A tecnologia blockchain, inicialmente associada ao mercado de criptomoedas, vem se expandindo rapidamente para outras indústrias. Sua capacidade de fornecer segurança, transparência e descentralização a tornou uma ferramenta valiosa para resolver problemas complexos em áreas como saúde, logística, entretenimento e até governança. Neste artigo, exploraremos como essa tecnologia inovadora está transformando diferentes setores e moldando o futuro de diversos segmentos ao redor do mundo.
Introdução a blockchain
A blockchain, também conhecida como cadeia de blocos, é uma tecnologia que funciona como um livro-razão digital descentralizado e imutável, capaz de registrar transações e dados em blocos, de forma segura e transparente. Esses blocos são criptografados e distribuídos por uma rede de computadores, conhecidos como nós, que validam e verificam as transações. Cada bloco adicionado e validado à cadeia se torna imutável, não sendo possível alterá-lo ou removê-lo, o que garante a integridade e a segurança dos dados.
Um dos principais diferenciais da blockchain é sua descentralização. Ao contrário de sistemas tradicionais, que dependem de uma autoridade central para controlar e verificar os dados, a blockchain opera de forma distribuída, com cada nó da rede possuindo uma cópia completa do livro-razão. Isso aumenta a transparência e reduz o risco de fraudes, já que qualquer tentativa de alterar os dados precisaria ser validada por todos os nós da rede, o que torna praticamente impossível adulterar as informações.
Inicialmente, esse tipo de rede foi criada para contabilizar as transações de Bitcoin (BTC), solucionando o problema de gasto duplo. Basicamente, é a blockchain que faz o Bitcoin ser um ativo seguro.
Para saber mais sobre o funcionamento da blockchain, leia o nosso artigo: Blockchain para iniciantes: como funciona a tecnologia que está transformando a economia?
Principais casos de uso
Devido à sua capacidade de rastrear e proteger informações de forma eficiente, essa tecnologia está sendo adotada em diversos setores, como saúde, logística e entretenimento, ajudando a resolver desafios como a segurança de dados, a eficiência de processos e a transparência em transações.
Confira a seguir os principais setores onde a blockchain tem mostrado praticidade.
Blockchain na cadeia de suprimentos
Em uma cadeia de suprimentos tradicional, as informações são geralmente centralizadas em diferentes sistemas, o que pode levar a erros, fraudes e falta de visibilidade. Por outro lado, o uso da rede blockchain garante que todos os dados sobre a movimentação de produtos, desde a origem até a entrega final, possam ser registrados de maneira imutável e acessíveis a todos os participantes da cadeia.
Uma das principais vantagens da blockchain na cadeia de suprimentos é a rastreabilidade em tempo real. Por meio dessa tecnologia, empresas podem acompanhar cada passo do percurso de um produto, verificando sua autenticidade e conformidade com regulamentos de qualidade. Além disso, consumidores podem ter acesso a essas informações, aumentando a confiança no produto final. Não por acaso, diversas marcas de roupas já usam a tecnologia para mostrar aos seus clientes que as peças oferecidas são originais.
Blockchain no setor da saúde
Outro setor que tem aderido à blockchain é o da saúde. Um dos principais desafios na área é a segurança e a privacidade dos dados dos pacientes, que muitas vezes são armazenados de forma fragmentada em diferentes sistemas. Com a blockchain, esses dados podem ser registrados de maneira imutável e distribuída, permitindo que médicos, hospitais e laboratórios acessem informações precisas e atualizadas de forma segura e eficiente, sem comprometer a privacidade do paciente.
A adesão a tecnologia passou a crescer de forma exponencial durante a pandemia, com muitos hospitais passando a utilizar a blockchain para realizar cadastros de pacientes e armazenar outras informações. Além disso, a rede tem se mostrado capaz de otimizar a oferta de serviços da saúde.
No Brasil, por exemplo, o Hospital da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) utilizou durante a pandemia o TelerRim, um sistema que associa vídeo digital e blockchain, no atendimento online de pacientes, conseguindo assim aumentar a quantidade de indivíduos atendidos durante o período de isolamento social.
Modernizando a indústria do entretenimento
m dos principais desafios enfrentados por músicos, cineastas, artistas e criadores de conteúdo é garantir que seus direitos sobre obras sejam devidamente reconhecidos e recompensados. Dessa forma, a blockchain se tornou a queridinha de muitos artistas. Isso porque, com a tecnologia, é possível registrar obras criativas de maneira imutável, assegurando que a propriedade intelectual esteja protegida e que os criadores recebam por seu trabalho de forma justa e automática.
Outra aplicação significativa da blockchain no entretenimento é a descentralização das plataformas de distribuição. Tradicionalmente, intermediários como gravadoras, editoras e plataformas de streaming tomam uma grande parte dos lucros gerados pelas criações. No entanto, com a blockchain, os artistas podem distribuir diretamente seu trabalho ao público, utilizando contratos inteligentes que garantem o pagamento instantâneo de royalties cada vez que sua obra é utilizada ou vendida. Isso reduz a dependência de intermediários e aumenta os ganhos diretos para os criadores.
Os tokens não fungíveis (NFTs) são vistos como outro ponto de revolução no setor. Por meio deles, artistas e criadores podem tokenizar suas obras, como músicas, filmes ou coleções de arte, e vendê-las diretamente a fãs como colecionáveis digitais.
Registro de imóveis e propriedades
A blockchain está ganhando espaço no setor imobiliário, oferecendo soluções mais seguras e eficientes para o registro de propriedades e a realização de transações imobiliárias. Uma de suas principais vantagens é a imutabilidade dos registros. Cada vez que um imóvel é vendido, transferido ou modificado, essas informações são registradas em blocos criptografados que não podem ser alterados, garantindo que o histórico de propriedade seja preciso e transparente.
Além disso, a blockchain facilita a implementação de contratos inteligentes para transações imobiliárias. Esses contratos automáticos podem ser programados para executar as condições acordadas entre as partes, como o pagamento e a transferência de títulos de propriedade, assim que os requisitos forem atendidos.
Nesse sentido, vale a pena destacar que a indústria de RWA tem crescido cada vez mais nesta esteira. RWA, ou Real-World Assets (Ativos do Mundo Real), é o nome dado à tokenização de ativos físicos ou financeiros tradicionais, como imóveis, commodities, títulos, ou outros ativos do mundo real via blockchain. O CEO da Chainlink (LINK), Sergey Nazarov, disse recentemente que este setor chegará a movimentar mais dinheiro do que o mercado de criptomoedas num futuro breve.
Governança e votação
Ao registrar votos em uma blockchain, é possível garantir que eles sejam imutáveis e auditáveis, reduzindo significativamente o risco de fraudes ou manipulação. Além disso, a descentralização da tecnologia permite que qualquer pessoa participe do processo de forma igualitária, eliminando a necessidade de intermediários.
Dessa forma, a tecnologia pode ser usada para criar sistemas de votação à prova de censura e falsificação, uma solução ideal para eleições governamentais ou internas de grandes organizações. O uso dessa tecnologia oferece mais segurança aos eleitores e maior confiança nos resultados, uma vez que cada voto é criptograficamente protegido e registrado de forma permanente.
Vale observar que diversas organizações autônomas descentralizadas (DAOs) já usam a rede em seus mecanismos de votação. Com isso, a blockchain está transformando a governança em diversos setores, facilitando processos de decisão mais justos, inclusivos e transparentes.
Blockchains para ficar de olho
Atualmente, existem milhares de redes blockchains em operação, com novos modelos sendo lançados praticamente todos os dias. Dessa forma, usuários e organizações que desejam explorar as funções práticas da tecnologia podem ter dificuldade em achar a opção que melhor se enquadre em seus objetivos.
Pensando nisso, separamos cinco opções a serem consideradas.
Bitcoin
Lançada em 2009, foi a primeira aplicação bem-sucedida dessa tecnologia. Opera como um livro-razão público descentralizado, onde é possível armazenar informações. A cada transação, um novo bloco é adicionado à cadeia, e a imutabilidade dessa estrutura garante segurança e resistência a fraudes.
Pontos fortes
- Extremamente segura, não tendo sofrido nenhum ataque desde o seu lançamento.
- Diversos operadores de nós e validadores, o que aumenta a sua descentralização
Pontos fracos
- Poucos casos de uso além da validação de transferências de BTC
- Taxas elevadas em relação a outras redes
- Pode apresentar congestionamento em períodos de alta volatilidade do BTC
- Alto consumo de energia
Ethereum
Lançada em 2015, é uma plataforma descentralizada que vai além das transações financeiras, permitindo a criação de contratos inteligentes e aplicativos descentralizados (DApps). Com isso, fornece uma infraestrutura versátil para desenvolvedores criarem soluções inovadoras, como projetos de finanças descentralizadas (DeFi) e NFTs.
Pontos fortes
- Líder em diversos setores da indústria cripto e web3
- Baixo consumo de energia
- Rede mais conhecida entre os programadores
Pontos fracos
- Taxas elevadas em relação a outras redes
- Não tão escalável, sendo em alguns casos melhor recorrer a redes de segunda camada construídas nesta blockchain
Solana
Conhecida por ser a “rival” do Ethereum, a Solana tem tido grande destaque no universo cripto nos últimos anos, sendo uma das blockchains mais utilizadas em diversos segmentos. Criada em 2020, ela é hoje referência em escalonamento.
Pontos fortes
- Escalonável
- Custos de transações baixos
- Alta velocidade
Pontos fracos
- Rede levanta dúvidas sobre a sua descentralização
- Histórico de interrupções
Binance Smart Chain (BSC)
A Binance Smart Chain (BSC), lançada em 2020, é uma blockchain que se destaca por suas transações rápidas e baixas taxas, sendo ideal para aplicações descentralizadas (DApps) e projetos de DeFi. Desenvolvida pela Binance, a BSC opera com um mecanismo de consenso Proof of Staked Authority (PoSA), que combina características de Proof of Stake e Proof of Authority.
Pontos fortes
- Transações rápidas
- Custos de transações baixos
- Mecanismo de consenso único
Pontos fracos
- Menor descentralização
- Desenvolvida e atrelada a uma empresa privada
Cardano
Lançada em 2017 por Charles Hoskinson, um dos criadores do Ethereum, a Cardano é uma blockchain de terceira geração que se destaca por sua abordagem baseada em pesquisa científica e revisada por pares.
Pontos fortes
- Foco em pesquisa acadêmica
- Maior escalabilidade
- Baixo consumo de energia
Pontos fracos
- Linguagem de programação complexa
- Menor adoção de projetos
Desafios e limitações da tecnologia blockchain
Apesar de suas inovações, a tecnologia blockchain enfrenta desafios que limitam sua adoção em larga escala. Um dos principais obstáculos é a escalabilidade, pois muitas redes, como Bitcoin e Ethereum, enfrentam dificuldades em processar um grande volume de transações de forma rápida e eficiente, resultando em congestionamento e altas taxas de transação durante períodos de demanda elevada.
Outro desafio significativo é a regulamentação. Governos em todo o mundo estão buscando maneiras de regulamentar o uso da tecnologia e das criptomoedas em si, o que cria incertezas para aqueles que desejam aderir a esta tecnologia.
No entanto, como foi possível observar até então, esta tecnologia já tem atuado como um verdadeiro agente de transformação e melhoria em diversas áreas do nosso cotidiano. Não por acaso, o valor total bloqueado (TVL) depositado nessas redes, atualmente, é de mais de US$ 140 bilhões segundo o CoinMarketCap.
Perguntas frequentes
O que é blockchain e como funciona?
Quais são as aplicações da blockchain além do mercado de criptomoedas?
Como a blockchain pode melhorar a transparência no setor imobiliário?
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