identidade. Nós sabemos que queremos falar sobre diversidade, mas não definimos quais bandeiras nós vamos abraçar. Isso é algo que será fechado junto com os grupos de afinidade, que vão nos ajudar a conseguir essa resposta. Sabendo disso, o marketing pode se sentir seguro para reverberar isso no mercado. 

Não podemos falar sobre aquilo que a gente não pratica então é preciso ter essas respostas dentro da empresa antes de passar para o marketing.”

Como foi sua jornada até chegar no mundo de criptomoedas? 

“Está eu venho eu tenho uma formação em psicologia e direito. Meu primeiro vínculo foi no TJ-MG como psicóloga perita. Eu fiquei 5 anos e um mês lá e fui convidada por uma amiga para atuar como consultora em um projeto de RH da Alcoa em Poços de Caldas. Eu já estava desanimada com o serviço público, então aceitei. Eu comecei como consultora, fazendo as avaliações a nível Brasil de candidatos a estagiários. 

Eu fiquei lá por mais cinco anos e meio e me mudei para São Paulo, onde passei a trabalhar na CSN. Depois de um tempo, eu tive uma proposta para trabalhar nos laboratórios Aché cuidando da cadeira de desenvolvimento organizacional e na questão dos programas sociais. De lá eu fui trabalhar na Sodexo Cartões, onde eu tive meu primeiro contato com diversidade. 

Nesta época, eu engravidei e fiquei três anos fora do mercado. Quando voltei, em agosto de 2019, eu comecei a fazer consultorias e foi então que uma colega me chamou para trabalhar com o Mercado Bitcoin, que estava em uma fase de reestruturação no curto e médio prazo porque eles sabiam que teriam uma fase de crescimento e já estavam conversando com possíveis investidores. 

Naqueles tempos, não havia um departamento de recursos humanos no Mercado Bitcoin e sim uma pessoa que fazia os serviços administrativos e financeiros. Minha primeira tarefa foi botar ordem na casa, contratar pessoas para fazer folhas de pagamento, pensar em pacotes de benefícios. Era uma pirâmide de necessidades básicas que precisavam ser organizadas antes de partir para outras áreas.”

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Júlia V. Kurtz
Editora do BeInCrypto Brasil, a jornalista é especializada em dados e participa ativamente da comunidade de Criptoativos, Web3 e NFTs. Formada pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui mais de 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia, tendo passado por veículos como Globo, Gazeta do Povo e UOL.
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