Em 2025, esses agentes se consolidaram como a nova obsessão no ecossistema cripto. Integrados a aplicações de finanças descentralizadas (DeFi), jogos, infraestrutura e até na governança de DAOs, passaram a ser vistos como a próxima grande evolução da inteligência na Web3.
Com esse cenário em vista, o BeInCrypto entrevistou o Dr. Max Li, CEO da OORT — empresa especializada em soluções de inteligência artificial descentralizada — para entender se esses softwares autônomos, impulsionados por aprendizado de máquina, têm potencial para transformar o mercado cripto.
A corrida do ouro dos agentes de IA: disrupção ou distração?
Segundo dados do AI Agents Directory, o número desses agentes tem crescido, em média, 33% ao mês. Ainda assim, apesar do ritmo acelerado de adoção, as soluções de inteligência artificial baseadas em Web3 correspondem a apenas 3% do ecossistema total de agentes de IA.
De acordo com o Li, o espaço está se movendo mais rápido do que sua infraestrutura pode suportar, apontando para modelos como ElizaOS (antigo ai16z). No entanto, em sua opinião, o campo mais amplo não está pronto. Ele afirma que a infraestrutura central, desde armazenamento descentralizado até mercados de agentes tokenizados, ainda está em construção.
O verdadeiro gargalo? segurança, não velocidade
Embora a escalabilidade seja comumente apontada como uma limitação do setor cripto, Max Li ressalta que os maiores desafios estão na segurança e na conformidade. Essa preocupação se intensifica especialmente quando se trata da tokenização de saídas geradas por IA, como computação, tomada de decisão e dados em tempo real.
Ele ainda disse que a IA tokenizada levanta questões difíceis. Quem possui os dados que os agentes geram? Como sistemas descentralizados podem cumprir leis globais de dados como o GDPR? E o que acontece quando agentes de IA interagem com informações pessoais ou financeiras sensíveis na blockchain?
Essas já podem ser barreiras mais significativas do que a escalabilidade, alertou Dr. Li.
O executivo da OORT enfatizou que sem uma custódia clara ou estruturas de conformidade, os riscos se estendem além do cripto para reguladores, investidores e usuários finais.
Adoção empresarial não está chegando tão cedo
A indústria frequentemente afirma que agentes de IA trarão indústrias do mundo real para a blockchain. No entanto, Dr. Li diz que isso ainda é uma fantasia, particularmente na blockchain pública.
Ele explicou que enquanto empresas como o Walmart poderiam se beneficiar da IA para operações internas, há pouco incentivo para tokenizar esses agentes. Empresas tradicionais buscam eficiência e controle, não tokens descentralizados envolvidos em seus sistemas centrais.
A maioria das empresas preferiria manter esses dados em seus próprios servidores seguros em vez de expô-los em uma rede pública e descentralizada, ele disse.
Embora cadeias privadas possam oferecer uma ponte, Max Li diz que a ideia de agentes tokenizados impulsionando logística ou finanças do mundo real é, por enquanto, um sonho nativo do cripto.
Um mercado impulsionado por hype
Tokens de agentes de IA explodiram em 2025. Aproveitando o impulso tanto da IA quanto do cripto, eles atraíram grandes influxos de capital. No entanto, Dr. Li faz um paralelo com a bolha das pontocom, concluindo que, embora a inovação seja real, o mercado está superaquecido.
Com base nisso, ele não acredita que o atual rali seja sustentável: “É justo dizer que há uma bolha se formando aqui”.
Esse sentimento ecoa o fundador da Binance, Changpeng Zhao (CZ), que recentemente alertou que a maioria dos projetos de tokens de IA são lançados muito cedo.
Muitos desenvolvedores de agentes de IA focam demais em seus tokens e não o suficiente na utilidade do agente. Recomendo fazer um agente realmente bom primeiro, escreveu CZ em um post.
Zhao argumentou que apenas uma pequena fração de agentes de IA, cerca de 0,05%, realmente precisa de tokens neste estágio. Da mesma forma, Hitesh Malviya, analista e figura popular no X, recentemente ecoou esse sentimento em um post.
Se você olhar fora da câmara de eco da cripto, verá que temos um ecossistema sólido de agentes de IA livres e melhores—e eles não têm tokens, nem talvez precisem de um. Então, o que estamos negociando em nome dos agentes não passa de memes – um valor que criamos do nada, como sempre fazemos, Hitesh comentou.
Turbulência regulatória à frente
Talvez o risco mais subestimado no boom dos agentes de IA seja a regulação. A interseção de sistemas de IA abertos, dados tokenizados e blockchains sem fronteiras é um campo minado para a conformidade.
Dr. Li alertou sobre contradições ainda não resolvidas: como a IA descentralizada pode ser transparente e privada? Quem é responsável quando agentes agem de forma autônoma, mas causam perdas financeiras?
No curto prazo, a intervenção regulatória provavelmente criará obstáculos adicionais para a inovação, ele concluiu.
Essa preocupação se torna ainda mais relevante diante da ausência de um consenso global. Enquanto não houver alinhamento entre as jurisdições em relação a práticas de KYC (conheça seu cliente), legislações de AML (anti-lavagem de dinheiro) e normas de governança de dados, a adoção institucional deve seguir de forma cautelosa — ou até mesmo estagnada.
Embora o aumento dos agentes de IA seja real, sua integração em ecossistemas cripto tokenizados ainda é uma fronteira de alto risco e alta ambiguidade. A infraestrutura permanece frágil. Faltam estruturas legais, e a adoção no mundo real ainda é especulativa na melhor das hipóteses.
A visão do Dr. Max Li é clara: a cripto deve mudar seu foco do hype para a funcionalidade—do design centrado em tokens para o centrado em agentes.
Só então o próximo salto na descentralização impulsionada por IA se tornará mais do que apenas um ciclo de mercado.
Isenção de responsabilidade
Todas as informações contidas em nosso site são publicadas de boa fé e apenas para fins de informação geral. Qualquer ação que o leitor tome com base nas informações contidas em nosso site é por sua própria conta e risco.
