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A operação de guerra de Sam Altman para recuperar o controle da OpenAI

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Atualizado por Júlia V. Kurtz

A indústria de IA ficou em polvorosa na sexta-feira (17), após o anúncio da demissão do CEO da OpenAI, Sam Altman.

Nos dias seguintes, em meio a várias especulações, o mercado viu a gigante de IA anunciar uma CEO substituta que rejeitou o cargo, a Microsoft anunciar a contratação de Altman e, por fim, uma carta aberta de empregados da empresa, exigindo a volta dele ao cargo.

A pressão sobre a criadora do ChatGPT continuou aumentando e incluiu a presença do próprio CEO da Microsoft, Satya Nadella. Até que, na quarta-feira (22), a empresa não resistiu e cedeu.

Ainda não se sabe exatamente tudo o que ocorreu nos bastidores dessa novela, porém o The Wall Street Journal publicou um compilado de eventos que ajudam a elucidar, ao menos em partes, como Sam Altman recuperou o cargo de CEO da OpenAI.

OpenAI demite Altman

Para entender a demissão de Altman, é preciso primeiro saber quem são as pessoas responsáveis por essa decisão. E, para isso, é preciso entender a formação da OpenAI.

A empresa foi fundada em 2015 por Sam Altman e o atual dono do Twitter (X), Elon Musk. O objetivo era criar um modelo de inteligência artificial tão bom quanto o de um ser humano.

Com o tempo, as implicações éticas da tecnologia fizeram com que fosse necessária uma espécie de freio para garantir que a OpenAI continuasse no caminho certo. A solução adotada por Altman foi a criação de uma estrutura corporativa diferente.

Leia mais: Sofri um golpe, e agora? Como agir em casos de fraude

Nessa hierarquia, há um quadro de diretores de áreas sem fins lucrativos, como acadêmicos, que gerenciam o braço empresarial da OpenAI. O objetivo é garantir que a companhia não perca o rumo e continue a desenvolver a tecnologia de forma ética.

Foram estas pessoas que demitiram Sam Altman.

Funcionários enfrentam conselho

Conforme pessoas entrevistadas pelo WSJ, o conselho comunicou aos funcionários da empresa sobre a saída de Altman dizendo apenas que ele “não era consistente sincero em suas comunicações”. Eles estariam tão desconfiados que “sentiam a necessidade de confirmar tudo o que ele lhes dizia”.

No mesmo dia, o quadro anunciou a nomeação da então CTO da OpenAI, Mira Muratti, como CEO interina da empresa. Ela recebeu, no mesmo dia, orientações de como lidar com a crise que a saída de Altman causara.

O conjunto de funcionários que ainda era leal a Altman duvidou dessa explicação e pressionou o quadro, em busca de mais explicações. Os pedidos foram respondidos com silêncio. Os diretores se recusaram dar exemplos concretos do comportamento do ex-CEO.

Enquanto isso, lembra o WSJ, vários órgãos de governo e de imprensa já começaram a pressionar a OpenAI por mais explicações sobre a saída de Altman. Os funcionários explicaram isso ao quadro, dizendo que a verdade teria que aparecer mais cedo ou mais tarde.

Um deles, aliás, alertou que a decisão poderia fazer com que a empresa entrasse em colapso.

“Isso seria consistente com nossa missão”, respondeu a diretora de uma organização de pesquisa de políticas de Washington, Helen Toner, um dos membros do conselho.

Uma coisa era clara: Altman perdeu o controle sobre o conselho no início de 2023, quando vários de seus membros que tinham uma mentalidade empresarial saíram dele, lembra o WSJ. Os quatro que restaram não estavam preocupados com a viabilidade da empresa.

Altman reage

O próprio Altman, por outro lado, ficou sabendo da própria demissão em uma reunião de rotina. Ele estava, conforme o WSJ, em Las Vegas para assistir à corrida de Fórmula 1.

Ao se juntar a uma reunião online, ele recebeu a notícia da defenestração de seu colega Ilya Sutskever, um pesquisador de IA que trabalhava para a OpenAI há 8 anos e membro do conselho. A outra pessoa na reunião era Greg Brockman, outro cofundador da empresa, que se demitiu em protesto em seguida.

As credenciais de Altman na empresa foram revogadas pouco depois. Nenhuma explicação teria sido dada.

Ao mesmo tempo em que os funcionários da OpenAI debatiam a saída de Altman com o conselho, o ex-CEO fazia sua própria jogada. Ele estava no telefone com o CEO da Microsoft, Satya Nadella, debatendo o que fazer a partir de então.

De acordo com o WSJ, ambos desenvolveram um plano para reinstalar Altman como CEO da OpenAI, mas também criaram um plano de emergência para o caso de o original não ser bem-sucedido.

Nesse caso, Altman e Brockman se juntariam à gigante de informática em uma nova divisão de IA criada especialmente para isso. Outra possibilidade era que a dupla começasse uma nova startup.

O executivo, então, retornou à São Francisco.

A sala de Guerra

No sábado, vários funcionários da OpenAI montaram uma sala de guerra na casa de Altman. A então CEO interina da empresa, Murati, era uma delas.

Sua agenda era uma só: descobrir uma forma para Altman voltar à empresa.

Nessa reunião, a equipe rebelde criou uma operação através do Twitter (X). Altman escreveu:

“eu amo tanto o time da openai (sic)”.

O tuíte foi compartilhado pelos então ex-colegas, que responderam com um coração.

A operação foi bem-sucedida e, na manhã de domingo, Altman voltou à sede da OpenAI, onde entrou com um crachá de visitante.

“É a primeira e última vez que eu uso isso”, disse ele.

Foi Murati quem informou ao conselho sobre o retorno de Altman. Os dois, além de Brockman, o chefe de estratégias Jason Kwon, o COO Brad Lightcap e o resto da equipe de liderança passaram o dia negociando com o conselho.

A reunião durou o dia inteiro e o WSJ aponta que foram feitos vários pedidos de delivery para o local, em cujo exterior se encontravam membros da imprensa e outros funcionários.

O plano, entretanto, não deu certo e, quando a poeira baixou, o conselho manteve sua decisão. Enquanto isso, Mira Muratti recusou o cargo de CEO interina e o cofundador do Twitch, Emmet Shear, foi nomeado CEO.

Funcionários se revoltam

O conselho escreveu um memorando para os funcionários da OpenAI, onde explicava que o “comportamento de Altman e sua falta de transparência reduziram a capacidade do conselho de supervisionar a empresa da forma necessária”. O texto acrescenta:

“Esta decisão não é sobre segurança do produto, o ritmo de desenvolvimento ou as finanças da OpenAI. No fim das contas, esta é uma questão de governança que está no coração de como o conselho desta organização executa suas responsabilidades e avança sua missão”.

Em seguida, foi disparada uma mensagem no Slack para anunciar uma reunião com o novo CEO Shear, mas os funcionários responderam com emojis do dedo do meio, disse uma testemunha ao WSJ. Menos de 12 pessoas compareceram.

Foi nesse momento que a Microsoft lançou seu plano B, confirmando a intenção de criar uma nova divisão de IA com Sam Altman e Greg Brockman na liderança.

Logo após, funcionários da OpenAI publicaram uma carta aberta ao conselho. Nela, eles diziam que deixariam a empresa se Altman e Brockaman não retornassem a seus cargos. Nesse caso, eles iriam para a Microsoft, que garantiu emprego a todos os descontentes com a decisão. Dos 770 funcionários, 700 assinaram a carta.

A propria Microsoft reservou um andar nos escritórios do LinkedIn em São Francisco para os desgarrados da OpenAI. Caso a migração ocorresse, eles já teriam notebooks e clusters de GPUs prontos para recebê-los.

Sam Altman: O Retorno

Na manhã de quarta-feira (22), a OpenAI emitiu uma nova nota, na qual reinstalava Sam Altman como CEO. A empresa também deverá contar com um novo conselho, cuja totalidade dos membros ainda não fora decidida até o momento em que este artigo foi finalizado.

Ainda não se sabe exatamente o que ocorreu nos bastidores da OpenAI nas últimas 24h. Entretanto, é uma aposta segura afirmar que a dissolução total da empresa e a migração de sua força de trabalho influenciaram a decisão.

Após sua destituição, o objetivo de Altman sempre foi voltar à empresa e refazer o conselho. Aparentemente, ele cumpriu a missão com sucesso.

Os novos nomes anunciados, até o momento, são os de Bret Taylor, Larry Summers e Adam D’Angelo. O primeiro deve atuar como presidente. Há rumores de que a própria Microsoft deve ter alguém na formação final.

Helen Toner, Tasha McCauley e Ilya Sutskever, por outro lado, deixaram o conselho, conforme informações da CNBC. Outro indicativo da vitória de Altman.

“Estou feliz em voltar à OpenAI e construir nossa forte parceria com a Microsoft”, disse Altman.

O que não está claro até agora é o que deve acontecer com Emmet Shear, o até então CEO da OpenAI. No Twitter (X), ele disse:

“Estou feliz com esse resultado, depois de 72h de trabalho intenso. Vir para a OpenAI, eu não tinha certeza de qual seria o caminho a seguir. Esse é o caminho que maximizava a segurança ao mesmo tempo em que fazia o correto com acionistas. Eu estou feliz por fazer parte da solução”.

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Júlia V. Kurtz
Editora do BeInCrypto Brasil, a jornalista é especializada em dados e participa ativamente da comunidade de Criptoativos, Web3 e NFTs. Formada pelo Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas, possui mais de 10 anos de experiência na cobertura de tecnologia, tendo passado por veículos como Globo, Gazeta do Povo e UOL.
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