O mercado cripto atravessa uma nova fase de baixa, caracterizando um bear market, marcado por quedas expressivas impulsionadas por pressões vendedoras, políticas macroeconômicas restritivas e incertezas regulatórias. Esse cenário afeta tanto investidores institucionais quanto de varejo.
Na última segunda-feira (10), o mercado cripto registrou queda expressiva, com o Bitcoin operando abaixo dos US$ 80 mil. Dados on-chain indicam aumento nas vendas dos mineradores e pressionam o preço do principal ativo digital.
Especialistas analisam os elementos que sustentam o bear market e as estratégias adotadas pelos investidores.
Bitcoin transita para a zona de queda
Em sessão recente de negociações, as maiores criptomoedas passaram por uma retração. Atualmente, o valor do Bitcoin (BTC) encontra-se 28,3% abaixo do pico de US$ 109.114, evidenciando uma pressão de venda crescente típica de um bear market. Em determinado momento, o Bitcoin chegou a operar brevemente abaixo dos US$ 80 mil. Isso fez com que ele atingisse uma baixa de US$ 77.393 – o menor patamar registrado em quatro meses.
O aumento das vendas dos mineradores, conforme demonstrado por dados on-chain, contribuiu para o fortalecimento do sentimento negativo no mercado. Historicamente, os mineradores tendem a liquidar parte de suas participações para cobrir despesas operacionais durante períodos de queda. Algo que pode agravar os movimentos de baixa.
Segundo Fábio Plein, diretor regional para as Américas da Coinbase, “desde as eleições americanas, o setor de cripto tem se beneficiado de uma série de fatores positivos, vindos de diversas fontes, como políticas, macroeconômicas e idiossincráticas”. Em sua análise, Plein enfatiza que, mesmo com o recuo atual, a dinâmica de ciclos de alta e baixa é uma característica recorrente no mercado, permitindo que os investidores se posicionem de forma estratégica conforme os períodos de correção se estabelecem.
A retração atual, portanto, não ocorre isoladamente, mas como parte de um ciclo que inclui fatores internos do ecossistema e condições econômicas externas. A alternância entre fases de euforia e de correção tem sido um elemento constante na evolução das criptomoedas. Isso reforça a necessidade de análise aprofundada sobre os fatores subjacentes.
Tensões globais e oportunidades no setor
A influência de políticas monetárias restritivas e de tensões geopolíticas vem impactando o desempenho das criptomoedas. De acordo com Pedro Gutiérrez, diretor Latam da CoinEx:
O atual bear market no setor cripto está sendo sustentado por uma combinação de fatores macroeconômicos, regulatórios e comportamentais dos investidores, afirmou em entrevista ao BeInCrypto.
Gutiérrez aponta que o aperto das políticas monetárias em economias chave, como os Estados Unidos e o Brasil, contribuiu para a redução de liquidez nos mercados e, consequentemente, para a diminuição do apetite por ativos de risco.
Em sua explanação sobre o cenário global, o diretor da CoinEx destaca que “o cenário macroeconômico global tem impactado significativamente o desempenho das criptomoedas, principalmente devido a políticas monetárias restritivas, incerteza regulatória e tensões geopolíticas”. Entre os fatores mencionados, estão os cortes de juros promovidos pelo Federal Reserve e as medidas do Copom, que influenciaram a disponibilidade de capital para investimentos alternativos. Além disso, a escalada de disputas comerciais e a falta de um marco regulatório claro reforçam o ambiente de cautela entre os investidores.
Esses elementos externos, combinados com eventos internos do setor fazem com que o mercado reaja com ciclos de correção mais prolongados. Gutiérrez ainda ressalta que “os efeitos dos colapsos anteriores, como os da Terra/LUNA e da FTX, ainda geram desconfiança e levaram a um mercado mais reativo”. Assim, o ambiente atual reflete tanto as pressões vindas de políticas monetárias rígidas quanto o impacto de incertezas regulatórias que dificultam o influxo de capital institucional.
Outro aspecto relevante mencionado por Pedro Gutiérrez diz respeito à recuperação dos ciclos de alta. Ele explica que:
Historicamente, os bear markets têm sido períodos de consolidação e acumulação estratégica antes de novos ciclos de alta.
Essa perspectiva indica que o cenário de baixa apresenta desafios significativos. No entanto, também abre oportunidades para investidores com visão de longo prazo e estratégias sólidas.
Estratégias para proteger investimentos
Diante do ambiente de alta volatilidade e das incertezas, especialistas indicam que os investidores devem priorizar a preservação de capital e a diversificação das carteiras. Pedro Gutiérrez recomenda que “as estratégias de investimento devem priorizar a preservação de capital, a diversificação e a gestão eficaz de riscos”. Ele enfatiza a importância do método de investimento gradual, como o dollar cost averaging (DCA), para reduzir os impactos das oscilações bruscas.
Além disso, o uso de instrumentos tradicionais – como títulos e metais preciosos – aliado à manutenção de parte do portfólio em stablecoins, pode oferecer uma camada adicional de proteção. Gutiérrez também ressalta que “o uso de derivativos, como opções e futuros, pode oferecer proteção contra movimentos bruscos, enquanto manter uma reserva de liquidez evita vendas forçadas em momentos de pânico”. Essa abordagem, combinada à análise fundamentalista dos projetos, permite que os investidores tomem decisões mais informadas mesmo em um ambiente instável.
No mesmo sentido, Guilherme Sacamone, Country Manager da OKX no Brasil, alerta para a necessidade de cautela, sobretudo entre os investidores de menor porte.
A volatilidade pode ser particularmente intimidadora para novos investidores. Pesquisar e obter um entendimento profundo do ativo em que se está investindo é essencial para maximizar ganhos e minimizar perdas, mesmo diante das oscilações mais extremas do mercado, afirmou em entrevista ao BeInCrypto.
Sacamone reforça a importância da educação e do acesso a ferramentas que auxiliem na tomada de decisões em qualquer condição de mercado. Assim, destacando a relevância de uma análise detalhada do comportamento histórico dos ativos.
Impacto da IA e blockchain no setor
Quanto às inovações tecnológicas, tanto Pedro Gutiérrez quanto Guilherme Sacamone apontam tendências que podem influenciar a recuperação do setor. Gutiérrez observa que “a inteligência artificial (IA) está emergindo como uma das principais forças motrizes na recuperação do setor cripto, transformando tanto a eficiência operacional quanto a tomada de decisões no ecossistema”. Ele menciona que a combinação de IA e blockchain está otimizando processos. Desde a análise de dados até a automação de estratégias de investimento, o que pode contribuir para reduzir a volatilidade causada por fatores emocionais.
Por sua vez, Sacamone destaca que “o mercado cripto está em constante evolução, e o que o trouxe até aqui não será necessariamente o que o sustentará no futuro”. Segundo ele, o setor passa por uma integração crescente com as finanças tradicionais. Bancos adotam ativos digitais e a tecnologia blockchain aprimorando a segurança e a eficiência das transações. Ele também enfatiza que “a clareza regulatória é um fator crucial”, apontando para o cenário de inovações e para a necessidade de marcos regulatórios que possam oferecer maior previsibilidade aos investidores.
A convergência entre avanços tecnológicos e mudanças no ambiente regulatório sugere um cenário de longo prazo onde o mercado possa encontrar estabilidade. No entanto, ambos os especialistas sublinham a importância de estratégias de proteção para lidar com períodos de instabilidade prolongada. Gutiérrez reforça a diversificação e o uso de instrumentos de proteção. Enquanto isso, Sacamone conclui que “a melhor proteção é entender bem onde se está investindo e manter-se sempre atualizado sobre o mercado.”
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