Donald Trump, eleito pela segunda vez como presidente da maior economia do globo, toma posse no próximo dia 20. Mas o que isso significa para o setor cripto no Brasil?
O BeInCrypto perguntou a analistas, executivos e especialistas do mercado nacional quais os impactos para indústria financeira brasileira e como o novo governo americano vai influenciar as novas políticas cripto no mundo. Confira.
Trump adota postura pró cripto
O republicano adotou uma postura pró-cripto, indicando inclusive nomes estratégicos, como Paul Atkins, para ocupar cargos como, por exemplo, a presidência da comissão de valores mobiliários americana, a Security Exchange Commission (SEC).
Logo após a confirmação da vitória de Trump, os preços do Bitcoin registraram uma sequência de recordes, incluindo a nova marca de US$ 108 mil.
Assim, para o diretor regional para as Américas da Coinbase, Fábio Plein, as eleições americanas do ano passado demonstraram um apoio bipartidário esmagador para cripto, no Congresso e nas urnas.
Acreditamos que essa tenha sido uma vitória da inovação e um sinal para a necessidade de regras mais claras para ativos digitais nos EUA, apontou para o BeInCrypto Brasil.
Além disso, para o porta-voz da Coinbase, o mercado cripto é influenciado por fatores políticos e macroeconômicos dos principais players globais, como as eleições nos Estados Unidos (EUA), o que pode levar a uma variação nos preços dos principais ativos.
Portanto, esse é um momento crucial que age não só sobre o mercado brasileiro como também o de outros países. A depender de como os EUA abordarão o tema, é possível que ele influencie também outros mercados do ponto de vista regulatório, acredita Plein.
A opinião também compartilhada por Pedro Gutierrez, diretor Latam da CoinEx.
O novo governo americano, desempenhará um papel crucial na formação de políticas globais de criptomoedas, dada a influência histórica dos EUA em sistemas financeiros internacionais e a liderança em inovação tecnológica. Se a administração adotar uma postura favorável às criptomoedas, incentivando a inovação e fornecendo regulatória clara, isso poderá estimular o mercado global de ativos digitais, pontua Gutierrez.
Sobre a influência do governo americano nas novas políticas cripto no mundo, o diretor regional para as Américas da Coinbase, acredita que os próximos anos serão críticos para a legislação cripto.
Já Fabrício Tota, VP de Novos Negócios do Mercado Bitcoin, destaca que a troca de Gary Gensler na SEC por nomes pró-cripto, como Paul Atkins, e a revisão do SAB 121 — permitindo bancos custodiarem criptoativos — podem atrair mais capital institucional para ativos digitais.
Medidas como o avanço do Stablecoin Act, que integraria stablecoins ao sistema financeiro tradicional, e a criação de um Crypto Council para fomentar o diálogo entre governo e mercado, reforçam essa direção, pondera Tota.
Brasil, um exemplo para o mundo
Segundo o porta-voz da Coinbase, mercados importantes como o Brasil estão trabalhando para fornecer clareza regulatória e servir de exemplo para o resto do mundo. Mais do que nunca, são necessárias regras claras para apoiar empresas que estão trabalhando para inovar o mercado cripto dentro das regras e proteger os consumidores que desejam acesso a ativos digitais.
O mandato de Trump pode afetar o papel dos EUA na formação da política global de criptomoedas. Sua política externa pode impactar a adoção mais ampla de moedas digitais, especialmente em mercados emergentes onde os países estão voltando para o Bitcoin como uma proteção contra a inflação e a desvalorização da moeda, acrescenta o porta-voz da CoinEx.
Segundo o diretor geral da OKX no Brasil, Guilherme Sacamone, o Brasil se destaca por sua inovação.
O Brasil já possui uma indústria financeira madura e inovadora, e a regulamentação em andamento sobre criptomoedas pode fortalecer ainda mais esse cenário. Além disso, o país também está na vanguarda do mercado de criptoativos, como nos lembrou a aprovação do ETF de Bitcoin em meados de 2021 (ou seja, dois anos e meio antes dos EUA).
As promessas de Trump serão cumpridas?
Só o fato de as criptomoedas terem sido utilizadas, pela primeira vez na história, como ponto central no argumento político em uma campanha eleitoral dos Estados Unidos, já significa muito para o setor, segundo o analista do grupo Foxbit, Beto Fernandes. Ele acredita que a gestão Trump pode acelerar o processo regulatório
Algo que tem sido um obstáculo não só para os EUA, mas para uma boa parcela do mundo. É claro que muitas das promessas de campanha de Trump dificilmente vão ser realizadas, como tentar fazer toda a mineração de BTC dentro do país.
Sobre as reservas de Bitcoin, Fernandes acredita ser possível e mostra o engajamento do país com as criptomoedas. Para o analista, “apesar deste movimento potencialmente positivo para o mercado, é importante também ter em mente que discurso e prática nem sempre andam juntos.”
Para começar, Trump não vai ter poderes absolutos e muita política e tempo vão ser necessários para cumprir suas propostas. Ao mesmo tempo, ele pode simplesmente ignorar essas promessas e identificar outras prioridades ao longo do mandato, o que deixaria o setor cripto de lado. Então, temos um movimento promissor, mas ainda “irreal”, fala o analista da FoxBit.
Além disso, para o representante da OKX no Brasil faz uma alerta sobre alguns desafios. A inflação continua sendo uma preocupação central, juntamente com as taxas de juros persistentemente altas dos títulos dos EUA. Há apreensões de que as políticas de Trump possam ser inflacionárias, potencialmente levando o Federal Reserve a adotar uma postura menos branda em 2025.
Essas medidas podem desafiar o crescimento de curto prazo nos preços do Bitcoin. Apesar desses riscos, permanece sólida a narrativa de longo prazo para as criptomoedas como uma proteção contra a incerteza monetária e fiscal, diz Sacamone.
Políticas de Trump afetarão o mundo?
As políticas mais abertas ao setor cripto nos EUA beneficiarão o segmento cripto globalmente. Para o porta-voz do Mercado Bitcoin, a América Latina e, mais especificamente, o Brasil, também serão beneficiados. Para ele, nossa região é uma das mais pujantes do mundo cripto e vista até como “a próxima fronteira” a ser desbravada por players do mundo todo.
Além disso, a revolução da tokenização no Brasil é um destaque global: enquanto diversas iniciativas se concentram em tokenizar Treasuries, o Brasil utiliza blockchain para democratizar o acesso ao mercado de capitais, permitindo que pequenas e médias empresas captem recursos de forma eficiente, complementa o VP do MB.
Além disso, stablecoins atreladas ao real, embora menos voltadas à preservação de valor, têm potencial de crescimento em ecossistemas DeFi e como meio de pagamento eficiente, em que pese o PIX ser benchmark para pagamentos dentro do sistema financeiro, pontua Tota.
E Sacamone complementa. “Para os investidores brasileiros, as criptomoedas — especialmente as stablecoins — surgem como uma opção viável e prática para diversificação do portfólio. As stablecoins oferecem uma maneira acessível de proteger-se contra flutuações cambiais e preservar riqueza em tempos de incerteza, reforçando sua importância no cenário financeiro em evolução do Brasil.”
Brasil avança na regulamentação
Para o Brasil, os impactos talvez sejam mais indiretos. Aqui, a gente já tem uma regulamentação relativamente avançada, empresas adotando essa classe de ativos, e o próprio governo absorvendo a tecnologia a partir do Drex, pontua, Plein.
Segundo o CEO da Tanssi, Thiago Rüdiger , “o Brasil tem se destacado como uma referência importante no cenário global de criptoativos, mas, para consolidar esse protagonismo, precisamos acelerar significativamente.
Com o presidente Trump tomando posse, Rüdiger, acredita que o ambiente “regulatório e de inovação por lá vai avançar muito rápido, criando um contexto mais favorável para o mercado cripto. Isso representa, ao mesmo tempo, uma oportunidade de pensarmos em cooperações estratégicas com o FED e reguladores americanos, mas também um desafio para mantermos o papel de destaque que conquistamos até agora no cenário global.”
Então, a posse de Trump e um possível cumprimento das promessas de campanha ressoariam mais como um “aval” do mercado, do que necessariamente trazer grandes mudanças técnicas ou regulatórias, complementa Fábio Plein.
O impacto global das novas políticas americanas será inevitável. Sob Trump, espera-se que os EUA assumam um papel de liderança no setor cripto, introduzindo regulamentos mais claros e uma abordagem que incentive a inovação. Isso criará um efeito dominó, pressionando outros países a seguirem o exemplo ou arriscarem perder relevância no cenário global, complementa Tota.
Formação de preços cripto
O criador do Observatório Atena, Felipe Vasconcelos, vê uma vantagem grande e clara para o setor. E, consequentemente, um aumento no preço das criptomoedas.
Vale lembrar aqui que a gestão anterior de Trump, ficou conhecida por críticas aos criptoativos. Então, eu diria que pode significar um aumento de espaço para as criptomoedas com, talvez, a figura mais importante do mundo, dando apoio claro e aberto às criptomoedas, diz Felipe
Sobre os impactos para a indústria financeira e para o mercado financeiro brasileiro, o criador do Observatório Aena disse que são no geral negativos. Ele cita o protecionismo americano, a guerra comercial com a China e acredita que a segunda maior economia do mundo vai diminuir a demanda por commodities, “ já que ela não vai ter que exportar tanta coisa para os Estados Unidos”.
O que vai prejudicar por sua vez o Brasil, porque o Brasil é grande exportador de commodities para a China.
Os impactos de um novo mandato de Trump no mercado de criptomoedas e no Brasil
Além disso, a tensão atual entre os EUA e outras potências globais, como a China, pode levar a um interesse maior em finanças descentralizadas (DeFi) como uma resposta a perspectivas econômicas ou restrições financeiras, reforça Gutierrez. O diretor Latam da CoinEx fala que o novo mandato de Trump pode ter implicações significativas para as criptomoedas. Tanto em termos de sentimento do mercado quanto de cenário regulatório.
De uma perspectiva técnica e econômica, o principal fator a ser observado é a abordagem de sua administração à orientação. Isso pode levar a um ambiente mais previsível para empresas de criptomoedas, o que geralmente é visto como um acontecimento para o crescimento em mercados como Bitcoin e Ethereum, diz Gutierrez.
O diretor Latam da CoinEx discorda de Vasconcelos e ressalta que o setor financeiro brasileiro, especialmente em criptomoedas e ativos digitais, é complexo e influenciado por fatores regulatórios e geopolíticos.
Do ponto de vista técnico e econômico, as políticas de Trump podem influenciar os mercados financeiros internacionais, incluindo o do Brasil, devido à interconexão das economias.
Segundo Gutierrez, o Brasil, maior economia da América Latina, busca se firmar como líder regional em blockchain e criptomoedas. Um segundo mandato de Trump pode acelerar essa adoção e fortalecer a integração do blockchain no setor financeiro, embora o impacto dependa do cenário geopolítico e regulatório influenciado pelas políticas dos EUA.
Isenção de responsabilidade
Todas as informações contidas em nosso site são publicadas de boa fé e apenas para fins de informação geral. Qualquer ação que o leitor tome com base nas informações contidas em nosso site é por sua própria conta e risco.