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Embedded finance e o avanço silencioso das Big Techs no Brasil

3 Min.
Atualizado por Lucas Espindola

Resumo

  • Embedded finance deve movimentar US$ 183 bilhões globalmente até 2027, segundo a Juniper Research.
  • No Brasil, 36% dos consumidores já usam produtos financeiros fora dos bancos tradicionais.
  • Desafios regulatórios exigem equilíbrio entre inovação, segurança e inclusão para sustentar o crescimento.
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A revolução digital tem reconfigurado a forma como nos comunicamos, acessamos e consumimos serviços financeiros. Nesse novo cenário, o conceito de embedded finance (ou finanças incorporadas) vem ganhando protagonismo. Segundo a consultoria Juniper Research, as transações pela modalidade devem ultrapassar US$183 bilhões globalmente até 2027, frente a cerca de US$ 65 bilhões em 2022. A lógica é simples: integrar produtos financeiros diretamente em plataformas não financeiras, tornando o serviço quase invisível para o usuário.

O modelo vem sendo adotado com força por empresas como Apple, Amazon, Google e Mercado Livre – empresas que já oferecem crédito, seguros e contas digitais integrados aos seus próprios ecossistemas, com experiências muitas vezes mais simples e intuitivas do que as oferecidas por bancos tradicionais. Em 2024, por exemplo, o Apple Card ultrapassou a marca de 10 milhões de usuários ativos, enquanto o Apple Pay Later consolidou-se como referência em crédito digital instantâneo. Esse movimento evidencia uma transformação estrutural no mercado, liderada por empresas que não nasceram no setor financeiro, mas que estão reconfigurando as suas bases.

Com os mais de 160 milhões de smartphones em uso e um ecossistema fintech cada vez mais maduro, o Brasil se mostra bastante preparado para ampliar essa transformação, já refletida o comportamento do consumidor: segundo pesquisa da PwC, mais de 36% dos brasileiros já contrataram produtos financeiros fora do ambiente bancário tradicional. E essa tendência deve se intensificar, à medida que soluções como crédito via apps de transporte, seguros integrados a compras online e contas digitais em marketplaces se consolidam como parte da jornada cotidiana.

No entanto, o avanço dessas finanças incorporadas impõe desafios: como garantir segurança, transparência e inclusão sem sufocar a inovação? Com novos players atuando fora do perímetro bancário tradicional, surgem também zonas cinzentas em termos de supervisão. No fim das contas, o equilíbrio entre liberdade tecnológica e regulação inteligente será decisivo para que o Brasil aproveite todo o potencial do embedded finance de forma sustentável e competitiva.

O Brasil conectado ao boom do crédito digital

Segundo o relatório “Brazil Embedded Finance Business Report 2024”, publicado pela Research and Markets, o setor movimentou cerca de US$4,3 bilhões em 2024 e pode atingir US$13,8 bilhões até 2029 – um crescimento anual de 26,2%. O Brasil desponta como um dos mercados mais promissores para a oferta de crédito, que está deixando de ser um produto “no fim do funil” para se tornar parte da jornada de consumo, aparecendo quando o cliente mais precisa, de forma integrada e sem atrito.

Exemplos desse modelo já estão em operação: o Mercado Pago oferece crédito pessoal e capital de giro dentro do app do Mercado Livre; o iFood disponibiliza seguros e antecipações para seus entregadores; e fintechs como BMP e Swap estruturam operações white-label para empresas de diversos setores. Nesse novo cenário, o crédito deixa de ser um destino para se transformar em infraestrutura digital. E quem entender isso sairá na frente da próxima fase do sistema financeiro.

O risco da desintermediação e a urgência regulatória

Apesar do enorme potencial, a desintermediação bancária pode vir a representar riscos para a estabilidade financeira se não for acompanhada por um marco normativo igualmente robusto. A pulverização dos canais de crédito exige atenção redobrada à proteção de dados, governança, análise de risco e práticas de cobrança. Além disso, demanda um ambiente regulatório em constante atualização, capaz de responder com agilidade às inovações do setor. Nesse sentido, o Brasil tem avançado com medidas relevantes, como a expansão do Open Finance, a criação de sandboxes regulatórios e a Resolução nº. 4656, que disciplina a atuação das instituições de pagamento. Juntas, essas iniciativas compõem um arcabouço que busca combinar inovação com segurança jurídica e proteção ao consumidor.

Brasil como referência global em regulação inteligente

O país reúne condições únicas para liderar globalmente: um sistema financeiro digitalizado, uma autoridade monetária proativa e um mercado com escala e diversidade. A experiência bem-sucedida do Pix mostra que é possível inovar com segurança e inclusão. E o embedded finance pode seguir esse mesmo caminho. Mais do que impor barreiras, o papel da regulação moderna é orquestrar essa inovação para ampliar o acesso ao crédito, especialmente entre públicos historicamente excluídos, mas que só será efetivo se for sustentado por fundamentos técnicos, éticos e legais. O Brasil tem, diante de si, a oportunidade de exportar um modelo de finanças digitais funcional, responsável e inclusivo.

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Filipe Pena
Filipe Pena é diretor-executivo da Acrefi. Especialista em regulação financeira no mercado nacional e internacional de crédito, formou-se em compliance financeiro e regulação pela LEC. Com experiência na criação e desenvolvimento de IFs e Fintechs de crédito no Brasil e LATAM, tem MBA em Gestão de Negócios pela Universidade FUMEC; é ainda bacharel em Direito e pós-graduado em Direito Processual pela PUC-Minas, além de professor em novas carreiras jurídicas.
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