A Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) entrou com uma ação judicial contra parte do próprio Conselho, mirando empresas influentes do setor como MYNT Crypto Tecnologia Ltda., Paiva Gomes Consultoria Ltda., Ripple Brasil Soluções em Tecnologia Ltda. e Ripio Brasil Serviços Plataforma Online de Ativos Digitais Ltda., em meio a um crescente conflito interno sobre governança e representatividade na entidade.
Conforme os documentos apresentados no processo, a crise teria começado quando o vice-presidente da Associação, Thiago Severo, pediu demissão. Antes de deixar o cargo, ele enviou uma carta aos conselheiros afirmando:
Nutro ainda a esperança de que a entidade reforce cada vez mais sua governança.
A declaração acendeu um alerta entre os associados. O Conselho se reuniu imediatamente para entender o que estava acontecendo dentro da entidade, que reúne nomes de peso como Itaú, Visa, Santander, Ripple, Mynt e outras empresas relevantes da indústria.
Os documentos do processo indicam que, mesmo após diversas reuniões e tentativas de contornar o problema, nada mudou. O Conselho chegou a solicitar que o atual presidente, Bernardo Srur, enviasse uma carta aos associados comunicando oficialmente a saída de Thiago Severo.
No entanto, segundo o processo, Bernardo se recusou a enviar a carta comunicando aos associados a saída de Thiago Severo. Juridicamente, os conselheiros poderiam ter protocolado a solicitação para obrigar o presidente a realizar o comunicado, mas optaram por manter o diálogo.
Na reunião do Conselho realizada em 23 de outubro, os conselheiros também solicitaram a convocação de uma assembleia até 30 de outubro, a ser realizada em 04 de novembro, em razão dos prazos previstos no estatuto da entidade.
O impasse se intensificou quando, na data de 04 de novembro, além de afirmar que não deixaria a presidência, Bernardo ingressou com uma ação pedindo a nulidade da reunião do dia 23 de outubro. Ele chegou a solicitar uma liminar, mas o pedido foi negado pelo juiz.
Com isso, a disputa interna evoluiu para um conflito judicial aberto.
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Outra descoberta dos associados durante os pedidos para ter acesso aos documentos foi uma dívida desde maio de 2025 na Receita Federal do Brasil.
O que acontece agora?
Um dos associados explicou a reportagem que se chegar em 16 e dezembro, e não houver um consenso para próxima eleição, o atual presidente se reelege automaticamente, independentemente de Assembleia e, portanto, sem que os associados tomem conhecimento de tudo que está acontecendo.
Na prática, Bernardo, representando a ABCripto, está processando o próprio Conselho da associação — e foi ele mesmo quem levou o conflito para a esfera judicial, em um processo de acesso público.
“Essa situação não existe”, afirmou um dos conselheiros, descrevendo o impasse como algo inédito dentro da entidade.
Entre os pedidos do Conselho estão a convocação de uma assembleia, a apresentação de prestação de contas e uma retratação pública. Apenas a defesa de um dos conselheiros reúne mais de 130 páginas de documentos.
“O clima está horroroso”, disse uma associada, que pediu para não ser identificada.
Esta reportagem se baseia inteiramente nos documentos protocolados no processo, que é público e pode ser consultado no site do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
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A ABCripto, por sua vez, informou que tomou conhecimento das manifestações apresentadas no processo judicial em curso e reafirmou que toda a atuação de sua Diretoria Executiva segue estritamente os procedimentos previstos no Estatuto da entidade, observando a regularidade institucional e a segurança jurídica.
Segundo a associação, o tema em discussão envolve interpretações distintas sobre ritos estatutários e sobre a condução de processos internos, incluindo a convocação de instâncias deliberativas e o acesso a informações administrativas. A ABCripto afirma que vem atendendo às solicitações formais do Conselho dentro dos meios estruturados e adequados, “mantendo a integridade dos procedimentos”. A entidade reforça que confia plenamente nas instâncias competentes e mantém seu compromisso com o diálogo, a governança e o fortalecimento do ecossistema de criptoeconomia no Brasil.
Brasil, uma nação pró-cripto
Vale destacar que o Brasil está entre os países com maior adoção de cripto no mundo, e a ABCripto está sediada em São Paulo — um dos maiores centros financeiros do planeta e o principal hub da indústria cripto brasileira.
Segundo levantamento da Altside, consultoria especializada em criptoativos, 31,3% de todos os investidores brasileiros estão no estado de São Paulo, ou seja, quase um a cada três participantes da pesquisa. O peso paulista é tão expressivo que supera sozinho a soma das regiões Norte e Nordeste, que juntas representam 16,3% do total.
O estudo mostra ainda que o perfil do investidor de cripto no Brasil é cada vez mais maduro, consolidado profissionalmente e com patrimônio significativo. O patrimônio médio desse grupo chega a R$ 521,9 mil, mais que o triplo da média dos investidores tradicionais; além disso, mais de um quarto já acumula acima de R$ 1 milhão em ativos.
Em outras palavras, torna-se urgente que o país tenha uma associação sólida, funcional e capaz de representar, de fato, os interesses da indústria pública e privada.