Há 600 dias, Israel trava uma cruzada militar contra os palestinos que ainda sobrevivem na Faixa de Gaza, território de 41km de comprimento no litoral do Mar Mediterrâneo. De fato, as ações militares foram justificadas para resgatar os reféns que haviam sido pegos no atentado terrorista em 7 de outubro de 2023. Atualmente, cerca de 50 israelenses ainda estão sob o controle do Hamas.
Desde então, Israel tem bombardeado seus vizinhos com forma de pressionar a desarticulação de grupos contrários à ocupação israelense no território. De fato, o país já disparou mísseis em direção ao Líbano, Síria e Iêmen, e, mais recentemente, ao Irã.
Na sexta-feira (13), Israel iniciou os ataques a mísseis contra o Irã, que em poucas horas, retribuiu os ataques ao estado judeu. Até o momento, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, demonstra sinais de que pretende continuar com os ataques até que o líder do Irã, Ali Khamenei, seja assassinado. Apesar das contagens ainda serem incertas, a estimativa é que o número de feridos, em ambos os países, já tenha ultrapassado 500 vítimas.
Só na sexta-feira, os ataques feriram 80 iranianos, entre militares e vítimas civis, totalizando 320 pessoas feridas no Irã. Enquanto isso, segundo o Serviço Nacional de Emergência, o Irã havia ferido 80 israelenses e matado 8 com os ataques na madrugada de sábado e domingo (15) em Israel. De fato, os cidadãos da grandes cidades, como Jerusalém e da capital Telavive, estão coberta por proteções antimísseis, como o Domo de Ferro.
Em uma escalada sem precedentes, a ameaça de uma guerra generalizada no Oriente Médio eleva os temores de investidores e aflige o mercado financeiro, inclusive o mercado de criptos.
Qual o impacto econômico de uma guerra no Oriente Médio?
“O mercado global reage quase que imediatamente a qualquer instabilidade no Oriente Médio, e com razão. A região é estratégica: Mais de 20% do petróleo mundial passa por ali. Quando surge risco de guerra, o mercado não precifica só os ataques, mas também a possibilidade de interrupção no fornecimento de energia e isso gera um efeito dominó”, diz Ana de Mattos, analista técnica e trader em criptoativos.
De fato, o maior impacto sentido na economia foi o aumento no preço de petróleo. “Com os ataques entre Israel e Irã, vimos uma reação clássica de aversão ao risco: o petróleo disparou quase 10%, o ouro renovou recordes, as bolsas caíram e o dólar se fortaleceu”, comenta.
No dia dos primeiros ataques, o valor do petróleo subiu em 7,26%. Porém, se considerar a alta acumulada desde 10 de junho, quando surgiram os primeiros boatos sobre o ataque israelense, esse aumento foi de 12,3%. Enquanto no dia 09, o barril de petróleo era vendido à US$ 67, hoje (17), o valor é de US$ 75, segundo o Investing.
No ranking dos maiores produtores de petróleo de 2023, do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o Irã está em 7º lugar – uma posição à frente do Brasil (8º). Além disso, o Mar Mediterrâneo faz parte da rota de diversos serviços de transporte, servindo de conexão entre Ásia, África e Europa.
Segundo o doutor em economia pela FGV, Renan Pieri, a guerra pode impedir que os países consigam manter a produção ao patamar atual por serem obrigados a realocar recursos para suprir os gastos de guerra.
“Pela imprevisibilidade da guerra, ela também representa um aumento de risco. Para o mercado financeiro, é um momento de maior percepção de risco e menor crescimento econômico mundial. Isso leva o investidor a procurar investimentos mais seguros, para diminuir o risco da carteira, que são ativos que mudam menos de valor, como o ouro ou os títulos públicos de países desenvolvidos, como os EUA”, diz. De fato, na sexta-feira (13), o ouro atingiu o valor US$ 3.466.
Qual a influência da guerra no mercado cripto?
Enquanto os países trocavam mísseis, os mercados de criptos despencaram ao registrar liquidações de US$ 1 bilhão em 13 de junho. De fato, tanto Bitcoin (BTC) quanto outras altcoins registram queda em seu valor de mercado “Apesar dos dumpings iniciais, o Bitcoin, por exemplo, regressou com muito mais força”, comenta o sênior financial controller da Nomad, Herbert Guiotoku.
Para ele, os criptoativos possuem uma elasticidade maior em relação às crises e abalos no sistema financeiro. Sobretudo pelo mercado cripto funcionar, praticamente, sem interrupções. Outro ponto é a questão da liquidez global e a digitalização do mercado, o que possibilidade mais agilidade para o investidor.
Apesar das oscilações iniciais, o BTC se recuperou, enquanto stablecoins, como USDT e USDC, permaneceram estáveis. Porém, segundo Ana, foi possível notar um aumento no volume de negociações com as stablecoins lastreadas em dólar.
“O volume negociado de Tether ultrapassou US$ 50 bilhões em um único dia. A dominância das stablecoins aumentou nas exchanges, indicando um movimento defensivo. É a estratégia clássica de quem quer sair do risco, mas sem sair do mercado”, explica.
As criptomoedas podem ser o ouro de amanhã?
Tradicionalmente, o ouro e os títulos de tesouro de economias desenvolvidas são os refúgios institucionais de muitos bancos e investidores. Isso acontece, principalmente, pelo histórico e pelo reconhecimento internacional do valor desses itens.
Contudo, em um mundo em que a digitalização financeira está mais acessível a todos, existe um potencial para as criptomoedas se tornarem um refúgio para o investidor. Para Herbert, a neutralidade das criptos, em relação a política interna dos países, é um sinal positivo.
“Quando pensamos nas questões políticas hoje, com a política protecionista de Donald Trump, por exemplo, toda moeda vai ter um ônus inserido nela. Os criptoativos não dependem de governos, ela tem seu próprio sistema em blockchain”, explica.
O coordenador do MBA em gestão de finanças da FGV, Ricardo Teixeira, concorda com o fato das criptos estarem fora da zona dos interesses geopolíticos. “Em relação ao período em que as criptos foram lançadas pela primeira vez, o avanço tecnológico e de percepção foram enormes. Do ponto de vista de países investindo em cripto, eu acho difícil por um conjunto de fatores, inclusive legais. Mas do ponto de vista de empresas, o mercado cripto pode ter um crescimento grande nos próximos anos”, pondera.
Além disso, se comparado ao mercado cripto em 2022, quando teve início a guerra na Ucrânia, houve um amadurecimento geral. “Naquele momento, o Bitcoin despencou e o capital institucional praticamente saiu de cena nas primeiras semanas. O interesse voltou só depois que o mundo começou a enxergar o uso real das criptos como alternativa financeira para aquela população que estava sofrendo sanções e bloqueios”, explica Ana.
Na avaliação da especialista em criptoativos, o Bitcoin é o principal candidato entre as criptos para adentrar ao rol de paraquedas financeiros em tempos de crise.
“Se houvesse uma guerra em larga escala, a sustentação de um investimento em cripto dependeria de liquidez e confiança. No caso, o Bitcoin tem os dois, ele não é o ativo mais estável, porém é o mais antifrágil”, diz Ana.
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