As stablecoins dos EUA dominam 99% do mercado global. A China avança com o e-CNY. A Europa, apoiada pelo MiCA e pelo primeiro stablecoin em euro regulamentado pela BaFin, o EURAU, quer fechar a lacuna. Mas será que pode se mover rápido o suficiente?
O BeInCrypto conversou com Gracy Chen, CEO da Bitget, sobre as forças da Europa, seus desafios regulatórios e se a UE ainda pode desempenhar um papel de liderança em finanças digitais.
Europa vs. EUA: dois modelos concorrentes
BeInCrypto: Como você avalia a posição da Europa em relação aos EUA e Ásia?
Gracy Chen: A Europa está ancorada no MiCA, que oferece um quadro jurídico unificado, mas exige um grande ônus de conformidade. Os emissores precisam manter reservas completas, possuir capital substancial e obter uma licença EMI. Isso protege os usuários, mas eleva as barreiras de entrada e desacelera o crescimento.
Por outro lado, ela disse, o US GENIUS Act adota uma abordagem mais leve e voltada para inovação. Isso permitiu que emissores privados como Circle e Tether escalassem rapidamente, integrando USDC e USDT nas redes Visa e Mastercard.
Enquanto isso, a Ásia permanece focada em CBDCs, com stablecoins privadas ainda desempenhando um papel limitado.
O MiCA é suficiente para impulsionar a inovação?
BeInCrypto: O MiCA promove a inovação, ou a Europa precisa de mais flexibilidade?
Chen: O MiCA é uma base sólida, mas a Europa precisa de três ajustes: autorização mais rápida para CASPs e emissores, apoio mais forte para modelos de reserva multibancária como o EURAU, e implementação harmonizada em todos os estados membros.
Sponsored SponsoredSem essas mudanças, a Europa corre o risco de fragmentação regulatória e adoção mais lenta.
EURAU e a soberania europeia
BeInCrypto: O que significa o lançamento do EURAU para a Europa?
Chen: EURAU é um passo crucial. Como o primeiro ativo cripto em euro regulamentado pela BaFin na Alemanha, oferece uma alternativa em conformidade aos stablecoins em USD e fortalece a soberania monetária da Europa. A clareza regulatória, ela acrescentou, é o gatilho para a adoção institucional e casos de uso de pagamentos transfronteiriços.
O que a Europa deve fazer para se manter competitiva
BeInCrypto: Quais são as etapas mais urgentes para a UE?
Chen: A Europa deve passar da clareza política para a prontidão operacional. A prioridade é acelerar os stablecoins em euro compatíveis com o MiCA, com integração nativa do SEPA Instant ou TIPS, permitindo rampas rápidas e de baixo custo.
SponsoredA Europa também precisa de padrões de nível 2, passaporte para toda a UE, e regras explícitas para produtos com rendimento, como T-bills tokenizados — uma área onde a UE pode se diferenciar dos EUA.
A infraestrutura também é importante. A Europa precisa de rampas fiat unificadas, programas de aceitação de comerciantes, trilhos de interoperabilidade e um guia de supervisão comum.
Um sandbox dedicado a stablecoins e kits de ferramentas para desenvolvedores poderiam atrair novos emissores e fechar a lacuna de inovação.
Construindo confiança: conformidade e tecnologia
BeInCrypto: O que constrói confiança nos stablecoins europeus?
Chen: Transparência e reservas auditadas. As exigências de relatórios trimestrais do MiCA ajudam a prevenir a opacidade que levou ao colapso do TerraUSD.
Sponsored SponsoredA integração obrigatória de AML/KYC e contratos inteligentes auditados e seguros fornecem segurança adicional para instituições e usuários de varejo.
A Europa se tornará um líder em stablecoins?
BeInCrypto: A Europa pode competir nos próximos 3–5 anos?
Chen: A Europa pode se tornar uma jogadora respeitável, mas é improvável que supere os EUA, que já controlam quase todo o mercado por meio de ecossistemas do setor privado maduros. A vantagem da Europa está na clareza regulatória — mas ela deve acelerar a inovação para transformar esse quadro em uma adoção real.
A regulamentação dá à Europa uma vantagem — a inovação decidirá o restante
A Europa tem o que outras regiões não têm: um quadro regulatório completo e unificado. Mas apenas as regras não fecharão uma lacuna de 99% no mercado.
Como alerta Gracy Chen, a UE precisa combinar o MiCA com velocidade, infraestrutura e incentivos. Se isso for suficiente para desafiar a dominância dos EUA, permanece o principal teste da Europa — e a resposta virá rapidamente.