Uma investigação policial revelou uma rede dedicada à lavagem de dinheiro que utilizava criptomoedas para introduzir US$ 24 milhões no sistema financeiro do Equador entre 2019 e 2022.
O caso teve início após um relatório da Unidade de Análise Financeira e Econômica (UAFE), emitido em fevereiro de 2023. A partir de outubro de 2024, o processo avançou com a apresentação de acusações contra 11 pessoas e nove empresas. Os envolvidos foram localizados nos Estados Unidos, Panamá e Espanha.
Estrutura e funcionamento do esquema
A operação contava com uma estrutura empresarial nas províncias de Pichincha e Guayas, no Equador, oferecendo cursos e serviços de negociação digital. Por meio de uma “escola de negócios”, a rede atraía jovens recém-formados no ensino médio, com idades entre 24 e 27 anos, sem formação universitária, prometendo retornos mensais de 2% a 10%.
O treinamento incluía conteúdos sobre investimentos em criptomoedas, design digital e marketing. Havia incentivo a indicações com comissões elevadas, com apoio de campanhas nas redes sociais, webinars e conferências com influenciadores.
Segundo relato de uma vítima publicado pela Ecuavisa, o acesso à plataforma custava US$ 77. Após a adesão, os participantes recebiam pequenos lucros diários, entre US$ 3 e US$ 10. Posteriormente, passaram a vender cursos, comissões que variavam de US$ 2 mil a US$ 9 mil, e investiram US$ 3 mil em um fundo que prometia retorno de 7%.
A partir de meados de 2020, os pagamentos começaram a atrasar, mesmo com o envio de remessas entre US$ 10 mil e US$ 25 mil para cobrir juros acumulados. Testemunhas relataram que a promessa de altos lucros estabeleceu uma dinâmica de pirâmide financeira que se tornou insustentável em 2021.
Em 2021, a rede realizou eventos presenciais em Quito para promover o fundo de investimento, operando com uma estrutura multinível. Os investidores eram estimulados a recrutar novos participantes, recebendo percentuais sobre o capital investido pelos indicados e sobre os ganhos subsequentes.
Os valores arrecadados foram integrados ao sistema financeiro por meio de transferências para contas bancárias nos Estados Unidos e para corretores internacionais. Esse processo permitiu que os recursos ilícitos fossem inseridos em mercados legais, com o pagamento de investidores e disfarce das operações.
Líderes e alcance internacional
A liderança da operação estava nas mãos de Michael O., que se apresentava como o “melhor trader do Equador” e era proprietário de sete empresas. Seu parceiro, Alan P., preso na Espanha em novembro de 2024, atuava como gerente da academia e era casado com a atriz e influenciadora Nicole C., responsável pelas estratégias de marketing e pela imagem pública do projeto.
Nicole C. também é alvo de um alerta vermelho da Interpol. Outro investigado, Juan Martín R., foi preso no Panamá em 13 de junho de 2025. As empresas ADN Escuela de Negocios S.A.S e Blue Services Invtech S.A.S também estão sob investigação.

No total, a rede teria envolvido cerca de 2 mil pessoas, que se comunicavam principalmente por Telegram e WhatsApp. O próximo passo legal é a audiência de julgamento preparatório, marcada para 7 de julho de 2025, em Quito. O processo será conduzido pelo mesmo promotor responsável por outras investigações de grande porte envolvendo lavagem de dinheiro no país.
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